Discurso no Senado Federal

REGISTRO DA IMPORTANCIA DAS CANDIDATURAS COM POSTURA DE AUTONOMIA E CRITICA EM RELAÇÃO A ATUAL CRISE, E NÃO NECESSARIAMENTE DE OPOSIÇÃO AO GOVERNO, NO SEGUNDO TURNO DAS ELEIÇÕES ESTADUAIS.

Autor
Marina Silva (PT - Partido dos Trabalhadores/AC)
Nome completo: Maria Osmarina Marina Silva Vaz de Lima
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
ELEIÇÕES.:
  • REGISTRO DA IMPORTANCIA DAS CANDIDATURAS COM POSTURA DE AUTONOMIA E CRITICA EM RELAÇÃO A ATUAL CRISE, E NÃO NECESSARIAMENTE DE OPOSIÇÃO AO GOVERNO, NO SEGUNDO TURNO DAS ELEIÇÕES ESTADUAIS.
Publicação
Publicação no DSF de 24/10/1998 - Página 14557
Assunto
Outros > ELEIÇÕES.
Indexação
  • ANALISE, ELEIÇÕES, SEGUNDO TURNO, GOVERNO, ESTADOS, POSSIBILIDADE, OPÇÃO, CANDIDATO, CONTRIBUIÇÃO, CRITICA, CRISE, ECONOMIA.
  • IMPORTANCIA, AUTONOMIA, GOVERNO ESTADUAL, BENEFICIO, PRESIDENCIA DA REPUBLICA, REFORÇO, DEMOCRACIA.
  • DEFESA, CANDIDATURA, CRISTOVAM BUARQUE, CANDIDATO, REELEIÇÃO, GOVERNO, DISTRITO FEDERAL (DF), ESPECIFICAÇÃO, PROJETO, EDUCAÇÃO.

A SRª MARINA SILVA (Bloco/PT-AC. Para uma breve comunicação. Sem revisão da oradora.) - Sr. Presidente, Srs. Senadores, quero fazer um breve registro sobre a importância do próximo dia 25 de outubro, quando as pessoas irão tomar uma grande decisão nos Estados em que haverá o segundo turno, para definir quais serão seus respectivos governos. Entre eles estão Estados muito importantes, como São Paulo, Rio Grande do Sul, Minas Gerais, Mato Grosso do Sul, Distrito Federal. Enfim, em todos os Estados em que haverá segundo turno.  

A observação que eu gostaria de fazer diz respeito ao fato de que as pessoas que irão tomar essa decisão de segundo turno poderão estar dando uma grande contribuição ao País e ao Governo do Presidente Fernando Henrique Cardoso se optarem por aquelas candidaturas e aqueles projetos que têm uma postura de autonomia e crítica em relação ao momento de crise que estamos atravessando. Notem que falei em posição de autonomia e de crítica em relação à crise que estamos atravessando, e não necessariamente de oposição, como é o caso das candidaturas que defendo, do Governador Cristovam Buarque, de Olívio Dutra e do Zeca do PT.  

Faço esse registro porque, em São Paulo, estou torcendo para que Mário Covas ganhe as eleições, porque sei que S. Exª tem uma posição crítica e de autonomia, mesmo pertencendo ao Partido do Presidente da República.  

E por que essas candidaturas com autonomia e com visão crítica contribuem muito para o País e para o próprio Presidente? Primeiro, porque não é bom para a democracia brasileira, principalmente num momento de crise, que se tenha aquela velha prática da hegemonia em todas as coisas. Isso cria um efeito muito negativo, ao qual chamo "efeito abelha rainha". Abelha rainha é aquela que fica num local privilegiado, com muitos zangões protegendo-a, para que não seja atingida por nada que esteja fora daquele espaço. Ela vive uma situação de nobreza que não faz parte do mundo real, tanto que, quando a abelha rainha fica desprotegida, em poucos instantes começa a se fragilizar. Um governante que tem ao seu lado apenas pessoas que dizem "amém", que dizem que está tudo certo, que está tudo bom, que escondem a realidade, a verdadeira face dos problemas, tem assessores que não contribuem com ele próprio, governante, nem com a democracia, nem com a resolução dos problemas do povo brasileiro.  

Ocupando esta pequeníssima fatia do poder, que é o mandato de Senadora, tenho vivenciado essa experiência. Quando as pessoas tentam minimizar os problemas, faço questão de que encarem de frente o que está acontecendo, exatamente para que não haja esse filtro. É por isso que esses governos, com posição autônoma, com projetos claros de oposição, mas com responsabilidade frente à Nação, darão uma grande contribuição, porque serão exatamente essas pessoas que estarão fazendo o contraponto, sob a perspectiva de uma avaliação crítica de que nem sempre o governante que está administrando a crise do País está com a razão.  

