Discurso no Senado Federal

HOMENAGEM AO DIA DO TRABALHADOR.

Autor
Pedro Simon (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/RS)
Nome completo: Pedro Jorge Simon
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM. POLITICA SOCIAL.:
  • HOMENAGEM AO DIA DO TRABALHADOR.
Publicação
Publicação no DSF de 06/05/1998 - Página 7413
Assunto
Outros > HOMENAGEM. POLITICA SOCIAL.
Indexação
  • HOMENAGEM, DIA INTERNACIONAL, TRABALHADOR, OPORTUNIDADE, ANALISE, GRAVIDADE, SITUAÇÃO, DESEMPREGO, FOME, MISERIA, PAIS.
  • TRANSCRIÇÃO, ANAIS DO SENADO, ARTIGO DE IMPRENSA, AUTORIA, JARBAS PASSARINHO, SENADOR, ANALISE, GRAVIDADE, SITUAÇÃO, AUMENTO, FOME, MISERIA, BRASIL.

O SR. PEDRO SIMON (PMDB-RS. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs. e Srs. Senadores, reconheço que avançamos no horário e agradeço a gentileza de, mesmo assim, conceder-me o tempo.

Trago apenas, muito gentilmente, minha palavra de solidariedade ao trabalhador brasileiro. Sr. Presidente, nas análises que fazemos do nosso País, se há algo que temos de primeiro mundo é o trabalhador brasileiro. Estão provadas, ao longo do tempo e ao longo da história, a competência, a capacidade e as condições de se tornar vitorioso o trabalhador brasileiro, seja ele qual for.

Houve uma época em que nós, do Rio Grande do Sul, imaginávamos que éramos mais nós, os descendentes da colonização alemã e italiana. Agora, na concorrência, estamos verificando que, no Nordeste, estão introduzindo fábricas de calçados, e os trabalhadores estão tendo - para surpresa de muita gente - uma extraordinária competência e capacidade com um fator novo, que é produzir calçados, um produto que nunca imaginaram fabricar.

A mão-de-obra do povo brasileiro é de primeira grandeza, Sr. Presidente. Neste País, nós, a elite, estamos muito aquém do nosso povo - não há como deixar de reconhecer isso, Sr. Presidente. Nós, políticos, empresários, intelectuais, profissionais liberais, que somos a massa que dirige este País, na verdade, não temos a visão, a compreensão da grandeza que representa a nossa responsabilidade com relação ao trato dos problemas sociais no nosso País. Ontem, estava o Presidente da República de um lado e o Lula de outro, analisando o mesmo problema: o problema da fome.

Ora, Sr. Presidente, quantas e quantas vezes já analisamos isso? No Brasil, a fome, o problema da falta de alimentos é decorrência de uma irresponsabilidade nossa. O Nordeste está assim por responsabilidade nossa, Sr. Presidente. O Nordeste tem tudo para se converter em uma região próspera, rica, celeiro de alimentos do Brasil - como é a Califórnia, que era um deserto tal qual o Nordeste. A Califórnia era um deserto que não tinha sequer uma área verde. O que fizeram na Califórnia é o que deve ser feito no Nordeste. Devemos preparar o Nordeste, pois lá temos água, luz, sol, e luminosidade o ano inteiro. No Nordeste, a agricultura pode produzir 365 dias por ano, porque há luminosidade o ano inteiro, o que não acontece no meu Rio Grande do Sul, onde praticamente um terço dos dias não tem sol, não tem luminosidade, o que prejudica a agricultura. Não é à toa que na região do São Francisco há três ou até quatro safras por ano de determinados produtos.

Estamos fazendo o que fazemos anualmente ou de tempos em tempos: estamos chorando por não termos feito o que podíamos ter feito. É uma irresponsabilidade nossa, Sr. Presidente. Não vem ao caso dizer quem tem mais ou quem tem menos responsabilidade. Nós, a elite dirigente deste País, somos responsáveis.

Passou-se mais um Dia do Trabalho, mas não são muitos os motivos de louvação. No entanto, não se pode dizer que o Governo que aí está seja o responsável pelas coisas que estão acontecendo. Reconhecemos, por exemplo, o fato de vivermos num País com inflação sob controle, o que já é algo altamente positivo e que beneficia um percentual grande de trabalhadores - trabalhadores que, por não terem de enfrentar uma inflação dramática, que dobrava os preços mês a mês, já vivem mais tranqüilos.

