Discurso no Senado Federal

BRADO AOS JOVENS PELO EXERCICIO DA CIDADANIA, ATRAVES DA MOBILIZAÇÃO E PARTICIPAÇÃO NAS ELEIÇÕES NACIONAIS. EXALTAÇÃO A MARTIN LUTHER KING.

Autor
Eduardo Suplicy (PT - Partido dos Trabalhadores/SP)
Nome completo: Eduardo Matarazzo Suplicy
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
ELEIÇÕES. HOMENAGEM.:
  • BRADO AOS JOVENS PELO EXERCICIO DA CIDADANIA, ATRAVES DA MOBILIZAÇÃO E PARTICIPAÇÃO NAS ELEIÇÕES NACIONAIS. EXALTAÇÃO A MARTIN LUTHER KING.
Aparteantes
Casildo Maldaner.
Publicação
Publicação no DSF de 30/04/1998 - Página 7254
Assunto
Outros > ELEIÇÕES. HOMENAGEM.
Indexação
  • IMPORTANCIA, PARTICIPAÇÃO, POLITICA, JUVENTUDE, GESTÃO, ORADOR, ESTABELECIMENTO DE ENSINO, OBJETIVO, INCENTIVO, VOTO FACULTATIVO, MENOR, REGISTRO, TITULO DE ELEITOR.
  • HOMENAGEM POSTUMA, MARTIN LUTHER KING, LIDER, NEGRO, PAIS ESTRANGEIRO, ESTADOS UNIDOS DA AMERICA (EUA), COMBATE, DISCRIMINAÇÃO.

O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco/PT-SP. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Senador Lucídio Portella, Srªs. e Srs. Senadores, no dia 05 de maio, encerrará o prazo para os jovens de 16 e 17 anos tirarem o seu título de eleitor.

O Presidente do Tribunal Superior Eleitoral, Ministro Ilmar Galvão, nestes últimos dias, através dos meios de comunicação, vem fazendo um apelo aos jovens para que se valham desse direito à cidadania.

Recentemente, resolvi visitar algumas escolas em São Paulo. Estive na Escola Alberto Conte, em Santo Amaro; em Artur Alvim, na Cohab I; na Escola Otacílio de Marcondes; em um dos mais tradicionais colégios de São Paulo, a Escola Normal de 1º e 2º Graus Caetano de Campos, na Aclimação, na minha cidade de São Paulo; e também no Colégio São Luís, onde fiz meus estudos de admissão ao terceiro colegial. Espero visitar, ainda, mais algumas escolas até o dia 06 de maio, com o objetivo de conclamar todos os jovens de 16 e 17 anos a tirarem o seu título de eleitor, habilitando-se a, dessa forma, exercer o legítimo direito de participarem da escolha de seus representantes: Deputados Estaduais e Federais, Senadores, Governadores e Presidente da República, no próximo dia 4 de outubro.

Procurei dizer-lhes da importância de assim proceder. Lembrei-lhes de que, em 1983 e em 1984, foram sobretudo os jovens, ao lado dos adultos, que saíram às ruas do Brasil lutando por democracia na memorável campanha “Diretas Já”. Foram também os jovens de caras pintadas que, em 1992, saíram conclamando todos para que houvesse ética na vida política brasileira.

É muito importante que os jovens se dêem conta de que, desde já, podem estar influenciando as decisões, principalmente aquelas que ocorrem em suas vidas, seja na área da educação, da saúde e da própria qualidade das escolas que freqüentam. Depende das deliberações dos Governadores, dos Prefeitos, dos Vereadores, dos Deputados Estaduais e Federais, dos Senadores e do Presidente da República tudo aquilo que diz respeito às suas vidas: a qualidade de vida, a habitação, a saúde, a cultura, as oportunidades de lazer e até mesmo os lugares onde se encontram com seus pares, onde vão namorar. A política tem a ver com a polis, com aquilo que Aristóteles, três séculos antes de Cristo, escreveu, ou seja, “a política tem por objetivo o bem comum”. Disse-lhes, pois, como é importante, desde já, que os jovens se apercebam disso, fazendo o convite a todos para que exerçam esse direito, que é voluntário, pois, no caso, a Constituinte de 1988 facultou aos menores de 16 e 17 anos a possibilidade de votarem ou não, enquanto que os de 18 anos ou mais, em nosso País, estão obrigados a fazê-lo; trata-se de uma responsabilidade do cidadão.

