Fala da Presidência no Senado Federal

COMEMORAÇÃO DOS 50 ANOS DE FUNDAÇÃO DO ESTADO DE ISRAEL.

Autor
Eduardo Suplicy (PT - Partido dos Trabalhadores/SP)
Nome completo: Eduardo Matarazzo Suplicy
Casa
Senado Federal
Tipo
Fala da Presidência
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • COMEMORAÇÃO DOS 50 ANOS DE FUNDAÇÃO DO ESTADO DE ISRAEL.
Publicação
Publicação no DSF de 01/05/1998 - Página 7303
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM, CINQUENTENARIO, ANIVERSARIO DE FUNDAÇÃO, ESTADO, PAIS ESTRANGEIRO, ISRAEL.
  • INFORMAÇÃO, MENSAGEM (MSG), ANTONIO CARLOS MAGALHÃES, PRESIDENTE, SENADO, HOMENAGEM, ANIVERSARIO DE FUNDAÇÃO, ESTADO, PAIS ESTRANGEIRO, ISRAEL.

O SR. PRESIDENTE (Eduardo Suplicy) - Srªs. Senadoras, Srs. Senadores, Srs. Deputados Fábio Feldmann e Cunha Bueno, Srª Eva Blay, ilustre ex-Senadora desta Casa, Exmº Sr. Embaixador do Estado de Israel, Yaacov Keinan, prezado Presidente da Confederação Israelita do Brasil, Sr. Jack Leon Terpins, Sr. Jaime Pasmanick, Vice-Presidente da Confederação Israelita do Brasil; Rabino Henry Sobel, autoridades civis e militares, Srs. Embaixadores e representantes, Senhoras e Senhores, esta Presidência quer associar-se às manifestações de augúrio pelo cinqüentenário de existência do Estado de Israel e reafirmar os notórios laços de amizade que unem os povos brasileiro e israelense.

Desejo consignar o que é a expectativa de cada um de nós e de todos os povos: que Israel possa prosseguir em seu promissor e radiante destino, sob o signo da paz, da solidariedade e da irmanação com todas as Nações, em especial com as que o vizinha.

Albert Einstein observou, certa feita, que:

“O vínculo que uniu os judeus durante milhares de anos e que os une hoje é, acima de tudo, o ideal democrático de justiça social, ligado ao ideal de mútuo auxílio e tolerância entre todos os homens”.

E prosseguia o genial cientista:

“Até as mais antigas escrituras dos judeus estão impregnadas dessas idéias sociais, que afetaram profundamente o Cristianismo e o Islamismo e tiveram influência benéfica na estrutura social de grande parte da humanidade. Cabe lembrar aqui a introdução do dia de repouso semanal - uma profunda bênção para toda a humanidade. Personalidades como Moisés, Spinoza e Karl Marx, por diferentes que possam ser entre si, viveram e se sacrificaram, todas, pelo ideal de justiça social; e foi a tradição de seus ancestrais que os levou a esse caminho espinhoso.”

Somente a natureza e a força desses ideais podem explicar por que um povo que passou por dominações, exílios e diásporas e foi imolado no mais tenebroso dos holocaustos teve ainda condições de reunir energias para soerguer-se e retomar com altivez o seu caminho de progresso, manter a sua tradicional vocação intelectual e perseverar em seu esforço de comunhão espiritual.

Nenhuma nação está mais capacitada, por suas próprias cicatrizes, a dar o exemplo de que devemos buscar sempre, sem tergiversar, o entendimento entre os homens e as mulheres.

As dificuldades que se apresentam no momento para que o processo de pacificação do Oriente Médio chegue a bom termo - tenho certeza - haverão de ser superadas. Apesar dos obstáculos de percurso, os avanços precisam ser reconhecidos, conforme assinalou o Prefeito de Jerusalém em recente entrevista. Digo mais: devem ser preservados e respeitados, a fim de que se possa dar um passo adiante.

