Discurso no Senado Federal

PREOCUPAÇÃO COM A REPERCUSSÃO DAS DECLARAÇÕES DO POSSIVEL FUTURO GOVERNANTE DO BRASIL, LEONEL BRIZOLA, SOBRE A SUA INTENÇÃO DE ANULAR A PRIVATIZAÇÃO DA TELEBRAS E DA VALE DO RIO DOCE.

Autor
Jefferson Peres (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/AM)
Nome completo: José Jefferson Carpinteiro Peres
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
ELEIÇÕES.:
  • PREOCUPAÇÃO COM A REPERCUSSÃO DAS DECLARAÇÕES DO POSSIVEL FUTURO GOVERNANTE DO BRASIL, LEONEL BRIZOLA, SOBRE A SUA INTENÇÃO DE ANULAR A PRIVATIZAÇÃO DA TELEBRAS E DA VALE DO RIO DOCE.
Publicação
Publicação no DSF de 20/06/1998 - Página 10876
Assunto
Outros > ELEIÇÕES.
Indexação
  • CRITICA, LEONEL BRIZOLA, CANDIDATO, VICE-PRESIDENTE DA REPUBLICA, FALTA, RESPONSABILIDADE, DECLARAÇÃO, ANULAÇÃO, PRIVATIZAÇÃO, TELECOMUNICAÇÕES BRASILEIRAS S/A (TELEBRAS), COMPANHIA VALE DO RIO DOCE (CVRD), POSSIBILIDADE, VITORIA, ELEIÇÕES, PROVOCAÇÃO, PROBLEMA, BRASIL.
  • CRITICA, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DOS TRABALHADORES (PT), FALTA, APRESENTAÇÃO, PROGRAMA DE GOVERNO.

O SR. JEFFERSON PÉRES (PSDB-AM. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs. e Srs. Senadores, obviamente, qualquer cidadão em um país democrático pode dizer o que pensa, mas me pergunto se um cidadão, candidato à Vice-Presidência da República, com real chance de chegar ao poder, pode falar sem pensar. Refiro-me à figura polêmica que é o Sr. Leonel de Moura Brizola.

Até pouco tempo, ele poderia falar de maneira irresponsável, mas agora é candidato - só falta a convenção oficializar a sua candidatura - à Vice-Presidência da República. As pesquisas indicam que o Sr. Luiz Inácio Lula da Silva pode vencer as eleições e, juntamente com ele, o Sr. Brizola.

O que esse cidadão tem dito nos últimos dias, Sr. Presidente, realmente preocupa, porque não se trata apenas de uma opinião pessoal, sem maiores conseqüências. O que ele diz pode ser interpretado como aquilo que os possíveis futuros governantes irão fazer e isso tem conseqüências, sim, conseqüências que podem ser muito graves.

O Sr. Leonel de Moura Brizola, como todos sabemos, primeiro anunciou que, com uma canetada, anularia a privatização da Telebrás. Uma bravata, porque sabemos que ele não poderia fazer isso nem por lei, quanto mais por decreto, já que, se não houver vícios na licitação e no contrato, é um ato jurídico perfeito e, portanto, protegido pela Carta em vigor e não pode ser desfeito, como afirma o Sr. Leonel Brizola.

No dia seguinte, ele disse que não seria a privatização da Telebrás a ser anulada, mas a da Vale do Rio Doce. A mesma coisa, Sr. Presidente: ele não pode anular essa privatização, mas disse que faria isso mesmo que não houvesse irregularidades. Aí está a leviandade do bravateiro. Ele sabe que não pode, a menos que passe pela sua cabeça que poderá, quem sabe amanhã, reeditar o assalto ao Palácio de Inverno e tomar o Planalto para implantar um estado de exceção no País.

De qualquer modo, mesmo a sociedade sabendo que é uma bravata, muitos ficam em dúvida sobre o que poderá fazer esse cidadão quando amanhã compartilhar o poder, porque vai compartilhá-lo como Vice-Presidente. Fica-se imaginando também até que ponto o candidato à Presidência Luiz Inácio Lula da Silva compartilha das idéias do Sr. Leonel Brizola.