O Sr. Casildo Maldaner (PMDB-SC) - Permite-me V. Exª um aparte, Senador Eduardo Suplicy?

O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco/PT-SP) - Ouço V. Exª com prazer, Senador Casildo Maldaner.

O Sr. Casildo Maldaner (PMDB-SC) - Gostaria de cumprimentá-lo, Senador Eduardo Suplicy, por essa peregrinação que realiza no sentido de conclamar os jovens com a idade de 16 ou 17 anos a se alistarem, tirando seus títulos de eleitor para exercerem esse direito, essa prerrogativa da cidadania no próximo pleito. Entendo que se manifestar, exercitando esse direito, é melhor que se omitir, porque a omissão, às vezes, pode levar a alguns arrependimentos. Estar no processo é participar, discutindo, no dia-a-dia, as coisas que acontecem ao seu redor, no seu meio, e o alistamento eleitoral lhes dá esse direito. Ainda a Constituinte de 1988 e a legislação que se lhe seguiu permitiram que os jovens de 16 e 17 anos exercitassem diretamente o voto, influenciando na escolha dos representantes que melhor traduzam as suas idéias e as soluções para a comunidade colocadas, não só pelos candidatos a Deputado - como diz V. Exª - Estadual ou Federal, mas também a Senador, Governador, até a Presidente da República. Creio que essas questões envolvem a sociedade como um todo. Eu diria que poderíamos, além de estar percorrendo os colégios, escolas, entidades públicas, fazer uma conclamação, aqui da tribuna, nossas universidades, estabelecimentos escolares do Brasil inteiro no sentido de que incentivem os jovens a irem a essa luta e a aproveitarem este momento para, assim, exercitar a plena cidadania já no pleito que se avizinha. É este um grande momento de fazermos essa campanha para, livremente, democraticamente, esses jovens exercitarem seu direito de voto.

O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco/PT-SP) - Muito obrigado, Senador Casildo Maldaner.

Gostaria de lembrar a todos os jovens de 16 e 17 anos, que, por razões provavelmente econômicas, por razões que caracterizam a vida de seus pais, os quais possivelmente não tiveram recursos para viabilizar a presença de seus adolescentes de 16 e 17 anos - muitos dos quais tiveram de começar a trabalhar tão cedo e tiveram de deixar de freqüentar as escolas -, que também devem exercer esse direito e de que têm a possibilidade de tirar seu título de eleitor. Há um número muito grande de jovens, adolescentes, que não estão nas escolas hoje. Talvez seja mais difícil enviar-lhes esta mensagem, mas gostaria de conclamá-los a tirar seu título de eleitor e, então, procurar muito bem representantes que possam lhes garantir o direito de freqüentarem a escola, o direito daqueles que, no Brasil, infelizmente têm que, tão precocemente, começar a trabalhar e deixar os bancos escolares porque seus pais não têm o suficiente para sua sobrevivência.

Estima-se, Sr. Presidente, que dos 160 milhões de brasileiros, há mais de 100 milhões de eleitores. Segundo o Tribunal Superior Eleitoral, em junho de 1996, havia 101.284.121 eleitores. A população brasileira com idade superior a 18 anos era, em 1996, de 95.833.461, e a população brasileira na faixa de 15 a 17 anos, de 10.335.995. É possível que tenhamos mais de 5 milhões de jovens de 16 e 17 anos que, potencialmente, podem estar exercendo esse direito. Daí a renovação de meu apelo.

