Discurso no Senado Federal

COMEMORAÇÕES, HOJE, DO DIA NACIONAL DA MULHER, E PELO TRANSCURSO DO DECIMO ANIVERSARIO DO INSTITUTO DA MULHER NEGRA - GELEDES.

Autor
Benedita da Silva (PT - Partido dos Trabalhadores/RJ)
Nome completo: Benedita Souza da Silva Sampaio
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • COMEMORAÇÕES, HOJE, DO DIA NACIONAL DA MULHER, E PELO TRANSCURSO DO DECIMO ANIVERSARIO DO INSTITUTO DA MULHER NEGRA - GELEDES.
Publicação
Publicação no DSF de 01/05/1998 - Página 7319
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM, DIA NACIONAL, MULHER, ANIVERSARIO, ORGANIZAÇÃO NÃO-GOVERNAMENTAL (ONG), FEMINISMO, NEGRO.
  • REGISTRO, ATUAÇÃO, ORGANIZAÇÃO NÃO-GOVERNAMENTAL (ONG), MULHER, NEGRO, COMBATE, DISCRIMINAÇÃO RACIAL, VIOLENCIA, EXPLORAÇÃO SEXUAL, ABUSO DE AUTORIDADE, DESENVOLVIMENTO, PROGRAMA, AREA, SAUDE, EDUCAÇÃO, CIDADANIA.

A SRª BENEDITA DA SILVA (Bloco/PT-RJ. Pronuncia o seguinte discurso) - Sr. Presidente, Srªs. e Srs. Senadores, comemoramos, hoje, 30 de abril, o Dia Nacional da Mulher, mais uma oportunidade para chamar a atenção de autoridades e opinião pública sobre as condições das mulheres e sua situação na sociedade. Registramos, também nesta data, o transcurso do 10º aniversário do Instituto da Mulher Negra - Geledés, pois nada mais oportuno do que, no dia de hoje, reverenciar a memória das mulheres brasileiras celebrando a criação de uma organização não governamental de defesa dos direitos das mulheres da mais alta importância para o movimento popular brasileiro.

           O Geledés foi criado em 30 de abril de 1988 e essa denominação - “Geledés” - significa uma forma de sociedade secreta feminina de caráter religioso, existente nas sociedades tradicionais africanas, que expressam o poder feminino sobre a fertilidade da terra, a procriação e o bem estar da comunidade. O culto Geledés visa apaziguar e reverenciar as mães ancestrais para assegurar o equilíbrio do mundo.

           Inspirado nesta tradição e na perspectiva de atualizá-la à luz das necessidades contemporâneas das mulheres negras, concebeu-se uma organização política de mulheres negras - o Geledés - que tem por missão institucional o combate ao racismo, ao sexismo e a valorização e promoção das mulheres negras em particular e da comunidade negra no geral.

           Enfrenta, de frente o problema da marginalização dos jovens negros com programas eficazes de fortalecimento da auto-estima, de formação política e profissional e com projetos culturais de reconhecido sucesso, como é o caso do Projeto Rappers/Programa de Capacitação e Profissionalização. Combate o racismo e a discriminação racial atendendo pessoas vítimas dessas práticas sociais, acionando juridicamente empresas e veículos de comunicação flagrados em atos de preconceito e discriminação racial.

           Combate o abuso de poder, condenando policiais militares por homicídio, médicos por atos de negligência, atendemos às famílias de presos mortos no massacre do Carandiru, promovendo a indenização de vítimas de racismo e violência sexual.

           Na área da saúde, o Geledés luta pelos direitos das vítimas de doenças como a AIDS e promove a formulação de políticas públicas específicas para o atendimento de doenças genéticas ou de maior incidência na população negra.

           O seu Núcleo de Educação e Formação Política da entidade vem desenvolvendo as seguintes atividades:

           Sistematizar todo conhecimento e experiência produzidos pelo Geledés em seus 10 anos de existência, colocando-os à disposição do movimento social, através de cursos e outras atividades de formação;

           Subsidiar professores(as) para a discussão e o trabalho com relações raciais e de gênero na instituição escolar, tendo como eixo a discussão do racismo e a escola enquanto espaço sócio-cultural, onde os sujeitos envolvidos no processo educativo fazem dialogar as suas identidades;

           Problematizar os rituais pedagógicos, conteúdos de livros didáticos e posturas pedagógicas que reproduzem o racismo e a discriminação racial, bem como contribuir para a reprodução de papeis socialmente construídos para mulheres e homens e as várias etnias;

           Contribuir para a construção de novos sujeitos políticos na escola, através do fomento das discussões e necessidades levantadas pelos estudantes, especialmente negro, politizando-as e tentando propor encaminhamentos e soluções para que a escola compreenda a diversidade étnico-cultural em seu interior;

           Estabelecer parcerias com o movimento social, no sentido de formar lideranças capazes de fazer os recortes raciais e de gênero em todas as suas discussões e atividades;

           Contribuir para a produção do conhecimento na área da educação a partir da inserção das categorias raça e gênero, quer através da sistematização e análise crítica da produção já existente, quer através da pesquisa inovadora;

           Convergir toda a ação e acúmulo das diferentes atividades do Núcleo de Educação e Formação Política, para subsidiar na assessoria e administrações de todos os níveis de formulação de políticas públicas que tenham como eixo de intervenção as necessidades educacionais de alunos(as) negros.

           Desencadeando a estratégia de dar visibilidade ao problema racial em nosso país, sensibilizando governos e sociedade para a discussão da exclusão das populações pobres e discriminadas no mundo, o Geledés tornou-se referência para outras ONGs do Brasil e da América Latina.

           Nesses 10 anos de existência impulsionou o debate político sobre a necessidade de adoção de políticas públicas para a realização do princípio de igualdade de oportunidades para todos e levantou o debate sobre a problemática da mulher negra como um aspecto fundamental da temática de gênero em nossa sociedade.

           O Geledés comemora seu aniversário de 10 anos com uma semana de debates e eventos culturais na cidade de São Paulo no período de 27 de abril a 03 de maio próximo. É um momento de júbilo e de avaliação da trajetória percorrida nesta década. Um ciclo foi comprido e nele grandes tarefas foram e continuam a ser realizadas, contribuindo para o avanço da discussão racial e de gênero na sociedade brasileira.

           Por essas razões comemoramos, nesse 30 de abril, 10 anos de significativas vitórias e grandes batalhas do Instituto da Mulher Negra - Geledés..


Este texto não substitui o publicado no DSF de 01/05/1998 - Página 7319