Discurso no Senado Federal

COMEMORAÇÃO DOS 50 ANOS DE FUNDAÇÃO DO ESTADO DE ISRAEL.

Autor
Bernardo Cabral (PFL - Partido da Frente Liberal/AM)
Nome completo: José Bernardo Cabral
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • COMEMORAÇÃO DOS 50 ANOS DE FUNDAÇÃO DO ESTADO DE ISRAEL.
Aparteantes
Edison Lobão, Hugo Napoleão.
Publicação
Publicação no DSF de 01/05/1998 - Página 7289
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM, CINQUENTENARIO, ANIVERSARIO DE FUNDAÇÃO, ESTADO, PAIS ESTRANGEIRO, ISRAEL.
  • REGISTRO, HISTORIA, CIENCIAS, RELIGIÃO, PERSEGUIÇÃO, DISCRIMINAÇÃO, RETORNO, POPULAÇÃO, ORIENTE MEDIO, DIVISÃO, GUERRA, LUTA, DEFESA, PAZ, PAIS ESTRANGEIRO, ISRAEL.

O SR. BERNARDO CABRAL (PFL-AM. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Nobre Senador Eduardo Suplicy, que preside esta sessão em nome do Presidente Antonio Carlos Magalhães e do Vice-Presidente Geraldo Melo, por solicitação de ambos, acoplada a uma outra que lhe fiz, exatamente porque S. Exª representa um Estado que detém hoje o maior número de membros da colônia israelita; eminente Deputado Nelson Trad, que, nesta solenidade, representa a Câmara dos Deputados; eminente Embaixador Yaacov Keinan, meu querido e velho amigo já lá se vai tanto tempo, grande Rabino Henry Sobel, Srs. Embaixadores - peço desculpas se, eventualmente, cometer o pecado da omissão de alguns - Ministro Dieter Papenfuss, representante da Alemanha; Franz Michils, Embaixador da Bélgica; El Sayed Ramzi Ezedim Ramzi, do Egito; César Valdivieso Chiriboga, Embaixador do Equador; Srª Moussounda, que, na qualidade de Conselheira, representa a Embaixada do Gabão; Ivan Evelyn, da Guiana; Domingo Salinas Alvarado, da Nicarágua; Liv A. Kerr, da Noruega; Musa Amer Salim Odeh, representante da Palestina; Bogulaw Zakzewski, representante da Polônia; Francisco Knopfli, de Portugal; Oscar Knapp, da Suíça; Robert Torry, de Trinidad e Tobago, e Embaixador Dogan Alpan, que representa a Turquia. Quero ainda registrar a presença do eminente Dr. Jack Leon Terpins, que é o Presidente da Confederação Israelita do Brasil.

O SR. PRESIDENTE (Eduardo Suplicy) - Permite-me V. Exª uma interrupção, Senador Bernardo Cabral?

O SR. BERNARDO CABRAL (PFL-AM ) - Com muito prazer.

O SR. PRESIDENTE (Eduardo Suplicy) - Gostaria de convidar o Dr. Jack Leon Terpins, Presidente da Confederação Israelita do Brasil, para sentar-se à Mesa.

O SR. BERNARDO CABRAL (PFL-AM) - Encontram-se presentes também o engenheiro Jaime Pascanick, da Câmara de Comércio e Indústria Brasil-Israel, mas também da Federação Israelita do Brasil, e o Deputado Cunha Bueno, que comigo idealizou o requerimento - pena que só tivesse a alegria de tê-lo aqui no Senado.

Permitam-me todos os senhores presentes, sobretudo a Presidência do Senado, que faça uma saudação especial aos meus conterrâneos amazonenses que aqui se encontram e que se deslocaram de tão longe. E quero fazê-lo na pessoa do Professor Samuel Benchimol, uma figura notável - sem demérito de nenhum dos que aqui se encontram -, em quem a intelectualidade amazonense tem uma das pessoas que ultrapassaram a fronteira do nosso Estado para aqui estar.

