Discurso no Senado Federal

TRANSCRIÇÃO NOS ANAIS DO SENADO FEDERAL DO ARTIGO DO EDUCADOR E PRESIDENTE DA CONFERENCIA NACIONAL DOS BISPOS DO BRASIL, CARDEAL DOM LUCAS MOREIRA NEVES, PUBLICADO NO JORNAL CORREIO BRAZILIENSE, INTITULADO 'PEQUENA REVOLUÇÃO PEDAGOGICA'.

Autor
Joel de Hollanda (PFL - Partido da Frente Liberal/PE)
Nome completo: Joel de Hollanda Cordeiro
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
EDUCAÇÃO.:
  • TRANSCRIÇÃO NOS ANAIS DO SENADO FEDERAL DO ARTIGO DO EDUCADOR E PRESIDENTE DA CONFERENCIA NACIONAL DOS BISPOS DO BRASIL, CARDEAL DOM LUCAS MOREIRA NEVES, PUBLICADO NO JORNAL CORREIO BRAZILIENSE, INTITULADO 'PEQUENA REVOLUÇÃO PEDAGOGICA'.
Publicação
Publicação no DSF de 29/05/1998 - Página 9473
Assunto
Outros > EDUCAÇÃO.
Indexação
  • SOLICITAÇÃO, TRANSCRIÇÃO, ANAIS DO SENADO, ARTIGO DE IMPRENSA, AUTORIA, LUCAS MOREIRA NEVES, CARDEAL, PRESIDENTE, CONFERENCIA NACIONAL DOS BISPOS DO BRASIL (CNBB), ASSUNTO, IMPORTANCIA, AMPLIAÇÃO, EDUCAÇÃO, FORMAÇÃO, HOMEM, AMBITO, SOCIALIZAÇÃO, PATRIOTISMO, RELIGIÃO.

O SR. JOEL DE HOLLANDA (PFL-PE. Pronuncia o seguinte discurso) - Sr. Presidente, Srªs. e Srs. Senadores, é sempre uma alegria o contato com pessoas que durante a vida acumularam experiência e sabedoria. Quando não nos é permitido esse contato direto, já é um grande prazer poder saborear o seu saber nas coisas que escrevem.

Dias atrás pude sentir essa satisfação ao ler no Correio Braziliense um inspirado artigo do educador e hoje Presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, Cardeal Dom Lucas Moreira Neves, intitulado Pequena Revolução Pedagógica. Nesse artigo, Dom Lucas deixou extravasar toda a sabedoria do educador aliada ao zelo do pastor. Parte ele da premissa de que escola e família não têm como missão somente instruir a criança e o adolescente. É seu dever educar ou formar a pessoa humana, gestando e dando à luz homens e mulheres amadurecidos, tanto quanto é possível, em todas as suas faculdades.

À vista, porém, da maneira de ser e agir das pessoas egressas das nossas escolas, constata que elas estão deixando a desejar em três aspectos extracurriculares e, por isso, produzem jovens seriamente carentes do ponto de vista educativo.

O primeiro desses aspectos é o da educação para a convivência social. Ensina Dom Lucas que esse capítulo da educação não pode reduzir-se ao aprendizado de ritos e gestos, de protocolos e etiquetas de simples boas maneiras. Deve ser o aprendizado do respeito ao próximo e aos seus direitos, da polidez, da gentileza sem afetação, da prestimosidade, da reverência para com os mais velhos, da lealdade para com os amigos.

Ao tempo em que admite que os jovens de hoje demonstram sérias falhas nesse campo, Dom Lucas lamenta que, na mídia, a televisão, que poderia ser válida aliada da família e da escola nessa parte da educação, na verdade, tem-se revelado deletéria na maioria dos programas, das novelas aos ditos “cômicos”.

Para o Presidente da CNBB, a educação escolar tem-se revelado falha e praticamente ineficaz também no que diz respeito às relações dos adolescentes com a pátria, seus signos exteriores e seus representantes. Para com eles e com ela a atitude é de total desrespeito, chegando em algumas circunstâncias, quase sempre sob impulsos políticos e ideológicos, a gestos dessacralizatórios extremos. Poderia ser compreensível se tais reações fossem tão-somente contra comportamentos pouco ou nada éticos de determinados homens públicos. Não se compreende, porém, quando a atitude injuriosa e irreverente investe contra sinais da própria pátria.

O terceiro campo em que a nossa educação tem deixado a desejar é o religioso. Nesse aspecto, é pertinente reconhecer que, a despeito de se tratar de um Cardeal, a sua postura não é confessional e voltada para a visão católica que representa. Dom Lucas sente falta nas escolas da transmissão do senso religioso, da existência de um Deus real e transcendente: não distante e inacessível, mas próximo; da transmissão de valores éticos, espirituais e religiosos, no sentido da estreita comunhão do homem com seu Deus; da transmissão de conhecimentos sobre Jesus Cristo, já que estamos num país profundamente impregnado da cultura cristã; da transmissão de determinadas posturas humanas e cristãs perante os outros; perante a natureza; perante o mundo, a vida, a dor, a esperança, a morte, e a imortalidade. No seu entender, a falta parcial ou total do ensino religioso ou sua má administração tem contribuído para a não pouca degradação no mundo dos jovens.

Ao concluir o seu artigo, Dom Lucas escreve: “Somos muitos a desejar ardentemente e a exigir uma revolução pedagógica que permita à escola inserir na sociedade jovens que aprenderam a ler e a escrever, mas também a tratar convenientemente o próximo, a pátria e as coisas de Deus”.

Ante à pertinência desse tema e à propriedade com que Dom Lucas o tratou, eu o subscrevo palavra por palavra e, por essa razão, solicito à mesa a sua transcrição nos Anais desta Casa.

Muito obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 29/05/1998 - Página 9473