Discurso no Senado Federal

HOMENAGEM DE PESAR PELO FALECIMENTO DO DEPUTADO FEDERAL LUIS EDUARDO MAGALHÃES.

Autor
Elcio Alvares (PFL - Partido da Frente Liberal/ES)
Nome completo: Élcio Alvares
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • HOMENAGEM DE PESAR PELO FALECIMENTO DO DEPUTADO FEDERAL LUIS EDUARDO MAGALHÃES.
Publicação
Publicação no DSF de 24/04/1998 - Página 6952
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM POSTUMA, LUIS EDUARDO MAGALHÃES, DEPUTADO FEDERAL, ESTADO DA BAHIA (BA), EX PRESIDENTE, CAMARA DOS DEPUTADOS.

O SR. ELCIO ALVARES (PFL-ES. Para encaminhar a votação. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs. e Srs. Senadores, como Líder do Governo, neste momento, faço uma colocação que julgo da mais alta importância.

O Brasil teve momentos de muita dor nesses últimos dias. Perdemos o nosso querido Humberto Lucena, que foi um companheiro exemplar; perdemos o Ministro Sérgio Motta, que, indiscutivelmente, no conjunto do Governo, era uma figura estelar; e, de uma maneira tão inesperada, perdemos aquele que indiscutivelmente, dentro do meu Partido e nessa constelação do Congresso, era uma das figuras mais brilhantes: o jovem Luís Eduardo Magalhães.

Luís Eduardo era um predestinado. Desde os primeiros momentos, jovem ainda, ingressando na política baiana, ele deixou claro que não seria na sua vida política o filho do grande político Antonio Carlos Magalhães. Assumiu papel próprio, luz própria, lançou idéias que passaram a ser repetidas, porque, na verdade, demonstravam a presença de um líder equilibrado e determinado. E mais avultou ainda o trabalho de Luís Eduardo quando, na Presidência da Câmara dos Deputados, soube conduzi-la melhor do que ninguém, com experiência, altivez e, acima de tudo, determinação.

Identificado com o processo de reformas, Luís Eduardo em nenhum momento vacilou; diríamos mesmo que foi a sua participação cada vez mais afirmativa que fez com que os projetos da reforma avançassem na Câmara dos Deputados. E, neste momento que começam a surgir ilações políticas, conclusões, é preciso destacar que o Senado da República sempre soube dar ao Governo o seu apoio; foi a competência dos meus eminentes colegas Senadores, a dedicação dos Líderes, os trabalhos do Presidente Sarney e do Presidente Antonio Carlos Magalhães que colocaram o Senado em uma posição invejável no que diz respeito a reformas. A confirmar tal afirmativa está o fato de estarmos nos encaminhando para votar o texto da redação da Reforma Administrativa, praticamente encerrando o ciclo dos nossos trabalhos.

Na Câmara, a situação é diferente, e o é pela sua própria formação, de uma Casa que busca interpretar a vontade popular. Ali, Luís Eduardo teve uma atuação intensa, firme, vigorosa.

Como Líder, posso dizer, após uma convivência de três anos e meio com o Presidente Fernando Henrique Cardoso: ninguém melhor do que Luís Eduardo Magalhães para interpretar o pensamento de Sua Excelência. Logicamente, a liderança é do Presidente da República, mas o líder que fala e age em seu nome - como foi o caso de Luís Eduardo Magalhães - tem que ser um intérprete fiel e correto das posturas e pensamentos do Governo. Nisso ninguém superou Luís Eduardo.

A propósito disso - é importante nos reportarmos ao pronunciamento do eminente Líder do Bloco da Oposição, Eduardo Suplicy -, é preciso dizer que Luís Eduardo sempre agiu de uma forma notável sob o prisma da política: agiu em favor das posições do Governo, mas teve uma dignidade invulgar ao dialogar com a Oposição. Todos sentimos essa perda - como o Senador Suplicy, que estava bastante emocionado -, pois ele não ficou apenas circunscrito à sua ação de político: avançou mais ainda e mostrou a todos nós a densidade humana que o transformou em uma pessoa indispensável entre todos aqueles que, de uma forma ou de outra, exercitam a política voltada para o desenvolvimento do País.

Aqui há dois pontos que precisam ser ressaltados. A perda de Luís Eduardo Magalhães atinge todos nós, atinge todos aqueles que se acostumaram a vê-lo sempre com aquela jovialidade que lhe era característica, sempre com aquele espírito de trazer para junto de si as melhores idéias, os melhores integrantes desta Casa. No entanto, não podemos obscurecer a dor, a profunda dor que neste momento atinge Antonio Carlos Magalhães - esse Antonio Carlos Magalhães que, hoje, na política brasileira, é um misto de mito e de homem público invulgar.