E mais ainda, Sr. Presidente: logo após esta reunião, vamos ter o lançamento do livro do Professor Samuel Benchimol, com distribuição absolutamente gratuita, com o título Judeus na Amazônia. É uma obra de fôlego. Ontem tivemos a oportunidade de receber os volumes. Com a aquiescência do Presidente Antonio Carlos Magalhães, a solenidade será feita no Salão Negro, o que é uma honra, esteja certo disto, Professor Samuel Benchimol, para a sua vida de acadêmico.

Sr. Presidente, Srªs. e Srs. Senadores, quem convive comigo no Senado - e, aliás, antes - sabe que uma das piores coisas para o político é o discurso por escrito: ora ele é mal lido, nem sempre tão bem redigido, mas acontece que, nas solenidades, o chamado protocolo impõe a regra do discurso feito dessa maneira. Mas nem por isso fico impedido de pedir desculpas àqueles que me ouvem se, eventualmente, lhes cansar os ouvidos ou lhes perturbar a tranqüilidade. Mas, Sr. Presidente, é bom que seja escrito porque, ao final, a Mesa terá uma cópia. E de logo, antes de concluir, quero requerer a V. Exª, que tão logo seja publicado no nosso Diário como documento, faça chegar V. Exª cópia ao eminente Embaixador de Israel no Brasil e ao eminente Rabino, Yaacov Keinan e Henry Sobel, respectivamente.

Dito isto, quero registrar que estamos hoje aqui reunidos para a comemoração dos 50 anos do Estado de Israel. Foi no dia 14 de maio de 1948, em meio a grande turbulência política e a escaramuças militares, que um comitê provisório dirigente judaico, reunido em Tel-Aviv, proclamou a fundação de Israel.

Este ano de 1998, como se impõe, está sendo marcado por festividades excepcionais, dada a expressão encerrada nesse especial completar 50 anos.

Meio século de grande significado para esse povo amigo, criativo e sofrido, que, com o surgimento do Estado de Israel, se soube renovar tão espetacularmente, obtendo, desde então, tão marcantes sucessos nas mais diversas áreas da atividade humana e do progresso social. Data de grande significado para os judeus, com sua multimilenar epopéia histórica, e também para os seus admiradores, bem como para todos os povos que aspiram avançar cada vez mais nas conquistas da civilização.

Sr. Presidente, faço um parêntese aqui para dizer que não tenho nenhum parente judeu, portanto a minha ascendência não é judaica. Se o fosse, talvez este discurso tivesse o seu valor reduzido pela metade, pois dir-se-ia que eu estaria apenas colhendo a obrigatoriedade de, sendo judeu, fazer uma espécie de registro merecido. Não o sendo - e talvez essa escolha seja de cunho pessoal - faço este comunicado, para que não pairem dúvidas de que o que se ouvirá é fruto de uma experiência pessoal e de uma inequívoca demonstração de admiração ao povo de Israel.

A partir de 1.200 antes de Cristo, o povo judeu habitou a sua terra ancestral. Gozou, na maior parte dos séculos que sucederam, de autonomia política. Desde o início, trouxe sua contribuição original, que iria afetar toda a história da humanidade: o monoteísmo, a crença em um Deus único, criador do universo, que mantém uma relação especial com os seres humanos. Estima-se que vai de 1.200 anos AC a 300 AC o período de criação dos livros da Bíblia, o Velho Testamento, com seus heróis, seus personagens impressionantes, com a palavra poderosa de seus profetas, com a sua ética, sua moral, seus poemas piedosos e plenos de fé.

