Discurso no Senado Federal

HOMENAGEM DE PESAR PELO FALECIMENTO DO SENADOR VILSON KLEINUBING.

Autor
Elcio Alvares (PFL - Partido da Frente Liberal/ES)
Nome completo: Élcio Alvares
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • HOMENAGEM DE PESAR PELO FALECIMENTO DO SENADOR VILSON KLEINUBING.
Publicação
Publicação no DSF de 28/10/1998 - Página 14592
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM POSTUMA, VILSON KLEINUBING, SENADOR, ESTADO DE SANTA CATARINA (SC).

O SR. ELCIO ALVARES (PFL-ES. Para encaminhar a votação. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, eminentes colegas, já tive oportunidade, na reunião da Comissão de Assuntos Econômicos hoje pela manhã, de falar algo a respeito de Vilson Kleinübing. E falei exatamente naquele local, porque, na verdade, durante a vida parlamentar de Vilson Kleinübing no Senado, a Comissão de Assuntos Econômicos teve oportunidade de acolher de mais de perto as lições, os atos de probidade e, acima de tudo, eu diria até com certo estoicismo, o acendrado amor à defesa do Erário e, além disso, a convicção de que estávamos entrando em uma situação econômico-financeira das mais críticas para o País.

Tive um privilégio, talvez um pouco maior do que os meus colegas: quando Vilson Kleinübing chegou a esta Casa, foi Esperidião Amin quem me apresentou o novo Senador de Santa Catarina. Desde o primeiro momento, percebi a personalidade forte de Vilson Kleinübing. E Vilson vinha de Santa Catarina, onde todos exaltavam a sua forma de governar. Vilson não era homem de concessões; tomou medidas muito duras e radicais no governo de Santa Catarina, dentro da visão do povo catarinense, que faço questão de exaltar. Santa Catarina é um celeiro permanente de grandes vocações de vida pública. Vilson Kleinübing cresceu e chegou aqui ao Senado Federal.

Quando tive oportunidade de ser convidado pelo Presidente Fernando Henrique Cardoso para exercer a Liderança do Governo, precisei convocar alguns companheiros para ajudar nessa tarefa, e com Vilson Kleinübing aconteceu um fato que faço questão de proclamar. Sem nenhuma vaidade, sem qualquer sentido de porfia, convoquei Vilson Kleinübing para exercer uma Vice-Liderança com a responsabilidade total da área econômica do Governo no Senado da República. E vou mais além, falei a ele naquela ocasião, e reitero de público: “Vilson, você não vai ser um Vice-Líder; você é o Líder do Governo para os assuntos da área econômica. E a partir deste momento, Vilson, todos assuntos estarão entregues às suas mãos, porque sei que você é um homem que tem respaldo moral e intelectual para assumir por inteiro essa responsabilidade.” Comuniquei o fato ao Presidente Fernando Henrique Cardoso, que, na mesma hora, endossou totalmente a minha postura, sabendo que Vilson Kleinübing indiscutivelmente era um homem que teria todos os predicados necessários para exercer a Liderança da área econômica.

Foi a partir dali que Vilson Kleinübing, dia após dia, começou a crescer no conceito dos nossos Colegas. Como se não bastasse as atividades inerentes à Liderança, ao comando dos processos na área da Comissão de Assuntos Econômicos, aqui, neste Plenário, em discursos que foram inesquecíveis, ele teve oportunidade de assinalar muito bem a sua esteira luminosa de vida pública.

Quero ressaltar, Sr. Presidente e eminentes Colegas, o lado público da vida de Vilson Kleinübing, que todos conhecem. O Senador Jefferson Péres inclusive teve oportunidade de fazer uma oração marcada por pontos da vida pública e pontos da vida pessoal de S. Exª. Quero destacar alguns pontos que são da nossa intimidade e da nossa vivência.

Vilson Kleinübing - o Senador Jefferson Péres falou há pouco em depoimento ao Senador Esperidião Amin -, antes de perder o sentido das coisas, pediu que lhe fosse servida uma taça de sorvete. E para nós, que convivemos com ele, esta era uma postura dele. Os outros convidam para tomar uma dose de uísque; Vilson Kleinübing sempre convidava para tomar uma taça de sorvete. A paixão dele era tomar sorvete. Uma das coisas interessantes. Era um menino no momento em que tinha oportunidade disso, e discutia sabores. Esse era o Vilson Kleinübing, uma pessoa simples, destituída disso tudo.

