Discurso no Senado Federal

HOMENAGEM AOS 250 ANOS DO ESTADO DE MATO GROSSO.

Autor
Júlio Campos (PFL - Partido da Frente Liberal/MT)
Nome completo: Júlio José de Campos
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • HOMENAGEM AOS 250 ANOS DO ESTADO DE MATO GROSSO.
Aparteantes
Jonas Pinheiro, Levy Dias, Odacir Soares, Pedro Piva, Romeu Tuma.
Publicação
Publicação no DSF de 08/05/1998 - Página 7665
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM, ANIVERSARIO DE FUNDAÇÃO, ESTADO DE MATO GROSSO (MT), REGISTRO, HISTORIA, COLONIZAÇÃO, OCUPAÇÃO, TERRITORIO, FRONTEIRA, DESENVOLVIMENTO.

O SR. JÚLIO CAMPOS (PFL-MT. Pronuncia o seguinte discurso.) - Sr. Presidente, Srªs. e Srs. Senadores, comemoramos, neste momento, os duzentos e cinqüenta anos de Mato Grosso como unidade político-administrativa brasileira. Quando tomei a iniciativa de homenagear o meu Estado, não o fiz apenas na condição de mato-grossense, nem na de ex-Governador do Estado, tampouco pelo fato exclusivo de compor sua representação nesta Casa. Afora todas essas razões, em si mesmas justificadoras do meu ato, moveu-me, acima de tudo, a certeza de que a data que hoje celebramos pertence ao Brasil, pelo profundo significado que encerra.

São dois séculos e meio de uma História maiúscula, em que não faltaram bravura, destemor e espírito de conquista. São dois séculos e meio de lutas incessantes de homens e mulheres que, comprometidos com a construção da vida num ambiente distante e desconhecido, jamais esmoreceram.

Compreender o sentido e a dimensão da tarefa que foi a ocupação desse enorme território requer um mergulho no passado, um exame mais acurado da História brasileira. Somente assim será possível avaliar o papel reservado a essa área que, longe do litoral por onde quase toda a colonização se processava, permitiu a extraordinária ampliação do espaço brasileiro, além de oferecer-lhe segura proteção.

Conhecemos todos a forma pela qual o Brasil surgiu para a História ocidental. Na Europa, ao final da Idade Média e nos primórdios dos Tempos Modernos, gestava-se um novo tipo de organização da sociedade. As velhas estruturas feudais cediam lugar às novas concepções, que, conduzidas por uma nascente classe social, a burguesia, prenunciavam tempos diferentes daqueles vividos até então.

Sair à conquista do mundo, penetrar por mares e terras desconhecidos era o sentimento que impulsionava o europeu naquele momento. Vencer o medo, dar vazão à cobiça, construir uma nova vida era o estímulo e a razão de ser de todos os que se aventuravam a enfrentar até mesmo o imponderável. Desse processo de expansão, fundamentado no comércio e fazendo dos oceanos o seu caminho natural, descortinou-se a América. Neste Novo Mundo, revelou-se àqueles viajantes vindos de longe a terra brasileira.

Os dois reinos ibéricos - Portugal e Espanha - foram os pioneiros do expansionismo marítimo-comercial. Na condição de maiores potências européias, do final do século XV a meados do século XVI, decidiram repartir entre si as terras descobertas e a descobrir. Daí o Tratado de Tordesilhas, em função do qual pertenceriam aos portugueses as terras brasileiras situadas na faixa litorânea.

Não por outra razão, o processo de ocupação do Brasil deu-se pelo litoral. À exploração do pau-brasil seguiu-se a agroindústria açucareira, sempre na mesma área. Somente a crise da economia do açúcar, quase que simultaneamente acompanhada pela notícia da descoberta de pedras e metais preciosos no interior - no caso, em Minas Gerais, imediatamente secundada por Goiás e Mato Grosso -, é que forçou a mudança desse quadro, alterando o eixo da exploração colonial.

É exatamente nesse momento, Sr. Presidente, Srªs. e Srs. Senadores, que o Brasil começa a adquirir a configuração territorial que possui. Foi graças à coragem de um punhado de pessoas saídas do litoral - principalmente de São Paulo - em busca de novas oportunidades de vida, que as fronteiras se expandiram. Ora procurando apresar indígenas, ora tentando a sorte na mineração, o certo é que esses valentes e destemidos homens vararam o atual território mato-grossense, incorporando-o à colônia portuguesa, tornando letra os limites traçados em Tordesilhas.

