Discurso no Senado Federal

HOMENAGEM POSTUMA PELO FALECIMENTO DO JORNALISTA EXPEDICTO QUINTAS.

Autor
Edison Lobão (PFL - Partido da Frente Liberal/MA)
Nome completo: Edison Lobão
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • HOMENAGEM POSTUMA PELO FALECIMENTO DO JORNALISTA EXPEDICTO QUINTAS.
Publicação
Publicação no DSF de 26/03/1998 - Página 5173
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM POSTUMA, EXPEDICTO QUINTAS, JORNALISTA, ATUAÇÃO, JORNAL, CORREIO BRAZILIENSE, DISTRITO FEDERAL (DF).

O SR. EDISON LOBÃO (PFL-MA. Pronuncia o seguinte discurso.) - Sr. Presidente, Srªs. e Srs. Senadores, é com profundo pesar que hoje ocupo esta tribuna também para registrar em nossos Anais, a exemplo de outros Senadores, o falecimento de Expedicto Quintas.

A nova geração de Parlamentares provavelmente conheceu Expedicto Quintas apenas como jornalista, que, até recentemente, foi diretor de Projetos Especiais e editor de opinião do Correio Braziliense, escrevendo muitos dos seus principais editoriais. Dele absorveram as palavras ponderadas, em estilo sóbrio e escorreito, emitindo conceitos que sempre indicaram os rumos do interesse público.

Muitos dos novos Senadores e Deputados, por conseguinte, não tiveram a oportunidade de conhecer o Expedicto Quintas funcionário da Câmara dos Deputados, altamente especializado em matéria orçamentária e um de seus assessores no período em que esteve na Câmara no exercício de suas funções ativamente.

Ainda ontem, entre as últimas homenagens que lhe foram prestadas no Campo da Esperança, antes do seu enterro, narrava-me um dos seus antigos colegas de Legislativo um episódio ocorrido ainda ao tempo do Palácio Tiradentes, no Rio de Janeiro: Expedicto Quintas, avançando pelas madrugadas na conclusão do processo orçamentário com dia aprazado para ser definitivamente votado, não se dera conta de que um golpe de Estado derrubara do poder o então Presidente Carlos Luz. O Palácio Tiradentes, esvaziado, já estava cercado por tropas armadas, e Expedicto, surdo ao tropel dos cavalos e ao ronco dos tanques de guerra, continuava trabalhando, na sua discreta sala, os cálculos para o fechamento de subanexos do Orçamento. Nisto, telefona-lhe aflito e preocupado o saudoso diretor da Câmara, Dr. Giglioti, intimando-o a largar tudo como estava e deixar imediatamente a sede da Câmara dos Deputados, pois corria o risco de ser preso ou sofrer alguma violência. Expedicto Quintas, surpreso, então com muita dificuldade conseguiu deixar o Palácio Tiradentes, rompendo a barreira dos soldados armados, que não compreendiam a presença ali, num ambiente de guerra, de um afoito funcionário em meio a uma grave crise de Estado.

Este era Expedicto Quintas, formado em engenharia-química, mas vocacionado para o serviço legislativo e o jornalismo. Respeitado no Congresso como um dos seus mais qualificados servidores, Expedicto, por várias vezes, foi convocado a prestar sua colaboração fora da Câmara. Chefe de Gabinete - ao tempo em que essas funções eqüivaliam às de Secretário Executivo - dos então Ministros Virgílio Távora e Hélio de Almeida, da Viação e Obras Públicas; Chefe de Gabinete do então Prefeito do Distrito Federal, Plínio Catanhede, o administrador até hoje lembrado por sua correção e por ter transformado Brasília numa “cidade jardim”. Nestas funções, junto com Colombo Salles, incumbiu-se da Reforma Administrativa do DF, dando dimensão a uma administração que antes se guiava por uma Lei Orgânica. E Chefe da Representação do Governo do Ceará em Brasília, entre inúmeras outras missões.

Mesmo no desempenho das mais árduas funções no serviço público, Expedicto Quintas nunca deixou o jornalismo, oferecendo assídua colaboração a jornais do Rio de Janeiro. Com a mudança da Capital para Brasília, ele já chegou aqui como chefe da Sucursal do Diário de Notícias, à época um dos mais prestigiados e combativos jornais cariocas, ali comandando grandes reportagens e substanciosos artigos no período de sua liderança.

Longa é a listagem dos serviços prestados por Expedicto Quintas à causa pública. Não pretendo citá-lo nesta oportunidade, pois meu objetivo, hoje, é concentrar-me na figura humana que ele foi.

Eu, ainda muito jovem e procurando oportunidades no jornalismo, encontrei em Expedicto Quintas o mentor, o irmão mais velho, de lealdade e generosidade sem limites. Procurou transferir-me todos os seus conhecimentos e sua experiência, amenizando sobremodo as dificuldades que, em início de carreira profissional, eu teria de enfrentar.

Junto dele, pude usufruir a oportunidade de uma convivência deveras feliz com sua delicadíssima esposa, a jornalista e escritora Regina Stella, seus oito filhos e treze netos, dois dos quais são também meus netos, pelo casamento de meu filho Edison com sua filha Paula.

Há alguns meses, Expedicto Quintas aceitou meu convite para integrar-se à minha equipe de trabalho neste Senado, como Assessor Técnico. Sou-lhe profundamente grato pela dedicação e pela colaboração a mim oferecidas, pontuadas pelo bom-senso e pela serenidade que sempre fez prevalecer em nossas reuniões de trabalho.

Num belo discurso certa feita proferido nesta Casa, o eminente Senador Artur da Távola, com seu incomparável estilo e talento, externou um conceito que recolhi à minha memória, mais ou menos nas seguintes palavras:

“A morte tem essa estranha generosidade, entre algumas das suas perversidades. No instante seguinte à sua ocorrência, define uma vida, fazendo com que até os indiferentes, no instante de um átimo, reconheçam o valor e o sentido da vida de quem se foi.”

No caso de Expedicto, os que com ele conviveram sempre lhe reconheceram a correção e o excepcional valor que imprimiu em todas as atividades que desempenhou. Com a sua morte, os que não privaram da sua intimidade terão percebido, no instante de um átimo, o sentido de uma vida que valeu a pena ser vivida, com a dignidade que a envolveu em todos os instantes de uma longa caminhada.

Era o que eu tinha a dizer, Sr. Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 26/03/1998 - Página 5173