Discurso no Senado Federal

REVERENCIA A MEMORIA DO DEPUTADO LUIS EDUARDO MAGALHÃES.

Autor
Guilherme Palmeira (PFL - Partido da Frente Liberal/AL)
Nome completo: Guilherme Gracindo Soares Palmeira
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • REVERENCIA A MEMORIA DO DEPUTADO LUIS EDUARDO MAGALHÃES.
Aparteantes
Leonel Paiva.
Publicação
Publicação no DSF de 28/04/1998 - Página 7063
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM POSTUMA, LUIS EDUARDO MAGALHÃES, DEPUTADO FEDERAL, ESTADO DA BAHIA (BA), EX PRESIDENTE, CAMARA DOS DEPUTADOS.

O SR. GUILHERME PALMEIRA (PFL-AL. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs. e Srs. Senadores, sexta-feira passada, infelizmente, não pude aqui estar presente, quando alguns colegas tiveram a oportunidade de homenagear esse grande líder, meu companheiro de Partido, figura do maior destaque na política nacional. Hoje, primeira sessão após a sua morte em que estou presente, não poderia deixar de homenageá-lo, externando um pouco daquilo que senti e que tenho certeza que todos os seus amigos, todos os brasileiros, todos que fazem política neste País devem estar sentindo. É uma falta difícil de descrever, por isso preferi escrever alguma coisa, para que fique marcado nos Anais desta Casa tudo aquilo ou parte daquilo que ele significava.

Sr. Presidente, Srªs. e Srs. Senadores, no auge da época em que a humanidade vivia perigosa e precariamente, em decorrência da guerra fria e da ameaça nuclear, o filósofo do existencialismo escreveu que “a morte é o único inevitável da vida”. A afirmação não traduzia nenhuma novidade, mas encerrava uma forma extremamente cruel de banalização da própria vida. Se cultivássemos a inevitabilidade da morte, teríamos nos transformado em meros espectadores do mundo em que vivemos. Todos temos consciência da precariedade de nossa existência, mas isto não nos dá o direito de cultuarmos a indiferença, o conformismo e a passividade. Não foram os conformados que construíram o mundo em que vivemos, mas os irredentistas da vida que conseguiram transformá-lo.

A morte não é a finalidade da vida, como fazia justo supor a filosofia de Sartre, mas o marco que dá a dimensão do tamanho, do significado e da importância de nossa própria existência. Por isso, Sr. Presidente, creio firmemente que há homens, como era o caso de meu amigo, meu companheiro e meu correligionário Luís Eduardo, cuja dimensão da perda só podemos avaliar quando sobrevem a morte. No caso dele, brutal, inesperada e injusta. Injusta na dimensão bíblica a que se refere o Padre Antônio Vieira, pois se pranteamos a morte dos mais velhos, que nos são caros, como não nos revoltarmos, quando ela colhe os mais jovens que tanto admiramos?

Não que a idade seja a única dimensão de nossa vida, pois há aqueles que, como Alexandre Magno, aos vinte e seis anos já tinha concluído a tarefa de sua vida. Ou o próprio Cristo que, aos trinta e três, deu por concluída a sua missão transcendental na Terra.

Não lamento apenas a morte do amigo. Pranteio a obra de sua vida, para a qual era o mais preparado de todos nós. Deploro a perda de quem tanto esperávamos para a missão que ele encarnou de ser o símbolo de uma era de mudanças e de compromissos aos quais ele foi fiel em toda a sua carreira. Era um homem, Sr. Presidente, em sintonia com o seu tempo, com as aspirações de sua geração e com a esperança de milhões e milhões de brasileiros. Ele tinha o senso de oportunidade, a consciência da necessidade de colocar o Estado a serviço da sociedade e, pela força do poder político, transformar a própria sociedade, transformando, modernizando e fortalecendo o Estado.

           O papel que ele desempenhou como Presidente da Câmara elevou o prestígio do Congresso, serviu a este Poder e deu ao Legislativo a dimensão de sua grandeza. Nunca, em nenhum momento de sua breve mas fecunda carreira, transigiu com os princípios em que acreditou. Para mim, como seguramente para inúmeros de seus muitos amigos, era a encarnação da serenidade, do equilíbrio e da capacidade de transigir no acessório para conquistar o que ele considerava essencial. No exercício da Liderança do Governo, conquistou o respeito, a admiração e a compreensão até de seus adversários. Era, Srªs. e Srs Senadores, um batalhador incansável, um combatente que não dava tréguas a si mesmo.

           O Sr. Leonel Paiva (PFL-DF) - V. Exª me permite um aparte?

           O SR. GUILHERME PALMEIRA (PFL-AL) - Ouço com prazer V. Exª.