Estávamos na primeira metade do século XVIII. Chefiando uma bandeira, Pascoal Moreira Cabral identificou a existência de pepitas de ouro nos terrenos situados às margens do Rio Coxipó. A descoberta justificou a fundação do primeiro núcleo de povoamento na região, a Forquilha. A 8 de abril de 1719, Moreira Cabral assinava a ata de fundação de Cuiabá.

Começava ali uma nova história fadada a marcar profundamente a evolução brasileira. Quando a notícia da descoberta do ouro chegou a São Paulo, ocorreu em Mato Grosso processo similar ao de Minas Gerais: levas e levas de imigrantes dirigem-se para a nova terra, determinando o rápido povoamento das minas. Diz o historiador Rubens de Mendonça: “Em 1722, o sorocabano Miguel Sutil, agricultor, mandou dois índios Carijós à sua roça buscar mel, ficando surpreso quando os índios trouxeram, em lugar de mel, pepitas de ouro. A notícia desse descobrimento se espalhou rapidamente por entre os moradores da ‘Forquilha’, que, alvoraçados, mudaram-se, em 1723, para o local onde hoje se encontra a cidade de Cuiabá” - atual Capital do nosso querido Estado de Mato Grosso.

O Sr. Romeu Tuma(PFL-SP) - Permite-me V. Exª um aparte?

O SR. JÚLIO CAMPOS (PFL-MT) - Ouço, com atenção, o aparte do nobre Senador Romeu Tuma.

O Sr. Romeu Tuma (PFL-SP) - Agradeço, nobre Senador, pela oportunidade. V. Exª falou em mel, e as palavras de seu pronunciamento em comemoração ao aniversário de todos os mato-grossenses, tanto de Mato Grosso do Sul como de Mato Grosso, saem realmente como doce, inclusive suas explicações históricas, geográficas e econômicas sobre a formação desse Estado. Por várias vezes, questionei-me a respeito da importância da contribuição do Estado de Mato Grosso para a consolidação do Mercosul. E ontem, Senador Júlio Campos - permita-me fazer uma retrospectiva da discussão sobre o novo Embaixador do Brasil na Bolívia. Dois representantes do Estado de Mato Grosso do Sul que participaram das interpelações mostraram a importância do seu Estado na ligação com a Bolívia, com o gasoduto e outras importantes missões comerciais, inclusive para ajudar o país vizinho. Por não dispor de uma saída para o Pacífico ou por outro porto de mar, ele terá, sem dúvida nenhuma, provavelmente com o desenvolvimento das hidrovias, de colaborar nessa transação tão importante para o Mercosul. O Presidente da Comissão Especial, Senador Lúdio Coelho, também nos mostrou a importância da participação de Mato Grosso nas discussões a respeito desse Mercado Comum. Nobre Senador Júlio Campos, associo-me às palavras de V. Exª, porque há um pouquinho de bandeirantes na formação do Estado de Mato Grosso, aliás, fato que V. Exª já citou em seu pronunciamento, fazendo referência ao sorocabano que, mandando colher mel, descobriu ouro. Cumprimento-o, efusivamente, por haver lembrado esse importante fato para os brasileiros.

O SR. JÚLIO CAMPOS (PFL-MT) - Agradeço o aparte de V. Exª, nobre Senador Romeu Tuma. Quero realçar que não há só um pouquinho do paulista sorocabano na fundação de Mato Grosso: toda a história de Mato Grosso foi construída a partir de São Paulo. Mato Grosso foi fundado por paulistas de Sorocaba. Os pioneiros, a primeira leva de imigrantes deixou São Paulo pelo rio Tietê indo parar lá no longínquo oeste, que, na época, eram quase como terras espanholas e que, com a presença dos portugueses e dos paulistas de Sorocaba, transformou-se num território brasileiro.

E a importância de Mato Grosso - como bem disse V. Exª, dos dois Mato Grosso, o nosso Mato Grosso e o Mato Grosso do Sul - é vital para a integração do Mercosul, já que fazemos fronteira com dois países irmãos: a Bolívia e o Paraguai.

