Discurso no Senado Federal

HOMENAGEM DE PESAR PELO FALECIMENTO DO DEPUTADO FEDERAL LUIS EDUARDO MAGALHÃES.

Autor
Hugo Napoleão (PFL - Partido da Frente Liberal/PI)
Nome completo: Hugo Napoleão do Rego Neto
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • HOMENAGEM DE PESAR PELO FALECIMENTO DO DEPUTADO FEDERAL LUIS EDUARDO MAGALHÃES.
Publicação
Publicação no DSF de 24/04/1998 - Página 6962
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM POSTUMA, LUIS EDUARDO MAGALHÃES, DEPUTADO FEDERAL, ESTADO DA BAHIA (BA), EX PRESIDENTE, CAMARA DOS DEPUTADOS.

O SR. HUGO NAPOLEÃO (PFL-PI. Para encaminhar a votação) - Sr. Presidente, Senador Geraldo Melo, Srªs. e Srs. Senadores, em Colombey-Les-Deux-Églises, na França, por ocasião do enterro do Presidente Charles De Gaulle, o féretro passava, havia, de um lado e do outro, uma seqüência de soldados postados, eretos, e atrás deles, tanto à esquerda quando à direita, a multidão chorava e, vertendo as lágrimas da dor e da saudade, todos reverenciavam o grande líder. Até que uma senhora, uma anciã, tenta romper a barreira dos soldados no rumo do esquife, para abraçar o líder. Os soldados procuram impedi-la de passar. Imediatamente uma voz se ergue, a voz de André Malraux, aquele que chamou Brasília de Capital da Esperança. Disse ele: “Deixem-na passar! É a França que quer prestar homenagem a seu grande filho!”.

Pois bem, o eminente Senador Bernardo Cabral, há poucos instantes, citou a voz de uma senhora da Bahia, de uma senhora do povo, para dizer que a Bahia e o Brasil perdem um grande Líder, mas o céu ganha um anjo.

Então, Sr. Presidente, o sentimento da dor e da saudade de que somos possuídos neste instante é incomensurável tamanha a grandeza do Líder que se foi, tamanha a noção de brasilidade - é claro que de baianidade também - que tinha esse extraordinário homem público, Luís Eduardo Magalhães.

Em verdade, ele foi o tecelão de grandes causas: aquele que era vigoroso, firme e forte na tribuna, arrojado nas palavras, destemido, forte, firme, mas, em contraste, o homem habilidoso, o grande articulador, até manso, até pacífico, humano nos bastidores, no convívio com os companheiros e com os colegas, quer fossem correligionários, quer fossem adversários.

E quantos adversários eu vi, ontem, no Estado da Bahia! Adversários valorosos, aguerridos, competentes lá estavam a reverenciar esse tecelão das grandes causas. Tive o privilégio de com ele conviver durante longos anos neste Congresso Nacional ou nas reuniões da Comissão Executiva Nacional do meu Partido, o PFL, do qual tenho orgulho de fazer parte. Ele adotava aquela posição abalizada, aquela posição firme, mas sempre tempestiva, sempre na hora certa, sempre movida pelo sentimento do Brasil que tinha presente em todos os momentos.

Ele era, sim, a esperança. Era a esperança de que falou o Senador Bernardo Cabral, a esperança de que bem sabe o meu amigo Deputado Heráclito Fortes, aqui presente, seu amigo inseparável de todas as horas. Ele era o vigor, a energia, a chama que talvez nos faltasse neste País. Era, indiscutivelmente, um homem em ser, embora tudo já tivesse sido.

