Discurso no Senado Federal

GRAVIDADE DA SECA NOS AÇUDES DA PARAIBA. DEFESA DA TRANSPOSIÇÃO DAS AGUAS DO RIO SÃO FRANCISCO.

Autor
Ronaldo Cunha Lima (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/PB)
Nome completo: Ronaldo José da Cunha Lima
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
DESENVOLVIMENTO REGIONAL.:
  • GRAVIDADE DA SECA NOS AÇUDES DA PARAIBA. DEFESA DA TRANSPOSIÇÃO DAS AGUAS DO RIO SÃO FRANCISCO.
Publicação
Publicação no DSF de 11/11/1998 - Página 15782
Assunto
Outros > DESENVOLVIMENTO REGIONAL.
Indexação
  • COMENTARIO, GRAVIDADE, SITUAÇÃO, SECA, AÇUDE, MUNICIPIOS, ESTADO DA PARAIBA (PB), AMEAÇA, QUALIDADE DE VIDA, POPULAÇÃO.
  • DEFESA, TRANSPOSIÇÃO, AGUA, RIO SÃO FRANCISCO, SOLUÇÃO, SECA, REGIÃO NORDESTE, CUMPRIMENTO, PRESIDENTE DA REPUBLICA, PROMESSA, CAMPANHA ELEITORAL.
  • COMENTARIO, ARTIGO DE IMPRENSA, PERIODICO, GLOBO CIENCIA, ESTADO DO RIO DE JANEIRO (RJ), DIVULGAÇÃO, ALTERNATIVA, BUSCA, AGUA, SUBSOLO.

       O SR. RONALDO CUNHA LIMA (PMDB-PB. Pronuncia o seguinte discurso) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, faz poucos dias que falei sobre o Boqueirão, o açude de 536 milhões de metros cúbicos que está secando. Falei sobre a iminência dessa tragédia. O desespero de Campina Grande e das cidades vizinhas e a agonia de mais de 500 mil pessoas. Trouxe dados técnicos alarmantes, informações preocupantes e gritos alucinantes . E fiz apelos dramáticos.

       Agora, quando mal termino de gritar por Campina, eis que me chegam gritos desesperados de outras cidades e de outras regiões. VACA BRAVA também está secando. Os açudes de CAPOEIRA, JATOBÁ e FARINHA, em Patos, também estão secando. O açude de SÃO JOSÉ DE PIRANHAS também está secando. O açude TAPEROÁ também está secando. É quase a população inteira de um Estado inteiro ameaçada de sede, de morrer de sede. Relatório do engenheiro e professor João Ferreira Filho aponta que mais de 60% dos açudes da Paraíba já secaram ou estão secando e, que em breve, apenas três mananciais, ainda, estarão com capacidade de atender a demanda: Gramame/Mamoaba no litoral, Coremas/Mãe D’água e Engenheiros Avidos, no sertão.

       Queira Deus que as previsões técnicas não se confirmem e as chuvas cheguem logo e o suficiente para reabastecer os reservatórios ameaçados.

       Temos que aumentar a nossa fé em Deus, sem reduzir a nossa crença nos homens. Temos pedido a transposição das águas do São Francisco e a transposição das águas do São Francisco nos tem sido prometida. Só faz um século que nos prometem e nem por isso perdemos a esperança na promessa. Mas, agora, tenho certeza, ela vai ser cumprida. O Presidente Fernando Henrique Cardoso vai honrar a sua e a palavra dos que também prometeram e não puderam cumprir. A transposição nos parece ainda a melhor solução, porque é definitiva, é viável e racional. E não é cara, já o dissemos aqui outras vezes. Há promessas e há projetos. Há projetos e há recursos, o que falta mesmo é a vontade política de fazê-la. Uma outra transposição, e bem mais barata, também é sugerida por técnicos como solução. As águas do Rio Piranhas ou do Rio Piancó, em vez de correrem todas para o Estado do Rio Grande do Norte, poderiam, em parte, também nos socorrer. Essa solução é defendida, desde 1995, pelo Dr. Heber Pimentel Gomes e seu custo corresponderia, mais ou menos, a um terço do valor estimado para a venda da SAELPA, a nossa companhia de eletricidade. Afora a transposição, uma outra alternativa viável é ir buscar água no subsolo, como se fez em Israel e no centro-oeste americano. Aliás, a revista “GLOBO CIÊNCIA”, em seu número 85, sob o título “O PLANETA PEDE ÁGUA” - aponta essa alternativa, além da transposição das águas do São Francisco e transcreve a autorizada opinião do Professor de Hidrogeologia da USP José Amilton Benetti: “a distribuição de águas na superfície é temporária, e os açudes e pequenos rios secam, mas água subterrânea tem de monte”.