Continuando, Sr. Presidente, Srªs. e Srs. Senadores, de São Paulo, Minas Gerais, Bahia, Piauí e Maranhão, vieram, em maior parte, os aventureiros em busca de ouro. Como salientou Rubens de Mendonça, essa gente, enfrentando toda sorte de perigo, não temendo o desafio representado pelo sertão desconhecido, muitas vezes vencia distâncias superiores a 500 léguas, em canoas, descendo os rios Tietê e Grande, “subindo o Anhanduí acima da barra do rio Pardo, atravessando a Vacaria, descendo pelo Mbotetéu e deste subindo pelo rio Paraguai o rio Porrudos, até o Cuiabá”.

A importância da região para a Coroa portuguesa adquiria dimensão verdadeiramente estratégica. Assim é que, a 9 de maio de 1748, justamente há 250 anos, por Carta Régia, Lisboa decide desmembrar Mato Grosso da Capitania de São Paulo. Nascia, pois, naquele momento, a Capitania de Mato Grosso, tendo como seu primeiro Governador e Capitão-General Dom Antônio Rolim de Moura Tavares.

Reafirmando o caráter estratégico da ocupação de Mato Grosso para a fixação de nossas fronteiras, de colônia lusitana a País independente, a atuação do inesquecível Governador Luís de Albuquerque de Melo Pereira e Cáceres - por muitos considerado o maior administrador mato-grossense do período colonial - foi emblemática. Numa época de tensas relações entre Portugal e Espanha, tratou de agir política e estrategicamente, de modo a garantir o território sob domínio português.

Para tanto, Luís de Albuquerque determinou a ocupação de áreas sensíveis ao interesse espanhol. Desse modo, foram fundados o Forte de Coimbra, no baixo Paraguai; o Forte Príncipe da Beira, à margem direita do rio Guaporé; a povoação de Albuquerque, hoje cidade de Corumbá; a Vila Maria, hoje a cidade de Cáceres; São Pedro de El-Rei, atualmente Poconé, que é a entrada do Pantanal Mato-Grossense; Viseu, à margem esquerda do Guaporé. Em todos esses atos, a obediência a planos estratégicos, ora assegurando o domínio sobre importantes domínios, ora garantindo o abastecimento e a defesa em caso de ataque dos vizinhos espanhóis.

Como bem destacou a historiadora Luíza Rios Ricci Volpato, da Universidade Federal de Mato Grosso, com a criação da Capitania de Mato Grosso sedimentou-se a montagem de um aparato burocrático e militar na região, cujos funcionários se sobrepuseram à elite até então existente, constituída, sobretudo, por mineiros e comerciantes. Para a autora, “o estabelecimento do Governo trouxe o compromisso de uma política de fronteira; foi a partir daí que se desencadeou a guerra contra os espanhóis, e que ficaram objetivamente marcadas as condições de vida do conjunto da população”.

Não há dúvida, Sr Presidente, de que Mato Grosso cumpriu, na História do Brasil, o papel singular de guardião de nossas fronteiras a oeste. Do nascimento da Capitania, quando tornou-se o “antemural da Colônia”, passando pela Província, com a Independência, e chegando a Estado, com a República, Mato Grosso desempenhou com denodo essa função.

Vale repetir, aqui, o comentário da Prof. Luíza Volpato, para quem” a condição de fronteira desde o período colonial caracterizava a vida de Mato Grosso e trazia grandes ônus sociais e econômicos à sua população. Essa condição foi mantida na fase inicial do período republicano, aspecto que é enaltecido no hino do nosso Estado de Mato Grosso, que foi composto pelo príncipe dos poetas brasileiros, Dom Francisco de Aquino Corrêa”.

Sr. Presidente, Srªs. e Srs. Senadores, aos duzentos e cinqüenta anos de existência, Mato Grosso é a mais perfeita tradução da capacidade que homens e mulheres abnegados têm para construir uma história de lutas, aprendendo com eventuais derrotas e sendo nobres nas conquistas. Uma gente que soube explorar um chão desconhecido em condições adversas; que soube superar o declínio da mineração, encontrando formas alternativas de produção que impedissem o retrocesso; que soube defender a integridade territorial brasileira; que soube conduzir um processo civilizatório no imenso território que lhe coube conquistar.

