Discurso no Senado Federal

EXALTAÇÃO DO POTENCIAL TURISTICO DO NORDESTE, EM ESPECIAL DA CIDADE DE RECIFE/PE, COMO ALTERNATIVA PARA SUPERAR A CRISE DO DESEMPREGO. INDIGNAÇÃO COM A DESCONTINUIDADE DAS POLITICAS FEDERAIS E ESTADUAIS DE INCENTIVO AO TURISMO.

Autor
Carlos Wilson (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/PE)
Nome completo: Carlos Wilson Rocha de Queiroz Campos
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
TURISMO.:
  • EXALTAÇÃO DO POTENCIAL TURISTICO DO NORDESTE, EM ESPECIAL DA CIDADE DE RECIFE/PE, COMO ALTERNATIVA PARA SUPERAR A CRISE DO DESEMPREGO. INDIGNAÇÃO COM A DESCONTINUIDADE DAS POLITICAS FEDERAIS E ESTADUAIS DE INCENTIVO AO TURISMO.
Aparteantes
Ernandes Amorim.
Publicação
Publicação no DSF de 19/03/1998 - Página 4439
Assunto
Outros > TURISMO.
Indexação
  • ANALISE, CRITICA, ABANDONO, GOVERNO FEDERAL, POLITICA, INCENTIVO, TURISMO, BRASIL, ESPECIFICAÇÃO, REGIÃO NORDESTE, ESTADO DE PERNAMBUCO (PE).
  • SOLICITAÇÃO, FERNANDO HENRIQUE CARDOSO, PRESIDENTE DA REPUBLICA, ADOÇÃO, POLITICA, INCENTIVO, DIVULGAÇÃO, TURISMO, BRASIL, ESPECIFICAÇÃO, REGIÃO NORDESTE, ESTADO DE PERNAMBUCO (PE), REDUÇÃO, INDICE, DESEMPREGO, FAVORECIMENTO, CRESCIMENTO ECONOMICO.

O SR. CARLOS WILSON (PSDB-PE. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs. e Srs. Senadores, a revista Veja, que está nas bancas esta semana, estampa o que nós de Pernambuco já sabíamos há algum tempo, mas não queríamos acreditar: Recife está cada vez mais fora do eixo de atração turística nacional e internacional. Dados da ABAV, Associação Brasileira de Agentes de Viagem, atribuem a Fortaleza, a Porto Seguro, na Bahia, e, em terceiro lugar, ao Rio de Janeiro, as principais posições do ranking das cidades mais procuradas pelos turistas em 1997, segundo levantamento realizado em 150 agências de viagem.

Recife, que chegou a ser conhecida como a Veneza Brasileira, que já foi a quarta cidade em importância econômica e política, a primeira escala em direção à Europa e aos Estados Unidos, berço de uma cultura que se consolidou ao longo de seus 462 anos completados ainda este mês, sequer aparece nessa estatística.

Para mim, que sempre vi no turismo uma das mais importantes fontes de riqueza e de distribuição de renda, a decadência do setor em Pernambuco só tem uma causa: o descaso com que sucessivos governos, tanto na Prefeitura do Recife como no Estado de Pernambuco, trataram essa atividade.

Diga-se, na verdade, descaso absoluto. Em todo o mundo, a indústria do turismo gera nada menos do que 212 milhões de empregos. E é um dos setores que exige menos investimentos para multiplicar postos de trabalho.

Quando ocupei o Governo de Pernambuco, ainda que por apenas 11 meses e 15 dias, tive a visão clara do potencial que o turismo representava no meu Estado. Por isso mesmo, não medi esforços para implementar a pavimentação da rodovia que dá acesso às praias de Porto de Galinhas, Sirinhaém e Cruz Rebouças. E implementei todas as medidas necessárias para o estabelecimento do projeto Costa Dourada, que visava ao aproveitamento do potencial das praias do Litoral Sul de Pernambuco e do Litoral Norte de Alagoas, entre outras ações.

Na esteira desse processo é que foram atraídos para a região novos e importantes investimentos, como a rede hoteleira Ceasar Park. Esse resort, por mim autorizado na praia de Paraíso, na cidade do Cabo de Santo Agostinho, enquanto governador, demorou sete anos para ser concluído em Pernambuco, enquanto esse mesmo empreendimento, feito pela mesma empresa, demandou somente um ano para ficar pronto em Fortaleza.

Todo o esforço que fizemos naquela época não teve continuidade nos anos seguintes. O ódio e o rancor, marcas perenes da política do meu Estado, engessaram completamente qualquer tipo de novas iniciativas.

Em todo o mundo, Sr. Presidente, o setor de turismo deverá movimentar nada menos que US$7,100 trilhões de dólares até o ano 2007, gerando 383 milhões de empregos. Apesar dos esforços despendidos pela Embratur, sob a competente administração do Dr. Caio Carvalho e demais diretores, e de contar com vasto potencial, o Brasil não vem se credenciando para elevar a sua participação nesse segmento, pois o nosso País ocupa a ridícula posição de 42º lugar entre os países mais visitados por turistas estrangeiros, recebendo apenas, em média, 2 milhões de turistas por ano.

Só para se ter idéia, a França recebe 60 milhões de turistas e a Espanha, 45 milhões. E o pior é que até o turista brasileiro começa a se voltar cada vez mais para fora, o que faz com que o nosso País registre, hoje, um déficit de quase US$4 bilhões na conta de turismo.

Dentro do Brasil, o potencial turístico do Nordeste é invejável, ninguém questiona. E, dentro do Nordeste, é também invejável o potencial de Pernambuco.

