Discurso no Senado Federal

COMENTARIOS SOBRE A PESQUISA REALIZADA PELO ITAMARATY, COM O OBJETIVO DE SENTIR AS EXPECTATIVAS DOS MAIS DIVERSOS SEGMENTOS EMPRESARIAIS DA ARGENTINA, NAS RELAÇÕES POLITICAS, ECONOMICAS E COMERCIAIS INCREMENTADAS PELO MERCOSUL.

Autor
Mauro Miranda (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/GO)
Nome completo: Mauro Miranda Soares
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA EXTERNA.:
  • COMENTARIOS SOBRE A PESQUISA REALIZADA PELO ITAMARATY, COM O OBJETIVO DE SENTIR AS EXPECTATIVAS DOS MAIS DIVERSOS SEGMENTOS EMPRESARIAIS DA ARGENTINA, NAS RELAÇÕES POLITICAS, ECONOMICAS E COMERCIAIS INCREMENTADAS PELO MERCOSUL.
Publicação
Publicação no DSF de 19/03/1998 - Página 4553
Assunto
Outros > POLITICA EXTERNA.
Indexação
  • COMENTARIO, PESQUISA, ITAMARATI (MRE), PUBLICAÇÃO, JORNAL, GAZETA MERCANTIL, ESTADO DE SÃO PAULO (SP), MELHORIA, REPUTAÇÃO, BRASIL, EXPECTATIVA, EMPRESARIO, PAIS ESTRANGEIRO, ARGENTINA, AMBITO, MERCADO COMUM DO SUL (MERCOSUL).
  • APOIO, ATUAÇÃO, PRESIDENTE DA REPUBLICA, AMBITO, POLITICA DE EMPREGO, DESENVOLVIMENTO REGIONAL, TURISMO, POLITICA EXTERNA.

O SR. MAURO MIRANDA (PMDB-GO. Pronuncia o seguinte discurso) - Sr. Presidente, Srªs. e Srs. Senadores, os empresários argentinos estão mais confiantes no Brasil. É o que informa uma pesquisa realizada pelo Itamaraty, com o objetivo de sentir as expectativas dos mais diversos segmentos empresariais do país vizinho, nas relações políticas, econômicas e comerciais incrementadas pelo Mercosul. Os resultados são mostrados na edição de hoje da Gazeta Mercantil, e reforçam a convicção de que os preconceitos estão sendo rapidamente superados, em nome de uma parceria solidária cada vez mais sólida e mais realista na direção dos interesses comuns. Aqueles velhos ranços de uma suposta tendência hegemônica, por parte do Brasil, começam a dissipar-se definitivamente dos horizontes do Cone Sul, graças ao esforço e à competência de nossa diplomacia. Sem prejuízo das identidades e dos interesses locais, esse trabalho paciente e sistemático consolida um sentimento indivisível de continente, no qual ganham todos, e ninguém perde. Condutor desse processo de aproximação e do rompimento de algumas pendências que surgiram durante o seu atual mandato, o Presidente Fernando Henrique Cardoso é a nossa garantia de que vamos inaugurar o próximo milênio com um mercado comum forte, solidário e competitivo para ocupar espaços crescentes no processo mundial de globalização.

O objetivo da pesquisa encomendada pelo Itamaraty, segundo a Gazeta Mercantil, é a de construir "a estratégia mais conveniente para atingir de forma eficiente a sociedade argentina como um todo, e mostrar uma imagem do Brasil como vizinho no qual se pode confiar". E, com o levantamento concluído recentemente, "emerge um conjunto de opiniões que mostra os acertos do Mercosul, um divisor de águas na histórica relação de rivalidade entre os dois países". Um dado importante é que 69% dos entrevistados estão seguros de que a economia brasileira estará "melhor", ou "muito melhor", nos próximos anos, e que somos, entre todos os países americanos, o "mais importante" para o desenvolvimento de atividades comerciais. Apenas dois por cento dos empresários consultados pela pesquisa ainda mantêm preocupações com sentimentos hegemônicos do Brasil, nas relações com os vizinhos.

Nos últimos seis anos, o movimento comercial entre Brasil e Argentina saltou de apenas 3 bilhões de dólares para um patamar de 14,88 bilhões. Ouvido pela Gazeta Mercantil, o presidente da Câmara de Comércio Brasil-Argentina, Horácio Ives Freyre, fala de seu otimismo em relação ao futuro, e considera que a reeleição do Presidente Fernando Henrique Cardoso será fundamental para aumentar os fluxos de comércio, com a complementação das reformas. Esse sentimento é partilhado pelos empresários argentinos, que na sua grande maioria aprovaram o esforço do atual governo em modernizar a economia.

