Discurso no Senado Federal

ADIAMENTO DA IMPLANTAÇÃO DA RODOVIA TRANSOCEANICA, NO TRECHO BRASILEIRO LOCALIZADO NO TERRITORIO ACREANO, EM VIRTUDE DO CORTE DE VERBAS ORÇAMENTARIAS PELA EQUIPE ECONOMICA DO GOVERNO FEDERAL. MISSIVA DIRIGIDA A S.EXA. PELO EMBAIXADOR DO BRASIL NO PERU, JOSE VIEGAS FILHO, ALUSIVA A IMPORTANCIA DAS RELAÇÕES ECONOMICAS E POLITICAS ENTRE OS DOIS PAISES, COM DESTAQUE PARA A CRUCIAL QUESTÃO RODOVIARIA.

Autor
Nabor Júnior (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/AC)
Nome completo: Nabor Teles da Rocha Júnior
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA DE TRANSPORTES.:
  • ADIAMENTO DA IMPLANTAÇÃO DA RODOVIA TRANSOCEANICA, NO TRECHO BRASILEIRO LOCALIZADO NO TERRITORIO ACREANO, EM VIRTUDE DO CORTE DE VERBAS ORÇAMENTARIAS PELA EQUIPE ECONOMICA DO GOVERNO FEDERAL. MISSIVA DIRIGIDA A S.EXA. PELO EMBAIXADOR DO BRASIL NO PERU, JOSE VIEGAS FILHO, ALUSIVA A IMPORTANCIA DAS RELAÇÕES ECONOMICAS E POLITICAS ENTRE OS DOIS PAISES, COM DESTAQUE PARA A CRUCIAL QUESTÃO RODOVIARIA.
Publicação
Publicação no DSF de 28/11/1998 - Página 17314
Assunto
Outros > POLITICA DE TRANSPORTES.
Indexação
  • CRITICA, ADIAMENTO, IMPLANTAÇÃO, RODOVIA, SAIDA, OCEANO PACIFICO, RESULTADO, CORTE, RECURSOS ORÇAMENTARIOS, DESTINAÇÃO, CONCLUSÃO, TRECHO, ESTADO DO ACRE (AC).
  • LEITURA, CARTA, AUTORIA, JOSE VIEGAS FILHO, EMBAIXADOR, BRASIL, PAIS ESTRANGEIRO, PERU, DEFESA, IMPORTANCIA, CONSTRUÇÃO, RODOVIA, ESTADO DO ACRE (AC), AMPLIAÇÃO, CONSOLIDAÇÃO, RELAÇÕES DIPLOMATICAS, AMERICA DO SUL.

O SR. NABOR JÚNIOR (PMDB-AC. Pronuncia o seguinte discurso.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, tenho abordado, com freqüência, o problema das conexões rodoviárias do Brasil com os países vizinhos, particularmente a sonhada saída para o Oceano Pacífico, que é, a meu ver, um caminho certo no rumo do desenvolvimento econômico e do progresso social de nosso povo, além de representar papel especial na consolidação das relações intracontinentais, dentro da América do Sul.  

Apesar da atenção com que sempre fui ouvido pelo Plenário, angustia-me a falta de respostas por parte das autoridades e dos setores que seriam beneficiados com a rodovia transoceânica. Pior, ainda: as verbas orçamentárias destinadas à conclusão do trecho brasileiro no território acreano foram sumariamente extirpadas pelos bisturis da equipe econômica que, assim, materializou sua intenção de adiar a implantação da importante estrada para aquilo que Monteiro Lobato chamava de "distante e improvável Dia de São Nunca"...  

E foi nesse clima de desalento que recebi correspondência enviada pelo Embaixador do Brasil em Lima, José Viegas Filho, alusiva à importância das relações econômicas e políticas entre os dois países. Com destaque, evidentemente, para a crucial questão rodoviária.  

Mostrando grande conhecimento dos múltiplos aspectos que identificam o noroeste da América do Sul, o Embaixador José Viegas Filho faz uma análise do papel nele reservado ao Estado do Acre, como caminho obrigatório das rotas para os Andes, Costa do Pacífico, Ásia e Oceania, dentro de acordos e propostas já existentes no grupo que busca acertar as ações dos oito países que compõem aquela parte do Novo Mundo.  

