Discurso no Senado Federal

HOMENAGEM DE PESAR PELO FALECIMENTO DO DEPUTADO FEDERAL LUIS EDUARDO MAGALHÃES.

Autor
Lúcio Alcântara (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/CE)
Nome completo: Lúcio Gonçalo de Alcântara
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • HOMENAGEM DE PESAR PELO FALECIMENTO DO DEPUTADO FEDERAL LUIS EDUARDO MAGALHÃES.
Publicação
Publicação no DSF de 24/04/1998 - Página 6967
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM POSTUMA, LUIS EDUARDO MAGALHÃES, DEPUTADO FEDERAL, ESTADO DA BAHIA (BA), EX PRESIDENTE, CAMARA DOS DEPUTADOS.

O SR. LÚCIO ALCÂNTARA (PSDB-CE. Para encaminhar a votação. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs. e Srs. Senadores, encontrávamo-nos, o Senador José Agripino e eu, integrando a comitiva do Senhor Presidente Fernando Henrique Cardoso, que fazia uma visita de Estado ao Reino da Espanha, quando fomos ali surpreendidos pela notícia dolorosa do falecimento do Deputado Luís Eduardo Magalhães.

Já havíamos saído daqui ainda sob o impacto da morte do Ministro Sérgio Motta, que causou realmente uma profunda comoção entre todos os que o conheciam, o admiravam e viam nele um homem público completamente dedicado ao cumprimento das suas responsabilidades, fosse no plano administrativo, fosse no plano político-partidário.

Pois bem, mal havíamos chegado a Madri, fomos, inicialmente, surpreendidos pela notícia do infarto do Deputado Luís Eduardo Magalhães. Mais tarde, já de madrugada, na capital espanhola, recebíamos a notícia do seu prematuro falecimento.

Conheci-o na Assembléia Nacional Constituinte, assim como vários dos que aqui se encontram. Naquela ocasião, ao privar do seu convívio, pude aquilatar o seu potencial e ver nele um futuro líder político de expressão nacional. Os que conhecem o Congresso Nacional, particularmente, a Câmara dos Deputados, sabem como a imprensa e a opinião pública, de uma maneira geral, recebem com ceticismo aqueles que aqui chegam pela primeira vez, ainda que tendo cumprido, como S. Exª, um mandato estadual, para exercer o seu primeiro mandato. Há os falastrões, há os exóticos, há os que de toda sorte procuram obter visibilidade, um momento de glória que seja; mas os que realmente têm conteúdo, os que realmente vêm a se destacar no curso da realização dos trabalhos legislativos são os que acendem naturalmente. Certamente que esse ceticismo ainda é maior quando alguém chega aqui portando um sobrenome ilustre, de um político notório, de alguém que tem uma presença importante no cenário político nacional, é como se fosse um prolongamento acessório do verdadeiro detentor do poder, da responsabilidade e da competência política.

Pois a ascensão de Luís Eduardo foi feita naturalmente. S. Exª granjeou o respeito dos seus Colegas, afirmou-se como um Deputado competente, capaz de articular, capaz de manter a palavra empenhada, de assumir funções de liderança, como disse o Senador Hugo Napoleão, que não são fáceis de serem atingidas naquela Casa, seja liderança de partidos, de blocos ou a Presidência da Câmara dos Deputados. E a tudo isso S. Exª chegou com naturalidade, como uma decorrência do seu trabalho, da sua vocação, da sua maneira de se conduzir.

Ontem mesmo, depois de entendimentos que a diplomacia exigia com as autoridades espanholas, fosse o Chefe de Estado, Rei D. Juan Carlos, fosse o Primeiro-Ministro José Maria Aznar, o Presidente Fernando Henrique Cardoso cancelou a sua visita e imediatamente retornamos ao Brasil, nos dirijindo diretamente para a Cidade de Salvador, onde tivemos oportunidade de dar o último adeus àquele que se destacou na vida pública. S. Exª foi abatido em pleno vôo - falava o Senador Artur da Távola, citando o poema de Fagundes Varela “A Pomba” -, assim foi ele, foi abatido num momento de grande ascensão política.

Tenho para mim, Sr. Presidente, que a glória dos políticos e dos guerreiros parece que está na dependência do modo como ele nos deixam, como desaparecem, parece que isso tem algo a ver com a morte trágica, inesperada. Foi, assim, com Getúlio Vargas, com Tancredo Neves, e foi assim, agora, com Luís Eduardo, que realizava uma vocação política. E em política não há o legado material que os pais transmitem aos filhos, porque política, sobretudo, é vocação. Debalde será aquele que quiser - e muitos já tentaram sem nenhum êxito - ungir herdeiros que não têm o talento nem as condições para o exercício da atividade política, porque é uma atividade cheia de peculiaridades, de exigências. E, entre elas, talvez, fosse o caso de se meditar agora, inclusive na exigência ou na repercussão que ela tem até sobre a nossa vida, seja no plano familiar, seja no plano até da nossa integridade física, da nossa saúde. Nós, às vezes, negligenciamo-nos, não emprestamos o cuidado necessário à nossa saúde, envoltos nesse dia-a-dia absolutamente absorvente, exigente, que é o da atividade política, quando ela se exerce por vocação, com senso de responsabilidade. E, muitas vezes, somos colhidos por estas surpresas, somos prisioneiros desses acontecimentos que terminam nos subtraindo pessoas do nosso convívio, como Luís Eduardo.

Certamente, quem conhece a vida do Senador Antonio Carlos Magalhães sabe que a sua carreira política vitoriosa, a sua história, a sua vida, inclusive no plano pessoal, também tem sido pontilhada de muitos desafios, de muitas dificuldades, de muitos momentos de dor e de sofrimento. Não pensem que S. Exª veio para a vida pública a passeio. S. Exª tem enfrentado muitos dissabores e sofrido bastante. Agora, mais uma vez, S. Exª recebe um golpe duro, talvez o mais duro de toda sua vida. Oxalá esta seja a última vez que o Senador Antonio Carlos Magalhães se defronta com situações desse tipo!

Acreditamos que, com sua energia, com seu poder de liderança e com sua capacidade de luta tantas vezes demonstrada, S. Exª vencerá também essa dificuldade. Nós, seus amigos e Colegas, estamos aqui para lhe prestar essa solidariedade, que não é mais política, mas pessoal. Oferecemo-lhe a nossa amizade, o nosso conforto, muito mais no sentido de fazer com que S. Exª sinta este nosso sentimento, porque só o tempo poderá permitir que S. Exª conviva, de maneira mais tranqüila, com essa grande dor.

Portanto, Sr. Presidente, associo-me aos dois requerimentos que foram apresentados e que estão sobre a mesa. Deixo este registro de quem conheceu Luís Eduardo Magalhães, de quem com ele conviveu e de quem nele depositava grandes esperanças.

Não é fácil formar quadros políticos! Não é fácil descobrir vocações como essas, que têm muito a oferecer ao País! Perdem o Senador Antonio Carlos Magalhães, a Bahia, o Congresso Nacional e o Brasil! Quem o diz não sou eu, mas vozes insuspeitas de adversários políticos que reconhecem o talento e a vocação política daquele que muito fez e muito mais faria pelo nosso País!

Muito obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 24/04/1998 - Página 6967