Aos duzentos e cinqüenta anos, Mato Grosso - hoje composto por dois, o velho Mato Grosso e o Mato Grosso do Sul - continua a oferecer ao Brasil lições de pioneirismo e espírito desbravador. Não por acaso, em função de suas condições topográficas e climáticas e, sobretudo, graças à capacidade criadora do seu povo, apresenta-se como a grande fronteira agrícola brasileira, praticando uma agricultura intensiva que não cessa de expandir e fazendo de sua pecuária talvez a mais expressiva do País.

Aos 250 anos, Mato Grosso consegue conciliar o desenvolvimento econômico, necessário e útil, com a preservação das riquezas naturais, imperativo de sobrevivência da humanidade.

O Sr. Jonas Pinheiro (PFL-MT) - Senador Júlio Campos, V. Exª me concede um aparte?

O SR. JÚLIO CAMPOS (PFL-MT) - Com muita honra, Senador Jonas Pinheiro.

O Sr. Jonas Pinheiro (PFL-MT) - Senador Júlio Campos, em boa hora V. Exª apresentou esse requerimento, deferido por esta Casa, em que homenageia o Estado de Mato Grosso. Não é por acaso que aqui se encontra a Bancada mato-grossense, composta por seis Parlamentares: Senador Carlos Bezerra, Senador Lúdio Coelho, Senador Levy Dias, Senador Ramez Tebet e V. Exª. Isso é sinal de apoio a essa iniciativa. Registro que os visionários, há 280 anos, como fora Pascoal Moreira Cabral, já tinham o prenúncio de que essa grande região do território brasileiro seria - como V. Exª está a afirmar no seu pronunciamento - o potencial maior da Pátria. V. Exª foi feliz em dizer que estamos vencendo a era da mineração, onde está exaurido o aspecto minerador mato-grossense, e entramos exatamente na era da produção. Ora, esses bandeirantes, evidentemente, já prenunciavam que a natureza foi muito pródiga com aquela região, dando todas as condições adequadas para produzir, como o clima, a topografia, a precipitação pluviométrica, a luminosidade, e tantos outros fatores naturais, e agora são os homens que estão a explorar. A tecnologia está presente, a vontade está presente, ainda com muito problema de infra-estrutura, o que, de certa forma, tira parcialmente a competitividade da produção mato-grossense. Mas, por certo, com a participação dos homens através do Governo Federal, que está fazendo a sua parte, através dos governadores de Mato Grosso - e aqui está presente o Senador Carlos Bezerra, que fez um bom trabalho como governador, e V. Exª, Senador Júlio Campos, que fez um excelente trabalho por quatro anos como governador do Estado do Mato Grosso, rompendo as fronteiras agrícolas de todo o Estado, e por certo V. Exª, que hoje lidera a pesquisa eleitoral em Mato Grosso, irá governá-lo mais uma vez -, acreditamos que Mato Grosso se tornará, de fato, o maior produtor de alimentos do Brasil, atendendo àquela visão que os nossos antepassados tiveram. Parabéns pelo magnífico pronunciamento e, sobretudo, pela magnífica idéia de homenagear o Estado de Mato Grosso; não o Estado atual, mas o Estado de 1.280 mil km², que foi o Estado sonhado pelos descobridores. Muito obrigado.

            O SR. JÚLIO CAMPOS (PFL-MT) - Muito obrigado, Senador Jonas Pinheiro. Incorporo, com muita honra, o pronunciamento de V. Exª. Realmente, esta data está sendo comemorada não só no velho Mato Grosso, no Mato Grosso de Cuiabá, mas também no novo Mato Grosso, no Mato Grosso do Sul, de Campo Grande.

            O Ato Complementar nº 31, de 1977, que dividiu aquele imenso território de Mato Grosso, de 1.284 mil km², em dois - um com 900 mil km² e outro com 384 mil km² -, conseguiu separá-los apenas geograficamente, mas não conseguiu separar os sentimentos, o amor ao Brasil, o espírito pioneiro da gente que conquistou da divisa de Dourados até o Aripuanã, da região do Araguaia até a fronteira com o Paraguai e com a Bolívia, na região de Cáceres, de Corumbá. A alma mato-grossense é uma só, tanto do mato-grossense que ficou no norte como o que ficou no sul, embora a própria história preveja, talvez a médio prazo, uma nova separação territorial. Mato Grosso foi tão fértil, que vai dar ao Brasil, indiscutivelmente, três filhos progressistas: o velho Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e, num futuro não tão distante, talvez, Mato Grosso do Norte.

