Discurso no Senado Federal

REFLEXÕES SOBRE O PAPEL E O DESEMPENHO DAS UNIVERSIDADES BRASILEIRAS.

Autor
Casildo Maldaner (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/SC)
Nome completo: Casildo João Maldaner
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
ENSINO SUPERIOR.:
  • REFLEXÕES SOBRE O PAPEL E O DESEMPENHO DAS UNIVERSIDADES BRASILEIRAS.
Publicação
Publicação no DSF de 15/10/1998 - Página 13614
Assunto
Outros > ENSINO SUPERIOR.
Indexação
  • ANALISE, ARTIGO DE IMPRENSA, AUTORIA, GUSTAVO IOSCHPE, JORNALISTA, JORNAL, FOLHA DE S.PAULO, ESTADO DE SÃO PAULO (SP), REFERENCIA, FALTA, INTERESSE, ESTUDANTE, UNIVERSIDADE, FORMAÇÃO, ACADEMIA, BRASIL, PAIS ESTRANGEIRO, ESTADOS UNIDOS DA AMERICA (EUA), RESULTADO, DEFESA, NECESSIDADE, MELHORAMENTO, NIVEL, CURSO SUPERIOR, PAIS.
  • SAUDAÇÃO, INICIATIVA, MINISTERIO DA EDUCAÇÃO (MEC), CRIAÇÃO, EXAME, AMBITO NACIONAL, AVALIAÇÃO, ENSINO SUPERIOR, OBJETIVO, MELHORIA, NIVEL, CURSO SUPERIOR, REFORMULAÇÃO, UNIVERSIDADE, BRASIL.
  • DEFESA, MELHORAMENTO, NIVEL, CURSO SUPERIOR, OBJETIVO, INCENTIVO, ESTUDANTE, PARTICIPAÇÃO, MELHORIA, ESTUDO, VIABILIDADE, TRANSFORMAÇÃO, ECONOMIA, CIENCIAS, CULTURA, SOCIEDADE, BRASIL.

O SR. CASILDO MALDANER (PMDB-SC. Pronuncia o seguinte discurso.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, entre tantos problemas evidentes com que se deparam as universidades brasileiras, como a falta de verbas para pesquisas e o baixo salário do corpo docente, poucos pensam em questionar o nível de motivação dos estudantes universitários como um importante fator para a eficácia do processo educacional. Esse tema, no entanto, aflorou de modo inesperado, a partir da publicação de um artigo de Gustavo Ioschpe na Folha de S.Paulo, em 20 de abril deste ano. Nele, o jovem colunista relatava sua estranheza diante da falta de interesse pela educação em si mesma por parte dos estudantes da universidade norte-americana onde estuda. Segundo o próprio jornal, em matéria do dia 1º de junho, a publicação do texto “foi o estopim para uma explosão de desabafos enviados via Internet por alunos de universidade e faculdades de todo o Brasil”.

De que se queixam nossos estudantes? Antes de tudo, do desinteresse de professores e alunos pela formação acadêmica. Os professores, em sua maioria, quando não são mal preparados, encontram-se desmotivados para as atividades de ensino, seja pelos baixos salários e precárias condições de trabalho, seja por se preocuparem quase exclusivamente com a pesquisa. A maior parte dos alunos, por sua vez, tem como único objetivo a aprovação nas matérias e a obtenção do diploma. Desse modo, a vida acadêmica torna-se um marasmo intelectual, uma tediosa corrida de obstáculos onde os estudantes devem desicumbir-se de uma série de tarefas, nas quais prevalece, freqüentemente, o aspecto formal ou burocrático.

Não vamos imaginar que os problemas dos estudantes brasileiros sejam os mesmos dos norte-americanos. Nos Estados Unidos, o sistema educacional, em geral, e o universitário, em particular, apresentam graus elevados de eficiência. É tamanha a eficiência que os alunos cumprem o papel que lhes foi predeterminado sem qualquer questionamento, abdicando da “curiosidade intelectual e do prazer da descoberta”, de acordo com o citado colunista. A educação fica reduzida, assim, a um processo de treinamento, no qual todo o interesse dos estudantes está voltado para a obtenção de bons resultados nas provas. O pacto da mediocridade na educação, pelo que vemos, não é uma criação exclusivamente brasileira: tanto professores quanto alunos exigem o menos possível, para não serem, por sua vez, exigidos.

Já no Brasil, os problemas com o ensino universitário, para nos restringirmos a ele, são muito mais amplos. As universidades apresentam notáveis precariedades no que se refere a condições de infra-estrutura, bem como de organização dos cursos, no que diferem das norte-americanas. O sistema universitário brasileiro não pode ser julgado eficiente. E isso não impede que também nossos estudantes padeçam do tédio ou da apatia acadêmica.

