Discurso no Senado Federal

VOTO DE LOUVOR AO CARDEAL ARCEBISPO DE SÃO PAULO, D. PAULO EVARISTO ARNS, POR OCASIÃO DE SUA APOSENTADORIA E SUBSTITUIÇÃO A FRENTE DA ARQUIDIOCESE DE SÃO PAULO.

Autor
Pedro Simon (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/RS)
Nome completo: Pedro Jorge Simon
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • VOTO DE LOUVOR AO CARDEAL ARCEBISPO DE SÃO PAULO, D. PAULO EVARISTO ARNS, POR OCASIÃO DE SUA APOSENTADORIA E SUBSTITUIÇÃO A FRENTE DA ARQUIDIOCESE DE SÃO PAULO.
Publicação
Publicação no DSF de 18/11/1998 - Página 16066
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM, PAULO EVARISTO ARNS, CARDEAL, ARCEBISPO, OPORTUNIDADE, APOSENTADORIA, SUBSTITUIÇÃO, DIOCESE, ESTADO DE SÃO PAULO (SP).

O SR. PEDRO SIMON (PMDB-RS. Para encaminhar a votação. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, faço questão de voltar a falar desta tribuna sobre essa matéria. Acho que o Brasil inteiro deve uma homenagem a D. Evaristo Arns, figura singular da vida brasileira que teve presença marcante numa hora muito difícil da história deste País.

Pode-se analisar a vida de D. Evaristo sob vários ângulos. Um deles é o da criação das comunidades de base na grande São Paulo, que visou coordenar, agregar em torno da Igreja a gente mais simples, a gente mais humilde, a gente mais necessitada.

A sua ação durante o regime militar, com seus atos de bravura e destemor, transformaram-no numa espécie de inimigo do sistema militar. Chamo a atenção para a sua atuação permanente na organização da arquidiocese da cidade de São Paulo, que adquiriu uma organização considerada modelo, e para a linha dos seus pronunciamentos, defendendo a tese de que a Igreja deve se voltar para os mais humildes e para os mais necessitados.

Aprendi a respeitar muito Dom Evaristo Arns. Numa fase muito bonita da sociedade brasileira, da Igreja brasileira, Dom Evaristo Arns era uma referência da Igreja, como era uma referência, ainda que pensando diversamente, o Cardeal Dom Alfredo Vicente Scherer, meu amigo, meu conterrâneo da cidade de Porto Alegre, Arcebispo de Porto Alegre.

Dom Evaristo tinha idéias diferentes. Dom Evaristo pensava diferentemente, mas não há dúvida nenhuma de que era um homem de uma dignidade, um homem de uma correção, um homem de uma seriedade invejáveis. Era um homem que defendia idéias e princípios os quais ou se aplaudia ou se divergia, mas mesmo divergindo tinha-se de respeitar.

Dom Evaristo Arns completa o seu tempo. É verdade que também completou o seu tempo o Arcebispo do Rio de Janeiro. Aliás, diga-se de passagem, o Cardeal do Rio de Janeiro completou o seu tempo antes de D. Evaristo Arns e, de acordo com a legislação eclesiástica, antes que D. Evaristo Arns pediu a sua ida, digamos assim, para as “reservas da Igreja”. O Papa houve por bem deixá-lo, mantê-lo - e é seu direito. Ele tem o direito de manter, pelo espaço que quiser - sei lá quantos anos - um bispo, cardeal ou arcebispo que tenha completado tempo, mas que ele acha que deva continuar trabalhando. Sua Santidade achou que o Cardeal do Rio de Janeiro deveria continuar, ainda que tenha pedido aposentadoria anteriormente, e achou que o Cardeal de São Paulo teria de se afastar, ainda que tenha pedido posteriormente. As informações que tenho dão conta de houve um pedido especial de D. Evaristo Arns para que o Papa fosse rápido, porque ele desejava, realmente, afastar-se dos trabalhos da Diocese de São Paulo e gostaria que o seu sucessor, já determinado e escolhido, tivesse mais tempo e mais rapidez para desenvolver a sua atividade.

Neste momento trago o meu abraço a D. Evaristo Arns. Os jornais deste final de semana publicaram, Sr. Presidente, segundo dados da FAO, que mais uma vez, este ano, o Brasil é campeão mundial da injustiça na distribuição da renda. Os índices mais injustos na distribuição de renda no mundo são os brasileiros. Os ricos são cada vez mais ricos, os pobres são cada vez mais pobres, as diferenças entre os que são cada vez mais ricos e os que são cada vez mais pobres aumentam em maior índice aqui do que em qualquer país do mundo.

Esses dados ajudam-nos a entender as ações de Dom Evaristo Arns durante a sua atuação na Catedral de São Paulo. Contra esse estado de coisas levantou-se a sua voz; nesse sentido foi o seu chamamento: cobrar das elites brasileiras a responsabilidade pelas injustiças sociais existentes no País.

Sr. Presidente, todos somos em grande parte responsáveis por esse Brasil que está aí, as elites brasileiras, o Congresso Nacional. Eu, com toda a sinceridade, acho que nós, do Congresso, somos muito mais responsáveis pelas injustiças sociais existentes no Brasil do que o Presidente Fernando Henrique ou do que o Presidente Itamar ou do que o Presidente Sarney. Analisando a atuação dos presidentes Itamar, Sarney e Fernando Henrique, vejo mais propostas, mais esforço no sentido de fazer mais equânime, mais justa a situação social no Brasil do que no Congresso Nacional, onde não vejo uma lei, não vejo uma proposta ser levada adiante e prosperar, dando-nos oportunidade de dizer: “Nós, Congresso, queremos; o Executivo é que não deixa”. Vejo, muitas vezes, o Executivo querer, o Executivo propor, mas o Congresso não permitir.

Neste momento em que a ONU, via FAO, diz que o Brasil é campeão mundial na injusta distribuição da renda, pedimos que se preste uma homenagem a um Cardeal que é um exemplo de quem lutou e de quem se esforçou no sentido de mais justiça, de mais respeito ao cidadão brasileiro.

Transmito daqui o meu abraço muito afetuoso à figura de Dom Evaristo Arns. O Congresso Nacional presta uma homenagem muito justa a um dos grandes nomes da Igreja Católica, a um dos grandes nomes da sociedade civil neste País.

V. Exª, Sr. Presidente, ao fazer o convite para que o Cardeal venha oficiar a missa da qual costumeiramente participamos no final do ano por ocasião dos festejos de Natal faz somar carinho e respeito para com uma pessoa que tudo fez por merecer a gratidão do povo brasileiro.

Muito obrigado, Sr. Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 18/11/1998 - Página 16066