Discurso no Senado Federal

CRITICAS AS ALEGAÇÕES DO CANDIDATO DO PRONA, SR. ENEAS CARNEIRO, DE QUE IRIA PROPOR, CASO ELEITO PRESIDENTE, A CONSTRUÇÃO DE BOMBAS ATOMICAS.

Autor
Nabor Júnior (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/AC)
Nome completo: Nabor Teles da Rocha Júnior
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
ELEIÇÕES.:
  • CRITICAS AS ALEGAÇÕES DO CANDIDATO DO PRONA, SR. ENEAS CARNEIRO, DE QUE IRIA PROPOR, CASO ELEITO PRESIDENTE, A CONSTRUÇÃO DE BOMBAS ATOMICAS.
Aparteantes
Lúcio Alcântara.
Publicação
Publicação no DSF de 23/06/1998 - Página 10990
Assunto
Outros > ELEIÇÕES.
Indexação
  • REPUDIO, DECLARAÇÃO, ENEAS CARNEIRO, CANDIDATO, PRESIDENCIA DA REPUBLICA, PARTIDO POLITICO, DEFESA, NECESSIDADE, BRASIL, CONSTRUÇÃO, BOMBA, ARMAMENTO NUCLEAR, EXPECTATIVA, ORADOR, INSUCESSO, CANDIDATURA.

O SR. NABOR JÚNIOR (PMDB-AC. Pronuncia o seguinte discurso.) - Sr. Presidente, Srªs. e Srs. Senadores, neste final de semana, o Partido da Reedificação da Ordem Nacional - Prona - realizou sua convenção nacional e, mais uma vez, fixou-se no nome do médico cardiologista Enéas Carneiro para candidato à Presidência da República. Esse fato, rotineiro na vida dos partidos e essencial à consolidação democrática, teve apenas um lado inusitado e lastimável: as declarações do referido candidato - acreano de nascimento, embora jamais tenha cultivado essas generosas raízes - no sentido de que, se fosse eleito Presidente da República, mandaria fabricar bomba atômica em nosso País.

Nem o peso de toda sua notória excentricidade confere ao Dr. Enéas, nas pesquisas, a mais remota chance de vencer as eleições. Graças a Deus! É, realmente, um motivo de grande tranqüilidade, para nós, verificarmos que esse candidato não tem a menor possibilidade de alcançar a Presidência da República do Brasil.

Gostaria de tecer algumas considerações a respeito das suas propostas, como a de que “o País só pode alcançar a sua plena soberania se for detentor de condições para fabricar a bomba atômica”, sob a alegação de que importantes países civilizados, hoje, continuam procurando aperfeiçoar essa tecnologia. É o caso de Estados Unidos, França, Inglaterra, a antiga União Soviética; até mesmo de países subdesenvolvidos, como a Índia e o Paquistão que, recentemente, detonaram artefatos nucleares. Mas isso não implica a obrigatoriedade, para nossa soberania, de uma série de experiências com bomba atômica.

Penso que o controle da tecnologia nuclear é um progresso para a humanidade, porque podemos explorar essa energia de várias maneiras, inclusive na produção de eletricidade doméstica e empresarial. No Brasil, temos usinas nucleares que, mesmo não estando funcionando plenamente, já representam algum avanço. Muitos países também já estão utilizando energia nuclear - na Europa, por exemplo, metade da energia elétrica vem de geradores radioativos.

Mas existe uma imensa distância entre o uso saudável da tecnologia nuclear e o que prega o Sr. Enéas Carneiro, com essa idéia beligerante, alegando que o Brasil não é terra de índios, de silvícolas. Ora, para sermos um país desenvolvido não precisamos detonar a bomba atômica. Quero, na qualidade de acreano, conterrâneo do candidato do Prona, tecer minhas críticas a um dos pontos de sua plataforma de governo que não vai absolutamente contribuir em nada para elevar o Brasil à condição de nação independente, economicamente consolidada.

O Sr. Lúcio Alcântara (PSDB-CE) - V. Exª me concede um aparte, Senador?

O SR. NABOR JÚNIOR (PMDB-AC) - Concedo o aparte a V. Exª.

O Sr. Lúcio Alcântara (PSDB-CE) - Senador Nabor Júnior, também li - e fiquei tão surpreso quanto V. Exª - a declaração atribuída pela imprensa, acredito que conforme a realidade, ao Dr. Enéas Carneiro de que o Brasil deveria fabricar a bomba atômica e ser uma potência militar. Lamento 1- e V. Exª mencionou com naturalidade - que o Acre nos dê um candidato à Presidência da República com uma proposta desse tipo. Creio que S. Sª está em busca do espaço da ultradireita. Se observarmos, em alguns países há líderes políticos ocupando esse nicho eleitoral. No caso da França, por exemplo, Le Pen, representante da ultradireita, levanta uma bandeira de xenofobia, racismo etc.. Trata-se de teses que realmente não podemos aceitar, porque são desumanas, não estão de acordo com os princípios de generosidade, solidariedade e fraternidade que devem nortear o ser humano. Apesar disso, ele e seus adeptos têm obtido percentuais bastante razoáveis de aceitação. A situação é tão grave que, na última disputa eleitoral, os partidos conservadores - digamos assim -, mais civilizados, recusaram aliança com o partido de Le Pan, porque consideraram uma ofensa ao princípio democrático, ao princípio da competição, da concorrência, que é a raiz, o núcleo da democracia. Então, penso que Enéas não é um tolo nem um ingênuo, porque na última eleição - V. Exª se lembra - ele ficou em terceiro lugar, salvo engano. O que ele deseja, no meu modo de ver, é atrair para si essas pessoas que, por desinformação ou mesmo por um desvio de concepções, chegam a aceitar teses como essa que podem levar o Brasil a construir uma bomba atômica. Penso, sim, que o Brasil tem que insistir na pesquisa nuclear. Como disse V. Exª, temos que dominar esse ciclo, porque a energia nuclear tem um grande alcance do ponto de vista da geração de energia, da Medicina, da Genética, da Biologia e assim por diante; mas colocar como bandeira de um candidato à Presidência da República a fabricação de uma bomba atômica é realmente assustador. Espero que ele não consiga empolgar ninguém com essas teses. Muito obrigado.

O SR. NABOR JÚNIOR (PMDB-AC) - Eu que agradeço a participação de V. Exª no meu modesto pronunciamento.

Quero afirmar, Sr. Presidente, Srs. Senadores, que idéias como essa, felizmente, não vão prosperar em nosso País. Somos um povo de formação pacifista, que repele a busca de uma energia nuclear voltada para fins beligerantes, para a produção da bomba atômica. Como disse o Senador Lúcio Alcântara, nosso objetivo é ter o controle da energia nuclear para fins construtivos.

É o que deseja toda a Nação!

Acredito que o Dr. Enéas Carneiro, com a inclusão dessa proposta na sua plataforma de candidato, vai perder, ao invés de ganhar votos da população, porque ninguém deseja isso. E mais uma vez ele vem demonstrar ser um homem totalmente despreparado para uma investidura no cargo de Presidente da República, o que, felizmente, configura-se nas pesquisas de opinião, explícitas ao fixar para ele o limite de 5% das intenções de voto, como já aconteceu nos pleitos anteriores, em que não passou de 3º, 4º ou 5º lugar.

Espero que, desta vez, ele fique até em último lugar, para tranqüilidade da sociedade brasileira.

Muito obrigado.


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Este texto não substitui o publicado no DSF de 23/06/1998 - Página 10990