Discurso no Senado Federal

VEEMENTE DEFESA DA CONTINUIDADE DO DESENVOLVIMENTO E PROGRESSO DA REGIÃO AMAZONICA.

Autor
Gilvam Borges (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/AP)
Nome completo: Gilvam Pinheiro Borges
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
DESENVOLVIMENTO REGIONAL.:
  • VEEMENTE DEFESA DA CONTINUIDADE DO DESENVOLVIMENTO E PROGRESSO DA REGIÃO AMAZONICA.
Aparteantes
Bernardo Cabral.
Publicação
Publicação no DSF de 31/10/1998 - Página 14830
Assunto
Outros > DESENVOLVIMENTO REGIONAL.
Indexação
  • COMENTARIO, ARTIGO DE IMPRENSA, PERIODICO, VEJA, ESTADO DE SÃO PAULO (SP), PRETENSÃO, GOVERNO, COMBATE, CRISE, NATUREZA ECONOMICA, AMBITO INTERNACIONAL, PROMOÇÃO, AJUSTE FISCAL, AUMENTO, IMPOSTOS, CORTE, SUBSIDIOS, BENEFICIO FISCAL, DESTINAÇÃO, REGIÃO NORTE, REGIÃO NORDESTE.
  • DISCORDANCIA, ORADOR, PRETENSÃO, GOVERNO FEDERAL, CORTE, SUBSIDIOS, NATUREZA FISCAL, DESTINAÇÃO, REGIÃO NORTE, REGIÃO NORDESTE, QUALIDADE, REPRESENTANTE, ESTADO DO AMAPA (AP), SENADO, MOTIVO, LIMITAÇÃO, RECURSOS FINANCEIROS, ATUALIDADE, APLICAÇÃO, REGIÃO.

O SR. GILVAM BORGES (PMDB-AP. Pronuncia o seguinte discurso.) - Sr. Presidente, Srs. Senadores, passado o período eleitoral, o Congresso Nacional retoma suas atividades normais e intensifica a discussão sobre o conjunto de medidas que vem sendo elaborado pela equipe econômica do Governo, cujo objetivo é um só: evitar que o País sofra as graves consequências da crise mundial que inflige pesados ônus às denominadas economias emergentes.

A campanha eleitoral recém-encerrada, aliás, revelou um componente absolutamente novo na história da disputa pelo voto do eleitor: a crise econômica mundial.

Dentre os candidatos que disputavam cargos majoritários ou uma vaga na Câmara dos Deputados, não houve quem não tenha se pronunciado, ao menos uma vez, sobre a crise, seus reflexos na economia nacional, a questão do câmbio e, ainda, os meios e estratégias que deveriam ser utilizados, pelo Brasil, no combate ou no alívio dos efeitos nefastos do turbilhão financeiro-internacional que se abateu sobre nossa economia.

A discussão a respeito da crise e seus efeitos, mais perceptível na campanha dos candidatos à Presidência da República, pontuou os debates e foi o combustível para análises e projeções sobre o futuro do País.

Nesse cenário de turbulência financeira mundial, com o Brasil sofrendo consideráveis perdas em suas reservas cambiais, a possibilidade de desvalorização da moeda e o risco de recessão é que travaram os debates mais acalorados.

Momentaneamente, contudo, os ânimos parecem serenar-se, na medida em que o combate à crise mobiliza, de um lado, o Governo Federal, que anuncia o enxugamento das contas públicas e a realização de uma reforma fiscal; e, de outro, os organismos financeiros internacionais, que prometem empreender ações que visem a evitar que nosso País seja mais uma vítima da especulação financeira irracional.

É preciso ter em mente, no entanto, que a ação conjunta entre Governo brasileiro e os organismos internacionais - que parece ser a solução mais indicada e eficaz no combate à fuga desmesurada de dólares e ao risco de recessão - depende, em um primeiro momento, de iniciativas do próprio Governo, que deverão necessariamente ser discutidas por nós, aqui no Congresso Nacional.

Sr. Presidente, o Governo brasileiro não esconde da Nação - o que, aliás, tornou-se marca registrada do Governo do Presidente Fernando Henrique Cardoso - que não hesitará em empreender medidas duras e enérgicas para conter a chamada crise econômica.

A imprensa nacional, por seu turno, tem informado que, entre tais medidas, estariam o corte nos gastos públicos, a reavaliação de subsídios e isenções fiscais concedidas, a elevação da alíquota da CPMF, bem como a questão do custeio da Previdência Social do servidor público.

A revista Veja, por exemplo, em sua edição de 14 de outubro, revela-nos que o programa de ajuste econômico que o Presidente da República pretende anunciar até o próximo dia 20 é composto de duas partes - já foi anunciado. Na primeira, o Governo buscará aumentar a arrecadação tributária, majorando impostos e cortando subsídios, entre os quais, os destinados à região amazônica e ao nordeste. Na segunda e última parte do programa de ajustes, o Governo pretende cortar despesas com a contratação de servidores.

Concordamos que os ajustes, mesmo duros e amargos, deverão ser levados a efeito. No entanto, a julgar que as medidas noticiadas pelo respeitável periódico sejam, de fato, apresentadas formalmente pelo Governo, destacamos, desde já, que não poderemos fazer eco com a proposta de corte ou limitação nos subsídios fiscais destinados às regiões amazônica e nordeste do País - há pouco comentava com o Senador Bernardo Cabral.

Sr. Presidente, sou representante eleito de um dos Estados que compõem a Amazônia brasileira, o Amapá. Conheço bem minha terra e seus problemas.

