Discurso no Senado Federal

FALECIMENTO DO CANTOR E ATOR FRANK SINATRA, NA MADRUGADA DE HOJE.

Autor
Jefferson Peres (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/AM)
Nome completo: José Jefferson Carpinteiro Peres
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • FALECIMENTO DO CANTOR E ATOR FRANK SINATRA, NA MADRUGADA DE HOJE.
Aparteantes
Bernardo Cabral.
Publicação
Publicação no DSF de 16/05/1998 - Página 8521
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM POSTUMA, FRANK SINATRA, CANTOR, ATOR, PAIS ESTRANGEIRO, ESTADOS UNIDOS DA AMERICA (EUA).

      O SR. JEFFERSON PÉRES (PSDB-AM. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs. e Srs. Senadores, mesmo com esta sessão vazia, eu não poderia deixar de ocupar a tribuna para registrar a morte de Frank Sinatra nessa madrugada.

      Não há como fugir ao lugar comum, Sr. Presidente. O mundo amanheceu mais pobre com o desaparecimento daquele que talvez tenha sido o maior cantor popular da segunda metade deste século. Pelo visto, vamos viver um ano de dor e de luto. É claro que todo ano é de dor e de luto, porque todos os dias morrem pessoas. Mas falo de um ano de dor e de luto coletivos. Foi-se Nélson Gonçalves, deixando enlutados milhões de brasileiros, e, agora, deixou-nos Sinatra, enlutando o mundo inteiro.

      Só uma pessoa da minha geração pode saber o que representou este cantor ítalo-americano para nós. Aquele jovem franzino, que surgiu com as Big Bands nos anos 30 e 40, foi se agigantando e se enfileirou ao lado de Ella Fitzgerald no clube seletíssimo dos cantores fora de série. Como esquecer canções como All The Way, My Way, The Lady is a Tramp e aquela que é sua marca registrada New York, New York? Ele não compunha mais as músicas; as letras de algumas delas se identificavam com ele, Sr. Presidente. Os primeiros versos da canção All The Way dizem o seguinte: ”When somebody loves you, it’s no good unless she loves you all the way”, ou seja, “quando alguém te amar, não será bom a menos que te ame de qualquer jeito, de qualquer maneira”. Isso representava bem o sentimento de Sinatra, que também foi um homem de grandes paixões. Viveu muitos romances, alguns tempestuosos, como aquele com outra grande vedete deste século, a inesquecível Ava Gardner. Frank Sinatra foi talvez uma espécie de Don Juan, homem que amou demais. Dir-se-á: “Como poderá ter amado, se amou tanto?”. Sr. Presidente, fica a seguinte reflexão: a intensidade do amor não pode ser medida pela fidelidade. Será mais amante aquele que amou uma mulher a vida inteira ou outros, como Sinatra, que amaram muitas, mas cada uma em seu devido momento? Lembrando Vinícius de Moraes, creio que cada amor de Sinatra foi eterno enquanto durou.

      O Sr. Bernardo Cabral (PFL-AM) - V. Exª me permite um aparte?

      O SR. JEFFERSON PÉRES (PSDB-AM) - Concedo-lhe o aparte, porque sei que V. Exª, Senador Bernardo Cabral, como homem de minha geração, sabe o que representa a morte de Frank Sinatra.

      O Sr. Bernardo Cabral (PFL-AM) - Talvez, ninguém melhor do que eu possa testemunhar por que V. Exª está ocupando a tribuna. Como acaba de ressaltar, tendo sido, como sou, da sua geração, ambos participamos da fundação da Juventude Idealina na nossa terra, em Manaus. Aliás, V. Exª, num dos livros de sua autoria, relembra isso com alguma saudade, evocando os Anos Dourados. Naquela altura, ainda não tendo chegado aos 20 anos, todos nós, jovens, éramos entusiastas de Frank Sinatra. Quando V. Exª lembra que, em nenhum instante da segunda metade deste século, haverá um intérprete mundial do quilate de Frank Sinatra, V. Exª faz um retrospecto da nossa mocidade. Ao chegar à idade madura, V. Exª não tem um sentimento de prazer ao fazer esse registro, porque uma morte sempre nos diminui um pouco, principalmente de alguém como Frank Sinatra. Poderia parecer uma pieguice para muitos o registro que V. Exª faz de uma fase que o mundo não vai esquecer. Numa de suas letras, Sinatra diz: “Let’s try again”. Realmente, é bom que se experimente, que se tente mais uma outra vez. Se V. Exª me permite, eu gostaria que seu discurso também representasse o sentimento deste seu Colega de Bancada. Eu gostaria que V. Exª falasse também em meu nome, prestando essa homenagem a Frank Sinatra.

      O SR. JEFFERSON PÉRES (PSDB-AM) - Obrigado, nobre Senador Bernardo Cabral. V. Exª, ao relembrar o nosso velho e leal clube, deixou-me nostálgico. Quantas vezes, na Boate Moranguinho, deslizávamos ao som dos velhos discos de vinil, sob a voz de Frank Sinatra.

      Sr. Presidente, infelizmente, não tive a ventura de assistir Frank Sinatra ao vivo. As circunstâncias não me permitiram isso no início dos anos 70, quando ele finalmente veio ao Brasil, depois de adiar a viagem por tantas vezes. Durante muito tempo, os brasileiros ficaram frustrados, porque, apesar dos insistentes convites, ele reiteradamente recusava-se a vir aqui. Dizem, em versão até hoje não desmentida e nem confirmada, que ele evitava vir aqui, porque uma cartomante lhe teria dito que, no dia em que pisasse a América do Sul, ele morreria. Mas, enfim, já sexagenário, para entusiasmo de todos, aceitou o convite e, numa noite memorável, encheu o Maracanã. Não pude deslocar-me para o Rio de Janeiro, mas jamais esquecerei aquele dia em que assisti, embevecido, pela televisão, a um Sinatra, já com a voz não tão firme quanto antes, mas ainda mostrando toda a força do seu talento, encantando 100 mil pessoas no Maracanã e milhões de outras no Brasil inteiro, repetindo seus velhos sucessos.

      Sr. Presidente, não poderia deixar passar em brancas nuvens a morte desse grande artista, universal, que foi Frank Sinatra. Fica registrada, certamente em nome de milhões e milhões de fãs do mundo inteiro, a nossa enorme tristeza pelo desaparecimento da voz, pelo fechamento definitivo dos deep blue eyes de Francis Albert Sinatra.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 16/05/1998 - Página 8521