Discurso no Senado Federal

RESPONSABILIDADE DO GOVERNO FEDERAL ANTE AS INTEMPERIES QUE SE ANUNCIAM PARA A REGIÃO AMAZONICA, TENDO POR PRENUNCIO O INCENDIO QUE DEVASTA O ESTADO DE RORAIMA.

Autor
Bernardo Cabral (PFL - Partido da Frente Liberal/AM)
Nome completo: José Bernardo Cabral
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
CALAMIDADE PUBLICA.:
  • RESPONSABILIDADE DO GOVERNO FEDERAL ANTE AS INTEMPERIES QUE SE ANUNCIAM PARA A REGIÃO AMAZONICA, TENDO POR PRENUNCIO O INCENDIO QUE DEVASTA O ESTADO DE RORAIMA.
Publicação
Publicação no DSF de 25/03/1998 - Página 5024
Assunto
Outros > CALAMIDADE PUBLICA.
Indexação
  • COMENTARIO, CALAMIDADE PUBLICA, INCENDIO, FLORESTA AMAZONICA, ESTADO DE RORAIMA (RR), CRITICA, OMISSÃO, GOVERNO FEDERAL, PROTESTO, RECUSA, AUXILIO, ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS (ONU), EPOCA, POSSIBILIDADE, PREVENÇÃO, PROBLEMA.
  • SOLICITAÇÃO, GOVERNADOR, MOBILIZAÇÃO, ESTADOS, AUXILIO, ESTADO DE RORAIMA (RR), COMBATE, INCENDIO.

         O SR. BERNARDO CABRAL (PFL-AM. Pronuncia o seguinte discurso) - Sr Presidente, Srªs. e Srs. Senadores, Roraima está sendo consumida pelo fogo. Há 20, 10 anos atrás, manchete deste tipo nos principais jornais do país seria uma coisa inconcebível, uma uma vez que as grandes precipitações pluviométricas na região, por si só, seriam garantias suficientes para evitar que as terras amazônicas fossem arrasadas por incêndios.

         Hoje, lamentavelmente, a tragédia que se desenvolve em Roraima não está sendo testemunhada apenas pela imprensa brasileira. A internacional também está lá representada por alguns gigantes da comunicação, como The Times, Le Monde, The Guardian, entre outros.

         A magnitude da cobertura da imprensa corresponde à grandeza do holocausto. Segundo informações do Governo Federal - uma informação que me sinto no dever de colocá-la sob suspeição, visto que a presença do Estado na região afetada se resume a alguns estóicos voluntários - o incêndio já destruiu três por cento da área do Estado.

         E os ventos fortíssimos que sopram em Roraima poderão duplicar ou até mesmo triplicar os prejuízos. Seis mil índios estão isolados pelo fogo, doze mil cabeças de gado se perderam e as reservas florestais começam a desaparecer, ameaçando gravemente o equilíbrio ambiental.

         Este episódio, Sr. Presidente, coloca a nu a incompetência do Governo Federal para lidar com eventos desta natureza. O mais lamentável de tudo é que este incêndio começou há três meses e durante todo este período não se tomou qualquer providência efetiva que o interrompesse ou pelo menos atenuasse os seus efeitos virulentos. Desgraçadamente, o Governo Federal, por negligência ou incompetência, deixou para o Governo de Roraima a responsabilidade de domar a inclemência das chamas, sem, no entanto, lhe dar os instrumentos necessários para a consecução deste objetivo.

         A Natureza, violentada e ultrajada durante anos, está cobrando agora o preço da irresponsabilidade. Ao longo das últimas décadas promoveu-se um desmatamento generalizado na região amazônica. Aqueles que protestavam contra as queimadas criminosas, contra o abate desordenado de árvores centenárias e contra a garimpagem inconsequente, eram sintomaticamente acusados de inimigos do progresso. Hoje começamos a pagar pelos desvarios do passado. Hoje a natureza se rebela contra as agressões a ela praticadas e a melhor maneira de demonstrar sua revolta é se manter omissa ou complacente com o fogo que devora suas próprias entranhas. A Natureza manifesta sua dor através da submissão suicida.

         O mais grave em toda esta história é que o Governo Federal sabia dos riscos que estávamos correndo. Arrogantes e auto suficientes, os nossos burocratas ignoram uma oferta de ajuda oferecida no ano passado pela Organização das Nações Unidas para debelar focos de incêndio previstos na região amazônica.

         Pergunto-me, por que a negativa?

         Vejo-me, mais irritado do que constrangido, a admitir que a negligência do Governo Federal pode ter sido responsável pela eclosão da tragédia. A omissão governamental quanto a adoção de medidas preventivas contra os focos iniciais certamente permitiriam que eles se alastrassem por toda a região.

         No entanto, Sr. Presidente, estamos diante de uma outra tragédia anunciada e o Governo Federal até o presente momento ainda não atentou para a gravidade do problema. Com efeito, os organismos internacionais prevêem uma intensa seca para toda a região Norte no decorrer dos próximos meses e com toda certeza esta seca infernal provocará outros focos de incêndio na Amazônia.

         Assim sendo, o incêndio que devasta Roraima é apenas o prenúncio do que ainda está por vir e, em tais circunstâncias, não podemos admitir que as autoridades brasileiras mantenham-se indiferentes ao novo drama que se esboça.

         Mas, preferimos nos ater agora ao problema que já existe. Não temos condições de virar as costas ao sofrimento do Governo e do povo de Roraima. Violentaríamos as nossas consciências se deixássemos aqueles bravos patrícios entregues à sua própria sorte. Os outros estados brasileiros, pela sua própria composição geográfica e pela diversificação de suas condições climáticas, estão mais habilitados para lidar com incêndios e outros eventos deste quilate. Roraima, até então pela inexistência desse risco, está naturalmente despreparada para conter o inimigo flamejante que ameaça consumir as suas florestas.

         Assim sendo, como amazonense faço um desesperado apelo a todos os Governadores deste País que colaborem com Roraima para conter o fogo que a calcina, enviando homens especializados no combate a grandes incêndios, além dos equipamentos necessários àquela finalidade. Somente com a solidariedade, somente através da amizade, é que conseguiremos atenuar o sofrimento do povo de Roraima.

         Estou convencido de que o generoso povo brasileiro responderá afirmativamente ao apelo que ora lhe faço da tribuna do Senado Federal, mas também espero que o Governo Federal, através de seus órgãos técnicos, comece a encarar com maior seriedade as intempéries que se anunciam para a Amazônia, a fim de que novas tragédias sejam evitadas.

         Muito obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 25/03/1998 - Página 5024