Discurso no Senado Federal

APELO A SOLIDARIEDADE NACIONAL NA SOLUÇÃO DOS INFORTUNIOS QUE ACOMETEM A REGIÃO NORDESTINA.

Autor
Casildo Maldaner (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/SC)
Nome completo: Casildo João Maldaner
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
CALAMIDADE PUBLICA.:
  • APELO A SOLIDARIEDADE NACIONAL NA SOLUÇÃO DOS INFORTUNIOS QUE ACOMETEM A REGIÃO NORDESTINA.
Publicação
Publicação no DSF de 30/04/1998 - Página 7252
Assunto
Outros > CALAMIDADE PUBLICA.
Indexação
  • SOLICITAÇÃO, SOLIDARIEDADE, ESTADO DE SANTA CATARINA (SC), BRASIL, URGENCIA, AUXILIO, SECA, FOME, REGIÃO NORDESTE, REGISTRO, ORGANIZAÇÃO, SOCIEDADE CIVIL, REMESSA, ALIMENTOS.

O SR. CASILDO MALDANER (PMDB-SC. Pronuncia o seguinte discurso.) - Sr. Presidente, Srªs. e Srs. Senadores, o Brasil é, acima de tudo, a expressão da solidariedade, do companheirismo, da integração. Um país que consegue deixar de lado questões políticas, religiosas e culturais, quando o assunto é ajuda humanitária. Não são poucos os exemplos vivenciados por nós em Santa Catarina. Na década de 80, o meu Estado foi literalmente inundado por uma sucessão de catástrofes nunca vista. Naqueles momentos difíceis nós, os catarinenses, recebemos o conforto e a solidariedade de um país inteiro.

Apesar das dificuldades, irmãos do Norte, Nordeste, Centro-Oeste e Sudeste, mobilizaram-se de todas as formas para levar ao meu Estado roupas, alimentos, remédios e muito, muito carinho. Mais do que nunca, os brasileiros se uniram para salvar a nossa gente. Os números das sucessivas tragédias daquela década até hoje não foram superados, mas a lembrança daquela mobilização, jamais se apagará de nossa memória.

Ao final do ano que passou, boa parte da imprensa nacional, intencionalmente ou não, quase cria uma defecção nacional ao colocar o Norte contra o Sul, durante os episódios que marcaram a indesejada visita do El Niño. Lembro-me muito bem que, naquele momento, eu já destacava a gravidade dessas ações meramente capitalistas. A conceituada revista Veja, veículo pelo qual todos nós dispensamos a maior respeitabilidade e que, inclusive, foi co-responsável direto pelo afastamento de um presidente da República, utilizou-se do fenômeno meteorológico para dizer que o caminho no verão não eram as praias do Sul e sim as do Nordeste. Chocou-nos ver um fenômeno da natureza - que poderia, se confirmado, ter vitimado dezenas de brasileiros - ser utilizado de maneira tão tendenciosa como nos fez crer aquela matéria. Graças ao Bom Deus, a bela e Santa Catarina continua de pé.

Ao enfocar esse fato, quero frisar que as tentativas de se criar e se alimentar um apartheid não se confirmou. O País continua unido em torno da busca das soluções dos seus problemas. Ao resistirmos aos apelos economicamente direcionados pela imprensa, mostramos aos sedentos pelo lucro fácil que este não é um País qualquer, é o Brasil.

E é com humildade que me permito fazer neste momento um chamamento aos nobres Pares, aos meus conterrâneos catarinenses e aos brasileiros em geral, para que voltemos os nossos olhares para o desespero do sertão nordestino. Tudo aquilo que este País fez ao meu Estado precisa ser feito, de maneira urgente, aos nossos irmãos do Nordeste. A fome está matando gerações inteiras, e no horizonte não se vislumbra nenhuma medida que impeça esse extermínio.

Não é momento para discutirmos a aplicabilidade dessa ou daquela técnica, de se agendar essa ou aquela audiência, de nos perdermos no emaranhado da burocracia. O momento é de doarmos. Doarmos, em primeiro lugar, nosso espírito humanitário. Precisamos agir. O Nordeste precisa de alimentos. Vamos organizar frentes de emergência para recolher doações de alimentos não-perecíveis; vamos conclamar os governos, as autoridades e a sociedade a participar. O que não podemos mais é, diante de mesas fartas, engolir imagens de crianças e anciãos sobrevivendo durante dias sem comer absolutamente nada.

Deus nos confiou a responsabilidade de olharmos pelas soluções de problemas como esses. Não fomos eleitos para divagar nossas idéias sem um objetivo predeterminado que é a busca constante da justiça e do bem estar da nossa gente.

O Brasil tem muitos problemas, mas tem também um povo que é exemplo para o mundo todo, que se orgulha, pelos quatro cantos do Globo, da sua terra, da sua bandeira, das suas origens. A menos de três meses, a nossa seleção estará em campo para iniciar a campanha pelo pentacampeonato mundial de futebol. O País inteiro estará ainda mais unido em torno de um sonho. Essa conquista verdadeiramente alimenta o Brasil, nos enche de auto-estima e esperança. Não desconheço a importância de levantarmos mais uma Copa do Mundo, mas creio que, no momento, vencermos a fome e a dor enfrentadas pelos nossos irmãos é fundamental, imprescindível e prioritária. Por essa razão, permiti-me assomar a esta tribuna para desafogar a angústia que sinto ao vê-los sofrendo toda a sorte de infortúnio.

            Ao concluir, quero congratular-me com aqueles a quem nominaria de “heróis anônimos”, brasileiros que estão se organizando em suas ruas, bairros, escolas e famílias, para levarem, além de um punhado de feijão com arroz, mais fé e esperança em um porvir melhor àquela gente tão sofrida.

Faço este registro, Sr. Presidente, nobres colegas, nesta tarde, praticamente no findar da sessão do dia de hoje - e não poderia deixar de fazê-lo -, porque vivemos vários momentos, no Sul, em especial em Santa Catarina, de calamidade, quando não nos faltou o apoio do Brasil inteiro, a solidariedade dos nossos irmãos brasileiros.

No início deste verão, uma revista de circulação semanal no Brasil inteiro prenunciava que nós, do Sul, teríamos dias difíceis, principalmente no verão, nas nossas praias. No meu entender, aquela atitude provocava, em alguns meios, uma espécie de uma divisão entre nós, brasileiros. Todavia, graças a Deus, isso não aconteceu. Por isso, agora, quando o Nordeste se vê em situação de profunda necessidade, quando se ressente desse clima duro, sofrendo a seca tremenda que lá assola, nós, do Sul, queremos prestar nossa solidariedade. Nada melhor que a nossa união, dos brasileiros de todos os quadrantes, para enfrentar esses problemas que ora atravessam os irmãos do Nordeste. Por isso, nós, do Sul, que fomos ajudados e recebemos solidariedade por diversas vezes, não podemos agora deixar transcorrer este momento sem prestarmos a nossa solidariedade. O Brasil inteiro unido vencerá também essa caminhada.

Eram as considerações que eu queria trazer no dia de hoje, Sr. Presidente.

Muito obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 30/04/1998 - Página 7252