Discurso no Senado Federal

HOMENAGEM DE PESAR PELO FALECIMENTO DO SENADOR VILSON KLEINUBING.

Autor
Jefferson Peres (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/AM)
Nome completo: José Jefferson Carpinteiro Peres
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • HOMENAGEM DE PESAR PELO FALECIMENTO DO SENADOR VILSON KLEINUBING.
Publicação
Publicação no DSF de 28/10/1998 - Página 14586
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM POSTUMA, VILSON KLEINUBING, SENADOR, ESTADO DE SANTA CATARINA (SC).

O SR. JEFFERSON PÉRES (PSDB-AM. Para encaminhar a votação. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, sabe Deus com que pesar uso desta tribuna para prestar homenagem post mortem a um homem público da envergadura do Senador Vilson Kleinübing.

Tantas eram as afinidades que eu tinha com ele que todas as vezes que alguém, por curiosidade, perguntava-me quais, na minha opinião, eram os melhores Senadores desta Legislatura, eu, invariavelmente, incluía Kleinübing na lista. Ele não era um orador dado a grandes arroubos de eloqüência, não era um grande articulador político, mas era dotado de algo que é imprescindível a um homem público e que ele tinha de sobra - espírito público, entendendo-se como tal aquele que tem compromisso com o Poder Público, com o Estado, com a sociedade cujos interesses coloca acima de interesses grupais e individuais. Essa, como já foi dito aqui, era a marca registrada do Senador Vilson Kleinübing.

Às vezes, ele se tornava até repetitivo, como um paladino de lança em riste, a batalhar, incansavelmente, como um cavalheiro solitário em favor do Erário. No primeiro ano desta legislatura, ainda me lembro, a primeira vez que o vi na tribuna, ele fez um pronunciamento que me causou uma funda impressão:

Vilson perguntava dali, fazia a seguinte peroração: “Vejo no Senado e na Câmara dos Deputados a Bancada que defende grupos religiosos, a Bancada dos que defendem os produtores rurais, vejo as bancadas regionais, vejo os que defendem os interesses dos trabalhadores; só não vejo, Srs. Senadores - dizia ele, ainda me lembro como se fosse hoje - a bancada que defende o interesse público, que defende a viúva. A viúva é a grande desamparada, porque ela só tem defensores isolados, não tem bancadas”.

O que se viu do Senador Vilson Kleinübing, ao longo desses quase quatro anos, foi exatamente a posição de um intrépido defensor do dinheiro público. Esse ânimo combativo nem a doença lhe tirou.

Há dois anos, eu me lembro, já acometido de câncer, ele assomou novamente a essa tribuna para defender o seu requerimento de criação da CPI dos Precatórios. Ele clamou muitas vezes - e afinal foi ouvido - contra aquela “cadeia da felicidade”, que, se não tivesse sido contida, teria certamente deixado Estados e Municípios em situação muito pior do que a que atravessam hoje. Afinal, a CPI veio. Ele foi um dos seus combatentes da linha de frente. A CPI, nascida sob ceticismo geral, Sr. Presidente, foi uma das mais produtivas da história do Legislativo brasileiro.

Hoje, na Comissão de Assuntos Econômicos, alguém já disse que ele foi um profeta, porque, muitas vezes, talvez até correndo o risco de não ser compreendido, vaticinou que o endividamento público era uma bomba de efeito retardado que um dia, se não fosse desarmada, estouraria com efeitos devastadores sobre o País. E é uma ironia do destino, Sr. Presidente, que exatamente quando o Congresso vai enfrentar finalmente o problema do desequilíbrio das contas públicas, é uma amarga ironia do destino que o seu mais ardente defensor não esteja aqui para participar dessa batalha. A morte o levou quando o Senado e o Poder Público mais necessitavam dele.

Ele morreu sem se entregar, abatido pela doença que nunca lhe tirou a coragem. Nunca ouvi do Senador Vilson Kleinübing lamentações pela doença que o acometera. Nunca tentou comover ninguém, nem de público, nem particular, pelo fato de ser um homem marcado para a morte. Por momentos, pensou que havia dela escapado. Hoje me dizia um Senador a quem, certa vez, ele lhe disse sem ocultar o orgulho: “Venci o câncer”. Ledo engano, porque o inimigo apenas recuou para voltar atacando de emboscada e lhe dar um golpe fulminante. Tão duro que, quando foi detectado, já havia tomado boa parte do seu organismo. Nem assim aquele homem se abateu; nem assim ele esqueceu o interesse público.

Hoje, o Senador Elcio Alvares dizia na Comissão de Assuntos Econômicos que dele recebeu um telefonema há cerca de 15 dias - ele já com a recidiva da doença - em que manifestava interesse e preocupação com matérias em andamento neste Senado. Dessa vez ele não estava iludido, Senador Elcio Alvares, porque, ao se recuperar do primeiro ataque, ele disse a alguém: “Só temo a recidiva, se ela vier, sei que será mortal!” Então ele já sabia que seu fim estava próximo.

Li no noticiário da imprensa a respeito da sua morte que certa vez ele dissera: “Aprendi com minha mãe, quando varria a calçada da nossa casa e jogava o sujo não para a sarjeta, mas para dentro, que nós mesmos deveríamos recolhê-lo. Com aquele gesto da minha mãe - dizia ele -, aprendi que, acima de tudo, está o interesse público. Ao não jogar a sujeira para a sarjeta, para a rua, ela sabia que o problema não era da prefeitura, e sim da própria família”. Esse gesto simbólico, segundo o Senador Vilson Kleinübing, marcou profundamente a sua atitude diante da vida.

É curioso que esse homem, tão sisudo e tão sério, em defesa da causa pública, que às vezes parecia não ser um homem de muita efusão, muito afetivo, tenha tido este comportamento: segundo me disse hoje o Senador Esperidião Amin, horas antes de morrer, ao lhe ser perguntado o que queria, ele pediu uma taça de sorvete. Tomou o sorvete, dormiu e nunca mais acordou. Nos instantes finais, daquele homem tão sério, tão sisudo, emergiu a criança talvez que dorme em cada um de nós. O sorvete foi o último sabor do mundo que levou.

Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, é com muita emoção, portanto, que registro o desaparecimento do Senador Vilson Kleinübing. Um homem público como poucas vezes tenho encontrado na vida. Era um homem que colocava, repito, o interesse público acima de interesses menores. Ele, realmente - e não se trata de uma figura de retórica -, vai fazer muita falta nesse momento ao Senado e ao Brasil.

Muito obrigado, Sr. Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 28/10/1998 - Página 14586