Discurso no Senado Federal

DEFESA INCONDICIONAL DA MANUTENÇÃO DO BANCO DO ESTADO DO PARANA. RESPONSABILIZAÇÃO DO GOVERNO ESTADUAL PELO PROCESSO QUE INVIABILIZOU AQUELA INSTITUIÇÃO.

Autor
Roberto Requião (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/PR)
Nome completo: Roberto Requião de Mello e Silva
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
BANCOS.:
  • DEFESA INCONDICIONAL DA MANUTENÇÃO DO BANCO DO ESTADO DO PARANA. RESPONSABILIZAÇÃO DO GOVERNO ESTADUAL PELO PROCESSO QUE INVIABILIZOU AQUELA INSTITUIÇÃO.
Publicação
Publicação no DSF de 28/04/1998 - Página 7065
Assunto
Outros > BANCOS.
Indexação
  • CRITICA, ATUAÇÃO, GOVERNADOR, ESTADO DO PARANA (PR), PRIVATIZAÇÃO, BANCO ESTADUAL, IRREGULARIDADE, CRISE, LIQUIDAÇÃO, MOTIVO, DIVIDA, FAVORECIMENTO, EMPRESA, CORRUPÇÃO, NEGOCIAÇÃO, PRECATORIO.
  • DEFESA, MANUTENÇÃO, BANCO ESTADUAL, ESTADO DO PARANA (PR), APRESENTAÇÃO, SUGESTÃO, RECUPERAÇÃO.

           O SR. ROBERTO REQUIÃO (PMDB-PR. Pronuncia o seguinte discurso) - Sr. Presidente, Srªs. e Srs. Senadores, sem que os Parlamentares e o povo tenham a menor noção do que acontece, o governador Jaime Lerner encaminha a liquidação ou a privatização do Banco do Estado do Paraná.

           Escondido atrás dos secretários da Fazenda e do Planejamento, o governador não emite uma única opinião, como se o assunto não fosse de sua competência e responsabilidade.

           Falsa e mentirosamente, buscam atribuir a crise do Banestado à liquidação do BADEP, ocorrida no Governo Álvaro Dias e consolidada no Governo Roberto Requião.

           Falsificam a verdade e mentem de forma descarada e obscena ao tentar encobrir que o BADEP quebrou em função da dívida não paga de financiamentos feitos a Prefeitura Municipal de Curitiba e, fundamentalmente, para empresários que se estabeleceram na Cidade Industrial de Curitiba, quando o atual governador era prefeito da capital.

           Essas contas não pagas, somadas às dívidas do Grupo Atalla (Usina Central do Paraná e da Cocelpa (Companhia de Celulose e Papel do Paraná), foram transferidas na liquidação do BADEP, para o Fundo de Desenvolvimento Econômico do Paraná(FDE). Logo, essas dívidas foram colocadas sob a responsabilidade do próprio Estado, e não do Banestado.

           Mentem e escondem que as dívidas que quebraram o BADEP foram contraídas irresponsavelmente pelos governos da antiga Arena(partido que dava sustentação aos desmandos da ditadura e que se transformou no PFL de hoje), quando o Prefeito de Curitiba, realizador do projeto CIC, era o Sr. Jaime Lerner.

           De qualquer forma, o Governo da União se dispõe, agora, a financiar o Estado quebrado, em 30 anos, a juros de 6% ao ano mais correção. Como de resto fez e faz com todos os Estados da Federação.

           Não são pois nem os governos da velha Arena (revivida no PFL) e tampouco os Governos Álvaro Dias e Roberto Requião os responsáveis pelo atual crise do Banestado.