Antonio Carlos Magalhães é a figura polêmica que todos conhecemos, que diz sempre com muita sinceridade aquilo que pensa e que, às vezes, aos olhos dos outros, parece uma figura inflexível. Mas, na intimidade da relação pai e filho, Antonio Carlos não tinha amor por Luís Eduardo: tinha paixão. Quem convive com S. Exª sabe muito bem que, nos seus olhos, acendia-se sempre uma chama de vida quando Luís Eduardo falava.

Na intimidade entre Antonio Carlos e Luís Eduardo era difícil saber quem se excedia mais em ternura, afeto e admiração: se era o pai ou o filho. Eles faziam até um expediente muito próprio das pessoas privilegiadas em matéria de convivência: davam-se o luxo, perante outras pessoas, de dispensar um ao outro um tratamento respeitoso: era o Senador e o Deputado. Na verdade, era uma maneira de não deixar muito visível o sentimento de amor sobre o qual lhes falei há pouco, sentimento que, na verdade, não era amor: era paixão.

Luís Eduardo - impossível esconder esse fato, ninguém pode negá-lo sem ter a convicção de estar errando - era um projeto de vida, era o prolongamento de Antonio Carlos Magalhães. Consciente de seus setenta anos de idade, Antonio Carlos Magalhães visualizava em Luís Eduardo o prosseguimento da sua própria vida. Às vezes, até com muita ternura, dizia que Luís Eduardo era ele, mas sem os defeitos, apenas com as virtudes.

Ontem estivemos em Salvador. Praticamente toda a Casa também lá esteve. Presenciamos um quadro dos mais emocionantes que já vi: a altivez de Antonio Carlos Magalhães em sua dor. Ele teve uma conduta que deu a todos a certeza de que é um homem forte, altivo. Sem conter as lágrimas, mas com muita dignidade: foi assim que ele se portou diante de todos nós. Antonio Carlos Magalhães era a imagem da dor, mas uma dor determinada por um sentimento de realidade, do qual tenho certeza que ele não vai se afastar.

Eu diria que o futuro para Antonio Carlos morreu, morreu na pessoa de Luís Eduardo. Mas Antonio Carlos Magalhães ainda tem muito para dar ao Brasil. A imagem do filho, o exemplo do filho, essa voz nacional que se formou é algo notável. Eu li hoje todos os comentários que se fizeram sobre Luís Eduardo e há uma unanimidade nacional a seu respeito. Por isso digo que Antonio Carlos vai encontrar na lembrança do filho uma égide, a razão maior para voltar a esta Casa e aqui continuar, cada vez mais, adotando posturas em favor do povo brasileiro.

Faço este registro como Líder do Governo no Senado, como membro do PFL, Partido que tinha, em Luís Eduardo Magalhães, a expectativa e a esperança de um futuro político que poderia, quem sabe, levá-lo à Presidência da República.

Falo como amigo e companheiro de Antonio Carlos Magalhães, condição que assumi nos últimos tempos ao privar, como ouvinte atento e permanente, com o Presidente, na condição de Líder.

Vamos buscar forças - dentro da nossa solidariedade, que é imensa, dentro da nossa dor, que a esta altura já começa a ser contida pelos contrafortes da razão - para que, quando Antonio Carlos Magalhães retornar ao Senado, encontre, no carinho das manifestações, na ternura da nossa amizade, respeito e admiração, motivos mais do que suficientes para, como a ave fênix, reencetar o seu vôo, vôo de líder e de comandante, e ter a certeza de que, com sua ação dentro do Congresso Nacional, do Senado da República, vai continuar honrando cada vez mais a memória daquele jovem que hoje se transforma - conforme eu disse - em unanimidade nacional.

À família Magalhães as nossas condolências, o nosso sentimento, a nossa solidariedade. Com o Congresso, do qual Luís Eduardo Magalhães foi uma das estrelas mais rutilantes e onde ele teve oportunidade de afirmar seus predicados como parlamentar e Presidente da Câmara, apenas podemos assumir um compromisso de ação e trabalho.

Perdemos um grande líder, mas ficou, no fundo do coração e na consciência de cada um de nós, o dever e a certeza de que vamos trabalhar dedicadamente para que a imagem de Luís Eduardo Magalhães possa, cada vez mais, no seu gesto de liderança, estar presente nas decisões do Congresso brasileiro, que devem ser acertadas, justas, sociais e, eu diria, profundamente identificadas com o futuro do Brasil.

Muito obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 24/04/1998 - Página 6952