Há uma frase que gosto de repetir, Senador Nabor Júnior, que agora preside os trabalhos: na Amazônia, os melhores lagos não são aqueles que ficam eternamente isolados, mas aqueles que, de vez em quando, são permeados por novas águas, provenientes das enchentes. Quando acontece a enxurrada, como chamamos, novos nutrientes, novas espécies de peixes e de plantas entram nesses lagos, abastecendo-os com outras diversidades, o que não aconteceria se ficassem eternamente isolados. O mesmo ocorre na política. Se nos isolamos com aqueles que dizem "amém" para o que fazemos, que aplaudem o que estamos fazendo, que não nos permitem entrar em contato com os problemas reais, ficamos alienados.  

O povo brasileiro conferiu ao Presidente Fernando Henrique Cardoso um mandato para continuar operando a crise, mas não foi um cheque em branco: "Vocês fizeram tudo certo, portanto, nós o estamos reelegendo" Tanto é que o Lula não foi para o segundo turno apenas pela diferença de 3% dos votos. Houve um entendimento do povo brasileiro no sentido de que, em função da crise, aqueles que estavam no timão deveriam continuar, mas, mesmo assim, levaram para o segundo turno vários candidatos com projetos claros de oposição e pessoas com uma visão crítica.  

Por falar em visão crítica, nessas eleições ocorre um fenômeno interessante. No Estado do Amapá, há dois candidatos: Capiberibe e o outro, do PDT. Quem quer que ganhe a eleição fará parte de um partido de Oposição. No Estado de São Paulo, a situação é semelhante. O candidato adversário do Governador Covas também é do Bloco que apóia o Governo, e o Governador Covas é do partido do Presidente Fernando Henrique Cardoso. Portanto, quem ganhar estará do lado do Governo. Mas há uma postura diferente entre os dois candidatos. Com certeza, a posição do Governador Covas tem sido de autonomia, e é exemplar. S. Exª foi um dos candidatos que concorreram às eleições afastando-se do cargo de Governador. Para mim, isso já foi um ponto muito significativo que serve como exemplo.  

Voltando ao meu raciocínio anterior, as candidaturas autônomas, com visão crítica, irão contribuir mais ainda. Em se tratando de capitais importantes para o nosso País, também nós, da Oposição, não ficaremos naquela posição de minoria: "aconteça o que acontecer, não teremos responsabilidade sobre os fatos, pois, afinal de contas, somos uma pequena minoria."  

Ganhando o Governo em Minas Gerais, ganhando o Governo no Rio Grande do Sul, ganhando o Governo aqui, no Distrito Federal, e em São Paulo, a sociedade e os governantes terão responsabilidade por esses projetos políticos face à crise. Não poderão agir como Pilatos, ou seja, lavar as mãos. Teremos que contribuir, com visão crítica e com projetos alternativos, mas teremos que operar, uma vez que esses são os Estados mais importantes deste País, com maior peso econômico, com maior população, com um significado muito importante para esse contraponto da democracia e dos projetos políticos.  

Repito: domingo, se Deus quiser, as pessoas que forem às urnas para o segundo turno estarão dando uma grande contribuição à democracia se optarem por candidaturas que têm uma visão crítica e autônoma em relação ao Palácio do Planalto. Não se trata da postura de apenas jogar pedra ou de querer romper, a todo custo, o diálogo. Pelo contrário, trata-se de uma visão, de um projeto político que coloque os interesses do povo brasileiro acima de tudo e que demonstre àqueles que hoje estão administrando a crise que poderemos contribuir com tais e tais sugestões, à frente de governos de Estados importantes deste País.  

Tenho absoluta certeza de que, no Distrito Federal, com a vitória do Governador Cristovam Buarque, já se estará dando um grande auxílio à democracia, pois o projeto político do candidato identifica-se com os problemas sociais básicos da sociedade.  

Fui analfabeta até os 16 anos. Sei o quanto é importante um projeto político que valoriza sobremaneira a educação. Nunca vou me esquecer da primeira vez em que entrei em uma sala de aula. A professora chamou o meu nome, e eu não sabia que tinha que responder "presente". Fui até à sua mesa e ela me disse que eu não precisava de ir até lá, que eu tinha apenas que responder "presente". Fiquei muito envergonhada, porque todos os meus colegas riram de mim. No dia seguinte, quase não voltei à sala de aula - era uma sala do Mobral. Mas pensei: se eu me envergonhar por não saber dizer "presente", vou continuar me envergonhando pelo resto da vida, porque não vou ter nenhuma oportunidade. No outro dia, voltei de cabeça baixa e respondi "presente", como a Professora me havia ensinado. Aprendi muitas outras coisas desde aquela data até o presente momento.  