Foi no final desse período, cerca de 300 anos antes de Cristo, que começou a firmar-se a sinagoga como centro da vida espiritual das comunidades, guiada pelos rabinos, doutos na lei religiosa. Diminuíram relativamente o papel e a importância do templo e dos sacerdotes do culto mosaico original. Foi essa ascendência gradual da sinagoga, beit knesset, em hebraico - “casa de reunião” -, lugar de preces, de cultos e de estudo religioso, que possibilitou, quando da dispersão dos judeus pelo mundo, que se mantivessem a fé e a coesão do povo, persistente e admiravelmente, por séculos e milênios. A sinagoga, claramente, foi a inspiradora da igreja cristã e da mesquita muçulmana.

O início da dispersão dos judeus é marcado por uma data: o ano 70 de nossa Era, quando da destruição do Templo de Jerusalém pelas legiões romanas. Como se sabe, Roma dominava a região, incluída no seu império desde 65 AC. O domínio imperial romano era visto como uma fatalidade quase inevitável pelos judeus, mas a imposição da adoração de ídolos, ou mesmo da efígie do imperador, era intolerável. Essas tensões levaram à eclosão de uma rebelião contra Roma, que, depois de quatro anos de luta, foi esmagada pela superioridade militar imperial. Grande número de judeus foram desterrados ou levados como escravos para diferentes pontos do império.

A Terra Santa ainda permaneceria como centro importante de estudos rabínicos por alguns poucos séculos, no período de criação do Talmud. Mas o domínio de Bizâncio, e depois a conquista muçulmana, foram inviabilizando a vida naquele território, cada vez mais tomado por desertos e pântanos. Os judeus persistiram em sua presença, ao longo dos milênios, por meio de pequenas comunidades que lá viviam para venerar os lugares santos. Dentre essas, destacaram-se as dos rabinos místicos, que, no século XVI, na Galiléia, escreveram os textos do Zohar, que contém o esoterismo da Cabala.

O fim do Império Romano Ocidental, a expansão islâmica e as invasões mongóis assinalam terremotos históricos que foram concentrando as comunidades da diáspora judaica em solo europeu e na orla do Mediterrâneo. Mas agora, com o predomínio do Cristianismo, alternavam-se, nos vários países, períodos de tolerância para com os judeus, pequena minoria religiosa, com períodos de perseguições e até massacres. O antijudaísmo era postura freqüente das autoridades, e a plebe, muitas vezes, era incitada contra os judeus. Os judeus foram confinados em bairros separados, os guetos, geralmente em más condições habitacionais, e proibidos de exercer numerosas profissões e certos direitos civis, tendo se concentrado durante séculos nas atividades de artesanato e comércio. Essa era a situação durante a Idade Média e mesmo vários séculos depois.

Com a Revolução Francesa, as idéias de cidadania e de direitos individuais e de minorias espalharam-se pela Europa. A maioria dos países baixou leis específicas emancipando os judeus, isto é, liberando-os das odiosas restrições e discriminações medievais. Mais lentos na adoção dessas leis progressistas foram os países da Europa do leste, principalmente o império tzarista. Nesses países, a partir do século XVIII, vivia a maior parte dos judeus.

Autorizados a ingressar em escolas e universidades e a exercer qualquer profissão, os judeus começaram a se destacar nas artes, ciências e profissões liberais. Esse era o panorama no século XIX e início do século XX. No entanto, se a maioria da sociedade acolhia de bom grado essa igualdade e esse progresso, surgiu também uma reação negativa, propriamente reacionária, na forma de hostilidade contra os judeus, em nova modalidade: que foi e é até certo ponto, hoje, o antijudaísmo.

O Sr. Edison Lobão (PFL-MA) - Permite-me V. Exª um aparte?

O SR. BERNARDO CABRAL (PFL-AM) - Ouço V. Exª com prazer, Líder do meu Partido no Senado.