Sr. Presidente, numa hora em que vivemos aflitos com o crescimento do desemprego em nosso País, é no mínimo intrigante, para todos nós, o descaso com que nossas autoridades vêm tratando o turismo. Esse descaso existe no Brasil, existe no Nordeste e existe em Pernambuco. E é uma coisa absolutamente incompreensível, que precisamos reverter rapidamente.

A nossa expectativa é a de que o próximo governante acorde para esse problema, porque resolvê-lo significa a solução para milhões de famílias que vivem hoje o pesadelo do desemprego.

Essa decisão depende, fundamentalmente, de uma vontade política, já que dispomos do potencial, das belezas naturais e contamos até com a oferta de investimentos por parte da iniciativa privada nacional e estrangeira.

No caso de Pernambuco, há muito o que ser feito para nos convertermos num dos mais importantes pólos turísticos da América Latina. Creio que essa conquista está ao nosso alcance. Mas são os Governos Federal e Estaduais que têm que tomar a iniciativa e dar o passo decisivo.

O Sr. Ernandes Amorim (PPB-RO) - Permite-me V. Exª um aparte?

O SR. CARLOS WILSON (PSDB-PE) - Com muito prazer, Senador Ernandes Amorim.

O Sr. Ernandes Amorim (PPB-RO) - Nobre Senador Carlos Wilson, há dias atrás, trouxemos a esta Casa a nossa preocupação com relação ao problema do turismo no País. Essa é uma área pouco explorada e os Governos Federal e Estaduais não têm tomado atitudes no apoiamento e na estruturação desse setor. O meu Estado é um Estado novo e tem todas as belezas e requisitos para desenvolver o turismo. Ainda hoje mesmo, visitando o nosso eminente Ministro Francisco Dornelles, indaguei sobre quais os planos da Embratur para o Estado de Rondônia, já que a Amazônia tem belezas que o mundo quer conhecer e nós não estamos oferecendo condição nenhuma para que isso ocorra, além do que o turismo é uma indústria onde se empregaria milhares e milhares de pessoas. Senador, nós temos a mercadoria principal, a matéria-prima para gerar esses empregos: a beleza que possuímos para mostrar aos milhares, até milhões, de turistas que por aqui poderiam estar chegando. Entretanto, o Ministro afirmou que não teria como atender ou nada tinha a fazer, porque não teria condições de colocar em meu Estado um órgão de representação ou sequer uma pessoa para exercer essa função. Então, cabe ao Senhor Presidente da República, aos próprios governadores, talvez até com a interferência desta Casa, estruturar melhor o Ministério da Indústria, do Comércio e do Turismo, que é praticamente o responsável direto pelo turismo, cabendo também à Embratur ocupar, em todo o País, essa fatia que, em alguns países do mundo, atinge 10% das atividades econômicas. No Brasil, o turismo está deixando a desejar. V. Exª aborda um tema importante. Tomara que outros Senadores acompanhem o nosso interesse e se juntem a nós em busca de apoio para essas reivindicações, cobrando dos nossos governantes para que tomem atitudes nesse sentido. Parabéns a V. Exª pelo seu discurso!

O SR. CARLOS WILSON (PSDB-PE) - Agradeço o seu aparte, Senador Ernandes Amorim. Lembro-me perfeitamente que há três semanas V. Exª mencionou, nesta Casa, o descaso com o turismo em nosso País. V. Exª fala muito por Rondônia, defendendo a criação de uma representação da Embratur naquele Estado. E dizia-me, há pouco, que tinha procurado o Ministro Dornelles para colocar essa reivindicação em nome da população de Rondônia. Posso lembrar a V. Exª que, nessa febre de enxugamento da máquina administrativa, ainda no Governo Collor, fecharam várias representações da Embratur em quase todos os Estados do Brasil, sob o pretexto de redução de despesas.

A questão do turismo depende, principalmente, de decisão política. Se não houver boa vontade e interesse por parte de quem governa, não vamos chegar a lugar algum. Para que se tenha uma idéia, a cota de divulgação da Embratur no exterior mal daria para divulgar uma cidade satélite de Brasília. O que se gasta hoje com divulgação do nosso País no exterior é menos do que a Jamaica gasta na divulgação do seu próprio país. Isso demonstra que é preciso ter, por parte dos Governos Federal e Estaduais, boa vontade e interesse.

É possível, com criatividade, atrair turistas para o nosso País. Quando estava no Governo de Pernambuco, tomei conhecimento que havia, nos Estados Unidos, um tipo de turismo diferente: o turismo para a terceira idade. Cada ano, 750 turistas se inscreviam para participar de uma viagem a um lugar desconhecido. Eles compravam as passagens sem saber o destino. Era uma viagem surpresa. Esse tipo de pacote chamou minha atenção e demonstrei interesse junto às agências de turismo; assim, 750 americanos desembarcaram no aeroporto dos Guararapes, em Recife. Também fizemos o primeiro cruzeiro marítimo ligando cidades do Nordeste a Fernando de Noronha, através do navio português Funchal, que fazia o trajeto Recife, Maceió, Natal, Salvador até Fernando de Noronha. Infelizmente hoje, em Pernambuco, isso foi inteiramente desativado.

O turismo depende fundamentalmente da vontade política de quem governa. Apelamos, portanto, ao Presidente Fernando Henrique Cardoso, aos Governadores, nessa hora de dificuldades no que se refere a emprego, providências para que recursos sejam maciçamente investidos em turismo. Sabe-se que, de cada nove pessoas empregadas no mundo, uma trabalha no ramo do turismo. Esse setor é hoje a principal fonte geradora de emprego.

Agradeço a V. Exª, Sr. Presidente, pela oportunidade de falar nesta tarde.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 19/03/1998 - Página 4439