Discurso no Senado Federal

SATISFAÇÃO COM A PUBLICAÇÃO NO JORNAL DO BRASIL, NO ULTIMO DIA 12, DO ARTIGO DO ESCRITOR VILLAS BOAS CORREIA, QUE RETRATA O LIVRO DO ESCRITOR E PESQUISADOR PARAENSE, JORGE BALEEIRO DE LACERDA, INTITULADO 'OS DEZ BRASIS'.

Autor
Bernardo Cabral (PFL - Partido da Frente Liberal/AM)
Nome completo: José Bernardo Cabral
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • SATISFAÇÃO COM A PUBLICAÇÃO NO JORNAL DO BRASIL, NO ULTIMO DIA 12, DO ARTIGO DO ESCRITOR VILLAS BOAS CORREIA, QUE RETRATA O LIVRO DO ESCRITOR E PESQUISADOR PARAENSE, JORGE BALEEIRO DE LACERDA, INTITULADO 'OS DEZ BRASIS'.
Publicação
Publicação no DSF de 20/06/1998 - Página 10881
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • SAUDAÇÃO, ARTIGO DE IMPRENSA, AUTORIA, VILLAS-BOAS CORREA, JORNALISTA, JORNAL, JORNAL DO BRASIL, ESTADO DO RIO DE JANEIRO (RJ), REGISTRO, ELOGIO, LANÇAMENTO, LIVRO, JORGE BALEEIRO DE LACERDA, ESCRITOR, ESTADO DO PARA (PA).

O SR. BERNARDO CABRAL (PFL-AM. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Senador Geraldo Melo, que conduz a sessão de hoje, eminentes Senadores, uma das grandes satisfações que tem o homem do Norte é verificar que um conterrâneo consegue ultrapassar os limites do seu torrão natal para se agigantar no meio nacional. Muito mais, Sr. Presidente, quando esse homem, nascido com as dificuldades que a região impõe, vai além, ultrapassa as fronteiras nacionais e é reconhecido no exterior, sobretudo na área da literatura.

Hoje registro, para que se faça uma grande justiça a um brasileiro do Norte, uma vitória traduzida no campo da literatura. Refiro-me ao escritor nascido na região do Pará, portanto, nosso vizinho do Amazonas, Jorge Baleeiro de Lacerda. Pesquisador, homem dado às letras, possui as características de quem sempre viveu e conviveu no mundo da literatura; espécie de autodidata, poliglota, mas poliglota no exato sentido do termo - fala latim, grego, francês, inglês, italiano e espanhol. É um dos grandes pesquisadores que o Brasil possui.

Sr. Presidente, curiosa coincidência é que Baleeiro acaba de dar à publicidade um livro fantástico, ao qual intitulou de Os Dez Brasis. Trata-se de um primor de trabalho e de pesquisa, onde, logo nas primeiras páginas, existem registros do Professor Arnaldo Niskier, Presidente da Academia Brasileira de Letras; do Embaixador Alberto Costa e Silva, poeta, escritor, que, em Portugal, fez um grande trabalho pela cultura luso-brasileira, e de tantos outros que se fizeram presentes à obra do primorosa do pesquisador Baleeiro de Lacerda.

Por que venho à tribuna, Sr. Presidente? Porque li no Jornal do Brasil um trabalho de Villas Boas Corrêa, que, todo mundo sabe, além de jornalista, escritor, homem da literatura, publicou esse trabalho no dia 12 de junho, sob o título O Livro do Caminhante. Ele mostra aquilo que procuro retratar em pinceladas, sem cores vivas; mas me valho do colorido do trabalho de Villas Boas Corrêa para tentar reproduzir o que é esse livro. E a coincidência, Sr. Presidente, é que Villas Boas Corrêa, além de outros poucos, faz um registro dentro desse livro que me chegou à mão por gentileza de Jorge Baleeiro de Lacerda, com quem convivo há tantos anos e cujo talento reconheço e proclamo. Villas Boas Corrêa começa, além do título, que já diz tudo, da seguinte forma:

”Acaba de ser lançado um grande livro que será lido por muito poucos. Por isso merece ser conhecido e sua história contada, com destaque para as muitas singularidades que o distinguem como marca própria e rara.

Nele tudo foge do esquadro do habitual e se encaixa na moldura da exceção. A começar pela praça em que foi escrito, impresso e oferecido ao público escasso, agravado pela modéstia da tiragem. Os dez brasis veio à luz em Francisco Beltrão, município do sudoeste do Paraná. A editora Grafit também é local e ignorada nos grandes centros. O autor, Jorge Baleeiro de Lacerda, residente na lonjura paranaense, já furou a crosta do anonimato e é conhecido no círculo fechado dos estudiosos dos problemas brasileiros e popularíssimo na região e nos grotões deste País imenso, que percorre com comichão de andarilho, desde 1972.