O Sr. Edison Lobão (PFL-MA) - Senador Bernardo Cabral, não desejo interromper o brilhante discurso de V. Exª por muito tempo. Serei breve. O meu desejo fundamental, como Líder do PFL, é que, ao fazer em seu nome próprio essa notável dissertação sobre o Estado de Israel e sobre os judeus, V. Exª o faça também em nome do nosso Partido por inteiro. O Estado de Israel, criado há 50 anos, tem sido motivo de orgulho para a humanidade. Quando a ONU criou o Estado de Israel, fez aquilo que o mundo desejava que se fizesse, porque a sua não-criação constituía um atentado contra a História e contra a Bíblia. Peço a V. Exª, então, que prossiga com esse brilhante discurso, mas já agora falando em nome de todos os seus companheiros do PFL.

O SR. BERNARDO CABRAL (PFL-AM) - Senador Edison Lobão, devo dizer-lhe que me surpreendo e não me surpreendo - pode ser até um paradoxo - com a intervenção de V. Exª, ao me conceder a honra de falar em nome do Partido por inteiro, o que só V. Exª poderia fazer. Não fico muito surpreso, porque esse é um gesto de independência de V. Exª e, sobretudo, do nosso Partido, mas me surpreendo porque poderia, pelo menos, ter sido advertido com antecedência para que pudesse pedir as luzes de V. Exª para escrever, neste discurso, algo que não ficasse na palidez que ele deve ter. Mas bastou o discurso de V. Exª para eu já sentir que não ficarei a dever a esta solenidade o brilho que ela merece.

O Sr. Edison Lobão (PFL-MA) - V. Exª é possuidor de todas as qualificações necessárias.

O SR. BERNARDO CABRAL (PFL-AM) - Além do mais, Senador Edison Lobão, V. Exª me permite, com essa interrupção, registrar a presença no plenário de um velho amigo, o Embaixador da Venezuela no Brasil, o velho e querido amigo Milos Alcalay, cuja presença eu não havia registrado.

Prossigo, Sr. Presidente, já agora em nome do Partido da Frente Liberal, o PFL, e retomo onde ficara, no chamado antijudaísmo.

Apesar de ter suas raízes no antijudaísmo feudal, o anti-semitismo não se manifestou como fenômeno religioso, mas, sim, político, moderno, preenchendo essa fraqueza de vários seres humanos de discriminar e odiar, à qual se rendeu uma minoria atuante. Ocorrem, na virada do século XIX para o século XX, perseguições e massacres contra os judeus, não só na Europa do Leste. Na Europa Ocidental, a pressão anti-semita atuava na forma de manifestações políticas e ideológicas, como ficou absolutamente evidenciado, correndo o mundo inteiro, no famoso caso Dreyfus, que deu a Émile Zola a oportunidade, com seu J´accuse, de mostrar o que estava acontecendo.

Essa era também a época da onda nacionalista na Europa: pugnavam por sua formação como Estados modernos países como Alemanha e Itália. E lutavam pela simples independência de vizinhos opressores povos como o grego, o polonês e o húngaro. No contexto da onda nacionalista e como reação ao anti-semitismo, surgiu um movimento político no seio das massas judaicas, com a proposta de uma solução nacional e territorial para a situação dos judeus de minoria perseguida: era o movimento de volta a Sion, o sionismo, visando a construir um lar nacional, pelos judeus e para os judeus, em sua terra ancestral.

Esse movimento empolgou grande número de idealistas, que imigraram para a Terra Santa e lá passaram a se dedicar à agricultura. As primeiras cooperativas agrícolas foram estabelecidas em Israel em 1880, geradas por esse novo tipo de entusiasmo, antes ideológico e político do que religioso, mas, de qualquer forma, impregnado com os anseios de volta a Sion presentes milenarmente nas preces diárias das sinagogas.

O movimento sionista fortaleceu-se e, ao longo das primeiras décadas deste século, Israel povoou-se com uma próspera sociedade de pioneiros, numa economia que se ia diversificando e fortalecendo. O território era parte do Império Britânico, que o herdou, ao final da Primeira Guerra Mundial, de um Império Otomano que se desagregava. No entanto, agora surgia o nacionalismo árabe, associado à onda nacionalista, que varreria, em nosso século, a Ásia e a África, em reação à dominação européia.

