Discurso no Senado Federal

DEFESA DO PARTIDO DOS TRABALHADORES FRENTE A ASSOCIAÇÃO INDEVIDA DO PARTIDO A FIGURA SATANICA, NO PROCESSO ELEITORAL DE BRASILIA, COM O OBJETIVO DE INDUZIR OS EVANGELICOS A NÃO VOTAREM NO SEU CANDIDATO.

Autor
Marina Silva (PT - Partido dos Trabalhadores/AC)
Nome completo: Maria Osmarina Marina Silva Vaz de Lima
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
ELEIÇÕES.:
  • DEFESA DO PARTIDO DOS TRABALHADORES FRENTE A ASSOCIAÇÃO INDEVIDA DO PARTIDO A FIGURA SATANICA, NO PROCESSO ELEITORAL DE BRASILIA, COM O OBJETIVO DE INDUZIR OS EVANGELICOS A NÃO VOTAREM NO SEU CANDIDATO.
Publicação
Publicação no DSF de 22/10/1998 - Página 14438
Assunto
Outros > ELEIÇÕES.
Indexação
  • COMENTARIO, SEGUNDO TURNO, ELEIÇÕES, GOVERNADOR, DISTRITO FEDERAL (DF), CRITICA, DOCUMENTO, OPOSIÇÃO, CANDIDATO, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DOS TRABALHADORES (PT), MANIPULAÇÃO, CRENÇA RELIGIOSA.

      A SRª MARINA SILVA (Bloco/PT-AC. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão da oradora.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, venho hoje à tribuna para tecer alguns comentários a respeito da disputa eleitoral do segundo turno para o Governo do Distrito Federal, principalmente por causa de algumas informações que estão sendo distribuídas para população em panfletos com assinaturas de entidades e instituições inexistentes, pelo menos do ponto de vista da sua comprovação e seriedade.

      Um desses panfletos, denominado: A face oculta do Partido dos Trabalhadores, está assinado por um suposto Instituto de Teologia Mundial e sua distribuição é gratuita. 

      Coincidentemente, esses panfletos foram apreendidos dentro de um ônibus do candidato adversário do Governador Cristovam Buarque e estavam sendo entregues por pessoas usando camisetas, adesivos e materiais de campanha do referido candidato, em uma tentativa de fazer terrorismo junto à comunidade evangélica e cristã com relação ao Partido dos Trabalhadores, fazendo uma associação indevida, irresponsável e desinformada sobre essa simbologia.

      Faz-se uma associação entre o número 13 e um suposto tridente que seria o tridente do demônio. Depois, associa a estrela a uma figura satânica, seguindo-se uma série de asneiras associadas aos símbolos do Partido dos Trabalhadores. Diz, também, que a cor vermelha das bandeiras do Partido dos Trabalhadores está associada à guerra, às cores do demônio, do Apocalipse e assim por diante.

      Os evangélicos não têm a prática de fazer estudos místicos utilizando essas simbologias. Sem nenhum preconceito em relação às pessoas místicas, quero dizer que essa prática não faz parte da homilia e das práticas do povo evangélico. O povo evangélico, de uma maneira indevida, está sendo usado para fazer campanha política para o candidatado que a está patrocinando, campanha essa de eficácia duvidosa, do meu ponto de vista .

      Gostaria de fazer uma observação em relação a esse panfleto. E aí não são apenas palavras minhas, porque inclusive o próprio Pastor Peniel Pacheco, da Igreja Assembléia de Deus, que disputou o cargo de Vice-Governador junto à candidatura de José Roberto Arruda ao Governo do Distrito Federal, afirma o que estou dizendo, quando esclarece que esse tipo de prática não é própria do povo evangélico e que esse panfleto os coloca em uma situação constrangedora, como se fossem pessoas ignorantes, sem formação teológica e que seriam presa fácil para qualquer tipo de manipulação.

      Penso que as pessoas cristãs ou que professam uma fé, sendo religiosas têm, todo o direito de se manifestar politicamente, de defender essa ou aquela candidatura ou projeto.

      Graças a Deus sou cristã e tenho a felicidade de estar associada a um partido político desde muito jovem. O partido político que descreve toda a trajetória dos excluídos e com o qual me identifiquei na minha vivência cristã foi o Partido dos Trabalhadores - inclusive o Povo de Deus, que durante muitos anos foi excluído na terra do Egito, que teve como soberano um dos mais importantes reis de sua história, o Rei Davi, que foi um excluído, formou um exército de 600 excluídos e conseguiu conquistar um reino.

      Isso não significa que outro partido não possa proferir os mesmos princípios - e a democracia existe para isso. O que não se pode admitir é a manipulação da fé, inclusive de textos bíblicos, para qualquer finalidade. Isso é abominável vindo daqueles que dizem defender a liberdade religiosa.

      Há um outro aspecto, pelo qual entendo importante tecer observações sobre esse terrorismo que está sendo praticado: penso que existem algumas pessoas que, embora conhecendo a palavra, pois conseguem fazer adaptações de determinadas citações bíblicas àquilo que lhes interessa, comportam-se como se fossem profetas de encomenda, que também foram rechaçados biblicamente.