Os entendimentos iniciados em Madrid em 1991, as negociações levadas a efeito em Washington em 1992 e os compromissos firmados em Oslo que conduziram à assinatura da Declaração de Princípios na capital norte-americana, em setembro de 1993, desdobrados em pactos selados no Cairo e em Hebron, foram recebidos pelos povos de todo o mundo como sinais de obrigações recíprocas e não como interlocuções diletantes.

Não podemos esquecer o gesto de aperto de mãos entre o saudoso Yitzhak Rabin e Yasser Arafat nos jardins da Casa Branca. Nunca o significado desse gesto, surgido do costume entre os cavaleiros medievais de estender vazia a mão direita - a da espada - para dar ao interlocutor a garantia de intenções pacíficas, esteve tão perto de suas origens.

O mesmo Einstein chamava a atenção para o problema do “nacionalismo exacerbado, engendrado pelo ódio cego”, por ele tido como “a doença fatídica de nosso tempo”. E assinalava o eminente físico e humanista:

“Eu veria como muito mais sensato um acordo com os árabes, com base numa vida pacífica comum, do que a criação de um Estado judeu. Afora as considerações práticas, minha consciência da natureza essencial do judaísmo resiste à idéia de um Estado judeu com fronteiras, um exército e algum grau de poder temporal, por mais modesto que seja. Temo o prejuízo interno que o judaísmo sofrerá - especialmente a partir do desenvolvimento de um nacionalismo tacanho dentro de nossas fileiras, contra o qual já tivemos de lutar vigorosamente, mesmo sem ter um Estado judeu. Já não somos os judeus do período dos Macabeus. Voltar a ser uma nação, no sentido político da palavra, seria o mesmo que dar as costas à espiritualização de nossa comunidade, que devemos ao gênio de nossos profetas.”

O Estado de Israel é uma realidade pujante que a ninguém é dado ignorar. Isso, porém, não é motivo para que - na esteira de Einstein - sejamos pessimistas em relação às possibilidades de “vida pacífica” na Palestina, em razão da constituição de um ente estatal judaico, em primeiro lugar, porque os herdeiros políticos de Theodor Herzl e Ben Gurion sabem que a existência de Israel, com o termo final do mandato britânico a 14 de maio de 1948, só se tornou viável devido às diretivas e esforços das Nações Unidas. O mesmo Direito das Gentes que lhes proporcionou o assentamento nas terras de seus ancestrais deve, por eqüidade, ser observado ante reivindicações também lícitas de populações árabes, em particular dos palestinos. Postulações essas já foram acolhidas pelo Direito Internacional e demandam aplicação. É a firme resolução do concerto de todas as comunidades; em segundo lugar, porque um povo que tem nos caminhos de sua história os caminhos de Deus, não ignorará jamais os mandamentos de Javé, inscritos no Levítico: “Não guarde ódio contra o seu irmão. Ame o seu próximo como a si mesmo. Quando um imigrante habitar com vocês no país, não o oprimam. O imigrante será para vocês um concidadão: você o amará como a si mesmo, porque vocês foram imigrantes na terra do Egito”.

As gerações de Isaac e de Ismael são ramos que se nutrem de uma mesma seiva. Isso nos leva a afirmar solenemente que a concórdia ainda prevalecerá na casa comum de pai Abraão.

Qualquer pessoa que passeie hoje pelas ruas de Jerusalém - não tive ainda essa oportunidade, mas é o testemunho de todos que ali estiveram - ao entardecer e veja os judeus rezando suas preces no Muro Ocidental, enquanto ouve o badalar dos sinos numa igreja das proximidades e o canto plangente de um muezim, chamando os muçulmanos à oração, sentirá que a fraternidade humana não é um sonho inatingível.

“Tsedek Chevradi [tiss-edek/revradi]! “shalom”! (***)

Muito obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 01/05/1998 - Página 7303