Eu, que fui Deputado Federal por dois mandatos e nós, que somos políticos, sabemos bem quanto é difícil galgar e chegar à Presidência da Casa, e ele foi Presidente. Luís Eduardo Magalhães foi Presidente, e um senhor Presidente. Ou para usar as expressões de Érico Veríssimo no seu livro “O Senhor Embaixador”: ele foi “O Senhor Presidente”. O homem das reformas. Nada passaria no nosso Brasil, não teríamos virado as páginas da história se não fosse a sua presença. E chegou à Liderança do meu Partido, na Câmara dos Deputados, de uma forma eloqüente. Foi o Presidente das reformas, o Presidente da Câmara dos Deputados ontem reverenciado pelo Presidente da República Federativa do Brasil Fernando Henrique Cardoso, que interrompeu a sua programação importante na Espanha e foi a Salvador, na Bahia, render a sua homenagem, a homenagem do Brasil a Luís Eduardo Magalhães.

O que dizer do pai? Nada mais belo pode ter sido dito aqui do que aquilo que disse o Senador Josaphat Marinho, que, certamente, como todos nós, está sofrendo nesta hora, ou aquilo que foi dito pelo Senador Pedro Simon, que abordou a confraria da qual, lamentavelmente, ele faz parte. Uma vez a mim disse o meu amigo, ex-colega de escritório, Célio Borja, nos tempos em que eu advogava no escritório do falecido ex-Ministro Victor Nunes Leal, ao lado de José Paulo Sepúlveda Pertence, de Sampaio Dórea e de tantos outros, quando seu pai estava à morte: “A pior coisa que pode acontecer a um homem é sobreviver a um filho. Meu Deus, que coisa terrível!”

Isso aconteceu ao Presidente da nossa Casa, Senador Geraldo Melo. Nunca vi um homem chorar por vinte e quatro horas. Vi o Senador Antonio Carlos Magalhães chorar por vinte quatro horas seguidas, na dor, na saudade, no sofrimento, nas lamúrias. Eu, que acompanhei as últimas horas de vida de Luís Eduardo, no Hospital Santa Lúcia, aqui em Brasília, e vi a agonia e a dor de Antonio Carlos Magalhães, não posso deixar de levar a S. Exª a minha palavra de afeto e, muito mais, a de respeito. Porque na dor e na saudade se revela o homem. Ao sentimento de alegria se contrapõe o sentimento da tristeza, que, tenho certeza, o Congresso Nacional está sentindo, está passando, neste momento, como todos nós.

Ao lembrar-me das palavras aqui proferidas pelo Senador Pedro Simon, quando disse que viu Luís Eduardo defendendo o parlamentarismo, recordo-me de Ulysses Guimarães. Houve uma comissão, que não chegou a se instalar nesta Casa, para o exame do presidencialismo e do parlamentarismo, das formas de Estado, de governo e da monarquia, cujo presidente era Ulysses Guimarães e o relator era eu. Ulysses me telefonou, no dia 6 de outubro de 1993, combinando um encontro de trabalho para às 16h, a fim de prepararmos o roteiro dessa comissão. Afirmei que estava muito satisfeito por estar em sua companhia para um trabalho tão importante, que antecederia o plebiscito. Agradeci-lhe por sua simpatia, e, de uma maneira elegante e amável, ele respondeu-me: “Simpatia é a sua, Hugo. A simpatia é a sua grife”.

Entretanto, o encontro não aconteceu, porque, às 16h, o Presidente Itamar Franco chamou-me ao Palácio do Planalto e convidou-me para ser Ministro das Comunicações de seu governo. Quando tentei fazer um novo encontro com Ulysses Guimarães, isso tornou-se impossível. Fui para o Ministério das Comunicações e Ulysses Guimarães foi para a História, lugar também reservado a Luís Eduardo Magalhães.

Eu era amigo do motorista do Presidente Juscelino Kubitschek, Geraldo Ribeiro, de quem fui advogado também. O Geraldo morreu com o Presidente JK no fatídico desastre, a respeito do qual Afonso Arinos de Melo Franco disse que Juscelino explodira como uma estrela. O Geraldo, um dia, me deu uma lição de vida. Ele disse-me que os entes queridos não morrem porque, vivos, permanecem em nossos corações.

Sr. Presidente, Srs. Senadores, Luís Eduardo Magalhães não morrerá porque, vivo, permanecerá em nossos corações.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 24/04/1998 - Página 6962