      Existe um episódio bíblico, narrado no Antigo Testamento, em que um determinado rei chamado Balaque, vendo que o povo de Israel caminhava para a vitória frente ao seu povo - eles eram adversários -, chama um profeta chamado Balaão e lhe pede que profetize uma maldição contra o povo de Israel. Em princípio, o profeta resiste, mas, depois, resolve amaldiçoar o povo de Israel. Quando tenta fazer a maldição, pede ao rei que monte sete altares, faça ofertas. No momento de realizar a maldição, recebe a profecia de Deus, que diz o seguinte: “Este povo é ungido por mim. Este povo é abençoado. Eles não podem receber nenhum tipo de maldição.” O profeta, ao invés de amaldiçoar o povo de Israel, teve de abençoá-lo. A maldição se tornou uma benção.

      Espero que o mesmo aconteça com o Governador Cristovam Buarque. Que todas as mentiras e calúnias que estão sendo assacadas contra sua honra se transformem numa benção para que ele continue sendo o Governador de Brasília.

      Já disse que não tenho nada contra as pessoas que têm fé se envolverem na política. Tanto o é que tenho fé, graças a Deus, e tenho participação política. Mas não é admissível que pessoas façam esse tipo de manipulação de baixo nível, de péssima informação, utilizando isso em nome das pessoas que são evangélicas. Não é admissível do ponto de vista da democracia e também do ponto de vista do respeito que se deve ter para com a fé das pessoas que professam uma determinada fé. Que os evangélicos, se tinham alguma dúvida sobre em quem votar, quem tem compromisso com a verdade e com a democracia, não mais a terão, em face do uso indevido, pelas religiões evangélicas, desse panfleto, vergonhosamente distribuído no Distrito Federal e que tenta prejudicar a candidatura do Governador Cristovam Buarque.

      Mais ainda: nós, do Partido dos Trabalhadores, temos um projeto político, uma ideologia política. No nosso partido, há pessoas de credos diversos: católicos, evangélicos, entre outros. Todas elas se sentem respeitadas. A Senadora Benedita da Silva, por exemplo, é evangélica; temos a participação das comunidades eclesiais de base. Portanto não podemos admitir que pessoas, de forma criminosa, façam esse tipo de associação, façam terrorismo político para que aqueles que tenham - digamos assim - prática religiosa ligada às igrejas evangélicas se sintam com medo de votar em Cristovam, assim como às vezes acontece com Lula. Aliás, para os que não sabem, não há nenhuma referência bíblica com relação ao número 13. Pelo contrário. O Salmo nº 13 diz: “Até quando, meu Deus, ireis permitir que os meus adversários fiquem assacando mentiras contra a minha honra?”. Considero o referido Salmo a melhor resposta para o que está sendo feito contra o Governador Cristovam Buarque, do Distrito Federal.

      Para concluir o meu discurso, Sr. Presidente, Srs. Senadores, quero dizer que, quando temos proposta política, não entramos na disputa simplesmente para dizer a que somos contra; entramos na disputa política para dizermos aquilo a que somos a favor. Considero o nosso adversário aqui no Distrito Federal aquele homem que entrou no templo das realizações, onde tudo o que se pedia a Deus acontecia. Com o coração cheio de ódio, sem nenhum tipo de amor para dar e sabendo que tudo que pedisse seria realidade, ele começou a se lembrar das pessoas de quem tinha raiva e a desejar que um morresse, que outro perdesse a fortuna, outro perdesse a esposa, o filho e assim por diante. Mas o templo dava um minuto apenas para que ele fizesse os pedidos; de forma que quando tocou a campainha e o guardião do lugar informou que o tempo dele havia acabado, ele pediu um pouco mais para que pudesse desejar a si mesmo algo de bom. O guardião disse que ele havia perdido tempo profetizando o mal que queria para seu semelhante e não profetizou o bem que desejava para si mesmo. O Governador Cristovam Buarque entrou no templo dessa disputa para profetizar o bem que está fazendo para a educação com a Escola Candanga; para profetizar o bem que está fazendo com o Saúde em Casa, com os médicos de família; para profetizar o bem que ele está fazendo na Secretaria de Agricultura com um programa ousado de agroindústria, de geração de emprego e renda. Mas nosso adversário entrou no templo da disputa para desejar o mal e não diz ao povo de Brasília qual é o bem que ele deseja fazer. É por isso que, como professora, como pessoa de fé, penso que não há por que termos dúvidas: aqui em Brasília, a defesa da democracia, a continuação de um governo que trabalha com as pessoas, que realiza uma proposta democrática é a candidatura de Cristovam. Nosso adversário está perdendo tempo, inclusive porque nos debates tenta fazer perguntas formuladas por seus assessores, visto que ele nem sequer tem competência para formular suas próprias perguntas. Esse tipo de pessoa pode ser simples. Sou uma pessoa de origem humilde, fui analfabeta até os 16 anos de idade, mas, graças a Deus, para representar o meu povo, aprendi a formular minhas próprias perguntas.

      Muito obrigada.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 22/10/1998 - Página 14438