Pronunciamento de Esperidião Amin em 12/08/1998
Discurso no Senado Federal
ELOGIOS AO MERCADO MUNICIPAL DE FLORIANOPOLIS, AS VESPERAS DE COMPLETAR SEU PRIMEIRO CENTENARIO DE FUNCIONAMENTO EM 1999.
- Autor
- Esperidião Amin (PPB - Partido Progressista Brasileiro/SC)
- Nome completo: Esperidião Amin Helou Filho
- Casa
- Senado Federal
- Tipo
- Discurso
- Resumo por assunto
-
HOMENAGEM.:
- ELOGIOS AO MERCADO MUNICIPAL DE FLORIANOPOLIS, AS VESPERAS DE COMPLETAR SEU PRIMEIRO CENTENARIO DE FUNCIONAMENTO EM 1999.
- Publicação
- Publicação no DSF de 13/08/1998 - Página 12929
- Assunto
- Outros > HOMENAGEM.
- Indexação
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- HOMENAGEM, MERCADO, CAPITAL DE ESTADO, ESTADO DE SANTA CATARINA (SC), PROXIMIDADE, CENTENARIO, FUNDAÇÃO, ELOGIO, FUNÇÃO, INTEGRAÇÃO, HABITANTE, CIDADE.
O SR. ESPERIDIÃO AMIN (PPB-SC. Pronuncia o seguinte discurso) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, toda cidade tem sua alma. Alguma coisa que transcende às edificações, que passa por sobre as lutas políticas, que não se confunde com o projeto urbanístico. Refiro-me àquele ponto no qual as pessoas se encontram, em que conversas infindáveis tornam mais prazeroso o passar do tempo. Reporto-me ao lugar específico - que só pode ser ele, nenhum outro mais - em que a vida se redescobre a cada dia, em que encontros e desencontros constróem a magia do viver em coletividade.
Há, em Florianópolis, algo assim.
Há, em Florianópolis, um lugar muito especial, definitivamente incorporado à paisagem de seu espaço urbano, à geografia sentimental de seus habitantes. Um espaço centenário onde se vende e se compra, onde se trabalha e se diverte, mas, acima de tudo, um local especialíssimo, no qual a cidade se vê tal como ela é. Ponto de passagem de milhares, todos os dias da semana, a qualquer hora. Ponto de referência de todos, elo que aproxima tanto que consegue a proeza de fazer iguais os que são por natureza desiguais.
Falo do Mercado Público de Florianópolis.
O fato de estar completando seu primeiro centenário de efetivo funcionamento, em 1999, não diz tudo da história do Mercado Público. Suas origens remontam a muito mais. Já nos finais do século XVIII, mercadores dividiam a área de praia situada à frente da atual Praça 15 de Novembro. Documentos da época atestam que, naquele local, eram comercializados os mais variados gêneros alimentícios. As vendas se processavam sob precárias condições de higiene: antes de serem instaladas barraquinhas - que, diga-se, não promoveram a melhoria dessas condições - eram as mercadorias expostas por sobre esteiras, no chão, ou vendidas diretamente nas canoas.
Na primeira metade do século passado, a cidade assistiu ao longo e acalorado debate acerca da necessidade de substituição das barraquinhas por um Mercado Público. Até mesmo um Ato Regencial de 1834, determinando a destruição das barraquinhas, não logrou êxito. Somente em 1845, quando a cidade recebia a imperial visita de Dom Pedro II, as barraquinhas foram transferidas para outro local, exatamente nas proximidades da Ponte do Vinagre, onde hoje está o prédio da antiga Capitania dos Portos.
A polêmica não parou por aí. Depois de muita discussão e de busca de recursos para o financiamento da obra, conseguiu-se inaugurar o primeiro mercado público da cidade, que, entre 1851 e 1896, quando foi demolido, funcionou na Praça da Matriz. No mesmo ano da demolição, lançou-se a pedra fundamental do novo mercado, este cujo centenário estamos começando a celebrar.
São cem anos de construção de uma história singular, plasmada na perfeita simbiose entre um prédio e a população a que serve. Hoje, são cerca de vinte mil pessoas circulando diariamente pelo Mercado Público. Trabalhadores, aposentados, donas-de-casa, estudantes, intelectuais, servidores públicos, políticos, jornalistas, profissionais liberais, enfim gente de todos os matizes que se encontra e se encanta no velho Mercado. Da mistura heterogênea de freqüentadores, congregando nativos e visitantes, faz-se a homogênea convergência de respeito à alteridade e à diferença.
O Mercado Público representa para Florianópolis a imagem do tempo, a compreensão de que o presente é também tributário do passado. O prédio, os boxes de venda, as passarelas, os freqüentadores, as conversas, integram um conjunto harmonioso, em que pese o aparente caos. Um conjunto que transborda de vida, pois que sustentado por sentimentos, aspirações e emoções.
Algo que, no fundo, nada mais é do que a celebração da vida, com todas suas nuanças.
Na memória de cada habitante de Florianópolis há um pouco do Mercado Público. Comemorar condignamente seus 100 anos é também uma forma de dizer que estamos vivos, que temos memória, e isso nos faz mais humanos. Como diz a canção, a nossa “arma é o que a memória guarda”. Nos dias de hoje, em que tudo tem seu preço mas nada parece ter valor, uma forma de remar contra a maré da “coisificação” talvez seja essa que Florianópolis faz com que seu Mercado Público: fazer dele, sempre e sempre, o espaço pleno da vida e o exercício cotidiano da fraternidade.
Parabéns e vida longa, Mercado Público!
Muito obrigado.