           Por que, então, quebrou o Banestado?

           a) Porque mergulhou até o pescoço na compra de Letras Financeiras do Tesouro dos Estados de Alagoas, Pernambuco e Santa Catarina, no escândalo dos precatórios. As Letras de Alagoas, por exemplo, já foram decretadas nulas por um juiz e o Banco Central determinou que as demais Letras podres compradas pelo Banestado, no Governo Jaime Lerner, sejam lançadas em Crédito em Liquidação, portanto como prejuízo. O valor desse estrago deve andar por volta de R$400 milhões. Já que, para lástima dos paranaenses, o Banestado foi o maior comprador de letras podres, em relação ao seu Patrimônio Líquido.

           b) O Banestado quebrou ainda porque emitiu criminosamente debêntures, através da Banestado Leasing, pagando comissões absurdas a “viabilizadores técnicos” e ao tomador final. Esse rombo - jamais punido pelo Sr. Jaime Lerner - deve ser calculado sobre a emissão de R$300 milhões em debêntures.

           c) Quebrou ainda o Banestado porque o Banco acumula R$500 milhões em operações inadimplentes, principalmente aquelas realizadas pela quadrilha da Banestado Leasing. Logo, está o Banco sob o imperativo de provisionar R$500 milhões em operações de difícil, se não impossível, cobrança.

           Alternativas para evitar a liquidação do Banestado e mantê-lo sob o controle dos paranaenses.

           Ainda assim, o Banestado tem saída. E, para tal, é preciso:

           1) Demitir na sua integralidade a atual direção do banco, que deverá ser substituída por uma direção profissional, aprovada pelo Banco Central e pelas forças vivas da economia paranaense.

           2) Dar uma contrapartida de cerca de R$350 milhões em ações de empresas públicas como a Copel e a Sanepar para viabilizar o necessário suporte de capital exigido pelo Banco Central, a fim de que o Banestado seja saneado.

           3) Ainda através do Proes - Programa de Saneamento dos Bancos Estaduais - viabilizar recursos a longo prazo, para ajustar o Banestado à nova conjuntura econômica.

           4) Uma diretoria séria e profissional fará uma chamada de capital, convocando os paranaenses a darem suporte e apoio ao nosso Banco.

           Não é possível que o Paraná, que se emancipou e vem sendo construído há 150 anos, seja corroído, dilapidado e desmontado no exíguo período de um desastrado governo.

           Não é possível que o Banestado, patrimônio dos paranaenses, e que neste ano comemora 70 anos de vida, seja destruído pela incompetência, corrupção e irresponsabilidade.

           Anote-se: apenas o que o Governo Jaime Lerner gastou com publicidade somente em três anos, e o que se propõe a gastar em 98, excede e quase dobra a quantia necessária para a recuperação e fortalecimento do Banestado.

           Já se foram as nossas estradas, na privatização brutal do anunciado pedágio. Já se foi parte significativa das ações da Copel. Assistimos o superfaturamento de obras como a ponte de Guaíra e a adequação de estradas vicinais. Vemos o Estado financiar R$1,8 bilhão para a Renault, em 10 anos, sem juros e correções, cinco vezes o valor necessário para resolver o problema do Banestado. Acumulam-se escândalos e desvios. E, não bastasse tudo isso, destroem agora o banco do povo do Paraná. Já perdemos o Bamerindus, e não satisfeitos com isso, levam de roldão o Banestado.

           A resistência ao descalabro está em nossas mãos. Nas mãos dos empresários e agricultores paranaenses. Nas mãos de políticos sérios, corajosos e honestos. Nas mãos de paranaenses conscientes e orgulhosos de sua terra e de sua identidade.

           Destruíram tudo o que foi possível destruir. E, agora, de maneira sórdida, mentirosa e falsa atribuem aos outros o que eles próprios produziram.

           Quase 150 anos de construção do Paraná emancipado, 70 anos de Banestado, para tudo ser demolido, arrasado e corrompido no curto espaço de três anos.

           Passaram sobre tudo. Mas se a sociedade paranaense abrir os olhos, não passarão sobre o Banestado.

           Assumimos um compromisso. O próximo Governo de oposição não cumprirá nenhum acordo do atual governo com o Banco Central. Manterá o Banestado aberto, transferindo uma pequena parte das ações da Copel para o Banco. Não se trata sequer de venda, mas de transferência de capital de uma empresa pública para outra.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 28/04/1998 - Página 7065