Discurso no Senado Federal

HOMENAGEM DE PESAR PELO FALECIMENTO DO DEPUTADO FEDERAL LUIS EDUARDO MAGALHÃES.

Autor
José Agripino (PFL - Partido da Frente Liberal/RN)
Nome completo: José Agripino Maia
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • HOMENAGEM DE PESAR PELO FALECIMENTO DO DEPUTADO FEDERAL LUIS EDUARDO MAGALHÃES.
Publicação
Publicação no DSF de 24/04/1998 - Página 6968
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM POSTUMA, LUIS EDUARDO MAGALHÃES, DEPUTADO FEDERAL, ESTADO DA BAHIA (BA), EX PRESIDENTE, CAMARA DOS DEPUTADOS.

O SR. JOSÉ AGRIPINO (PFL-RN. Para encaminhar. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs. e Srs. Senadores, o Senador Lúcio Alcântara acabou de se referir à viagem que juntos fizemos à Espanha, acompanhando Sua Excelência o Presidente Fernando Henrique Cardoso.

A viagem iniciou sob o peso do impacto da perda do Ministro Sérgio Motta, há 30 anos amigos do Presidente. Esse fato foi marcante, mas não justificou o cancelamento da viagem programada há meses. A viagem foi feita em clima de reflexão, de silêncio e de poucas conversas. A viagem foi feita, porque era dever de Estado.

Chegamos à Espanha, e os primeiros atos foram praticados. A recepção oficial foi oferecida pelo Rei Juan Carlos, pelo Presidente de Governo José Maria Aznar e por seus Ministros. Houve um jantar na Embaixada do Brasil, onde recebemos a primeira notícia sobre o estado de saúde do amigo e Deputado Luís Eduardo Magalhães. A notícia ainda não era a final, a qual só recebemos às 2 horas e 30 minutos.

Imaginávamos que a viagem fosse prosseguir e, juntos, o Senador Lúcio Alcântara e eu, estivemos presentes na Praça da Lealdade para o primeiro ato oficial da visita. Lá não chegou o Presidente Fernando Henrique Cardoso, mas a notícia de que a viagem estava sendo cancelada. Foi cancelada toda a programação de uma viagem de Estado importante para o Brasil e para a Espanha, fato único no ano de 1998 para o Rei Juan Carlos, que só recebe um Chefe de Estado por ano.

A viagem foi cancelada, e, logo a seguir, deram-nos a informação de que, às 13 horas, horário de Madri, todos nós retornaríamos ao Brasil para participar das exéquias do Deputado Luís Eduardo Magalhães. Com profunda tristeza, dirigimo-nos ao aeroporto e embarcamos no avião. A viagem foi marcada por dois falecimentos terríveis para o País.

A viagem durou oito horas. Decorridas seis horas, o Senador Lúcio Alcântara e eu recebemos o convite do Presidente da República para conversarmos privadamente na cabine presidencial. Para lá fomos e ouvimos o sentimento do Presidente, que nos disse claramente: “As perdas políticas são superáveis - dá-se um jeito em tudo -, mas não as perdas humanas”.

Sua Excelência nos fez confidências sobre suas relações pessoais com Luís Eduardo Magalhães, o cavalheiro, o homem paciente, tolerante, articulador, agregador, lúcido e determinado. Fez-nos confidências que não me cabe revelar, mas que a mim deram a informação precisa de que o cancelamento daquela viagem de Estado era um gesto do Presidente que traduzia o desejo da classe política brasileira e da sociedade brasileira. Sua Excelência foi um grande intérprete do sentimento do povo brasileiro.

Fez-nos confidências sobre as relações que, durante um tempo de sua vida, teve com Luís Eduardo, o que me fez lembrar do amigo Luís Eduardo. Em 1983, quando eu era Governador e ia a Salvador para participar de uma reunião política, ele, como Presidente da Assembléia Legislativa, recebia-me na porta do avião sempre modesto, humilde, amigo e solícito.

As confidências do Presidente Fernando Henrique me fizeram lembrar do Luís Eduardo que, tantas vezes, veio a este plenário para falar com seu pai ou com outra pessoa. Ele não saía deste plenário sem cumprimentar, individualmente, todos do seu Partido e de outros Partidos, mostrando quem realmente era: um cavalheiro tolerante, que não estabelecia barreira entre pessoas e que discutia idéias com sinceridade; o homem que foi incompreendido na época da Constituinte e era tido como um “emblema do Centrão”, quando, na verdade, já àquela época, ele se antecipava aos tempos de hoje e defendia suas idéias com relação ao conceito de capital estrangeiro na participação de empresas brasileiras e à participação de capital estrangeiro na mineração. Demonstrava já o seu espírito liberal. Demonstrava aquilo que foi, de forma determinada, quando da votação das reformas constitucionais, quando ele significou o grande elo de ligação entre o PFL, o nosso Partido e o PSDB, que se uniram para fazer as reformas muito mais em nome do interesse nacional do que de afinidades pessoais.

Luís Eduardo Magalhães significou tudo isso para todos nós e para o Presidente da República. O seu desaparecimento provocou uma comoção nacional. Ao ligar as televisões, é fácil sentir o sentimento dos baianos e da classe política. Não ouvi um único depoimento de político algum que não fosse positivo em relação à sua postura de cidadão e de homem público.

Sr. Presidente, Srªs. e Srs. Senadores, não quero me alongar, mas desejo repetir frases que dizem respeito a Luís Eduardo, que não são minhas, mas sim de políticos que, por acaso, são baianos. Um desses políticos disse: “Luís Eduardo é a síntese dos sonhos que Antonio Carlos Magalhães não conseguiu realizar”. Um outro disse: “Luís Eduardo é o coração de Antonio Carlos Magalhães”.

O nosso Presidente, homem de luta e de determinação, não pode fraquejar. Não somente nós, do PFL, precisamos dele, mas o País inteiro precisa da sua garra, da sua luta na defesa do conceito do Congresso Nacional, da respeitabilidade da Câmara e do Senado.

Quero pedir para que Antonio Carlos faça dos sonhos de Luís Eduardo os seus próprios sonhos, faça do coração de Luís Eduardo o seu próprio coração e que a memória de Luís Eduardo seja o estímulo permanente para que Antonio Carlos continue o mesmo homem aguerrido que conhecemos neste plenário.

Luís Eduardo se foi; Antonio Carlos fica. E o Brasil precisa de Antonio Carlos. A ele, a D. Arlete, a Michelle, aos irmãos de Luís Eduardo, aos seus filhos, a minha homenagem, a minha saudade e a minha solidariedade.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 24/04/1998 - Página 6968