Sr. Presidente, Srs. Senadores, é com esse projeto do Distrito Federal, de respeito à saúde, de respeito à educação, uma proposta de desenvolvimento que coloca o homem no centro das questões, que, tenho fé em Deus, Cristovam Buarque será vitorioso. Tenho fé em Deus também que serão vitoriosos aqueles projetos de crítica e observação ao que está sendo feito; acima de tudo, de responsabilidade mútua pela crise que estamos vivendo.  

Era o que eu tinha a dizer.  

Muito obrigada, Sr. Presidente.  

A SRª MARINA SILVA (Bloco/PT-AC. Para uma breve comunicação. Sem revisão da oradora.) - Sr. Presidente, Srs. Senadores, quero fazer um breve registro sobre a importância do próximo dia 25 de outubro, quando as pessoas irão tomar uma grande decisão nos Estados em que haverá o segundo turno, para definir quais serão seus respectivos governos. Entre eles estão Estados muito importantes, como São Paulo, Rio Grande do Sul, Minas Gerais, Mato Grosso do Sul, Distrito Federal. Enfim, em todos os Estados em que haverá segundo turno.  

A observação que eu gostaria de fazer diz respeito ao fato de que as pessoas que irão tomar essa decisão de segundo turno poderão estar dando uma grande contribuição ao País e ao Governo do Presidente Fernando Henrique Cardoso se optarem por aquelas candidaturas e aqueles projetos que têm uma postura de autonomia e crítica em relação ao momento de crise que estamos atravessando. Notem que falei em posição de autonomia e de crítica em relação à crise que estamos atravessando, e não necessariamente de oposição, como é o caso das candidaturas que defendo, do Governador Cristovam Buarque, de Olívio Dutra e do Zeca do PT.  

Faço esse registro porque, em São Paulo, estou torcendo para que Mário Covas ganhe as eleições, porque sei que S. Exª tem uma posição crítica e de autonomia, mesmo pertencendo ao Partido do Presidente da República.  

E por que essas candidaturas com autonomia e com visão crítica contribuem muito para o País e para o próprio Presidente? Primeiro, porque não é bom para a democracia brasileira, principalmente num momento de crise, que se tenha aquela velha prática da hegemonia em todas as coisas. Isso cria um efeito muito negativo, ao qual chamo "efeito abelha rainha". Abelha rainha é aquela que fica num local privilegiado, com muitos zangões protegendo-a, para que não seja atingida por nada que esteja fora daquele espaço. Ela vive uma situação de nobreza que não faz parte do mundo real, tanto que, quando a abelha rainha fica desprotegida, em poucos instantes começa a se fragilizar. Um governante que tem ao seu lado apenas pessoas que dizem "amém", que dizem que está tudo certo, que está tudo bom, que escondem a realidade, a verdadeira face dos problemas, tem assessores que não contribuem com ele próprio, governante, nem com a democracia, nem com a resolução dos problemas do povo brasileiro.

 

Ocupando esta pequeníssima fatia do poder, que é o mandato de Senadora, tenho vivenciado essa experiência. Quando as pessoas tentam minimizar os problemas, faço questão de que encarem de frente o que está acontecendo, exatamente para que não haja esse filtro. É por isso que esses governos, com posição autônoma, com projetos claros de oposição, mas com responsabilidade frente à Nação, darão uma grande contribuição, porque serão exatamente essas pessoas que estarão fazendo o contraponto, sob a perspectiva de uma avaliação crítica de que nem sempre o governante que está administrando a crise do País está com a razão.  

Há uma frase que gosto de repetir, Senador Nabor Júnior, que agora preside os trabalhos: na Amazônia, os melhores lagos não são aqueles que ficam eternamente isolados, mas aqueles que, de vez em quando, são permeados por novas águas, provenientes das enchentes. Quando acontece a enxurrada, como chamamos, novos nutrientes, novas espécies de peixes e de plantas entram nesses lagos, abastecendo-os com outras diversidades, o que não aconteceria se ficassem eternamente isolados. O mesmo ocorre na política. Se nos isolamos com aqueles que dizem "amém" para o que fazemos, que aplaudem o que estamos fazendo, que não nos permitem entrar em contato com os problemas reais, ficamos alienados.  

