Discurso no Senado Federal

REGISTRO DE SOLIDARIEDADE A FAMILIA DO CANTOR LEANDRO PELA SUA MORTE.

Autor
Benedita da Silva (PT - Partido dos Trabalhadores/RJ)
Nome completo: Benedita Souza da Silva Sampaio
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • REGISTRO DE SOLIDARIEDADE A FAMILIA DO CANTOR LEANDRO PELA SUA MORTE.
Publicação
Publicação no DSF de 24/06/1998 - Página 11033
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM POSTUMA, LEANDRO, CANTOR, ESTADO DE GOIAS (GO), VOTO DE PESAR, FAMILIA.

A SRª BENEDITA DA SILVA (Bloco/PT-RJ. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão da oradora.) - Sr. Presidente, Srªs. e Srs. Senadores, é grande a nossa emoção ao registrar nossa solidariedade à família de Leandro.

Acompanhei a homenagem feita pelo Senador Leomar Quintanilha. Não solicitei um aparte, porque também gostaria de prestar a minha homenagem, a homenagem de alguém do Estado do Rio de Janeiro, que reconheceu em Leandro uma figura sem par, que, juntamente com seu irmão, ressuscitou a música sertaneja.

Como uma menina do Rio de Janeiro, vendedora de tomates, lembrei-me de que esse menino, que virou um homem famoso, era plantador de tomates. Quando soube que ele estava doente, pedi a Deus - Leandro não me conhecia, mas eu o conhecia bem, porque ele visitou nossas casas com suas músicas e seus sucessos - que fizesse a sua vontade na vida desse jovem.

Ele era tão jovem, passou por uma vida de dificuldades e conquistou o sucesso com seriedade e integridade! Por que as coisas acontecem dessa forma? Pedi a Deus que o curasse e tenho certeza de que várias orações foram feitas por todo o Brasil, para que ele pudesse voltar a viver com saúde suficiente para continuar alegrando nossos corações.

Esse menino me tocou profundamente por sua vida, por sua história e pela sua passagem deste mundo para o outro. Sei que só um milagre poderia tê-lo curado daquela doença terrível que o afetou.

Perdi um irmão nas mesmas condições que ele e acompanhei o sofrimento do meu irmão. Quando soube que ele havia falecido, eu disse: “Já que Deus assim o quis e não o curou, que bom que ele se foi, porque é muito duro o sofrimento”. Acompanhei a dor de meu irmão e sei como é difícil essa situação.

Leandro foi um peregrino: de Tocantins, foi para São Paulo e, depois, para os Estados Unidos. O Brasil inteiro sofreu muito com a dor dessa figura maravilhosa do vendedor de tomates. É assim que o vejo. Quem assistiu ao filme O Contador de Histórias sabe que, além de vendedor de tomates, Leandro era um contador de histórias da música caipira, que foi quase esquecida e que, como bem salientou o Senador Leomar Quintanilha, foi por ele ressuscitada, numa integração de avanços tecnológicos e instrumentais, que todas as músicas começaram a adquirir.

A guerra desse homem de 36 anos cessou, mas penso que a compaixão de milhões de brasileiros, em suas orações e seus sentimentos, deixou em Leandro, esse carismático menino-homem, homem-menino, cantador e contador de histórias, uma profunda alegria. Tenho certeza de que ele acompanhou todo esse sentimento dos brasileiros.

É impressionante que, no momento em que o Brasil se unificava em torno da seleção brasileira - tudo é feito em função de estarmos diante de uma televisão para assistirmos aos jogos, na torcida pela vitória -, estivéssemos juntos, torcendo para que pudesse haver um outro desfecho. A torcida dele continua. Suas músicas, penetrando em nossos corações, fazem com que as lágrimas venham aos nossos olhos e com que a saudade comece a bater forte em nosso peito.

Quero deixar à família do plantador de tomate e do contador de histórias, desse fenômeno, desse sucesso, uma palavra - talvez, alguns não a entendam, mas aqueles que praticam a fé sabem perfeitamente o que ela significa -que está expressa em Eclesiastes, capítulo 7, versículos 2, 3 e 4:

“2 - Melhor é ir à casa onde há luto do que ir à casa onde há banquete, pois naquela se vê o fim de todos os homens, e os vivos que o tomem consideração.

3 - Melhor é a mágoa do riso, porque com a tristeza do rosto se faz melhor o coração.

4 - O coração dos sábios está na casa do luto, mas o dos insensatos na casa da alegria.”

Que o nosso coração de luto se transforme na alegria e na satisfação de termos convivido com uma grande figura e que sua partida sirva para nós como um exemplo de luta, de dedicação, de solidariedade, de humanidade e de fraternidade!

À família de Leandro os sentimentos de todos nós brasileiros e o meu, em particular, em nome do Partido dos Trabalhadores.

Muito obrigada, Sr. Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 24/06/1998 - Página 11033