Discurso no Senado Federal

AFLIÇÃO DA POPULAÇÃO NORDESTINA QUE SOFRE COM A SECA NA REGIÃO. NECESSIDADE DE URGENCIA NAS AÇÕES DO GOVERNO FEDERAL PARA AMENIZAR OS PROBLEMAS NA REGIÃO DA SECA.

Autor
Ney Suassuna (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/PB)
Nome completo: Ney Robinson Suassuna
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
CALAMIDADE PUBLICA.:
  • AFLIÇÃO DA POPULAÇÃO NORDESTINA QUE SOFRE COM A SECA NA REGIÃO. NECESSIDADE DE URGENCIA NAS AÇÕES DO GOVERNO FEDERAL PARA AMENIZAR OS PROBLEMAS NA REGIÃO DA SECA.
Aparteantes
Levy Dias.
Publicação
Publicação no DSF de 13/05/1998 - Página 8067
Assunto
Outros > CALAMIDADE PUBLICA.
Indexação
  • COMENTARIO, APREENSÃO, POPULAÇÃO, REGIÃO NORDESTE, VITIMA, SECA, GRAVIDADE, SITUAÇÃO, FOME, MISERIA, INDUÇÃO, ROUBO, ALIMENTOS.
  • SOLICITAÇÃO, URGENCIA, GOVERNO FEDERAL, SOLUÇÃO, CARATER PERMANENTE, COMBATE, SECA, REGIÃO NORDESTE, ESPECIFICAÇÃO, CONSTRUÇÃO, ADUTORA, BARRAGEM, TRANSPOSIÇÃO, AGUA, RIO SÃO FRANCISCO.
  • ELOGIO, EMPENHO, JOSE MARANHÃO, GOVERNADOR, ESTADO DA PARAIBA (PB), INICIO, PROGRAMA, EMERGENCIA, UTILIZAÇÃO, RECURSOS, GOVERNO FEDERAL, AUXILIO FINANCEIRO, POPULAÇÃO, VITIMA, SECA.

O SR. NEY SUASSUNA (PMDB-PB. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs. e Srs. Senadores, ocupo a tribuna para registrar mais uma vez a aflição que o Nordeste está sofrendo.

Foi determinada a entrega de cestas básicas à população, mas elas não chegaram - e sei que isso é realmente difícil - a todos os lugares ao mesmo tempo. Parece um problema simples, mas não é. Quando perguntamos por que está havendo essa demora, recebemos a seguinte resposta: “estão-se organizando”. Mas a fome daqueles que não as estão recebendo não consegue esperar e, por isso, continuam os saques.

O Ministério da Justiça entrou em contato com o Secretário de Segurança pedindo que a ordem seja mantida. É difícil manter a ordem quando o estômago grita alto.

Estamos com dificuldades, Sr. Presidente, Srªs. e Srs. Senadores. O meu Estado foi o único que iniciou programas de emergência utilizando recursos estatais. O Governador José Maranhão inscreveu cerca de cem mil pessoas. Nenhum outro Estado do Nordeste fez isso.

O Governo Federal agora começou o alistamento para o fornecimento de R$50,00 por mês a cada pessoa inscrita. Mas as frentes ainda não foram organizadas e, apenas na Paraíba, mais de trezentas mil pessoas buscam o alistamento.

Sr. Presidente, neste momento, estou pedindo urgência nas ações de combate aos problemas da seca. Sei que o Presidente da República já determinou que providências fossem tomadas há 80 dias, quando o Governador José Maranhão e eu fomos falar com Sua Excelência; sei, também, que a lentidão da máquina é grande demais.

O Sr. Levy Dias (PPB-MS) - V. Exª me permite um aparte?

O SR. NEY SUASSUNA (PMDB-PB) - Ouço V. Exª com prazer.