Por isso, Sr. Presidente, Srªs. e Srs. Senadores, aos 250 anos, Mato Grosso consegue conciliar o desenvolvimento econômico, necessário e útil, com a preservação das riquezas naturais, como é o caso do Pantanal mato-grossense, imperativo de sobrevivência da humanidade. Daí a existência de verdadeiros santuários ecológicos em seu território, estimulando um tipo de turismo que engrandece o ser humano.

O Sr. Levy Dias (PPB-MS) - V. Exª me permite um aparte?

O SR. JÚLIO CAMPOS (PFL-MT) - Ouço com atenção o nobre Senador Levy Dias.

O Sr. Levy Dias (PPB-MS) - Senador Júlio Campos, tenho certeza de que todo o Senado nesta manhã ouve com muita atenção o discurso de V. Exª. Quero cumprimentá-lo pela idéia da homenagem ao nosso querido Mato Grosso. Eu, que sou de Mato Grosso do Sul, mas que trabalhei em Mato Grosso como um todo, fui Deputado Estadual em Cuiabá, onde morei por dois anos, representando o Estado de Mato Grosso. Depois desse tempo, voltei a Campo Grande para ser Prefeito da nossa Capital, em 1972. Nessa fase, o Estado foi dividido. Mato Grosso, o Estado que V. Exª representa, sem sombra de dúvida, foi altamente privilegiado com a divisão, o seu potencial é grande demais, tanto na área agrícola quanto na área pecuária, na área da mineração, da indústria. Está acima do Paralelo 16, está dentro da área da Amazônia, portanto, desfruta dos benefícios e dos incentivos da Sudam. Mas, especificamente, pelo potencial que tem o Estado de Mato Grosso, logo que foi dividido começou a ser lentamente colonizado pelos gaúchos, pelos paranaenses, pelos catarinenses. Muita gente que estava em Mato Grosso do Sul hoje trabalha em Mato Grosso, que está, neste exato momento numa de suas melhores fases. Tenho certeza, Sr. Presidente, de que este é o grande momento por que passa o Estado de Mato Grosso. Falta uma vírgula para ele se tornar o maior produtor de grãos do País. Neste ano, em que a produção do Estado de Mato Grosso beira a casa dos 7 bilhões de toneladas, esse Estado está empatando com o grande Estado produtor brasileiro, o Paraná, que também está nessa faixa de produção. São brasileiros de todos os recantos do nosso País. É isso que forma, talvez, a parte mais bonita de qualquer Estado - e isso não é diferente em Mato Grosso -, que é a sua gente, é o povo que palmilha e trabalha em toda a região chamada, no Mato Grosso, de “Nortão”. O Senador Júlio Campos tem muita razão quando fala que Mato Grosso pode acabar gerando três Estados. Tenho um amigo em Cuiabá, que é cuiabano tradicional, com muitos anos de vida pública, o ex-Senador Vicente Vuolo, que me disse: “Fui candidato a Deputado Federal, visitei o “Nortão” e retirei a minha candidatura”. Eu lhe perguntei: “Por que você fez isso, Vuolo?” Ele me respondeu: “Não conheço mais ninguém. Todos têm olhos azuis”. É o Brasil se integrando! Tenho certeza de que o Estado de Mato Grosso - naturalmente, o Senador Júlio Campos dispõe de dados a esse respeito -, em curto espaço de tempo, será o maior produtor de grãos do nosso País e, a médio e longo prazos, terá condições de produzir a mesma quantidade de soja produzida hoje no nosso Brasil. Já o meu Estado de Mato Grosso do Sul não passa por essa mesma fase. Mato Grosso do Sul vive uma fase difícil de declínio na sua produção, o que é triste. Mas tenho certeza de que, brevemente, ele voltará a ocupar o seu lugar no cenário da produção brasileira. Portanto, Senador Júlio Campos, quero homenagear o povo do Estado de Mato Grosso, que é o núcleo principal da criação dos nossos dois Estados. Como disse V. Exª, quero me congratular com os Estados de Mato Grosso e de Mato Grosso do Sul com a mesma alma, com o mesmo espírito, com o mesmo sentimento de brasilidade e com o mesmo amor que sempre uniu os dois Estados. Meus parabéns!

O SR. JÚLIO CAMPOS (PFL-MT) - Muito obrigado, nobre Senador Levy Dias. Incorporo, com muita honra, o aparte de V. Exª no meu pronunciamento.