Testemunho que antes mesmo de a atual crise econômica dar indícios de acometer o Brasil, meu Estado já vivia uma grave retração econômica, que deve ser creditada, em boa parte, às medidas que restringiam e ainda restringem as atividades da Zona de Livre Comércio de Macapá e Santana - a exemplo de Manaus, que tem no Senador Bernardo Cabral um bravo defensor, um grande articulador e mobilizador da Bancada do Estado do Amazonas, que também vive as mesmas dificuldades, com as pressões do empresariado principalmente do sul.

Tenho a exata compreensão do grave momento por que passa a economia brasileira como um todo. Estou convicto de que ações energéticas têm de ser tomadas para afastar o fantasma da crise que ronda a Nação. No entanto, Sr. Presidente, esclareço que não poderei unir minha voz àquelas que defendem a adoção de ações que inibam ou inviabilizem o progresso da região amazônica.

A região amazônica, nunca é demais enfatizar, merece tratamento diferenciado das demais regiões brasileiras, porque detém características muito peculiares e especiais, além de constituir o maior patrimônio não explorado do Brasil.

Não posso concordar, assim, com qualquer proposta que vise a infligir sacrifícios ainda maiores à região, porque não classifico como privilégios os benefícios fiscais e os subsídios concedidos à região amazônica, que, é preciso que se diga, vêm sendo reduzidos ano após ano.

Sr. Presidente, apesar do desânimo, da preocupação e da apreensão, acreditamos no nosso País. O Presidente não tem outra alternativa, e o Governo não poderia ficar omisso em tomar as medidas necessárias para o controle da inflação e da evasão do capital. Por esse motivo, precisamos analisá-las com muito carinho. E nós, do Congresso Nacional, estamos abertos à discussão. Compreendemos as necessidades urgentes do País. Tenho certeza de que o Presidente Fernando Henrique Cardoso e a equipe econômica jamais lançariam um pacote tão pesado se ele não se fizesse necessário. O Presidente hoje sofre, mas assume as suas responsabilidades como o gestor maior do País.

De vez em quando, os príncipes do apocalipse assumem esta tribuna e a da outra Casa, achando que é o fim, que é um arraso e que não existem caminhos, mas o País tem saídas e, se Deus quiser, atravessaremos essa crise.

O Sr. Bernardo Cabral (PFL-AM) - Permite-me V.Exª um aparte?

O SR. GILVAM BORGES (PMDB-AP) - O Senador Bernardo Cabral está ansioso para fazê-lo ou estou equivocado?

O Sr. Bernardo Cabral (PFL-AM) - Mais do que ansioso. Seria pouco eu registrar a ânsia. Quero ter a oportunidade de juntar-me às suas palavras. Aliás, V. Exª está provando ser verdadeira a frase: “Se queres ser universal, canta a tua aldeia”. Observe que os grandes escritores só conseguiram se projetar no mundo inteiro, sejam brasileiros ou estrangeiros, cantando a sua aldeia. Agora mesmo, o prêmio Nobel de Literatura, José Saramago, conseguiu isso transformando a aldeia onde nasceu nos contos em que a registrou. A ele se junta - basta que a gente cite apenas um, um dos nossos, que se transformou lá fora, tendo livros publicados em vários idiomas - Jorge Amado, que começou com Capitães de Areia. Quando ouço V. Exª, Senador Gilvam Borges, defender o Amapá, que muita gente do Sul talvez nem saiba onde fica - desconhecem que lá é a parte mais setentrional da nossa Nação e que se conhecessem o Oiapoque ao Chuí, situando o Amapá, com a sola dos pés e não apenas por uma leitura às vezes indisciplinada, teriam um pouco mais de brasilidade -, fico muito alegre. Não foi fácil, para quem fez a sua campanha ao Senado pedalando uma bicicleta, com alto-falante no guidom e um microfone na mão, contra um outro candidato que tinha cinco ou seis trio elétricos, hoje, desta tribuna, defender o seu Estado. Sei o que V. Exª deve ter penado, Senador Gilvam Borges. Quando V. Exª chama a atenção para o chamado pacote econômico, é preciso advertir os intérpretes da lei de que dela deve ser extraído o que é melhor. Esse lado bom deve ser ampliado e desprezado o que é nocivo. Vou ter a honra de sucedê-lo na tribuna, depois de ouvir o Senador Lúcio Alcântara - claro que sem o brilho de que V. Exªs dispõem às mãos-cheias -, mas vou tocar no problema do aposentado. A ânsia de aparteá-lo foi para que, ao final, V. Exª estivesse certo de que eu não queria que concluísse o seu discurso sem a minha solidariedade.

O SR. GILVAM BORGES (PMDB-AP) - Nobre Senador Bernardo Cabral, agradeço a V. Exª pelo aparte que, como sempre, me honra. Quero dizer que sempre sigo um ditado popular: “Diz-me com quem andas que eu te direi se vou contigo”, e eu estou contigo e gozo dessa sabedoria e dessa companhia. O aparte de V. Exª estará registrado nos Anais desta Casa, e quando em minhas caminhadas eu disser que o grande jurista, Senador Bernardo Cabral, aparteou-me no Senado Federal, será um motivo de honra para mim.

Portanto, encerro a minha falação, Sr. Presidente, agradecendo a paciência de V. Exª que, já com seus cabelos brancos, vindo do Acre, realmente tem trabalhado bastante pelos interesses da nossa região.

Obrigado, Sr. Presidente, Srs. Senadores, e um grande abraço ao eminente Senador Artur da Távola que está ali muito preocupado, já analisando o pronunciamento que fará brevemente.

Um grande abraço.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 31/10/1998 - Página 14830