Discurso no Senado Federal

TRISTEZA PELA MORTE DE LEANDRO.

Autor
Leomar Quintanilha (PPB - Partido Progressista Brasileiro/TO)
Nome completo: Leomar de Melo Quintanilha
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • TRISTEZA PELA MORTE DE LEANDRO.
Aparteantes
Edison Lobão.
Publicação
Publicação no DSF de 24/06/1998 - Página 11031
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM POSTUMA, LEANDRO, CANTOR, ESTADO DE GOIAS (GO).

O SR. LEOMAR QUINTANILHA (PPB-TO. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs. e Srs. Senadores, encontro-me aqui tomado por profunda tristeza, que certamente se abate sobre os corações de milhares de brasileiros; por tristeza provocada pela morte de Leandro. Calou-se, na madrugada de hoje, uma das mais belas e mais queridas vozes do Brasil. Interrompeu-se uma carreira brilhante e meteórica, precocemente.

Era um jovem que emergiu dos campos de tomate do interior de Goiás para alcançar a glória nos palcos do Brasil; um jovem que encantava a todos com a sua musicalidade, com a sua simplicidade, com a sua alegria, com a ternura das suas mensagens; um jovem que, com o seu irmão Leonardo, conquistou a consagração da dupla Leandro e Leonardo.

Viveu Leandro, Sr. Presidente, um período fértil da música brasileira, quando a música caipira, quase que sempre embalada por viola e violão, recebeu uma roupagem nova, modernizou-se, enriqueceu sua instrumentalização com a introdução da guitarra, do teclado, da bateria, do baixo, dando vida nova àquilo que se transformou na música sertaneja e que conquistou rapidamente o Brasil. Ele viveu essa época e trouxe muita alegria; provocou emoções, arrebatou corações e era, sem sombra de dúvida, uma das melhores marcas da musicalidade brasileira que rompeu as fronteiras do nosso País, que já fazia sucesso lá fora e que era presença permanente nos lares brasileiros de norte a sul, de leste a oeste deste nosso País.

Sr. Presidente, Leandro morreu como viveu: como grande guerreiro, lutando. De origem humilde, lutou para prosperar, lutou para sobreviver. Sempre corajoso, batalhou e conseguiu conquistar a simpatia de todos quantos apreciavam a sua boa música. Por fim, caiu de pé, lutando corajosamente contra a doença que o abateu.

Meu conterrâneo, era motivo de orgulho para o povo goiano, mas motivo de orgulho também para o povo tocantinense, pois, afinal de contas, a brava gente tocantinense também era sua gente.

O Leandro teve participação importante e espontânea, Sr. Presidente, na minha campanha eleitoral e na campanha dos meus companheiros que integravam a União do Tocantins em 1994. Sua participação foi espontânea, já que ele nutria uma amizade profunda por vários daqueles que concorreram aos diversos cargos, principalmente o Governador Siqueira Campos, de quem era amigo particular. Alegrava, com Leonardo, os encontros extraordinários das praças cheias, das ruas lotadas, dos rostos alegres, do povo vibrante e entusiasmado com aquele que sabia penetrar nas nossas vidas com as histórias melodramáticas das suas músicas.

Mas o Leandro tinha um traço particular e importante no seu caráter: tinha sensibilidade empresarial. Era ele quem conduzia as aplicações dos efetivos ganhos pela dupla sertaneja e tinha uma queda especial pelo Estado de Tocantins. Comprara recentemente uma propriedade nesse Estado, onde estava implantando uma fazenda de gado, e manifestara o seu desejo de transferir para o Tocantins todos os seus empreendimentos rurais. Leandro, lembro-me bem, quando eu era Secretário da Indústria e Comércio do Estado, a convite do Governador Siqueira Campos...

O Sr Edison Lobão (PFL-MA) - Permite-me V. Exª um aparte, nobre Senador?

