Discurso no Senado Federal

REGISTRO DO PRONUNCIAMENTO DO DEPUTADO AROLDE DE OLIVEIRA NA SESSÃO SOLENE DE HOJE, NA CAMARA DOS DEPUTADOS, EM HOMENAGEM AOS 133 ANOS DE NASCIMENTO DO MARECHAL RONDON.

Autor
Jonas Pinheiro (PFL - Partido da Frente Liberal/MT)
Nome completo: Jonas Pinheiro da Silva
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • REGISTRO DO PRONUNCIAMENTO DO DEPUTADO AROLDE DE OLIVEIRA NA SESSÃO SOLENE DE HOJE, NA CAMARA DOS DEPUTADOS, EM HOMENAGEM AOS 133 ANOS DE NASCIMENTO DO MARECHAL RONDON.
Publicação
Publicação no DSF de 06/05/1998 - Página 7454
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • TRANSCRIÇÃO, ANAIS DO SENADO, TRECHO, DISCURSO, AUTORIA, AROLDE DE OLIVEIRA, DEPUTADO FEDERAL, PRONUNCIAMENTO, SESSÃO SOLENE, CAMARA DOS DEPUTADOS, HOMENAGEM, ANIVERSARIO DE NASCIMENTO, CANDIDO MARIANO DA SILVA RONDON, OFICIAL DO EXERCITO, RELEVANCIA, PRESTAÇÃO DE SERVIÇO, EXERCITO, BRASIL.

O SR. JONAS PINHEIRO (PFL-MT. Para uma breve comunicação. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs. e Srs. Senadores, transcorrem, hoje, 133 anos do nascimento do brasileiro mato-grossense - da minha terra, Santo Antônio do Leverger - Marechal Cândido Rondon.

Na Câmara dos Deputados, houve uma sessão solene em sua homenagem. Gostaria de deixar transcrito, nos Anais do Senado Federal, um trecho do discurso proferido pelo eminente Deputado Arolde de Oliveira nessa sessão:

     “Rondon foi diplomado Oficial do Exército na Escola Militar da Praia Vermelha, em 1889, dando início a uma brilhante carreira militar, ao longo da qual, até o posto de General de Divisão, tendo se retirado da ativa em 1930, cumpriu missões que o projetaram entre os contemporâneos e as gerações futuras como verdadeiro paradigma.

     Primeiro, como professor, estimulado por Benjamin Constant, de quem adotou, também, a doutrina positivista que o acompanhou pelo resto da vida. Depois, e em seguida, Gomes Carneiro, então chefe da Comissão de Construção de Linhas Telegráficas, convenceu-o a largar o ensino e os estudos (era Bacharel em Ciências Físicas, Naturais e Matemáticas) e ir para o sertão dedicar-se ao trabalho de construção e manutenção de estações e linhas telegráficas entre Cuiabá e o norte do País, bem como Paraguai e Bolívia. Conhecia bem a vida e a natureza dessa região do País, pois era nascido em Mimoso [no município de Santo Antônio do Leverger, do qual também sou natural], próximo de Cuiabá, no Estado do Mato Grosso.

     Foi nessa época que começou a notabilizar-se como sertanista, estudando, apaixonadamente, o comportamento e a cultura indígena, o que lhe valeu exercer o cargo de Diretor do Serviço de Proteção ao Índio, e, em outra oportunidade, o de Presidente do Conselho Nacional de Proteção aos Índios.

     Ainda nessa época, em 1912, acompanhou o ex-Presidente dos Estados Unidos, Theodore Roosevelt, em expedição de cinco meses pelo Centro-Oeste e pela Amazônia. No silêncio dos acampamentos, nas jornadas pela selva, nas travessias de rios e igarapés e no contato com a flora, com a fauna e com as populações indígenas, Roosevelt desfrutou da intimidade do pensamento, do caráter e da paixão daquele caboclo mato-grossense, e pôde aquilatar a grandiosidade da obra sertanista que Rondon realizava. Quando retornou à América, fez uma síntese da sua experiência com Rondon, nos seguintes termos: “A América pode apresentar ao mundo duas realizações ciclópicas: ao norte, o Canal do Panamá; ao sul, o trabalho de Rondon, científico, prático e humanista.”

