Discurso no Senado Federal

APELO AO GOVERNO PARA QUE IMPLEMENTE AÇÕES PRELIMINARES PARA A TRANSPOSIÇÃO DAS AGUAS DO RIO SÃO FRANCISCO, MEDIDA ESTA QUE AUXILIA NO COMBATE A SECA NO NORDESTE.

Autor
Ney Suassuna (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/PB)
Nome completo: Ney Robinson Suassuna
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
CALAMIDADE PUBLICA.:
  • APELO AO GOVERNO PARA QUE IMPLEMENTE AÇÕES PRELIMINARES PARA A TRANSPOSIÇÃO DAS AGUAS DO RIO SÃO FRANCISCO, MEDIDA ESTA QUE AUXILIA NO COMBATE A SECA NO NORDESTE.
Aparteantes
Casildo Maldaner.
Publicação
Publicação no DSF de 15/05/1998 - Página 8416
Assunto
Outros > CALAMIDADE PUBLICA.
Indexação
  • DEFESA, TRANSPOSIÇÃO, AGUA, RIO SÃO FRANCISCO, SOLUÇÃO, CARATER PERMANENTE, SECA, REGIÃO NORDESTE.
  • SOLICITAÇÃO, GOVERNO FEDERAL, IMPLEMENTAÇÃO, PROVIDENCIA, TRANSPOSIÇÃO, AGUA, RIO SÃO FRANCISCO, SOLUÇÃO, PROBLEMA, SECA, REGIÃO NORDESTE.

O SR. NEY SUASSUNA (PMDB-PB. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs. e Srs. Senadores, nesses últimos dias tenho usado a tribuna do Senado para falar sobre o problema da seca que estamos enfrentando, dos saques e tudo o mais. E, em todas as vezes, sempre dissemos que uma das grandes soluções seria a transposição das águas do São Francisco.

O rio São Francisco, Sr. Presidente, é responsável por 60% das águas do Nordeste. Em toda a transposição, estamos falando de cerca de um centésimo desse volume de água ser transposto para áreas de Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte e Ceará. Isso resolveria o problema de cerca de 100 milhões de pessoas que passariam a ter emprego, produção. As terras dos sertões paraibano, cearense, pernambucano são boas, férteis; temos sol, só não temos água com regularidade. Com a regularidade, poderíamos fazer uma explosão tão grande que a área de produção seria maior do que a do Chile hoje. Isso seria excepcional para frutas e para vegetais em geral.

Tem sido muito falada a transposição, mas tudo é palavra; ação, não temos tido. Ainda não se começou a ação, não se começou a construir.

Ontem, estive com o Ministro Ovídio, que assumiu a Secretaria de Assuntos Regionais que era do ex-Ministro Fernando Catão, e lá, dentre outros problemas, eu falava da necessidade de se começar já uma ação e que se os três projetos hoje existentes têm pontos coincidentes, poderia começar por eles; por exemplo, começar as ações preliminares, ações que já vão dar corpo, tornar irreversível este projeto.

Ontem eu estive com o Presidente da República à tarde e também falei com Sua Excelência sobre essa questão. Lembrei o Presidente da necessidade de fazermos com o pessoal da frente de serviço - só na Paraíba temos quase 100 mil pessoas trabalhando na emergência, pagas pelo Estado, ganhando uma ninharia de R$ 50,00 ao mês. Temos uma demanda por emprego para mais 200 mil pessoas. Isso também ocorre nos demais Estados. Eu dizia ao Presidente que podíamos começar a montar e a limpar as áreas onde vão ser montados os acampamentos, tirando as pedras dos lugares por onde tranqüilamente sabemos que vai passar o projeto. Dessa forma, daríamos início ao projeto e emprego imediato.

O Sr. Casildo Maldaner (PMDB-SC) - Permite V. Exª um aparte?

O SR. NEY SUASSUNA (PMDB-PB) - Com muita satisfação, Senador Casildo Maldaner.

O Sr. Casildo Maldaner (PMDB-SC) - Sobre essa tese, temos debatido, lá em Santa Catarina, em várias oportunidades. V. Exª a levanta, em bom momento, e ainda a expôs ao Presidente da República. Devemos nos preocupar com a interiorização do desenvolvimento - defendo sempre essa tese -, fazer com que as pessoas, onde estão, encontrem o caminho perene. Precisamos oferecer os meios para que se evite a centralização, o famoso êxodo. Nas grandes metrópoles, hoje são cruciais três problemas: a moradia, o saneamento básico e a segurança pública. Esses problemas, que muitas vezes acontecem no Sul do País, principalmente agora que estamos vendo no Nordeste esse êxodo, fazem com que essas metrópoles cada vez custem mais ao País. Num debate que ocorreu hoje na TV Senado, o Presidente da Fundação Pedroso Horta, Deputado Paulo Lustosa, dizia que, no interior do Ceará, para se segurar uma pessoa que lá se encontre, oferecendo-lhe condições de manutenção custa a quinta parte do que seria gasto para mantê-la em Fortaleza. Se essa pessoa sair do interior do Ceará e for para São Paulo, os custos de manutenção - saneamento, moradia, segurança e estrutura - serão dez vezes maiores. Devem-se oferecer os meios através da interiorização do desenvolvimento, como V. Exª falou muito bem, usando o BNDES, o banco de desenvolvimento do País, e não colocando mais recursos extraordinários nos grandes centros. Mesmo as próprias empresas que lá estão, que descentralizem onde existe a comunidade, porque há condições de segurança, moradia, saneamento básico. Se as pessoas que residem, como V. Exª defende a tese, no interior do seu Estado, a Paraíba, tivessem condições de emprego, saúde, educação e laser...