Sobreveio a II Guerra Mundial, em que o nazismo, um furacão do Mal, arrasou o continente europeu e exterminou a maioria da população judaica. O mundo, assombrado, tomou conhecimento desse massacre sem precedentes, fruto extremo do anti-semitismo. Os judeus sobreviventes, em grande parte, emigravam para Israel. O conflito com os árabes crescia em seu potencial destrutivo. Era a época - 1947 - da independência da Índia, com os terríveis massacres mútuos entre hindus e muçulmanos. As Nações Unidas, em histórica Assembléia-Geral presidida pelo ilustre brasileiro Osvaldo Aranha, no dia 29 de novembro de 1947, decidiram pela partida da Palestina - o pequeno território entre o Mediterrâneo e o Jordão - em dois Estados: o Estado Judeu e o Estado Árabe-palestino.

O governo britânico opôs-se ao plano de partilha e anunciou que se retiraria do território em 15 de maio de 1948. Os países árabes, naquela ocasião, recusaram-se terminantemente à partilha. Cresceram os choques armados locais, e os países vizinhos, como a Síria, o Egito e a Jordânia, anunciaram que invadiriam a área se o Estado de Israel fosse proclamado. Assim mesmo, no dia 14 de maio, o 5 de Iyar, deu-se a proclamação da independência, liderada por David Ben-Gurion. Conflagrou-se um generalizado conflito armado.

A existência do Estado de Israel tem sido marcada por sucessivas guerras, situação que, felizmente, nos anos mais recentes, vem sendo amenizada por fortes esperanças de paz, de compromisso e de conciliação dos interesses das partes beligerantes. Tal perspectiva de paz é mais um motivo para que comemoremos o cinqüentenário do Estado de Israel, de cuja fundação e existência podem os povos extrair profícuas lições. Ensinamentos atinentes à criatividade política, a conquistas tecnológicas, à promoção social de massas de imigrantes pobres, ao desenvolvimento econômico.

O Sr. Hugo Napoleão (PFL-PI) - V. Exª me permite um aparte?

            O SR. BERNARDO CABRAL (PFL-AM) - Com muita honra, meu bravo Líder, Senador Hugo Napoleão - Senador, por enquanto, Governador daqui a alguns meses.

O Sr. Hugo Napoleão (PFL-PI) - Deus saberá o destino. Agradeço a V. Exª, sensibilizado, a gentileza ao fazer essa proclamação. Eu me permitiria interromper o brilhante discurso de V. Exª - e, aliás, o nosso primeiro Vice-Líder, Senador Edison Lobão, já declinou que V. Exª fala pelo Partido, e eu ratifico isso.

O SR. BERNARDO CABRAL (PFL-AM) - Isso é o que se chama de uma honra dupla.

O Sr. Hugo Napoleão (PFL-PI) - Para mim, neste caso. Gostaria de dizer a V. Exª que nos idos de 1978, por uma iniciativa do Deputado Federal Cunha Bueno, presente a esta sessão, participei de uma delegação de Deputados brasileiros a Israel a convite do Governo desse país amigo. Participavam dessa delegação o atual Deputado Nelson Marchezan, o ex-Deputado Padre Nobre, o ex-Deputado Milton Steinbrücke, o ex-Deputado Emanuel Weisman e o ex-Deputado Aurélio Campos - os dois últimos, infelizmente, falecidos. No momento em que V. Exª tece considerações a respeito dessa efeméride que é em si o Estado de Israel, eu gostaria de lembrar e evocar, com muita emoção, os momentos que vivi, por exemplo, no Iad Vachem, que é o símbolo da glória, do sofrimento, do sacrifício e, simultaneamente, por incrível que pareça, paradoxalmente, da grandeza do povo de Israel. Em verdade, há toda uma trajetória. Tive oportunidade de estar em Tel-Aviv e em Jerusalém. Em Jerusalém, absolutamente livre, pude orar e rezar, como Católico Apostólico Romano que sou, e lá vi também judeus, muçulmanos, cada um professando sua crença em ambiência de liberdade. O grande sonho de Israel e de todos aqueles que acreditam na fé é a ânsia da liberdade. Israel é uma constante luta pela paz. Muito obrigado a V. Exª. Shalom!

