Pronunciamento de Ney Suassuna em 14/04/1998
Discurso no Senado Federal
HOMENAGEM DE PESAR PELO FALECIMENTO DO SENADOR HUMBERTO LUCENA.
- Autor
- Ney Suassuna (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/PB)
- Nome completo: Ney Robinson Suassuna
- Casa
- Senado Federal
- Tipo
- Discurso
- Resumo por assunto
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HOMENAGEM.:
- HOMENAGEM DE PESAR PELO FALECIMENTO DO SENADOR HUMBERTO LUCENA.
- Publicação
- Publicação no DSF de 15/04/1998 - Página 6423
- Assunto
- Outros > HOMENAGEM.
- Indexação
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- HOMENAGEM POSTUMA, HUMBERTO LUCENA, SENADOR, ESTADO DA PARAIBA (PB), EX PRESIDENTE, CONGRESSO NACIONAL.
O SR. NEY SUASSUNA (PMDB-PB. Para encaminhar. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs. e Srs. Senadores, o Senador Ronaldo Cunha Lima já encaminhou o requerimento e o fez também em meu nome e em nome da Bancada da Paraíba. Mas, Sr. Presidente, neste momento, eu não poderia deixar de dar o meu testemunho sobre o nosso Humberto Lucena.
Em 1950, conheci Humberto Lucena, que era candidato a Deputado Estadual, na cidade de Bananeiras, onde meu pai era professor da Escola Agrotécnica Vidal de Negreiros. Meu pai apaixonou-se pela campanha de Humberto e chegou a fazer os hinos que foram usados na campanha naquela época. Eu o conheci jovem, com muita vitalidade e inteligência, e, a partir daí, passei a ser um admirador de Humberto Lucena.
Ronaldo Cunha Lima já traçou aqui todo um itinerário histórico do nosso Humberto Lucena e já falou sobre o seu sucesso como Deputado Estadual, Deputado Federal e Senador. Neste lugar, sentados, o nobre Senador Ronaldo Cunha Lima e eu privávamos da conversa diária sobre os problemas nacionais e sobre os da Paraíba.
Humberto Lucena era um homem de muita paciência, muita firmeza e prudência. E com que resignação enfrentou os sérios problemas que teve em sua vida, como, por exemplo, quando teve que largar uma eleição, já ganha, para Governador. S. Exª o fez para não fragmentar o PMDB. Em outra ocasião, a injustiça que S. Exª sofreu por causa dos calendários. Dos 600 Parlamentares, em torno de 300, inclusive figuras de grande renome no País, também tinham feito. S. Exª tinha a relação de todos os calendários feitos pelos parlamentares. E eu dizia: -Humberto, deixe-me falar e mostrar quem fez. E ele dizia: “Não. Nós não estamos discutindo o deles. Estamos discutindo o meu. Eu não tenho que acusar ninguém.” Eu vi muita resignação, muita resignação mesmo, alguém ser acusado e não acusar ninguém - tinham feito a mesma coisa. Foi uma injustiça. Quem conheceu Humberto Lucena sabe o quanto era probo, sério e honesto. Um homem que passou mais de 40 anos na política e saiu com um apartamento. É tudo o que eles têm, e eu o conheço bem. Dou o meu testemunho de seriedade porque o único apartamento que eles conseguiram ter foi um comprado no Rio de Janeiro que, depois, para ter o da Paraíba, tiveram que vendê-lo, e eu fui o comprador. Foi com esse dinheiro - R$105 mil - que S. Exª comprou o apartamento na Paraíba. Toda uma vida, 48 anos de vida pública ocupando cargos importantes - esse era o patrimônio de Humberto.
Quantas vezes vi pessoas - para ocupar espaço na imprensa - acusando Humberto. Ele nunca usou absolutamente nada. Hoje li, com revolta, um jornal do Sul dizer que Humberto Lucena tinha sido acusado de ter empregado muitas pessoas. Até ao filho ele pediu que se demitisse, na hora em que outro Senador nomeou à revelia dele.
Sofreu algumas acusações, por ter ocupado por duas vezes a Presidência do Senado da República - um homem da Paraíba, um Estado pequeno, pobre. Muitos nunca perdoaram.
Quem conhece a vida de Humberto como eu conheço, desde 1950, sabe quantas injustiças recebeu com resignação. Na Oposição, por 20 anos, não se curvou a ninguém. Esse era o Humberto que vai fazer falta na Paraíba, que vai fazer falta no Brasil. Humberto Lucena que no dia-a-dia nos aconselhava, no dia-a-dia conversava comigo e com o Senador Ronaldo Cunha Lima sobre os assuntos, como disse, nacionais - qual posição e por que tinha tomado tal posição, e nós combinávamos de votar em conjunto. Humberto deu um exemplo que realmente é difícil encontrar, Sr. Presidente.
Que orgulho S. Exª tinha do PMDB da Paraíba! S. Exª falava de boca cheia do PMDB da Paraíba, porque todos os PMDBs estavam brigando e o da Paraíba estava tranqüilo, unido, coeso numa posição já resolvida. E eu perguntava a Humberto se então estava tudo bem por lá. E ele dizia que na Paraíba havia uma presidência ajudada por todos.
Esse era o Humberto que conheci. Um homem que sofreu ataques e não revidou, que os amigos se ofereciam para revidar e ele dizia não - como foi o meu caso. Um dia, sobre o caso dos calendários, perdi a paciência e disse-lhe que não era possível o que estava acontecendo, que tínhamos que dizer pelo menos quem mais se encontrava nessa situação, porque nunca foi proibido. Mas ele dizia que era ele que estava sendo acusado, e que não desejava acusar ninguém.
Mas houve o reconhecimento por meio de um ato de anistia - desnecessário, porque quem conhecia Humberto sabia que ele não tinha nada para ser anistiado, não devia nada. Foi exemplo durante toda a sua vida pública. Hoje parte.
Às dezessete horas será rezada uma missa. Convido todos os Senadores para estarem presentes. Aproveito, Sr. Presidente, Srªs. e Srs. Senadores, para daqui também fazer o apelo não só da sessão plenária, mas que o ritual do Senado envie à família cartas de condolências. S. Exª foi um brasileiro que mereceu e merece todo o apreço desta Casa, do povo paraibano e de todo o povo brasileiro.
Envio um abraço de condolências a toda sua família. E digo que se alguém serviu de exemplo para mim, esse alguém foi Humberto Lucena. S. Exª repetia sempre para mim que em política é preciso paciência, muita paciência e muita ponderação; mas, com firmeza, temos que ter posições.
Encaminho o requerimento, pedindo a todos os Senadores que o apóiem, e peço o rito mais completo que se possa, inclusive de condolências à família. Lembro que se tem alguém que merece ter o nome nos corredores, nas salas desta Casa, esse homem chama-se Humberto Lucena, um paraibano, uma pessoa de um Estado pequeno, mas que, por duas vezes, ocupou a Presidência desta Casa com brilho, com prudência, com ponderação, fazendo grande o Senado da República.
Muito obrigado.