Discurso no Senado Federal

ABORDAGEM SOBRE O PROBLEMA DA SAUDE PUBLICA NO PAIS, PARTICULARMENTE NO QUE SE REFERE AS DOENÇAS ENDEMICAS.

Autor
Nabor Júnior (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/AC)
Nome completo: Nabor Teles da Rocha Júnior
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
SAUDE.:
  • ABORDAGEM SOBRE O PROBLEMA DA SAUDE PUBLICA NO PAIS, PARTICULARMENTE NO QUE SE REFERE AS DOENÇAS ENDEMICAS.
Publicação
Publicação no DSF de 11/08/1998 - Página 12691
Assunto
Outros > SAUDE.
Indexação
  • ANALISE, ARTIGO DE IMPRENSA, AUTORIA, CHICO ARAUJO, JORNALISTA, PUBLICAÇÃO, JORNAL, A GAZETA, ESTADO DO ACRE (AC), AUMENTO, INCIDENCIA, DOENÇA ENDEMICA, PROVOCAÇÃO, MORTE, POPULAÇÃO, REGIÃO AMAZONICA, DEFESA, EDUARDO FARIAS, MEDICO, URGENCIA, PODER PUBLICO, ADOÇÃO, PROVIDENCIA, MELHORIA, CONDIÇÕES SANITARIAS, ATUAÇÃO, SECRETARIA DE SAUDE, VIGILANCIA EPIDEMIOLOGICA, LEVANTAMENTO, DADOS, ESTATISTICA, EPIDEMIOLOGIA, REGIÃO.

O SR. NABOR JÚNIOR (PMDB-AC. Pronuncia o seguinte discurso.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, volto hoje à tribuna do Senado para uma nova abordagem do gravíssimo problema da saúde pública em nosso País, particularmente no que tange às doenças endêmicas, cuja ocorrência se amplia de modo assustador. Tive a oportunidade de debater, na última terça-feira, o drama da AIDS, particularmente o contágio de mulheres em todos os níveis sociais e culturais. Vali-me, na ocasião, de importante material publicado no jornal A Gazeta, do Acre, que estampava um artigo de autoria do médico, administrador, professor e Deputado Federal José Aristodemo Pinotti.

Muitas pessoas comentaram comigo, mais tarde, a importância da abordagem serena e firme desse momentoso drama social e sanitário, mas houve, também, quem destacasse a necessidade de ser igualmente denunciado o crescimento das estatísticas referentes a outras doenças terríveis que, embora desprovidas do impacto moral, psicológico e emocional da AIDS, seguem alarmando e deixando impotentes os cientistas empenhados em seu combate. Mesmo sem o triste apelo escandaloso da Aids, ainda é freqüente o noticiário envolvendo a malária, as doenças cardiovasculares, os males pulmonares decorrentes do fumo, bem como a hepatite, que nem sempre é encarada com a seriedade devida.

Sexta-feira, ao receber os jornais do Acre, tive a reafirmação de que as pautas de A Gazeta são sempre vinculadas às pautas da cidadania, ao amplo debate de suas angústias e de seus problemas concretos: o vibrante matutino de Rio Branco, capital do meu Estado, após relatar os problemas da AIDS em nível nacional, havia usado, na véspera, a mesma firmeza e a mesma lucidez para estampar as cores e os números locais da hepatite, que hoje infecta 10% de toda a população acreana.

O crédito da matéria é deferido ao repórter Chico Araújo, cuja objetividade marca os principais dados ali expostos, fazendo um paralelo entre a incidência da hepatite no mundo, com cerca de 300 milhões de pessoas contaminadas, e, no microcosmo estadual, com seus 50 mil cidadãos vitimados pelos tipos “B” e “C” do vírus - número que, em termos absolutos, pode parecer pequeno, mas cujo significado abrange um contingente superior a 10% de toda a população acreana.

Todos sabemos que a hepatite é uma doença traiçoeira, cujo contágio se faz por diversas formas, muitas delas vinculadas às atividades cotidianas das pessoas. E os fatos são preocupantes, segundo explicou ao repórter o médico infectologista Eduardo Farias: em 1997, 200 acreanos morreram sob os cuidados de hospitais públicos, vitimados pelas hepatites. Sim, porque, na realidade, são várias as “hepatites” causadoras de distintas patologias, nem sempre definíveis com facilidade, principalmente em uma região como a Amazônia, onde a realização de análises laboratoriais sistemáticas enfrenta obstáculos inconcebíveis. E é essencial ressaltar o detalhe de que essa estatística se refere apenas aos casos atendidos na rede hospitalar estadual e, obviamente, não inclui os casos das pessoas que adoecem e morrem sem a devida assistência. É lícito imaginar que veremos, então, a perda de outros tantos 200 cidadãos, cujos males terão sido agravados pela falta de amparo.

Configura-se, destarte, um quadro de calamidade pública. E o próprio Dr. Eduardo Farias afirma isso, dizendo: “é gravíssima a situação -- e as autoridades sanitárias precisam agir imediatamente, com uma efetiva campanha de vacinação em massa; se providências enérgicas não forem tomadas, as gerações futuras estarão comprometidas”. Com serenidade e coragem, o conceituado infectologista avisa: “a hepatite é uma assassina silenciosa, que ronda os acreanos”.

Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, este Plenário sempre foi sensível, como na presente oportunidade, aos problemas que se agravam em alguns pontos do território nacional. E é confiante nessa sensibilidade que venho repercutir perante V. Exªs a advertência do Dr. Eduardo Farias, publicada em A Gazeta, do Acre: “A Secretaria Estadual de Saúde precisa iniciar um estudo abrangente e criterioso com a finalidade de se traçar um perfil epidemiológico das hepatites no Acre. De posse desses dados, o Governo do Acre poderia iniciar o combate efetivo às hepatites. “Se isso não for feito, milhares de inocentes vão morrer”, alerta o infectologista, lembrando que a questão das hepatites não é assunto apenas dos médicos, mas de toda a sociedade”.

Um dos aspectos mais graves e mais alarmantes na disseminação das hepatites, no Acre e em todo o mundo, está na mutação dos vírus, o que causa grandes dificuldades para identificá-los e indicar caminhos concretos para seu tratamento eficaz.

Com espírito público e lucidez, a reportagem de Chico Araújo informa que só do tipo “C” existe meia dúzia de genótipos, além de 30 subtipos. Já os outros dois grandes grupos -- os tipos “A” e “B” -- são melhor conhecidos por pesquisadores e médicos e, portanto, recebem tratamento mais eficaz. Mesmo assim, quando as carências administrativas e econômicas de uma região se agravam, a doença foge ao controle e se transforma em epidemia.

É o caso do Acre.

Rogo a V. Exª, Sr. Presidente, que determine a publicação, na íntegra, da reportagem de A Gazeta, em anexo ao presente discurso, como fonte de pesquisa e informação para toda a sociedade brasileira, nesse espelho da cidadania que é o Diário do Senado Federal.

Muito obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 11/08/1998 - Página 12691