O SR. LEOMAR QUINTANILHA (PPB-TO) - Darei o aparte a V. Exª, tão logo conclua essa informação que considero significativa sobre as ligações da dupla Leandro & Leonardo com o Estado do Tocantins.

Há no Tocantins, Sr. Presidente, Srªs. e Srs. Senadores, uma área ainda intacta, virgem. Talvez uma das raras áreas ainda intactas da natureza, uma área bela, impoluta, localizada às margens do maravilhoso rio Araguaia, ao norte da ilha do Bananal, uma região denominada Cantão. Quem põe os olhos nela logo se encanta com a exuberância da sua floresta, com os seus maravilhosos lagos inatingíveis e com a maravilha que representa o próprio rio Araguaia.

Informado de que o Governador do Estado queria transformar essa região, que já era conservada como área de preservação ambiental, num pólo de desenvolvimento ecoturístico, Leandro se entusiasmou com a idéia e teve vontade de conhecer a região. Tive o privilégio de acompanhá-lo na visita que fez, juntamente com o Governador Siqueira Campos e outros amigos. Fizemos o caminho pelo rio Araguaia, de barco, até a área que denominamos Cantão. Penetramos alguns metros na floresta e chegamos a um rancho de palha, onde passamos um final de tarde e pernoitamos, num ambiente muito próprio, bem rústico, em acomodações sumárias.

Leandro encantou-se com a região e nos encantou a todos com a sua simplicidade, principalmente com o seu desejo de participar do empreendimento que se propunha a fazer ali no Tocantins, transformando o Cantão num pólo ecoturístico. Revelou Leandro que gostaria de construir um hotel para integrar o contexto de investimentos que seriam feitos nessa região, que é uma das mais belas do País.

Foi uma tarde/noite extraordinária, da qual não me esquecerei. Nessa oportunidade, estive só com o Leandro; em outras vezes, com Leandro e Leonardo no território tocantinense.

Ouço, com prazer, o nobre Senador Edison Lobão.

O Sr. Edison Lobão (PFL-MA) - Senador Leomar Quintanilha, V. Exª canta as belezas de sua terra ao tempo em que homenageia um grande cantor, aquele que nos encantava com as suas canções. Não tive muitos contatos com o Leandro, apenas um, exatamente no Tocantins, mas sei que ele era, de fato, um representante autêntico da bela e gloriosa musicalidade brasileira. O desaparecimento dele é uma perda significativa para todos nós. O homem sobre a Terra não vive apenas das realizações, das construções: vive, também, da construção da alma, e o Leandro participava dessa obra importante antiestresse. Ouvi-lo era sempre um momento de alegria, de encantamento. Ele merece as homenagens que V. Exª, seu conterrâneo, presta nesta manhã de terça-feira. Foi-se o Leandro, mas ficou a sua memória e a sua história. Cumprimento V. Exª por trazer, nesta manhã, essa questão ao Senado Federal.

O SR. LEOMAR QUINTANILHA (PPB-TO) - Agradeço, Senador Edison Lobão, a manifestação de solidariedade de V. Exª e o reconhecimento da extraordinária contribuição que o Leandro sempre trouxe com a sua arte, com o talento que Deus lhe deu, a amainar, a aparar as arestas que este mundo conturbado tem provocado na sociedade consumista. A sua presença será sempre salutar.

Deixa-nos o Leandro um vácuo imenso, um vazio enorme, que certamente só será suprido pelas inúmeras gravações, pelos inúmeros registros, pela memória dos seus contatos pessoais, pela memória do seu relacionamento, da sua história, da sua trajetória, do seu esforço e da sua glória. Deixa-nos o Leandro um glossário de exemplos que gratificam e edificam os jovens brasileiros. Deixa-nos o Leandro uma legião de amigos, de fãs e de admiradores. Deixa-nos saudosos, com a forte afirmação de uma de suas mais belas canções: “Não aprendi a dizer adeus”.

Muito obrigado, Sr. Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 24/06/1998 - Página 11031