O Sr. Pedro Piva (PSDB-SP) - Permite-me V. Exª um aparte?

O SR. JÚLIO CAMPOS (PFL-MT) - Ouço, com atenção, o aparte do nobre Senador Pedro Piva, de São Paulo, que foi o Estado-mãe de Mato Grosso.

O Sr. Pedro Piva (PSDB-SP) - Sr. Senador, sinto-me muito à vontade de me aliar a esta homenagem ao Estado de Mato Grosso pelos seus 250 anos. Sou paulista, mas, como disse o nobre Senador Júlio Campos, foi de São Paulo que partiram as bandeiras, com Borba Gato descendo à procura de esmeraldas. Lá não encontraram o eldorado prometido de pedras preciosas, mas encontraram um Estado fantástico, rico, promissor, cuja vocação é tornar-se um dos maiores Estados do Brasil. Isso é o que todos nós, brasileiros, desejamos. Mais uma vez, fico satisfeito de ver neste plenário dois ex-Govenadores de Mato Grosso, os Senadores Carlos Bezerra e Júlio Campos, aos quais certamente Mato Grosso deve muito. Esses dois grandes homens públicos ainda darão muita felicidade ao seu Estado. Sinto-me confortável, porque sou um dos pioneiros nos dois Estados. Em Mato Grosso do Sul, há mais de 60 anos, temos a fazenda Miranda Estância, que era uma antiga fazenda de ingleses, de quem meus antepassados a compraram, para que fosse do Brasil a apropriação dessa fazenda imensa, com suas reservas ecológicas. Ali há um grande parque, o que me enche de alegria. Nobre Senador Júlio Campos, V. Exª deve estar lembrado de que, há 30 anos, no “Nortão” de Mato Grosso, comprei uma fazenda, da qual ainda sou proprietário, cujos primeiros peões foram alimentados pela casa comercial de sua família.

O SR. JÚLIO CAMPOS (PFL-MT) - “A Futurista”.

O Sr. Pedro Piva (PSDB-SP) - Exatamente. Isso ocorreu nos idos de 1966.

O SR. JÚLIO CAMPOS (PFL-MT) - É verdade.

O Sr. Pedro Piva (PSDB-SP) - Tenho certeza de que o Estado de Mato Grosso seguirá a sua vocação e será um Estado fantástico. Srªs e Srs. Senadores, juntamente com os Senadores representantes de Mato Grosso, este Senador paulista estará irmanado nessa conquista e na ajuda possível que me for dado o prazer de oferecer ao grande Estado do Senador Júlio Campos.

O SR. JÚLIO CAMPOS (PFL-MT) - Muito obrigado.

O Sr. Odacir Soares (PTB-RO) - Permite-me V. Exª um aparte?

O SR. JÚLIO CAMPOS (PFL-MT) - Peço a permissão da Mesa para ouvir um breve aparte do Senador Odacir Soares, que é um mato-grossense, já que Rondônia e Mato Grosso são Estados irmãos. Um pedaço de Rondônia pertencia a Mato Grosso naqueles tempos.

O SR. PRESIDENTE (Carlos Patrocínio) - Eminente Senador Júlio Campos, a Mesa tem sido condescendente com V. Exª, dada a importância da homenagem que está sendo prestada. Porém, V. Exª já esgotou seu tempo em mais de dez minutos. Gostaria que esse fosse o seu último aparte.

O SR. JÚLIO CAMPOS (PFL-MT) - Muito obrigado, Sr. Presidente.

Concedo o aparte ao Senador Odacir Soares.