O SR. BERNARDO CABRAL (PFL-AM) - Senador Hugo Napoleão, permita-me que eu possa levar ao conhecimento daqueles que não são afeitos ao Parlamento que uma das coisas que mais podem enriquecer o discurso de um parlamentar é quando ele é aparteado por um Líder. Isso não costuma ser fácil. E sei que o aparte do Líder hoje não é tanto pela amizade que há entre mim e o eminente Senador Hugo Napoleão, mas aqui S. Exª quis, de viva voz, homenagear o Estado de Israel. Se eu não tivesse outra riqueza neste discurso, já acolhendo o aparte de V. Exª e inserindo-o no mesmo, dou-lhe a entender que as lacunas estão preenchidas, e aquilo que estava esmaecido adquiriu cor. Obrigado, Líder Hugo Napoleão.

Sr. Presidente, Srªs. e Srs. Senadores, Srs. Embaixadores, Srs. Deputados Federais, acerco-me da conclusão deste pronunciamento, ressaltando que, proclamado o Estado de Israel, em 1948, seu primeiro Presidente foi o renomado cientista Chaim Weizmann, veterano militante sionista que, ao final da I Guerra Mundial, negociara com a Grã-Bretanha e a Liga das Nações o reconhecimento da necessidade de um lar nacional para os judeus a ser estabelecido na Terra Santa.

Hoje, no cinqüentenário, o Presidente de Israel é o seu sobrinho Ezer Weizmann, homem da política, ex-empresário, ex-comandante da Aviação Militar de Israel, ex-piloto de combate, um homem nascido em Israel e símbolo do renascimento de um povo. Esse é o Presidente.

Sr. Presidente, quando presidi a Ordem dos Advogados do Brasil, há quase 17 anos, recebi um convite para conhecer Israel. O convite não foi feito por uma organização política, não havia conotação parlamentar, porque eu não o era, mas foi feito pela Universidade de Tel-Aviv. Na visita que lá fiz - depois houve mais duas sempre pela Universidade - devo registrar que o que sentiu o Líder Hugo Napoleão senti eu também no Instituto Weizmann. Há 16 anos, já estavam na pesquisa da luta contra o câncer, numa dianteira, à frente de qualquer outro país, que me deu a idéia de que aquela diáspora do passado havia cedido lugar para o reencontro desses grandes cientistas. Hoje, é o seu sobrinho Presidente de Israel. Cito e fico apenas no sobrinho, porque quis homenagear, sobretudo, o grande cientista Weizmann.

E o que posso dizer ao final, Sr. Presidente, é que o melhor nessa notável coincidência é que o atual Presidente de Israel é um ativo batalhador pela paz e pelo compromisso, amigo pessoal de líderes árabes em vários países vizinhos. É na pessoa de Ezer Weizmann, Sr. Presidente, que saudamos o Estado de Israel na comemoração dos cinqüenta anos de fundação. Mas também, por igual, na presença da figura do Embaixador Yaacov Keinan, quero que S. Exª sinta que esta reunião do Senado, não só pela homenagem que traduz os seus integrantes, mas pela presença também do meu querido amigo Rabino Henry Sobel, que todo esse discurso, toda essa manifestação, todos esses apartes, eu poderia ter feito numa única palavra: bastaria que eu tivesse chegado aqui à frente deste microfone e dissesse a palavra com a qual encerro o discurso: Shalom! (Palmas)


Este texto não substitui o publicado no DSF de 01/05/1998 - Página 7289