Sr. Presidente, é muito importante que os jovens saibam como é possível lutar por ideais que normalmente abraçam, de liberdade e de justiça. Nas minhas visitas às escolas, lembrei-me de Martin Luther King, uma das pessoas que mais entusiasmou os jovens, falecido há 30 anos, em 4 de abril de 1968.

“Eu sonho com o dia em que meus quatro filhos pequenos viverão numa nação em que não serão julgados pela cor de sua pele, mas por seus méritos. Esta é a nossa esperança. É com esta convicção que volto ao Sul. É ela que nos permitirá arrancar a este oceano de desespero uma gota de esperança”.

O trecho do legendário discurso “I have a dream” (Eu tenho um sonho), pronunciado em 28 de agosto de 1963 pelo reverendo Martin Luther king Jr., prêmio Nobel da Paz e um dos maiores líderes civis contra a discriminação racial, profetizava um futuro com mais harmonia, justiça e respeito. Diante de 250 mil pessoas que participaram da Marcha em Washington, nas escadarias do Lincoln Memorial, Martin Luther King conclamou o fim da discriminação, quer seja por motivo de raça, cor ou religião. Não é demais reforçar que, passados 35 anos desse acontecimento histórico, ainda perseguimos esse sonho.

Há trinta anos, em 4 de abril de 1968, com a morte trágica de Martin Luther King, atingido no rosto por um tiro de rifle, em Memphis, sua mensagem política começou a ganhar ainda maior força. Como o próprio líder previa, as dificuldades ainda são grandes, embora o nível de expectativa da população negra, bem como de outras raças, tenha mudado. Pelo menos, as estatísticas indicam que melhorou a situação social dos negros, outros líderes surgiram e é possível hoje vermos negros e brancos unidos na mesma luta, conforme a profecia de King.

O “combatente da causa da justiça”, como pretendia ser lembrado, ainda mantém viva a força de sua mensagem em favor de uma convivência pacífica, igualitária e cooperativa entre as pessoas de todas as raças. Isso porque, três décadas depois da morte de Luther King, não foi possível igualar a condição econômica e cultural dos negros à dos brancos. Os primeiros ainda continuam mais pobres e mais afastados das universidades em relação aos brancos.

Para muitos, o assassinato de Martin Luther King permanece obscuro e uma grande polêmica ainda o envolve. Com a morte do assassino do líder ativista negro, no último dia 23, James Earl Ray, morreu também, na opinião da própria viúva, Coretta King, a chance da realização de um novo julgamento, já que alguns sustentam a tese da conspiração. Nos últimos anos de vida, Ray contou com o apoio da família King, que chegou a pedir a sua liberdade por razões humanitárias. Embora o promotor público Bill Gibbons tenha afirmado que novas investigações nada revelaram, a família do líder negro vem liderando uma campanha para que o Congresso libere o acesso público aos documentos da CPI que investigou o caso de 1976 a 1978. O Presidente Bill Clinton, por sua vez, já determinou uma comissão para selecionar alguns documentos. É possível, portanto, que, muito em breve, tenhamos finalmente um desfecho para esse crime que abalou o mundo.

A melhor maneira de homenageá-lo é recordar uma das mais belas orações da humanidade, quando o reverendo King declarou:

Eu tenho um sonho, que todos os vales serão elevados e todos os morros e montanhas serão rebaixados. Este será o dia quando todas as crianças de Deus serão capazes de cantar com um novo sentido: Meu país é para você a doce terra da liberdade. Para você eu canto. Quando deixarmos a liberdade prevalecer, quando nós a deixarmos prevalecer em todas as vilas e vilarejos, em todos os Estados, em todas as cidades, nós poderemos ver chegar o dia em que todas as crianças de Deus, negras e brancas, judias e gentias, protestantes e católicas, serão capazes de se darem as mãos e cantar as palavras daquele velho canto espiritual negro: Finalmente a liberdade. Finalmente a liberdade. Graças a Deus Todo Poderoso. Finalmente nós somos todos livres.

           Muito obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 30/04/1998 - Página 7254