Discurso no Senado Federal

REVOLTA COM O DESCASO DO GOVERNO FERNANDO HENRIQUE CARDOSO QUANTO AO INCENDIO QUE DEVASTOU RORAIMA E SUAS CONSEQUENCIAS PARA A POPULAÇÃO E A ECONOMIA DO ESTADO.

Autor
João França (PPB - Partido Progressista Brasileiro/RR)
Nome completo: João França Alves
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
CALAMIDADE PUBLICA.:
  • REVOLTA COM O DESCASO DO GOVERNO FERNANDO HENRIQUE CARDOSO QUANTO AO INCENDIO QUE DEVASTOU RORAIMA E SUAS CONSEQUENCIAS PARA A POPULAÇÃO E A ECONOMIA DO ESTADO.
Publicação
Publicação no DSF de 08/04/1998 - Página 6154
Assunto
Outros > CALAMIDADE PUBLICA.
Indexação
  • ANALISE, OMISSÃO, GOVERNO, INCENDIO, ESTADO DE RORAIMA (RR), COMENTARIO, IMPRENSA, PREJUIZO, MEIO AMBIENTE.
  • DEFESA, ACEITAÇÃO, GOVERNO, AUXILIO, ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS (ONU).

           O SR. JOÃO FRANÇA (PPB-RR. Pronuncia o seguinte discurso) - Sr. Presidente, Srªs. e Srs. Senadores, em editorial de sua edição de 26 de março, o Correio Braziliense denuncia a “omissão injustificável do poder público e o jogo político rasteiro” como responsáveis pelo “incêndio que há mais de três meses lavra nos campos e savanas do Estado”, e que já “consumiu 20% de sua cobertura vegetal, avança numa frente de 400 quilômetros e pontilha com 52 focos de labaredas 36 milhões de hectares”.

           A mesma edição do jornal publica, em sua décima página, ampla reportagem sobre o desastre ecológico em meu Estado, acentuando que “moradores do Estado vêem as chamas consumirem suas casas e as plantações virarem cinzas”, ilustrando a afirmativa com impressionante foto.

           Toda a imprensa, nacional e internacional, vem, há meses, dedicando páginas inteiras ao incêndio que flagela Roraima, ameaça dizimar tribos indígenas, nesse imenso desastre ecológico que preocupa e alarma o mundo civilizado, e já alcançou área correspondente à da Bélgica. A vizinha Venezuela, por intermédio de seu governo, expressou, reiteradamente, sua preocupação com o livre alastrar do incêndio, determinando, em face da indiferença do Governo brasileiro, medidas de cautela que impeçam o fogo de alcançar seu território.

           Há meses, o incêndio que se alastra em Roraima tem sido focalizado por toda a mídia mundial, com a publicação de fotos e exibição de filmes. De todas as partes do mundo chegam manifestações de solidariedade ao Estado vitimado e à sua população, acentuando, simultaneamente, universal preocupação com a preservação ecológica em região de tamanha importância para o planeta.

           E até hoje, Sr. Presidente, não se viu a mínima demonstração de preocupação por parte do Presidente Fernando Henrique Cardoso. Olimpicamente, o Governo recusou ajuda oferecida pelo Departamento Emergencial da Organização das Nações Unidas - ONU. A ajuda - fruto, talvez, mais da preocupação de preservação do equilíbrio ecológico em nosso planeta - foi menosprezada pela Coordenação da Defesa Civil da União, o IBAMA, o Ministério das Relações Exteriores, enfim, por todo o Governo. E, até hoje, não se ouviu palavra alguma, nem se viu sinal algum de preocupação do Presidente da República com o desastre e o indescritível flagelo que vitima as populações de extensa área do território do meu Estado, apesar de ser notória a responsabilidade do Governo Federal pelo acontecimento, cujas dimensões são fruto de sua indiferença e de assentamentos ali desastrosamente promovidos por sua própria iniciativa.

           Sr. Presidente, confortam-nos as manifestações vindas do Exterior e de todo o Brasil, traduzidas pela remessa de ajuda de tantos Estados e de países estrangeiros, como a nossa vizinha Argentina, que enviou a Roraima centenas de bombeiros e a aparelhagem necessária a qualquer tentativa de dominar o infortúnio.

           As responsabilidades do Governo pelo desastre ecológico são bem conhecidas, em nosso País e no Exterior. Resta-nos aguardar, orando, para que as chuvas se antecipem e venham a eliminar, definitivamente, a catástrofe e para que a colaboração, advinda de tantos lugares, tenha o máximo de eficácia possível. E que, pressionado pela opinião pública, nacional e internacional, o Governo, finalmente, destine recursos para socorrer um Estado cuja economia é arruinada pelo fogo, com a destruição da lavoura e a morte de mais de 100 mil cabeças de gado.

           Expresso, Sr. Presidente, desta tribuna, a mesma perplexidade revelada por um adolescente em recente programa a que compareceu o Presidente Fernando Henrique Cardoso. A pergunta formulada pelo jovem aborreceu a tal ponto o Presidente da República, que o levou a total descontrole diante do auditório. Longa série de infortúnios e desgraças tem ocorrido no decorrer de seu Governo, o último dos quais o desabamento de um grande prédio recém-construído no Rio de Janeiro com diversas vítimas. Morte em massa de doentes em tratamento de hemodiálise em Pernambuco, chacina de presos em presídios governamentais ou de sem-terra no Pará, eliminação de velhos recolhidos a asilos, e tantos outros acontecimentos que horrorizam e alarmam a Nação inteira. E não nos esqueçamos do desemprego que atinge milhões de famílias brasileiras e cresce a cada dia, no desesperado empenho de salvar o Plano Real, adotado pelo ex-Presidente Itamar Franco. A tudo isso, o Presidente da República comporta-se em estado altaneiramente indiferente, pois Sua Excelência sente-se isento de qualquer responsabilidade pelo que aconteça no País ou ao País.

           Termino este meu pronunciamento, Sr. Presidente, formulando um último e desesperado apelo ao Presidente da República: que cumpra, finalmente, o que prometeu: aceite a ajuda oferecida pela ONU ou dê a Roraima os recursos necessários para apagar o incêndio que já arrasou cerca de 20% de seu território, deixando o Estado em situação calamitosa e levando à mais completa miséria grande parte de sua população, sem falar no desamparo total em que se encontram os indígenas da região, especialmente os pacíficos ianomâmis.

           Muito obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 08/04/1998 - Página 6154