Discurso no Senado Federal

VOTOS DE RESTABELECIMENTO AO SENADOR VILSON KLEINUBING, REPRESENTANTE DO POLITICO POR VOCAÇÃO, CUJA VIDA PUBLICA PAUTA-SE PELA RETIDÃO.

Autor
Bernardo Cabral (PFL - Partido da Frente Liberal/AM)
Nome completo: José Bernardo Cabral
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • VOTOS DE RESTABELECIMENTO AO SENADOR VILSON KLEINUBING, REPRESENTANTE DO POLITICO POR VOCAÇÃO, CUJA VIDA PUBLICA PAUTA-SE PELA RETIDÃO.
Aparteantes
Jefferson Peres.
Publicação
Publicação no DSF de 22/10/1998 - Página 14426
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • MANIFESTAÇÃO, HOMENAGEM, VOTO, RESTABELECIMENTO, SAUDE, VILSON KLEINUBING, SENADOR, ESTADO DE SANTA CATARINA (SC).
  • ANALISE, MORAL, CARACTERIZAÇÃO, DIFERENÇA, QUALIDADE, ETICA, POLITICO, ELOGIO, ATUAÇÃO, VILSON KLEINUBING, SENADOR, POLITICA, BRASIL, ESTADO DE SANTA CATARINA (SC).

      O SR. BERNARDO CABRAL (PFL-AM. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, a idade vai chegando e o tempo, quando a ele se pode retornar para se fazer uma espécie de análise do que já se foi, faz-me lembrar, há trinta anos, a tribuna da Câmara dos Deputados.

      A tribuna no Parlamento, hoje, está esmaecida. Ela não tem mais aquele atrativo dos grandes oradores - e tive a oportunidade de ouvi-los, ainda que não seja um mestre nessa arte - e se verifica que o sabor pela discussão, a forma pela qual cada um encaminha os seus pontos de vista já não mais atrai o político, no sentido exato da palavra.

      Entendo, nesta análise do passado, com a experiência que a idade me dá, que, em verdade, existem três tipos de políticos - e, a propósito, hoje, nesta tarde, vem bem a talhe de foice que se comente: o político por vocação, o político por ambição e o político por vaidade.

      Se pegarmos esse trio - da vaidade, da ambição e da vocação -, vamos verificar que o poder econômico que um dispõe faz com que se candidate a um mandato eletivo, de Deputado Federal ou Senador, para satisfazer a sua vaidade pessoal. Aí, se ele gasta o seu dinheiro, o problema é menor; mas se, por ambição, começa a gastar aquilo que, nos quatro ou oito anos de mandato, é impossível ser ressarcido, é claro que ambiciona não só assaltar os cofres públicos, mas fazer negociatas com empreiteiras, que os bancos oficiais, certamente, hão de financiar. E chegamos àquele problema do Orçamento, de triste memória, ainda recente.

      Aqueles que são políticos por vocação acabam, nos regimes autoritários, sendo cassados e, vez por outra, tendo os seus direitos políticos suspensos por dez anos. Neste particular, V. Exª e eu, Sr. Presidente Ronaldo Cunha Lima, podemos dar um testemunho, porque fomos cassados no mesmo dia e tivemos os nossos dez anos de direitos políticos suspensos.

      Por que desaparece esse gosto pela tribuna? Por que as matérias hoje levadas à imprensa, quando analisam a conduta do parlamentar, geralmente indicam aquele que apresentou dez, vinte, trinta, cinqüenta projetos - muitas vezes sem nenhum conteúdo, apenas para fazer número, para tocar na estatística, ou então levar às suas bases eleitorais uma mensagem falsa -, e não premiam os que fazem um, dois, três projetos, mas cuja consistência aponta caminhos e indica soluções? Por que o político, hoje, se transformou num sinônimo de termo pejorativo? O que leva - e eu faço, aqui, as honrosas exceções e peço que me incluam nelas - um político a ser muito mais voltado para as suas ambições pessoais do que para os interesses coletivos, inclusive aqueles que trabalham, que lutam, que se expõem e que acabam não recebendo a reciprocidade em determinado Estado?

      Não quero nem aqui lembrar os Colegas que saem desta campanha feridos, maltratados por aqueles que entendem o comportamento diferente dos que buscam, através desta ou daquela forma, ou do poder econômico - que é uma avalanche que retira a possibilidade de os menos remediados chegarem a um posto, a um mandato de representação. Já nem quero referir-me a isso, mas quero referir-me ao gosto pela política que desaparece.

      As comissões, todas elas, na Câmara ou no Senado, esvaziam-se nos dias de reuniões, e é exatamente nelas onde se começa, qual Fídias com o seu escopro e cinzel, a fazer no mármore o que é preciso para que venha ao plenário. Quantos Parlamentares, brilhantes nos seios das comissões, mas, por não terem um convívio maior no plenário, por esta ou aquela razão, não são reconhecidos?