O SR. NEY SUASSUNA (PMDB-PB) - E pagando impostos, porque vão produzir.

O Sr. Casildo Maldaner (PMDB-SC)... oferecendo isso e usando o BNDES, poderíamos colocar o Banco do Brasil para atuar como agente para manter essas pessoas em suas cidades. Ao invés de fechar agências no interior, poder-se-ia motivar os funcionários, até recompensá-los financeiramente, a ajudarem na organização da sociedade que ali se encontra, na busca por meios para sua própria sobrevivência. V. Exª, Senador Ney Suassuna, é uma constância nesta Casa na defesa de seu Estado, com tanta luta. A tese de V. Exª vale para o Brasil inteiro. Como representante de Santa Catarina, congratulo-me com V. Exª e proponho formarmos uma parceria pela cruzada nacional e ocuparmos isonomica, equitativa e geograficamente o País inteiro. Meus cumprimentos.

O SR. NEY SUASSUNA (PMDB-PB) - Muito obrigado, Senador Casildo Maldaner. É com honra que recebo os dizeres de V. Exª como parte do meu discurso. E digo mais: quem dera que os demais Parlamentares do sul também pensassem assim, que todos nós, unidos, entendêssemos que o problema não é do Nordeste, mas do Brasil, que o homem que de lá sai e faz essa desagregação social vai inchar as cidades do sul e gerar inúmeros problemas. Esse cidadão deixa mulher e filhos para conseguir um emprego e mandar, talvez dali a 60 dias, o primeiro salário, os primeiros R$100,00, se der sorte de encontrar um emprego. Mas, sabendo que os filhos estão passando necessidade, se ele encontrar o desvio do crime, pode escolher esse caminho e teremos mais violência e mais problemas nas grandes cidades. É preciso que tenhamos essa compreensão, e congratulo-me com V. Exª por tê-la.

Mas, Senador Casildo Maldaner, antes se falava na transposição do rio São Francisco como se fosse um bicho de sete cabeças, onde seriam gastos bilhões de reais. Tenho-me aprofundado no estudo desse assunto, verificando que soluções a Engenharia tem buscado para resolver esse problema. Ouvi um projeto interessantíssimo - desculpem-me não falar o nome da empresa, porque não estou aqui para fazer propaganda, mas atrás da solução de um problema que aflige seis milhões de nordestinos, dos quais algumas centenas de milhares são paraibanos. Teríamos, não através de canal aberto, que evapora e custa mais caro, mas através de túnel, uma economia substancial - um quilômetro de túnel custaria cerca de R$1,7 milhão, o que faria a obra custar menos e a água ser muito mais poupada - por onde levaríamos uma boa parte de água.

Agora, o que temo, e aqui desta tribuna quero alertar desde já, Sr. Presidente, Srs. Senadores, é que busquemos talvez até tecnologia estrangeira, quando temos no Brasil, ou mais ainda, incorramos no erro de fazer concorrências que possam acarretar problemas e gerar demandas judiciais que possam atrasar em muito o andamento de um projeto que é vital para a nossa região, para a região de V. Exª, que é Pernambuco, para minha, que é a Paraíba, e ainda desses dois outros Estados que acabei de citar, Rio Grande do Norte e Ceará.

Com tristeza, verifiquei em meus arquivos que já houve uma primeira denúncia a respeito de três empresas que foram contratadas, ou que deverão ser contratadas, por intermédio da Secretaria de Políticas Regionais, e tenho medo de que daqui a pouco, numa obra em que temos prazo, tempo - porque está custando vidas humanas - tenhamos sérios problemas devido à má administração.

Deixo esse alerta, da tribuna do Senado Federal, de que soluções nós temos, que necessidade urge, vontade política o Presidente tem, e já começa a aparecer até nos discursos do Superintendente da Sudene e no de todos os demais, e que não se pode esperar mais, temos que dar partida. O meu conselho, a minha solicitação ontem foi que déssemos partida já, começando pelos pontos que são coincidentes, fazendo neles as obras preliminares para a partida desse grande projeto que é a transposição das águas do São Francisco.

Muito obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 15/05/1998 - Página 8416