O Sr. Leonel Paiva (PFL-DF) - Senador Guilherme Palmeira, sei da amizade de V. Exª com o Deputado Luís Eduardo Magalhães. Sei até de suas ligações políticas, já que correligionários foram, ambos, do PFL. Sei também que V. Exª, mais do que o político, mais do que o articulador, mais do que o Presidente da Câmara, mais do que o Líder do Governo, mais do que o Deputado, conheceu bem e desfrutou da amizade de Luís Eduardo Magalhães. Certa feita, li na imprensa uma frase dita por S. Exª: “Tenho a responsabilidade de ser filho do político mais importante e mais influente do Brasil.” Tal frase demonstrou muita sabedoria. Existem verdades na vida de um homem que são cultuadas, uma delas é a de que o filho sempre se espelha no pai. Com a morte de Luís Eduardo Magalhães é necessário que todos nós, ao entendermos a posição de sofrimento, de dor, de angústia de seu pai, não só sejamos solidários mas que façamos uma torcida para que nosso Senador Antonio Carlos Magalhães, Presidente desta Casa, tenha forças para superar este momento de angústia e de dor para que, homenageando seu filho, espelhe-se em suas posturas políticas, invertendo-se o papel do filho que se espelha no pai. Tive oportunidade de viajar nesses últimos dias e pude perceber que em Minas Gerias o baque foi muito grande com a perda de tão eminente político brasileiro. Muito obrigado pelo aparte. 

O SR. GUILHERME PALMEIRA (PFL-AL) - Fico grato a V. Exª, Senador Leonel Paiva, pelo seu aparte ao meu discurso, o qual vem dar brilho e substância ao meu modesto discurso.

Prossigo, Sr. Presidente:

A volúpia, repito, com que exerceu os seu deveres cívicos causa admiração e desperta em cada um de nós a certeza de que ele colocava suas convicções acima da todas as conveniências de ordem pessoal. Até, como se viu, de sua própria vida.

Todos nós sabemos a falta que ele faz. Sentimos a angústia de sua ausência e lamentamos, não só por nós os seus amigos, e mais pelo País, que não tenha consumado o ideal em que teria demonstrado as excepcionais qualidades de homem público e a envergadura do estadista. Concorrer à Presidência da República, a exercer a mais alta magistratura do País, como o mais preparado dos políticos de sua geração, seria o coroamento de uma carreira que todos sabiam brilhante, correta e excepcionalmente dotada dos enormes requisitos que ornavam a sua marcante personalidade.

Todos assistimos, estarrecidos, a comoção gerada em todo o País com a brutalidade do seu destino. Roubado à vida, Sr. Presidente, quando mais preparado estava para servi-la. Ele foi capaz de interpretar os sentimentos de toda a Nação. Interpretar e dar o rumo em que revelou um excepcional talento para a política, para a vida pública e para a vida cívica, como quem tem pressa de superar o próprio destino. Os desígnios que marcaram a sua existência não deixaram apenas três órfãos, uma esposa e uma família que, mais do que nós todos, devem ainda se perguntar por que lhe foi roubada a vida e que sentido ela passa a ter para aqueles que viam nele um poderoso lampejo de esperanças sempre renovadas.

Precisamos acrescentar o que está sentindo o seu extraordinário pai, grande líder nacional, Senador Antonio Carlos Magalhães. Nunca vi, Sr. Presidente, abatido ante a mais desafiadora e a mais difícil das tarefas que se transformaram no cotidiano de sua vida. Se era capaz desse otimismo, ante os infortúnios que podiam levar muitos à desesperança, não é difícil imaginar que chama extraordinária alentava o seu espírito, fazia superar as fragilidades de sua própria saúde e o permitia encarar com tanto desprezo o risco da própria morte. A sua dimensão humana, para os que conviveram com ele, era a de um homem forte. Inquebrantável, mas sereno e conformado ante qualquer adversidade. Por isso as superava com tanta bravura. Venceu todas as batalhas em que se empenhou. Cumpriu, até a exaustão, os compromissos que assumiu com o povo da Bahia e com uma legião de brasileiros que viam nele a esperança de um rumo inflexível que ele traçou e que teria vencido, se não fosse o inesperado, a brutalidade e o momento trágico em que lhe faltaram forças para que a fortaleza de seu espírito pudesse superar a fragilidade de sua saúde.

Pranteio o amigo, lastimo sua perda para o País, mas confio em Deus que seu exemplo, sua edificante vida pública e seu devotamento à causa do País, se não podem redimir a sua vida, hão de perpetuar a sua inesquecível memória e sua inapagável lembrança que fica como um exemplo dignificante para todos nós e para o preito de toda a Nação.

Era o que eu tinha a dizer.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 28/04/1998 - Página 7063