      Por que falo isso nesta tarde? Porque, Sr. Presidente, eminentes Colegas, Deputados e Senadores, quero prestar uma homenagem a um companheiro do Senado que está doente, que precisa do nosso apoio e que precisa da nossa corrente. Companheiro que teve, na Comissão Parlamentar da Emissão Irregular dos Títulos da Dívida Pública, conhecida como CPI dos Precatórios, uma atitude de uma dignidade, de um comparecimento e de uma assiduidade que se refletiam aqui no plenário, quando reclamava contra o carnaval de empréstimos que se faziam pelos Estados.

      Claro que todos já sabem que me refiro a Vilson Kleinübing, que, neste instante, Sr. Presidente, internado desde sábado em um hospital de Florianópolis, capital do seu Estado natal, luta com o recrudescimento da doença terrível que o acometeu e que, para tristeza nossa, está a lhe retirar exatamente 93% da sua capacidade respiratória.

      Não, Sr. Presidente, temos que pedir pelos companheiros, por aqueles que sofrem, que lutam como Kleinübing. Que Deus possa trazê-lo de volta ao nosso convívio! Temos que pedir pela sua volta e não, amanhã, ocuparmos a tribuna com o sentimento da perda.

      Vilson Kleinübing foi Governador do seu Estado, e a primeira vez em que tive opinião em redor do seu nome foi por meio de um dos maiores parlamentares que conheci na minha vida: Konder Reis, Governador, Senador, Deputado Federal - que volta, agora, na casa dos 70 anos -, em um depoimento sobre o jovem que acabava de assumir o Governo do Estado

      O Sr. Jefferson Péres (PSDB-AM) - Permite-me V. Exª um aparte?

      O SR. BERNARDO CABRAL (PFL-AM) - Concedo o aparte ao nobre Senador Jefferson Péres.

      O Sr. Jefferson Péres (PSDB-AM) - Senador Bernardo Cabral, V. Exª externa, com certeza, o sentimento de todo o Senado, que, neste momento, está torcendo e rezando pelo restabelecimento do nosso Colega Vilson Kleinübing. Em particular, tenho uma grande admiração por aquele que é um homem dotado de um enorme espírito público. Certamente, se Deus quiser, S. Exª retornará aos trabalhos parlamentares.

      O SR. BERNARDO CABRAL (PFL-AM) - Agradeço a intervenção de V. Exª, Senador Jefferson Péres. Nós, que temos convivido muito com Kleinübing, não poderíamos esperar que não fosse esse o seu registro, até porque, Sr. Presidente, Kleinübing se enquadra exatamente naquela definição que busquei dar do político por vocação. Na tribuna desta Casa, na comissão, no Partido do qual tenho a honra de ser integrante e do qual V. Exª é um dos expoentes, Kleinübing tem sido sempre coerente. S. Exª é desses homens que olham para trás e não têm medo de seguir para a frente.

      A coerência faz com que, nesta hora, eu, que fui o Presidente da Comissão Parlamentar de Inquérito, chamada -- repito -- CPI dos Precatórios, preste a S. Exª a homenagem de quem quer vê-lo de volta, de quem sente que Kleinübing, como tantos políticos -- como dizia ainda há pouco -- que não merecem o registro sincero da chamada mídia, não ficará no esquecimento. A sua volta a esta Casa, pelas preces que todos nós elevamos, será a de quem venceu mais uma vez.

      Por isso, Sr. Presidente, pediria a V. Exª que, do alto da sua presidência, enviasse -- estou certo de que falo pelos Colegas que aqui se encontram -- um voto pelo seu pronto restabelecimento, a fim de que o Senado tenha, mais uma vez, com a sua vinda, a alegria do convívio com Vilson Kleinübing.

      O SR. PRESIDENTE (Antonio Carlos Magalhães) - A Mesa se solidariza com as palavras do eminente Senador Bernardo Cabral e tomará as providências necessárias para que chegue ao Senador a manifestação unânime do Plenário em relação a sua saúde. Por outro lado, cabe-me informar que tudo aquilo que era possível fazer em relação ao Senador a Mesa tem feito, inclusive contatos com médicos dos Estados Unidos, para que, se necessário, fossem até Santa Catarina para vê-lo. Tudo foi colocado à disposição.

      Também a Embaixada do Brasil nos Estados Unidos manteve permanente contato com os médicos americanos, especialistas no assunto. Todas as providências foram tomadas; houve, inclusive, contato dos médicos americanos com os médicos que cuidam pessoalmente do Senador Vilson Kleinübing.

      Seja como for, a sua figura merece o nosso respeito e a nossa admiração. As palavras de V. Exª são muito bem-vindas.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 22/10/1998 - Página 14426