Independentemente disso, eu e Vilson nos aproximamos muito, principalmente quando aconteceu o primeiro momento da doença. Vilson Kleinubing foi fazer uma viagem aos Estados Unidos. Ele era um homem vaidoso, gostava de se vestir bem; cultivava a prática dos esportes e tinha orgulho de dizer que corria 10 km todas as manhãs. Ele foi aos Estados Unidos e um amigo que estava ao lado dele, Flávio Coelho, sugeriu-lhe que fizesse exames na clínica do Dr. Cooper, idealizador do conhecido teste que leva o seu nome. E Vilson Kleinubing resolveu fazer um check-up. Todos os exames corresponderam exatamente àquela vaidade do atleta amador que corria todas as manhãs. No entanto, o medico dos Estados Unidos, ao examinar as chapas, disse: “Senador, há um ponto branco, muito pequeno, no seu pulmão que precisa ser pesquisado”. Vilson Kleinübing ouviu o que disse o médico e lhe perguntou se poderia fazer isso no Brasil. O médico lhe disse que ele poderia vir ao Brasil, inclusive com recomendação, salvo engano, para o hospital do Rio Grande do Sul, onde de fato ele fez a cirurgia. Vilson voltou e nos disse aqui, bastante preocupado: “Veja que coisa, fui fazer um teste, verifiquei que os meus índices todos estão superlativos”. E quando Vilson foi para o hospital, aquele ponto, no início do tamanho de uma cabeça de alfinete, já tinha atingido o tamanho de uma bola de gude, o que demonstra realmente que a doença era insidiosa. Fez a operação e voltou. Daí todos participaram aqui da dor de Vilson e daquela sina, mas, mesmo assim, ele vinha ao Senado. Com a perda dos cabelos, a princípio ensaiou uma peruca. Mas ele, um homem muito autêntico, assumiu a doença por inteiro e disse que era portador de câncer e que iria lutar. E teve uma recuperação. Mas, naquelas conversas das quais todas participamos nas tardes dessa sessão, ele sempre dizia: “a única coisa que me assusta é que não pode haver uma recidiva. Se houver, tenho certeza de que não resisto”.

Veio a eleição. Fui para a disputa no Espírito Santo e, de vez em quando, perdido lá no interior do meu Estado, o telefone tocava, era Vilson Kleinübing querendo saber da minha campanha, preocupado com os resultados divulgados pelos institutos de pesquisa e eu lhe dizia com a maior lealdade: Vilson, a eleição está muito difícil. Tenho impressão de que você não vai ter seu colega nos próximos quatro anos, porque a eleição para mim é quase impossível.

Veio o dia 4 de outubro, eu já sabia que não ganharia a eleição e vim para Brasília. Cheguei ao meu gabinete dia 5 e o primeiro telefonema que recebi foi de Vilson Kleinübing. Ele me tratava por Elcio Alvares, fazendo questão de dizer os dois nomes, e me disse: “Elcio Alvares, tenho duas notícias para lhe dar. A primeira, maravilhosa: nós ganhamos de ponta a ponta aqui.” Ele falava isso sem tocar na minha derrota, com muita delicadeza. O Vilson tinha uma extrema delicadeza em fazer as suas colocações. “A segunda notícia, Elcio Alvares: a minha doença voltou e voltou de uma maneira muito forte. Estou seguindo, amanhã, para Brasília, vou conversar com o Presidente Antonio Carlos Magalhães e procurar recursos fora do Brasil, porque já sinto que realmente a doença avançou bastante.”

Eu estive, terça ou quarta-feira, com o Presidente Antonio Carlos Magalhães e disse-lhe que o Vilson estava vindo e que tinha falado comigo a respeito de um quadro de saúde delicado. Fomos surpreendidos - o Presidente Antonio Carlos Magalhães também estava presente -, nessa quarta-feira, com a notícia de que Vilson já não tinha mais condições de locomoção própria, porque após uma aplicação de quimioterapia ele estava prostrado pela doença. Desde então não vi mais Vilson Kleinübing, apenas recebi um último telefonema, este inesquecível.

Ele me telefonou e alguns colegas estavam em volta, tais como o Senador Arruda e o Senador José Agripino. O Senador Esperidião Amin fez a chamada e uma voz já muito apagada de Vilson Kleinübing disse: “Olha, estou recebendo um abraço de você. Nós estamos lutando.” O Senador Esperidião Amin ainda falou: “Você é um forte!” E o chamava de governante. “Governante, levante a cabeça e vamos prosseguir nessa luta!” Foi o último telefonema de Vilson Kleinübing.

Eu não pude, por um motivo muito imperioso, estar presente, como gostaria de tê-lo feito, ao último adeus a Vilson Kleinübing, mas tenho certeza de que a presença de Antonio Carlos Magalhães - e de outros colegas que foram - levou o sentimento unânime desta Casa, de carinho, de amor, de amizade e de respeito a ele.

Faço esse registro hoje, Sr. Presidente, eminentes colegas, como Líder, profundamente grato à extraordinária figura que foi Vilson Kleinübing. Vilson me deu a melhor das colaborações, e faço questão de proclamá-la. Ele não foi Vice-Líder: ele foi Líder do Governo nos assuntos referentes à área econômica, e todas as tarefas que ele teve oportunidade de desenvolver, fez com brilhantismo inexcedível.

Agora, Sr. Presidente, neste momento em que a Casa pranteia e pranteia de maneira tão dedicada a figura de Vilson Kleinübing, quero dizer a cada um que recolho das palavras dele ao longo do tempo, dos gestos que ele me ofereceu, talvez o suporte maior para enfrentar uma outra caminhada de vida. Aí sim, acreditando que os valores maiores são os valores da amizade.

Deus tem seus desígnios, e temos de respeitá-los. Quaisquer que sejam os desígnios de Deus, na paixão, no amor, na política, na vida pública, eles são imutáveis.

Neste instante, Sr. Presidente, rendendo essa homenagem a Vilson Kleinübing, faço do fundo do coração, com a convicção cada vez maior de que as grandes amizades constituem, na verdade, um dos grandes patrimônios que podemos acrescentar à nossa vida. As coisas materiais não representam nada. Os verdadeiros amigos, como Vilson Kleinübing, estes, sim, são os troféus que podemos ao longo da vida dizer e proclamar. Fomos seus amigos, admiramo-lo e, acima de tudo, manifestamos o mais profundo respeito e a mais acendrada admiração a sua família.

Muito obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 28/10/1998 - Página 14592