O rosário de excepcionalidades não pára aí. Continua na apresentação do volume, no feitio de álbum, com requintes de rico que disfarça sua pobreza envergonhada, como se envergasse casaca emprestada para não fazer feio na festa de milionário. Capa de impacto e bom gosto, jogando cores na composição dos desenhos dos muitos tipos humanos, exemplares pouco comuns de habitantes dos esconsos dos quatro cantos de nosso território continental. Valorizada pela assinatura famosa do artista gráfico Elifas Andreatto. O miolo impresso em papel cuchê realça as dezenas de fotos que ilustram todas as 200 páginas, muitas vezes em doses duplas e triplas, clareando o texto compacto, que varia a tipagem para caber no espaço que Jorge Baleeiro de Lacerda ocupa, desde 1976, no diário local a Folha do Sudoeste.”

E continua Villas-Boas Corrêa:

“Os adornos enganam por muito tempo. E a verdade do livro vai sendo revelada na descoberta do que custou de esforço, dedicação, sacrifício de aventura que comemora as bodas de prata, data que o autor registra da sua opção de vida de ´conhecer e estudar o Brasil`.

O caminhante inquieto fixou residência definitiva em Francisco Beltrão depois de anos de andanças e curtas pousadas em dezenas de cidades. Constituiu família, mas não aquietou. E persistiu na saga que traça o fantástico roteiro nos mais de dois mil artigos publicados regularmente em página inteira da Folha do Sudoeste.

Com pouco dinheiro no bolso, Baleeiro desenvolveu técnica especial para viajar gastando o mínimo. Relações cultivadas em anos de visitas forram as camas da hospedagem generosa e gratuita. Desloca-se utilizando todos os meios imagináveis de transporte barato ou de graça, da carona do avião de bispos e aventureiros, do lombo de cavalo, de burro, do gingado molenga dos bois de sela aos búfalos da Ilha de Marajó. De carro, de ônibus, de canoa, de barco, de trem, em percursos de milhares de quilômetros.”

E diz, numa beleza de registro, Villas Boas Corrêa:

“Caminhante de estradas e trilhas sem fim, navegante de mares, rios, lagoas dos cafundós da Amazônia do seu berço e da sua paixão. Nada que se pareça com o descompromisso da curiosidade turística. Mais escritor que pesquisa do que repórter, o autor é espécime raro de erudito amoitado na província, autodidata e poliglota que, sozinho, aprendeu dezena de línguas, do latim e do grego ao inglês, francês, espanhol, provençal. Livro por livro garimpados nos sebos, doados pelos amigos, pechinchados nas livrarias formam biblioteca de 6 mil volumes - mais de 600 sobre a Amazônia -, que cobrem as paredes livres da sua casa.

            O material recolhido em pesquisas de campo, enriquecido pelas leituras que varrem madrugadas, recebeu tratamento do texto enxuto e fluente da amostragem seletiva dos 150 ensaios do livro de estréia.

            Para baratear a edição, foram aproveitados os fotolitos originais, reimpressos sem a faxina de revisão cuidada. São muitos os erros tipográficos e a paginação se ressente da adaptação forçada.

Mas o amplo painel traçado por mão competente é uma aula de um Brasil pouco conhecido, o fascinante mergulho na revelação do país das desigualdades, a visão do abandono oficial e do descaso burocrático. A denúncia que se expõe na sucessão de flagrantes dos 10 mil brasis. E que se lê devagar, seguindo o caminhante na viagem reveladora.”

Sr. Presidente, quem conhece Villas-Bôas Corrêa como nós, com quem convivo também há muito tempo, sabe que não é homem dado ao elogio fácil, ao registro apenas encomiástico. Ele quis fazer justiça a um homem que tem caminhado pelo Brasil, da forma como ele revelou, a mostrar o que é este País. E que bela frase se tem aqui, Sr. Presidente: “Com muita beleza, o autor furou a crosta do anonimato e é conhecido no círculo fechado dos estudiosos dos problemas brasileiros”.

Honra-me a amizade que mantenho com Jorge Baleeiro de Lacerda. Não sou homem dado a invejas; às vezes, muito raramente, ela me assalta. Hoje é um desses instantes: a inveja de não ter sido eu o autor desse registro que Villas-Bôas Corrêa faz. Se eu pudesse em algum instante acrescentar alguma coisa, apenas diria que, com esse livro, Jorge Baleeiro de Lacerda tem uma entrevista marcada com a posteridade. E já que tem essa entrevista, Sr. Presidente, requeiro a V. Exª que dê conhecimento ao eminente homem de letras, Jorge Baleeiro de Lacerda, de que, nesta reunião, li o trabalho de Villas-Boas Corrêa, que, pela simples leitura, já estará inserido no meu discurso. Senão, tenho a certeza de que V. Exª, a meu pedido e na forma regimental, o faria ser incluído no Diário do Senado.

Mas requeiro que V. Exª, também um literato, faça chegar ao conhecimento de Jorge Baleeiro de Lacerda que este Senado tomou conhecimento de Os dez brasis e que, se não concordar com o autor, pelo menos faz chegar a ele a homenagem que um homem merece em vida.

Com isso, Sr. Presidente, mais uma vez, além do livro, além da posição do Senado, está confirmado que Baleeiro de Lacerda tem uma entrevista marcada com a posteridade.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 20/06/1998 - Página 10881