O povo brasileiro conferiu ao Presidente Fernando Henrique Cardoso um mandato para continuar operando a crise, mas não foi um cheque em branco: "Vocês fizeram tudo certo, portanto, nós o estamos reelegendo" Tanto é que o Lula não foi para o segundo turno apenas pela diferença de 3% dos votos. Houve um entendimento do povo brasileiro no sentido de que, em função da crise, aqueles que estavam no timão deveriam continuar, mas, mesmo assim, levaram para o segundo turno vários candidatos com projetos claros de oposição e pessoas com uma visão crítica.  

Por falar em visão crítica, nessas eleições ocorre um fenômeno interessante. No Estado do Amapá, há dois candidatos: Capiberibe e o outro, do PDT. Quem quer que ganhe a eleição fará parte de um partido de Oposição. No Estado de São Paulo, a situação é semelhante. O candidato adversário do Governador Covas também é do Bloco que apóia o Governo, e o Governador Covas é do partido do Presidente Fernando Henrique Cardoso. Portanto, quem ganhar estará do lado do Governo. Mas há uma postura diferente entre os dois candidatos. Com certeza, a posição do Governador Covas tem sido de autonomia, e é exemplar. S. Exª foi um dos candidatos que concorreram às eleições afastando-se do cargo de Governador. Para mim, isso já foi um ponto muito significativo que serve como exemplo.  

Voltando ao meu raciocínio anterior, as candidaturas autônomas, com visão crítica, irão contribuir mais ainda. Em se tratando de capitais importantes para o nosso País, também nós, da Oposição, não ficaremos naquela posição de minoria: "aconteça o que acontecer, não teremos responsabilidade sobre os fatos, pois, afinal de contas, somos uma pequena minoria."  

Ganhando o Governo em Minas Gerais, ganhando o Governo no Rio Grande do Sul, ganhando o Governo aqui, no Distrito Federal, e em São Paulo, a sociedade e os governantes terão responsabilidade por esses projetos políticos face à crise. Não poderão agir como Pilatos, ou seja, lavar as mãos. Teremos que contribuir, com visão crítica e com projetos alternativos, mas teremos que operar, uma vez que esses são os Estados mais importantes deste País, com maior peso econômico, com maior população, com um significado muito importante para esse contraponto da democracia e dos projetos políticos.  

Repito: domingo, se Deus quiser, as pessoas que forem às urnas para o segundo turno estarão dando uma grande contribuição à democracia se optarem por candidaturas que têm uma visão crítica e autônoma em relação ao Palácio do Planalto. Não se trata da postura de apenas jogar pedra ou de querer romper, a todo custo, o diálogo. Pelo contrário, trata-se de uma visão, de um projeto político que coloque os interesses do povo brasileiro acima de tudo e que demonstre àqueles que hoje estão administrando a crise que poderemos contribuir com tais e tais sugestões, à frente de governos de Estados importantes deste País.  

Tenho absoluta certeza de que, no Distrito Federal, com a vitória do Governador Cristovam Buarque, já se estará dando um grande auxílio à democracia, pois o projeto político do candidato identifica-se com os problemas sociais básicos da sociedade.  

Fui analfabeta até os 16 anos. Sei o quanto é importante um projeto político que valoriza sobremaneira a educação. Nunca vou me esquecer da primeira vez em que entrei em uma sala de aula. A professora chamou o meu nome, e eu não sabia que tinha que responder "presente". Fui até à sua mesa e ela me disse que eu não precisava de ir até lá, que eu tinha apenas que responder "presente". Fiquei muito envergonhada, porque todos os meus colegas riram de mim. No dia seguinte, quase não voltei à sala de aula - era uma sala do Mobral. Mas pensei: se eu me envergonhar por não saber dizer "presente", vou continuar me envergonhando pelo resto da vida, porque não vou ter nenhuma oportunidade. No outro dia, voltei de cabeça baixa e respondi "presente", como a Professora me havia ensinado. Aprendi muitas outras coisas desde aquela data até o presente momento.  

Sr. Presidente, Srs. Senadores, é com esse projeto do Distrito Federal, de respeito à saúde, de respeito à educação, uma proposta de desenvolvimento que coloca o homem no centro das questões, que, tenho fé em Deus, Cristovam Buarque será vitorioso. Tenho fé em Deus também que serão vitoriosos aqueles projetos de crítica e observação ao que está sendo feito; acima de tudo, de responsabilidade mútua pela crise que estamos vivendo.  

Era o que eu tinha a dizer.  

Muito obrigada, Sr. Presidente.  

 

* z


Este texto não substitui o publicado no DSF de 24/10/1998 - Página 14557