Discurso no Senado Federal

LAMENTAVEIS ACONTECIMENTOS EM MANIFESTAÇÃO DAS OPOSIÇÕES, NA ULTIMA QUARTA FEIRA, EM FRENTE AO CONGRESSO NACIONAL, QUE CULMINARAM COM VIOLENCIA E BADERNA, VISANDO ABALAR AS ESTRUTURAS DAS INSTITUIÇÕES NACIONAIS.

Autor
Bello Parga (PFL - Partido da Frente Liberal/MA)
Nome completo: Luís Carlos Bello Parga
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
SEGURANÇA PUBLICA. MANIFESTAÇÃO COLETIVA.:
  • LAMENTAVEIS ACONTECIMENTOS EM MANIFESTAÇÃO DAS OPOSIÇÕES, NA ULTIMA QUARTA FEIRA, EM FRENTE AO CONGRESSO NACIONAL, QUE CULMINARAM COM VIOLENCIA E BADERNA, VISANDO ABALAR AS ESTRUTURAS DAS INSTITUIÇÕES NACIONAIS.
Publicação
Publicação no DSF de 30/05/1998 - Página 9558
Assunto
Outros > SEGURANÇA PUBLICA. MANIFESTAÇÃO COLETIVA.
Indexação
  • REGISTRO, ANAIS DO SENADO, EDITORIAL, JORNAL, O GLOBO, ESTADO DO RIO DE JANEIRO (RJ), CRITICA, VIOLENCIA, MANIFESTAÇÃO COLETIVA, ORGANIZAÇÃO, SINDICATO, CENTRAL UNICA DOS TRABALHADORES (CUT), PREFEITO, AREA, CONGRESSO NACIONAL, REIVINDICAÇÃO, EMPREGO, AUMENTO, ARRECADAÇÃO, MUNICIPIOS.
  • ELOGIO, ATUAÇÃO, CRISTOVAM BUARQUE, GOVERNADOR, DISTRITO FEDERAL (DF), REPRESSÃO, POLICIA MILITAR, ABUSO, MANIFESTAÇÃO COLETIVA, AREA, CONGRESSO NACIONAL.

O SR. BELLO PARGA (PFL-MA. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Neste momento, Sr. Presidente, gostaria de me reportar aos acontecimentos lamentáveis que se verificaram na semana passada, em manifestação promovida pelas forças ditas de esquerda, neste território fronteiriço ao Congresso Nacional.

Todos nós, atravessando a Esplanada dos Ministérios para vir ao Congresso Nacional, ouvindo pelo rádio ou vendo pela televisão, acompanhamos aqueles lamentáveis acontecimentos de provocação, de fúria, de baderna, enfim.

Sr. Presidente, ao folhear os jornais do dia subseqüente, constatamos que todos eles, ou a maioria deles, perfilaram a opinião condenatória àqueles excessos. Vimos, presenciamos as vanguardas da desordem, o ricto raivoso da revolta a desfigurar-lhes as feições, pronunciar palavra de ordem que, no fundo, tinham como objetivo, talvez primário, o de desestabilizar politicamente o Presidente da República ou a possível reeleição de Sua Excelência. Mas, foi mais do que isso, Sr. Presidente, pretenderam desestabilizar as próprias instituições nacionais. E sobre esse assunto, como já disse, ao folhear os jornais para sentir a reação da população brasileira, daqueles que são formadores da opinião nacional, deparei-me com um editorial do Jornal O Globo, no dia 22 de maio, intitulado Factóide do Caos.

Sr. Presidente, por entender que ele exprime, com fidelidade absoluta, o pensamento da maioria da Nação com relação àqueles que pretendiam invadir o Congresso Nacional, passo a lê-lo, para conhecimento dos presentes e para que fique registrado nos Anais desta Casa:

“É ocioso discutir sobre os índices relativos de culpa pessoal nos atos de violência da tarde de quarta-feira em Brasília. Uma análise séria deve ir bem mais fundo, para encontrar implicações de extrema gravidade.

Não houve em frente ao Congresso sequer a tentativa de uma manifestação pacífica, algo que o regime democrático estimula, mais do que permite. Era visível a intenção do confronto físico, a busca do desfecho dramático. Caso contrário, não teriam ocorrido bem cedo, os gestos de provocação, a começar pela derrubada das cercas que marcavam os limites físicos da concentração popular. Quase como detalhe, registre-se o óbvio: quem deseja ser respeitado pela importância do que tem a dizer não sai de casa com coquetéis Molotov.

Quarta-feira, como na tentativa de invasão do Palácio do Planalto por um grupo de prefeitos - em dia anterior -, viu-se em Brasília a repetição de estratégia já conhecida e testada: o choque deliberado com os responsáveis pela manutenção da ordem, visando a produzir a desordem. Com mudanças de procedimento, é o modelo dos saques organizados pelo MST.

Os Partidos e organizações oficialmente responsáveis pelo ato público parecem ter descoberto tarde demais que estavam sendo usados como fantoches por desordeiros. Como disse Vicentinho, por “estranhos infiltrados”. Infiltrados, certamente; estranhos, nem tanto.

O confronto físico não ajuda a combater o desemprego ou a promover a reforma agrária. Mas serve para golpear o regime e todas as formas democráticas de fazer política. É esse o objetivo a ser denunciado, principalmente por todos os que foram à praça pública para falar e ouvir, e não para jogar pedras e correr.

O episódio de quarta-feira foi - independentemente de qualquer contribuição involuntária da PM de Brasília - um factóide a serviço do caos.

Em ano eleitoral, qualquer tentativa de substituir o comício pela invasão e o discurso pelo berro, é também um esforço para desmoralizar os partidos, os políticos e os votos”.

Sr. Presidente, considero sábias essas palavras e essa interpretação porque se afina com o espírito do povo brasileiro.

Antes de encerrar, não poderia deixar de fazer alusão a um outro aspecto da demonstração. Por isso, quero aqui fazer justiça a um político de projeção na força de Esquerda. Posso e devo fazer justiça à posição do Governador de Brasília, Cristovam Buarque. S. Exª soube ter consciência do papel que representa como Governador de uma Unidade Federada.

Ao ser entrevistado pelo mesmo jornal, disse o Governador:

“Não existe Governador do PT. Sou Governador do Distrito Federal e, como muito orgulho, militante do PT. Como militante, claro que estou querendo fazer o máximo de mobilizações para que se mude a política econômica do Governo e haja mais empregos. Mas, como democrata petista que sou, quero que seja feito dentro da ordem. Se perder o controle das manifestações, o povo inteiro vai querer a volta dos militares”.

Essas palavras são as de quem tem consciência da responsabilidade da posição que ocupa, e foram bem recebidas pelo setor bem pensante do povo brasileiro.

Lamentável é que no seu próprio Partido essas palavras tenham recebido a condenação da nomenclatura “petista”. Mas, se S. Exª permanecer nessa posição de bom-senso e de juízo, terá feito jus aos votos que a maioria dos brasilienses lhe concedeu, lhe dedicou ao elegê-lo Governador do Distrito Federal.

Era o que eu tinha a dizer, Sr. Presidente.

Muito obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 30/05/1998 - Página 9558