     Queria dizer com isso que o Canal do Panamá, ao interligar dois oceanos, integrava o comércio entre os povos do leste e do oeste, enquanto o trabalho de Rondon interligava, pelas telecomunicações da época, o telégrafo, o litoral brasileiro às suas fronteiras longínquas e integrava as nações indígenas à Nação brasileira.

     Talvez poucos saibam, mas o Presidente Roosevelt ficou tão impressionado com Rondon e seu trabalho que escreveu um livro de várias centenas de páginas relatando sua magnífica viagem ao interior do Brasil, onde Rondon aparece como principal referência.

     Promovido a general, em 1919, Rondon foi nomeado Diretor de Engenharia do Ministério da Guerra, na gestão de Pandiá Calógeras, muito lembrado porque era civil e construiu dezenas de quartéis modernos e avançados para a época. Não devemos esquecer a contribuição inevitável do seu Diretor de Engenharia, o General Rondon.

     Mesmo afastado da vida militar, foi convocado pelo Governo em diversas oportunidades para contribuir com sua densa experiência de verdadeiro bandeirante nas questões de fronteiras, inclusive como árbitro para dirimir conflito de demarcação entre a Colômbia e o Peru.

     Faleceu aos 92 anos de idade no Rio de Janeiro, em 1958, dois anos antes da inauguração de Brasília, plataforma definitiva no avanço das fronteiras econômicas ao oeste do Brasil e até a Amazônia, que ele tanto conheceu e tanto amou.

     O pensamento e a obra de Rondon se confundem com a própria doutrina militar. Com certeza, sua contribuição foi inestimável, diretamente e através dos chefes militares que o sucederam, na decantação e consolidação do comportamento do Exército, face às questões nacionais. O pioneirismo, o patriotismo, o integracionismo, o pacifismo, a honradez, a disciplina, o compromisso social, que são características dos nossos líderes militares, transbordam para a própria instituição, dando-lhe perenidade, abrangência e credibilidade diante da Nação, e contam, sem dúvida, na origem, com a contribuição do exemplo e da obra do Marechal Rondon. O posto de Marechal foi concedido em 5 de maio de 1955, em sessão solene do Congresso Nacional, como reconhecimento pátrio pelos relevantes serviços prestados ao Exército e ao Brasil.

     No tempo presente, Rondon viveria de forma muito mais profunda a nossa contradição: ocupar economicamente a Amazônia e vê-la sucumbir à destruição das queimadas, da poluição dos seus rios, da extinção das suas espécies, do extermínio das nações indígenas, ou não explorar suas riquezas em detrimento da própria Nação brasileira e vê-la objeto da cobiça e ganância estrangeiras.

     Não, Rondon não viveria essa contradição. Ele, como cientista, como ambientalista e com pragmatismo, realizaria o sonho de uma ocupação ordenada, justa e racional da Amazônia.

     Mas Rondon não está entre nós. Permanece a sua memória e o testemunho de sua vida como fonte de inspiração para ultrapassarmos essa contradição de nosso tempo, condição sine qua non para garantirmos uma adequada qualidade de vida às gerações do terceiro milênio.

     Nossas homenagens alcançam, também, o Exército Brasileiro, que abrigou em seus quadros, como privilégio, o ilustre cidadão Cândido Mariano da Silva Rondon.”

Sr. Presidente, Srªs. e Srs. Senadores, esse é parte do pronunciamento feito hoje na sessão solene na Câmara dos Deputados pelo nobre Deputado Arolde de Oliveira, pelo PFL. Hoje, Santo Antônio do Leverger esteve presente, com as suas danças folclóricas, com a sua cultura, no Salão Negro. É uma homenagem que faço à Prefeita Municipal que está hoje no Congresso Nacional, mas muito mais do que isso, sou solidário à indicação do Deputado Murilo Domingos que, através de requerimento, possibilitou uma justa e grande homenagem a esse grande brasileiro, a esse grande mato-grossense que foi o Marechal Cândido Rondon.

Muito obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 06/05/1998 - Página 7454