       Debaixo do chão esturricado de nosso semi-árido, segundo dados do inventário hidrogeológico do Nordeste, existem três milhões de metros cúbicos de água, cerca de mil vezes o volume da Baía da Guanabara (página 59 da revista citada).

       Não sou contra a construção, no futuro, de novos açudes. Mas de imediato não parece ser a melhor solução. Se os açudes que já existem estão secando, é possível que os novos açudes não venham a encher.

       O problema é agudo e a hora é grave. A hora é de apreensões e de solidariedade. Não é instante para atitudes pequenas, inspiradas em sentimentos menores. Precisamos de condutores de águas claras e não de pescadores de águas turvas. O momento não é de culpas nem de desculpas. É de coragem e determinação. É de grandeza de espírito público e de ação conjunta e solidariedade irmã.

       É hora de esquecer divergências e superar antagonismos políticos ou pessoais. Eu, por exemplo, faço restrições ao atual Governador. Somos militantes de um mesmo partido e divergimos dentro do mesmo partido. E divergimos porque, sendo, como sempre fui, 100% PMDB, não o vejo como PMDB 100%. Divergimos numa convenção partidária, naquela famigerada convenção de junho último, em razão dos fatos gravíssimos denunciados pelo Ministério Público e ainda hoje aguardando o julgamento final da Justiça Eleitoral, depois de alguns julgamentos parciais.

       Mas essas divergências não poderiam nunca se estender ao ponto de não ajudá-lo a ajudar os que estão com sede. Já fui Governador e posso dimensionar suas dificuldades e suas responsabilidades. Quando Governador, no curto período de três anos e três meses, enfrentando com certeza, a fase mais difícil de toda a história administrativa de meu Estado, ainda consegui investir e investir muito em recursos hídricos. Construí a 3ª. Adutora de Campina Grande, iniciada na gestão anterior e fiz uma nova estação de tratamento, em Gravatá. Foi, para Campina, a maior obra pública realizada nos últimos trinta anos. Mas, o açude de Boqueirão tinha água e não havia previsão de redução tão brusca em seu reservatório. Construí a adutora de Patos e, igualmente, fiz a estação de tratamento, obra tida como salvadora daquela querida e tão grata cidade. Mas os açudes de Patos tinham água e não se imaginava que seis anos depois estivessem ameaçados de secar. Cajazeiras cobrava sua 3ª. adutora e a deixei quase concluída. Mas Cajazeiras tinha água. O que não tinha era adutora. Adutora e abastecimento d’água singelos eu os fiz em várias cidades e até distritos. Mas, havia água e a solução reclamada era a construção de adutoras e serviços de abastecimento. O problema agora é que não tem mais água. Os açudes estão secando, as barragens estão secando, nossos reservatórios estão secando. Boqueirão está assim. Vaca Brava está assim. Capoeira e Jatobá estão assim e está assim o açude São José de Piranhas, para citar apenas os que me foram comunicados e com situação mais crítica e ameaçadora.

       O problema agora é arranjar água. Ou trazê-la por transposição, seja de onde for, ou ir buscá-la no subsolo, seja como for. Meu irmão, meu querido e saudoso irmão Fernando Cunha Lima, defendia, já faz anos, as barragens subterrâneas. Ele as construiu em Cabaceiras, implantando e criando ali a cultura de alho, a despeito dos céticos e dos pessimistas. E hoje, Cabaceiras, uma das cidades de mais baixo índice pluviométrico da América do Sul, exporta alho para a América do Sul.

       Convoquei Campina para gritar pedindo água. Convoco, agora, a Paraíba, a se unir para não morrer de sede.

       Só assim nosso grito chegará aos ouvidos dos que podem nos socorrer. Aos ouvidos dos homens ou aos ouvidos dos santos.

       Ouvi-nos São José. Tende piedade de nós e trazei o São Francisco até nós.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 11/11/1998 - Página 15782