Ressalta ele, no início de sua missiva, justamente esse ponto, afirmando "a importância do Estado do Acre para o desenvolvimento das relações entre o Brasil e o Peru. O Tratado de Cooperação Amazônica estabeleceu uma base multilateral para a cooperação econômica, científica e tecnológica" entre aqueles oito países que o firmaram.  

Merece destaque, também, o registro a respeito da ajuda que o Brasil emprestou à pacificação regional, intermediando e conduzindo "o Acordo de Paz entre o Peru e o Equador, em Brasília, no dia 26 de outubro de 1998. Além de ressaltar a vocação pacífica do Continente", afirma o Embaixador Viegas Filho, "o acordo alcançado estabelece agora novos fundamentos e novas oportunidades para o desenvolvimento e a integração econômica da Região Amazônica".  

O Brasil não pode continuar restrito e confinado à porção lusitana do Tratado de Tordesilhas, tenho afirmado com insistência nesta Casa e em todas as oportunidades que se apresentam. O Brasil não é apenas as maravilhas cariocas, os encantos da Bahia, a pujança econômica de São Paulo; o Brasil é também, e essencialmente, um País de dimensões continentais, com múltiplos interesses e características até mesmo contraditórias. Como diz, com muita propriedade, o Embaixador, em Lima, "no caso específico do relacionamento entre o Brasil e o Peru, a integração e o desenvolvimento compartilhado não podem deixar de ter como atores principais os Estados brasileiros da nossa região noroeste".  

E faço questão de ler, integralmente, os dois últimos tópicos da mensagem que S. Exª me enviou, datada de 16 de novembro corrente:  

"Em especial, tenho o propósito de trabalhar pela construção de uma estrada de rodagem pavimentada entre o Brasil e o Peru, a qual não só estabelecerá um corredor bi-oceânico, de interesse para a macroeconomia dos dois países, mas também, principalmente, porá em contato as populações do noroeste brasileiro e das regiões amazônica e andina do Peru e da Bolívia".  

E conclui: "  

Creio ser esta uma iniciativa de interesse direto para o Estado do Acre e seria importante para o desenvolvimento desta iniciativa conhecer a reação de V. Exª a esse respeito. Acredito que há uma complementaridade natural de interesses entre os habitantes do noroeste brasileiro e das zonas próximas do Peru e da Bolívia. Nesse sentido, a construção da estrada será um importante catalisador que permitirá a criação de um pólo de desenvolvimento nessa região, em que o Estado do Acre se destaca".  

A missiva do Embaixador José Viegas Neto é tão importante que achei por bem respondê-la do modo mais transparente, enfático e otimista: através da tribuna do Senado Federal - para conhecimento de toda a Nação, por intermédio dos seus legítimos representantes, que aqui têm assento. E a minha resposta, como não poderia ser diferente, é de endosso e entusiasmo: todo o apoio que o Embaixador me pedir será dado, de forma irrestrita e calorosa, pois S. Exª demonstrou agudeza de percepção e clareza expositiva - coisas que, para desgraça nossa, são raras no trato das questões amazônicas.  

Gostaria de não usar a velha metáfora do "Gigante Adormecido", mas ela se torna inevitável, quando falamos da Região Norte e do imenso potencial que envolve as relações do Brasil com os países que ali fazem fronteira. É um potencial, aliás, que vai muito além de meras questões de vizinhança, abrange metade do Mundo, chega diretamente à Ásia e a outras regiões que ainda hoje são distantes e exóticas para nós.  

O Brasil precisa acordar para a realidade e para seus aspectos estratégicos, políticos, econômicos e, acima de tudo, sociais. Essa é uma luta que alimenta toda a minha vida pública, nas últimas quatro décadas.  

Portanto, festejo palavras patrióticas e propostas construtivas, como as pronunciadas pelo Embaixador do Brasil no Peru, José Viegas Filho.  

Rogo à Presidência que a transcrição deste meu pronunciamento seja enviada ao Sr. Embaixador e ao Chanceler Luiz Felipe Lampreia, como penhor do apoio do Senado Federal à ação diplomática da atual Administração, digna dos melhores momentos da Casa de Rio Branco.  

Era o que eu tinha a dizer, Sr. Presidente.  

Muito obrigado. (Muito bem!)  

 


Este texto não substitui o publicado no DSF de 28/11/1998 - Página 17314