Discurso no Senado Federal

CRITICAS AS DECLARAÇÕES DO PRESIDENTE FERNANDO HENRIQUE CARDOSO DE SUA INTENÇÃO DE NÃO PARTICIPAR DOS DEBATES NO PRIMEIRO TURNO DAS ELEIÇÕES DE OUTUBRO PROXIMO. ELOGIOS AO GOVERNADOR MARIO COVAS PELA DECISÃO DE LICENCIAR-SE DO GOVERNO DO ESTADO DE SÃO PAULO PARA CANDIDATAR-SE A REELEIÇÃO. (COMO LIDER)

Autor
Eduardo Suplicy (PT - Partido dos Trabalhadores/SP)
Nome completo: Eduardo Matarazzo Suplicy
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
ELEIÇÕES.:
  • CRITICAS AS DECLARAÇÕES DO PRESIDENTE FERNANDO HENRIQUE CARDOSO DE SUA INTENÇÃO DE NÃO PARTICIPAR DOS DEBATES NO PRIMEIRO TURNO DAS ELEIÇÕES DE OUTUBRO PROXIMO. ELOGIOS AO GOVERNADOR MARIO COVAS PELA DECISÃO DE LICENCIAR-SE DO GOVERNO DO ESTADO DE SÃO PAULO PARA CANDIDATAR-SE A REELEIÇÃO. (COMO LIDER)
Publicação
Publicação no DSF de 30/06/1998 - Página 11220
Assunto
Outros > ELEIÇÕES.
Indexação
  • CRITICA, FERNANDO HENRIQUE CARDOSO, PRESIDENTE DA REPUBLICA, RECUSA, PARTICIPAÇÃO, DEBATE, PRIMEIRO TURNO, CANDIDATO, ELEIÇÃO, CARGO PUBLICO, PRESIDENCIA DA REPUBLICA.
  • ELOGIO, ATUAÇÃO, MARIO COVAS, GOVERNADOR, ESTADO DE SÃO PAULO (SP), LICENCIAMENTO, CARGO PUBLICO, GOVERNO, DISPUTA, REELEIÇÃO.

O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco/PT-SP. Como Líder. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs. e Srs. Senadores, o Presidente Fernando Henrique Cardoso está prestes a cometer um atentado contra a democracia. Afirmou na última quinta-feira que não participará dos debates no primeiro turno, depois que as pesquisas apontaram uma ligeira reação sua diante de seu principal adversário Luis Inácio Lula da Silva. Com essa atitude, estará o Presidente da República restringindo o direito do povo brasileiro de conhecer e comparar melhor as ações, atitudes e proposições dos candidatos frente à frente.

Como se já não bastassem o extraordinário poder daquele que está à frente do Executivo em relação aos demais adversários e o benefício que a cobertura normal dos meios de comunicação dá a quem está exercendo a Presidência, Fernando Henrique agora pretende fugir dos debates com seus adversários. Quero lembrar que, ao dar explicações à opinião pública sobre o direito de reeleição, reiterou que aquele direito vigora há muito tempo nos Estados Unidos. Só que o ponto alto da campanha naquele país é justamente os debates que fazem os candidatos à Presidência, sendo tradicional o comportamento do presidente se submeter a mais de um debate nos meios de comunicação com o seu principal adversário Todos nós temos a viva lembrança desses debates de extraordinária importância.

Por outro lado, é importante assinalar a atitude positiva do Governador de São Paulo, Mário Covas, de se afastar do cargo para disputar a campanha eleitoral para o Governo do Estado. Nesse caso, Covas expressou publicamente o fato de não se sentir à vontade de ser, ao mesmo tempo, Governador de São Paulo e pedir votos aos eleitores. Tenho certeza de que, qualquer que seja o lugar em que esteja nas pesquisas, Mário Covas não se furtará a debater com seus adversários. Aliás, os que estão fugindo são justamente Paulo Salim Maluf e Francisco Rossi, que não têm tradição de serem defensores das instituições democráticas no Brasil. Durante o regime Militar, esses candidatos não defenderam, desde a primeira hora, a volta das eleições diretas. É de se supor que o Presidente Fernando Henrique, que foi um dos que lutou pela democracia no Brasil, não venha agora negar o direito de o povo escolher a melhor proposta para o País, só porque está em vantagem nas pesquisas, através dos debates pelos meios de comunicação.

O estranho é que o Sr. Fernando Henrique declarou meses atrás que gostaria muito de dialogar com Luís Inácio Lula da Silva, a quem considera o principal Líder de Oposição. Que melhor oportunidade teria o Presidente da República de dialogar com Lula diante de todo o povo brasileiro pela TV com um debate entre ambos? Estará S.Exª. com receio de que Lula aponte os principais problemas e falhas que não conseguiu resolver até hoje relativos às altas taxas de desemprego, à erradicação da miséria e à distribuição da renda?

Não podemos admitir que o atual Presidente da República venha a público dizer “não vou a debates no 1º turno. Posso mudar de opinião se cair nas pesquisas”, por pensar que “política é criatividade”. Maior criatividade terá ele se permitir que os milhões de eleitores brasileiros tenham o direito de escolher o próximo Presidente da República da forma mais democrática possível, a exemplo do que ocorre no processo eleitoral dos Estados Unidos, que tanto o inspirou quando defendeu a própria reeleição. Espero que não venha a seguir o mau exemplo de Jânio Quadros, o qual usou deste expediente, ao se recusar a debater com o Sr. Fernando Henrique e demais adversários, quando sagrou-se vencedor da disputa para Prefeito de São Paulo, em 1985. Jânio Quadros venceu as eleições, mas não serviu ao seu povo com um bom exemplo de prática democrática. Naquela oportunidade, Fernando Henrique Cardoso, de quem eu também era adversário, criticou veementemente Jânio Quadros por ter se ausentado de um debate tão importante para o aperfeiçoamento da democracia.

Sr. Presidente, espero que ele se lembre desse episódio e resolva, desde já, no primeiro turno, inclusive, participar dos debates com os principais adversários de acordo com as regras da Lei Eleitoral vigente.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 30/06/1998 - Página 11220