A pobreza e as desigualdades sociais no Brasil foram apontadas pelos empresários pesquisados como os problemas negativos que ainda preocupam, no fortalecimento das relações bilaterais. O que eu diria é que essas preocupações não são novas, e refletem as nossas próprias perplexidades, mas o governo não está parado, como demonstrou com o conjunto de medidas que foram anunciadas pelo Presidente Fernando Henrique Cardoso, na reunião ministerial da última sexta-feira. Agindo como o estadista que faz o possível no imediato, sem comprometer o futuro, o Presidente da República reconheceu que só o crescimento econômico pode reduzir o desemprego, e que essa não é uma tarefa exclusiva do governo, mas de toda a sociedade.

Em ano eleitoral, a postura pragmática para um candidato que tem o poder nas mãos, seria a de despejar recursos inflacionários na economia para obter resultados de curto prazo. Mas o Presidente preferiu assegurar a estabilidade da moeda, exigindo mais eficiência dos diversos setores do governo que podem promover novos movimentos de retomada do emprego. Essa é a parte do governo, que vem comandando "um conjunto de iniciativas em programas de criação de empregos gigantesco, sem precedentes", como o Proger, que já financiou 350 mil empreendimentos, e o Pronaf, que beneficiou 300 mil pequenos agricultores. Estou com o Presidente, quando afirma que não há remédios milagrosos para o desemprego, e que só se cria emprego com investimento e desenvolvimento, cumprindo ao governo estimular políticas e modernizar a economia, como vem fazendo até agora. Este é um momento de compreensão, de solidariedade, de trabalho e de ações conjuntas que atinjam todo o universo da sociedade.

Ainda ontem, testemunhamos um evento que é mais um grande passo na direção do desenvolvimento, sobretudo da Região Centro-Oeste. O protocolo assinado no Ministério das Minas e Energia, garantindo a extensão do Gasoduto Brasil-Bolívia até Goiânia e Brasília, é uma nova alternativa concreta para assegurar novas frentes de trabalho. Com o gasoduto, estaremos em condições de instalar usinas termelétricas de 200 megawatts em Brasília e Goiânia, favorecendo a expansão de agroindústrias geradoras de emprego e inibidoras do êxodo rural, que tem sido uma das causas mais dramáticas das pressões sobre as áreas metropolitanas.

Voltando aos efeitos da integração econômica entre brasileiros e argentinos, um dos setores importantes a incrementar ainda mais é a área de turismo. Com o desaparecimento completo das barreiras formais, os movimentos na direção da grande orla marítima brasileira não param de crescer. Em visita recente a Goiânia, o Ministro Francisco Dornelles fez uma previsão alentadora. No ano 2.000, o setor, como um todo, responderá por uma renda de 10% de todo o Produto Interno Bruto, equiparando-se aos níveis de países mais desenvolvidos. Em 1996, entraram no país 1,5 milhão de visitantes de outros países. No ano passado, este número cresceu para 3,2 milhões, prevendo-se para 1999 um movimento de 4 milhões de turistas, com uma renda de 4 bilhões de reais. Goiás e o Centro-Oeste têm um rico patrimônio turístico ainda inexplorado, sendo uma de nossas melhores esperanças para a geração de empregos.

Outro fato digno de destaque, no conjunto das prioridades estabelecidas pelo governo para reativar o emprego, é o esforço para estimular e desenvolver a atividade econômica das micro e pequenas empresas. Aliás, essa é uma das áreas que mais têm crescido no interior de Goiás, nos últimos anos, graças ao programa Fomentar e a iniciativas complementares do Governo Maguito Vilela. Na última segunda-feira, o ministro Antonio Kandir estabeleceu com o BID, em Cartagena, o compromisso de triplicar os volumes de investimentos no setor, que passarão para a cifra de 1 bilhão de dólares. Em relação aos países do Mercosul, especialmente a Argentina, as publicações especializadas mostram que os negócios entre pequenos e microempresários têm tido participação preponderante nas relações comerciais.

Sr. Presidente, encerro minhas palavras com uma profissão de fé no futuro do Brasil e no sucesso do engajamento de nosso país com o esforço comum de desenvolvimento com os países latino-americanos de economias complementares, como é a Argentina. O clima de confiança dos empresários argentinos, que motivou a minha presença nesta tribuna, é um elo poderoso para a afirmação econômica desta parceria de lutas e de interesses comuns. A sensibilidade política e a competência do nosso Ministério das Relações Exteriores é um dos referenciais mais expressivos desses novos tempos de uma diplomacia voltada para a integração e o desenvolvimento. Faço esse registro, por acreditar que é parte das responsabilidades do Congresso acompanhar esses fatos e dar-lhes a dimensão política que merecem, na rotina de nossas atividades.

Era o que eu tinha a dizer, Sr. Presidente.

Muito obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 19/03/1998 - Página 4553