Mas também é verdade - também é preciso reconhecer - que a recessão leva ao desemprego milhões de trabalhadores, Sr. Presidente. Não se trata de discutir qual é o percentual que está certo, qual é o número que está certo, se é o dado da Fundação Getúlio Vargas, se é o do Ministério do Planejamento, se é o do Sindicato dos Trabalhadores ou se é o dos empresários. É fato que há desemprego. É fato que pessoas que, por não terem capacidade de conseguir um emprego, vivem uma situação muito difícil.

Há um projeto, Sr. Presidente, com data marcada para ser debatido. Diz respeito ao problema do desemprego e pretende criar uma comissão para debater essa questão, que para mim parece a mais importante.

É cruel essa situação e também é muito difícil analisarmos o drama de uma família cujo chefe não tem como trabalhar. Criar uma Comissão para debater, para analisar, para estudar uma questão como essa é da maior importância. Felizmente, o Presidente Antonio Carlos Magalhães colocou a votação da matéria em pauta e nós vamos criar essa Comissão.

Sr. Presidente, eu não poderia encerrar este meu pronunciamento sem agradecer a honrosa deferência de V. Exª ao me permitir falar num momento em que o tempo já estava esgotado. Eu não poderia deixar de falar sobre esse assunto e V. Exª foi compreensivo.

É muito cruel o debate que está se travando na imprensa: podem ou não podem arrombar? Podem ou não podem assaltar? Podem ou não podem saquear? Isso fica tão mal, Sr. Presidente. Isso é extremamente cruel e dramático.

Tenho um filho de quatro anos. Graças a Deus, apesar de eu pertencer à classe média baixa, ele tem o que comer e tem como viver. Eu não sei o que faria se, chegando em casa, visse o meu filho com fome e não tivesse dinheiro para dar comida para ele. Eu não sei o que faria, Sr. Presidente. O que sei é que de fome ele não morreria enquanto eu estivesse vivo. Para ele morrer de fome eu teria de morrer primeiro. Acho que assim pensamos todos nós. Isso está até no Código Penal: não comete crime quem mata em estado de necessidade ou em legítima defesa. Quem produz o estado de necessidade ou dá ensejo à legítima defesa são fatores determinantes da impunidade. Isto nós entendemos. Eu não atiraria pedras em um pai que pegasse o alimento, que o arrancasse, que o tirasse ilegalmente para dar para um filho.

Mas daí a fazer campanha estimulando saques, há uma diferença muito grande, há uma diferença tremenda. Deve-se dizer isso para cobrar, para exigir de nós, do Governo e de todos que tiverem algum poder uma solução para o problema. Temos de fazer, somos obrigados a fazer alguma coisa; temos de dar comida aos que têm fome. Não se pode conceber que passem fome, mas estimular saques também não é o caminho a ser seguido.

Neste momento em que avança o processo de globalização, em que o mundo está olhando para nós, não podemos cruzar os braços. O Senador Jarbas Passarinho, na publicação que faz no jornal, no seu artigo de hoje - cuja transcrição para os Anais desta Casa peço que seja feita - fala sobre o número de pessoas, de crianças que morrem de fome por dia no Brasil. É algo que realmente choca, Sr. Presidente.

Perdoe-me a sinceridade, mas é preciso dizer que nós somos os responsáveis. Sempre digo e repito que, um dia , se houver vida lá do outro lado e cada um de nós tiver de prestar contas do que fez aqui, enfrentaremos dificuldades. A prestação de contas que cada um fará será de acordo com a sua capacidade. Como diz o Evangelho: com os talentos que recebeu, com as chances que teve.

Nós, que estamos aqui no Senado da República, tivemos todas as oportunidades, tivemos todas as chances. Ganhamos o voto popular, temos credibilidade e estamos aqui. Não somos como a Câmara, que tem mais de quinhentos parlamentares e onde às vezes os Deputados não têm chance de falar e de serem ouvidos. Nós temos, Sr. Presidente.

O problema existe e nós, lá do outro lado, haveremos de ser chamados à prestação de contas do que pudemos fazer e do que fizemos para evitá-lo.

Muito obrigado, Sr. Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 06/05/1998 - Página 7413