Creio que há uma ambigüidade na candidatura do PT à Presidência da República. Até aqui não revelaram seu programa de Governo. Eu, da tribuna, já desafiei que fizessem isso e o eminente Senador Eduardo Suplicy teve a gentileza de responder ao meu discurso com um pronunciamento, no qual declarou que o programa econômico do PT ainda não estava concluído. Receio muito que fiquem empurrando com a barriga até a eleição, fazendo com que deixemos de saber, na hipótese de ele ser eleito, o que vão fazer em termos de política macroeconômica, o que pretendem fazer com a política cambial e com a política monetária. E, diante das declarações irresponsáveis do Sr. Leonel Brizola, fico a recear também que façam exatamente o que não devem fazer, Sr. Presidente.

O Presidente Carlos Menem já manifestou sua preocupação com uma possível modificação da política cambial, principalmente com a maxidesvalorização Houve uma reação, com pruridos nacionalistas, contra essa interferência indébita do Presidente da Argentina nos assuntos internos do Brasil. Mas me pergunto: se fazemos parte de um mercado comum de economias que se integram, de tal forma que aquilo que acontece no Brasil repercute inevitavelmente na economia argentina, até que ponto os argentinos não têm o direito de manifestar preocupação com o que pretendem fazer os possíveis futuros governantes deste País? Afinal de contas, o Brasil representa hoje um grande mercado para as exportações da Argentina e uma maxidesvalorização desequilibraria o comércio entre os dois países, com graves conseqüências para a nação vizinha.

O que quero dizer, Sr. Presidente, em primeiro lugar, é que o Sr. Luiz Inácio Lula da Silva precisa definir, antes da eleição, o que pretende fazer com este País. E o Sr. Leonel Brizola precisa parar de falar de maneira irresponsável, sem medir o que diz. Do contrário, vamos imaginar que teremos dois macacos em casa de louça governando este País. E pior, se o Sr. Luiz Inácio Lula da Silva não pensa igual ao Sr. Leonel Brizola, e como sabemos que o Sr. Brizola, de forma alguma, será um Vice-Presidente passivo, de braços cruzados, vamos ter uma dualidade de poder, um conflito entre o Presidente e o Vice, se as concepções e as propostas econômicas forem diferentes, de tal modo que este País vai viver quatro anos de agitação.

Lembro-me, e grande parte da Nação ainda se lembra, do que fez o Sr. Leonel Brizola para infernizar a vida do seu cunhado João Goulart. Ele achava que o Jango era moderado, e queria impor as tais reformas de base na lei ou na marra, como dizia, chegando a disseminar no País o chamado Clube dos Onze, que era, na verdade, constituído de células parafascistas, destinadas a um embrião revolucionário de assalto ao poder, e talvez o golpe de 64 tenha abortado. Até hoje não sei, Sr. Presidente, caso não tivesse acontecido o golpe de 31 de março de 1964, se o Sr. Leonel Brizola não teria tentado a aventura de tomar o poder de assalto.

Ele mostra que é um homem absolutamente dessintonizado com o mundo atual; tem a cabeça nos anos 50, ainda pensa que seria bom para o País o monopólio estatal de tudo, ou de quase tudo. É um esquerdista arcaico, eu diria quase um paleossocialista, já que absolutamente não se põe em sintonia com o mundo de hoje. Sequer parece saber que o que diz pode provocar problemas já para o País. No momento em que o furacão asiático continua solto e não sabemos se e quando chegará até nós, sequer sabemos se poderá vir a desequilibrar a economia mundial, ele pensa que pode falar irresponsavelmente.

Enfim, Sr. Presidente, creio que, hoje, é essa a preocupação de grande parte do País. Penso que já está em tempo - e, mais uma vez, aqui faço uma conclamação aos Líderes do PT, principalmente aos do Senado - de o PT dizer claramente se o que o Sr. Leonel Brizola diz é o que o Sr. Luiz Inácio Lula da Silva também diz, e de definir o seu programa de Governo, dizendo claramente o que vão fazer quando chegarem ao poder; do contrário, teremos todo o direito de duvidar que estejam preparados para governar este País.

Era o que eu tinha a dizer.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 20/06/1998 - Página 10876