A eficiência do sistema educacional é, sem a menor dúvida, uma meta a ser perseguida. Não podemos prescindir de um enfoque administrativo da questão: os recursos devem ser utilizados da maneira mais produtiva, os resultados devem ser avaliados em ampla escala, uma visão global do funcionamento de todo o sistema deve orientar o planejamento, para que o ensino possa se tornar cada vez melhor.

Em vários sentidos, é extremamente louvável a iniciativa do Ministério da Educação e do Desporto - MEC em criar o Exame Nacional de Cursos, o provão, quebrando uma série de tabus que envolvem a avaliação do ensino universitário. Não há dúvida de que a avaliação de cursos de 4 anos em uma prova de 4 horas de duração é imperfeita e insuficiente. O provão, no entanto, servindo como uma inferência do nível de aprendizagem dos estudantes formandos como um todo, e não de cada um deles individualmente, permite a comparação entre os resultados do ensino ministrado nos vários cursos universitários do País. Os resultados torna-se mais valiosos quando cotejados com outros dados relevantes, tais como a capacitação do corpo docente, abrangência e qualidade dos currículos, condições dos laboratórios e das bibliotecas e infra-estrutura geral das instituições.

O provão, que foi recentemente aplicado pela terceira vez, tem levado a um saudável questionamento da rotina de funcionamento dos cursos superiores avaliados. Note-se que as diretrizes de sua avaliação são as de valorizar a aprendizagem de habilidades intelectuais fundamentais para o tipo específico de profissional e não a memorização de conteúdos. Distanciam-se, assim, de um tipo de avaliação que freqüentemente é priorizado ao longo dos cursos, bem como da tendência à facilitação dos exames para evitar problemas para os vários segmentos. Os resultados, aquém do esperado, vêm fazendo com que várias universidades e faculdades estejam reexaminando o conteúdo programático dos cursos e contratando professores de maior qualificação, entre outras medidas voltadas para a melhoria do ensino. Essas medidas, aliás, não têm sido motivadas apenas pela necessidade de se melhorar a imagem da escola, mas também por exigência das comissões do MEC, que verificaram in loco as condições de ensino dos cursos superiores com desempenho mais baixo. O não cumprimento das exigências pode levar até mesmo ao descredenciamento dos cursos.

Não temos dúvida de que o melhoramento do nível dos cursos universitários é a forma mais eficaz de se estimularem os alunos a deles participarem com entusiasmo e determinação. Apesar de ser fundamental a tomada de medidas como o aumento da remuneração dos professores, é necessário pensarmos na questão de forma ainda mais ampla. O que fazer para estimular em nossos jovens o espírito crítico, a inquietude da mente que busca novas respostas? Como resgatar o sentido mais profundo do espírito acadêmico, que é a abertura ao questionamento e ao diálogo?

Essa é uma questão lançada para todos aqueles que lidam com a educação dos jovens brasileiros. Não há, certamente, uma fórmula pronta para respondê-la, como tampouco há uma única resposta válida, mas vários caminhos ricos e estimulantes que a partir dela se abrem. Penso, Srªs e Srs. Senadores, que a universidade não deve afastar-se da realidade brasileira, mas aí procurar novos desafios e novas motivações. Nossos universitários devem tomar consciência dos problemas reais de nosso povo, que não são poucos, haurindo de sua luta cotidiana a energia para enfrentá-los, tanto no plano teórico como no prático, tendo como alvo a construção de uma sociedade melhor.

O Brasil é um país jovem, onde muita coisa ou quase tudo está por fazer-se. A universidade e os estudantes universitários têm um papel fundamental a exercer na transformação de nossa economia, de nossa ciência e cultura, de nossa sociedade, enfim. Se dermos condições adequadas para o funcionamento das universidades e faculdades, temos certeza de que a resposta de estudantes e professores será altamente criativa e engajada na construção, nos mais diversos setores, de um novo Brasil.

Era isso, Sr. Presidente e nobres Colegas, o que nesta tarde tinha que trazer à consideração de todos. Esta é uma análise de fundamental importância, embora simples e superficial. O automatismo, o formalismo e, como se diz vulgarmente, a “decoreba” não levam a nada.

Existindo um maior questionamento de mestres nas universidades, haverá, também, uma participação mais crítica dos estudantes e dos professores, além de um esforço mais concentrado por parte dos responsáveis na busca de melhores saídas para essa avaliação. Isso será fundamental para o surgimento de soluções para o Brasil não só do futuro, mas também de hoje.

Muito obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 15/10/1998 - Página 13614