O Sr. Odacir Soares (PTB-RO) - Agradeço à Presidência e, especificamente, ao Senador Júlio Campos por me terem permitido fazer este aparte. Quando ouço o discurso do Senador Júlio Campos sobre os 250 anos de criação do atual Estado de Mato Grosso, que não é mais aquele, porque perdeu alguns espaços seus daquela época, inclusive para Rondônia e para Mato Grosso do Sul, volto à concepção daqueles que tiveram a felicidade de penetrar no oeste brasileiro e de conceber essas regiões do ponto de vista geopolítico. Há pouco, eu estava lendo um livro sobre o Coronel Aluizio Ferreira, que foi o fundador do Território Federal do Guaporé e de todos os territórios federais e o criador das unidades de fronteira do Brasil. Fiquei impressionado com a visão geopolítica do Coronel Aluizio Ferreira e com a grandeza das suas concepções de penetração na hinterlândia brasileira. Voltei-me também para a criação do atual Estado de Mato Grosso, do Mato Grosso histórico, do Mato Grosso de D. Francisco de Aquino Correa, grande poeta, membro da Academia Brasileira de Letras, que, inclusive, teve grande influência na República e era amigo pessoal do Presidente Dutra e de sua esposa, Dona Santinha. Vislumbro a grandeza desses homens que tiveram a felicidade de conceber esse novo Brasil. Jamais essa região seria brasileira sem a visão geopolítica desses homens. Eu comentava, brincando com o Senador Levy Dias, que hoje deveríamos comemorar os 258 anos do Estado de Mato Grosso e não os seus 250 anos, porque, na realidade, os quatro anos do Governo de V. Exª, por seu impulso renovador, representaram oito anos de Mato Grosso. A mesma coisa eu dizia a respeito do Governo do Senador Carlos Bezerra. Deveríamos comemorar os 258 anos de desenvolvimento, de concepção e de beleza do Estado de Mato Grosso. V. Exª falou sobre o Real Forte do Príncipe da Beira e sobre todos os fortes que foram erigidos pelos nossos antepassados, sem os quais o Brasil não seria tão grande. Não bastava a língua. Muitas vezes, ouvimos falar que a língua foi fator de integração nacional, mas as providências de caráter geopolítico tomadas foram fundamentais para a manutenção e preservação da língua. Vide, sob esse aspecto, a questão do Acre, que era boliviano. Os brasileiros foram para lá falando português, mas, mesmo assim, física e historicamente, do ponto de vista do Direito Internacional, o Acre era boliviano. A penetração de brasileiros e a concepção de um Brasil grande e integrado em si mesmo levaram essas regiões a se desenvolverem hoje. Juscelino Kubitschek, por exemplo, repetiu, no seu Governo, a saga de Getúlio e a saga do próprio Aluizio Ferreira. Lendo-se a história de Aluizio Ferreira, verifica-se a concepção macroeconômica e macrossocial desses homens no sentido do que deveria ser o Brasil. A BR-364, que é uma grande via de penetração, foi concebida e iniciada em 1930 pelo então Major Aluizio Ferreira, que passava, a partir daquele momento, com a nacionalização da estrada de ferro Madeira-Mamoré, a ser o grande chefe político daquela região, integrada por parte de Mato Grosso e por parte do Estado do Amazonas. V. Exª faz um registro histórico importante e fundamental para a compreensão da História do Brasil e, mais do que isso, para a compreensão do desenvolvimento que o nosso País teve e está vivendo hoje. Parabéns a V. Exª!

O SR. JÚLIO CAMPOS (PFL-MT) - Muito obrigado pelo aparte, Senador Odacir Soares.

Vou concluir, Sr. Presidente.

Se muito há o que fazer no Estado - e todos temos consciência disso -, muito há para ser comemorado na celebração dos duzentos e cinqüenta anos de Mato Grosso. Do século XVIII aos dias de hoje, construiu-se uma identidade cultural mato-grossense, fruto da ação - tantas vezes anônima - de milhares de homens e mulheres, gente do povo, que se fez na luta, no trabalho, no amor; gente que se deu o direito de sonhar e que, em busca da realização de sua utopia, foi capaz de construir uma História da qual todos nos orgulhamos.

Em duzentos e cinqüenta anos, Mato Grosso se forjou no trabalho: mineradores, camponeses, vaqueiros, profissionais liberais, comerciantes, industriais e tantos outros, no transcurso do tempo, erigiram a realidade que hoje desfrutamos.

Comemoramos essa data tão significativa prestando uma justa homenagem aos que nos antecederam e aos que fundaram o nosso Estado, como Pascoal Moreira Cabral, Miguel Sutil, Rolim de Moura, assim como ao maior dos mato-grossenses deste século, Marechal Cândido Mariano da Silva Rondon. Precisamos também refletir criticamente sobre o nosso passado e firmar o compromisso de construir nosso futuro em bases imorredouras: com prosperidade, justiça social e cidadania.

Mato Grosso, o meu querido Mato Grosso, merece o nosso esforço!

Muito obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 08/05/1998 - Página 7665