Discurso no Senado Federal

HOMENAGEM DE PESAR PELO FALECIMENTO DO DEPUTADO FEDERAL LUIS EDUARDO MAGALHÃES.

Autor
Bernardo Cabral (PFL - Partido da Frente Liberal/AM)
Nome completo: José Bernardo Cabral
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • HOMENAGEM DE PESAR PELO FALECIMENTO DO DEPUTADO FEDERAL LUIS EDUARDO MAGALHÃES.
Publicação
Publicação no DSF de 24/04/1998 - Página 6960
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM POSTUMA, LUIS EDUARDO MAGALHÃES, DEPUTADO FEDERAL, ESTADO DA BAHIA (BA), EX PRESIDENTE, CAMARA DOS DEPUTADOS.

O SR. BERNARDO CABRAL (PFL-AM. Para encaminhar a votação. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Senador Geraldo Melo, sabe V. Exª que ontem, quando combinávamos a apresentação deste requerimento, propúnhamos que, tão logo apresentado, fosse ele, sem maiores análises e sem discursos, aprovado, suspendendo-se a sessão.

Entendia eu que a melhor forma de homenagear a perda irreparável que Antonio Carlos Magalhães sofre seria o silêncio de todos nós, até porque participo da corrente dos que entendem que o silêncio é o clamor de tudo aquilo que não fala. Neste clamor, o silêncio imporia uma das maiores homenagens.

Depois de ouvir aqui as manifestações proferidas neste plenário, não sei se estava certo ontem. Inclusive lembrou Pedro Simon a confraria e, por um instante, por um lapso de esquecimento, não incluiu a figura de Lúdio Coelho, que perdeu um filho único.

Depois de ouvir tudo isso, Sr. Presidente, e de ter meditado sobre uma frase do Senador Josaphat Marinho, que disse que a morte de Luís Eduardo fulminou a esperança do pai, é importante registrar algo. Há uma frase batida que diz que a esperança é a última que morre. Chego a concluir hoje, diante de um desenlace tão terrível, que a esperança não passa de uma frágil aspiração em trânsito para o desencanto. É isto.

Três dias atrás seria impossível, inimaginável alguém prever que essa esperança se desencantaria tão cedo. Sr. Presidente, eu dizia ainda há pouco ao Senador Ronaldo Cunha Lima, que daqui saiu, que quando fomos cassados pelo Ato Institucional nº 5, quando perdi o meu mandato de Deputado Federal, dez anos de direitos políticos e o lugar de professor na Faculdade de Direito do Distrito Federal, sendo Vice-Líder da Oposição, um dos primeiros telegramas de solidariedade que recebi foi exatamente de um homem que estava do outro lado e que portanto poderia se comprometer, chamado Antonio Carlos Magalhães.

Praticamente trinta anos decorridos, somos nós, hoje, a levar-lhe uma manifestação de solidariedade que é absolutamente capaz de retratar a dor que cada pai sofre.

Quando Luís Eduardo chegava, nos primeiros dias da Assembléia Nacional Constituinte, na casa dos trinta, ou mal saído dela, trazia-me uma mensagem do pai, e, ao longo dos trabalhos da Constituinte, eu como Relator e ele como estreante, vi que aquele jovem tinha uma qualidade, a altivez. Muita gente confunde altivez com arrogância; a arrogância é exatamente um mal; a altivez é uma qualidade. E altivo ele foi. Anos depois, meu filho, Deputado Federal, dele se fez colega, e nos quatro anos o convívio era tamanho que, não sendo eu baiano, não tendo senão como amigo estreito aquele que era Senador em 1967 - refiro-me ao Senador Josaphat Marinho -, vi que aquele rapaz ultrapassaria as fronteiras do seu Estado para o comportamento na Nação.

E aí é que acho, Sr. Presidente, aí é que julgo, é que analiso que a esperança é realmente essa frágil aspiração em trânsito para o desencanto, pois num discurso brilhante, um dos melhores que ouvi em reunião política, proferido pelo Senador Hugo Napoleão, ele dizia que tínhamos um candidato para 2002. E tudo isso foi águas abaixo, é o desencanto que vivemos hoje.

Ouvi belos discursos, manifestações, anteontem e ontem. Não sei se dos letrados, se dos intelectuais, uma frase define tão bem a situação quanto a de uma mulher simples, pobre, uma baiana que estava ao lado do corredor que isolava os que estavam do lado de lá dos do lado de cá. E ela, do lado do povão, quando eu terminava uma declaração à televisão, olhou para mim, o Senador Romeu Tuma ao lado, e declarou exatamente isto: “A Bahia perdeu um filho, mas o céu ganhou um anjo”. Mulher simples, que define numa frase como esta, Sr. Presidente, tudo aquilo que vai na alma daqueles que realmente sentiram a perda do seu filho.

Concluo, Sr. Presidente, até porque continuo entendendo que todos estamos muito emocionados. Daí dizer que o ideal seria que esta reunião - que se fará solene -, permita-me solicitar a V. Exª, eu comecei falando em silêncio, após a aprovação deste requerimento, fizesse um minuto de silêncio em homenagem ao que morreu, em reconhecimento ao pai que ficou.

Não sei qual será o mais eloqüente, Sr. Presidente, se o mais belo dos discursos ou se esse minuto de silêncio que acabo de requerer a V. Exª.

Era o registro que eu queria fazer, Sr. Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 24/04/1998 - Página 6960