O Sr. Levy Dias (PPB-MS) - Senador Ney Suassuna, a seca no Nordeste assusta os brasileiros que examinam a questão com bom senso e tranqüilidade e sabem que se trata de um problema para o qual há solução. Por que não se resolve o problema da seca no Nordeste? Li uma matéria - salvo engano na Folha de S. Paulo - do Governador Tasso Jereissati, na qual S. Exª diz que, com apenas US$380 milhões, ele resolve a questão da seca no Ceará. O Globo Rural de domingo mostrou, em uma reportagem, o Nordeste rico - ou seja, o Nordeste irrigado - e o Nordeste pobre. Na filmagem, feita do alto, por um avião, via-se aquela faixa verde, de um lado, e, do outro lado, a seca, o sofrimento, a crueldade impingida às pessoas que têm de comer cacto. Ora, eu assisti a uma cena de crianças comendo palma - palma é pura fibra. V. Exª, Sr. Presidente, que é médico, sabe melhor do que eu, que aquilo é pura fibra. Cozinham aquela palma com água para colocar alguma coisa dentro do estômago - essa é a verdade. E nós sabemos que, com apenas 380 milhões de dólares - um valor insignificante, se comparado aos valores que aprovamos para outras finalidades - resolver-se-ia o problema do Ceará. Fico a me perguntar, Senador Ney Suassuna, por que não se resolve isso. Estamos entrando no século XXI e ainda se fala: “tem gente passando sede”. Pergunto: se não temos competência para dar água potável às pessoas, o que vamos fazer? O que o País vai fazer se não temos condições de dar água para essas pessoas beberem? E eu assisti à entrevista com o cidadão da terra irrigada e à entrevista com o cidadão da terra seca. O cidadão da terra seca, um homem castigado pelo sol, pela falta de água, dizia assim: “É... a hora que Deus quiser, vai chover”. Meu Deus do Céu, temos competência, temos tecnologia, temos técnicos, temos dinheiro. Se não tivéssemos dinheiro de sobra, não teríamos dado 21 bilhões ao Banespa e ao Banerj. À medida em que o Governo Federal emite títulos, faz dinheiro. Por que a seca do Nordeste a que todos assistimos, que ouvimos, que acompanhamos e sobre a qual lemos desde nossa primeira infância não se resolve? Fico triste quando vejo que esses problemas vão se repetindo e não são resolvidos. Estou fazendo um aparte a V. Exª, pois já ouvi vários discursos sobre a seca e não tive oportunidade de me pronunciar como agora. Entendo que V. Exª e o Governo do seu Estado e os dos demais Estados atingidos deveriam fazer um movimento para resolver esse problema. O cidadão que a televisão mostrava na seca estava há dois quilômetros da irrigação, ou seja, um cano de água de dois quilômetros resolveria o problema dele. Naturalmente, não é somente ele; há mais pessoas, mas, enfim, venho tocando no assunto da agricultura, que é nosso caminho para resolver o problema do desemprego, e também quero dizer que o mundo inteiro irriga: o Chile, a China, os Estados Unidos. Este o faz através do deserto da Califórnia, traz águas das geleiras, controla o degelo no Norte, no Alasca, para fazer irrigação em toda a região seca, desértica do grande São Francisco, que é chamado o Golden State, ou seja, o estado de ouro dos Estados Unidos, irrigado em milhares de quilômetros com canais de concreto para diminuir a perda da água e tem uma produção que dá inveja ao mundo. Nós, Senador Ney Suassuna, temos competência e dinheiro para resolver o problema.

O SR. NEY SUASSUNA (PMDB-PB.) - Agradeço, nobre Senador Levy Dias, e vejo com tristeza que V. Exª tem razão porque temos todas as condições. Só nos falta uma: vontade política. Essa transposição - observe que 60% da água do Nordeste está no rio São Francisco - seria feita com um centésimo da água daquele rio para os Estados da Paraíba, Rio Grande do Norte, Pernambuco e Ceará e resolveríamos metade dos que hoje estão flagelados, ou seja, seis milhões de pessoas. Resolveríamos o problema de seis milhões de pessoas. Teríamos uma área irrigada produzindo superior a do Chile. E, no entanto, não fazemos a transposição das águas do São Francisco que custa 2 bilhões, mas fazemos a transposição do dinheiro para os bancos que custaram mais de 27 bilhões, quando tivemos o Proer.

O Sr. Levy Dias (PPB-MS) - Logo, temos dinheiro.

O SR. NEY SUASSUNA (PMDB-PB) - Dinheiro, se quisermos, nós temos, até porque vamos ter agora novamente para dar cestas básicas, carros-pipa e frente de trabalho. Vamos ter que gastar provavelmente o que foi gasto em 93, quando gastamos no Governo Itamar 800 milhões. Por que não resolver de uma vez? Por que ficar gastando 800 milhões de cada vez para resolver um problema na hora da crise e que não é estruturante? Temos que buscar, sim, soluções estruturantes, barragens, aquedutos, transposição da água; enfim, temos que arrumar soluções que sejam definitivas e, lamentavelmente, mal acaba a seca, todos nós esquecemos. Vem a chuva, todo mundo esquece que existe o problema que voltará ciclicamente alguns anos depois. É vergonhoso ter que dizer que falta vontade política.

Eu queria, Sr. Presidente, trazer à baila essa consideração e dizer que o governo do meu Estado, com o Governador José Maranhão, hoje indicado como o segundo mais popular do País, apesar da seca, com o Estado todo sobre seca, portanto com dificuldades financeiras, é um homem que enfrentou sozinho, até o momento, todo esse cataclismo, mas é preciso que o Governo Federal chegue e ajude a levar essa carga que é pesada demais. O meu Estado arrecada cerca de 85 milhões/mês. Nós, só no fundão da educação, perdemos 80 milhões/mês. Estamos pagando cerca de quatro meses por ano da dívida passada. É uma situação difícil, mesmo assim esse homem tem conseguido fazer uma administração que o inclui em segundo no País em popularidade, quatro pontos apenas abaixo do Maguita, que, em Goiás, é o primeiro colocado.

Precisamos de ajuda. Não dá para continuar assim. Se continuar dessa forma, os saques irão se repetir com maior intensidade, e a desorganização social, com toda certeza, vai desorganizar todo o Nordeste e, conseqüentemente, o Brasil.

Muito obrigado, Sr. Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 13/05/1998 - Página 8067