Discurso no Senado Federal

CONSIDERAÇÕES SOBRE AS POSSIBILIDADES ECONOMICAS DO TURISMO ECOLOGICO PARA O DESENVOLVIMENTO DA AMAZONIA.

Autor
Bernardo Cabral (PFL - Partido da Frente Liberal/AM)
Nome completo: José Bernardo Cabral
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
TURISMO.:
  • CONSIDERAÇÕES SOBRE AS POSSIBILIDADES ECONOMICAS DO TURISMO ECOLOGICO PARA O DESENVOLVIMENTO DA AMAZONIA.
Publicação
Publicação no DSF de 27/11/1998 - Página 17070
Assunto
Outros > TURISMO.
Indexação
  • ANALISE, IMPORTANCIA, INVESTIMENTO, TURISMO, ECOLOGIA, DESENVOLVIMENTO ECONOMICO, REGIÃO AMAZONICA.
  • SAUDAÇÃO, INICIATIVA, FRANCISCO RITTA BERNARDINO, PRESIDENTE, HOTEL, TURISMO, ECOLOGIA, ESTADO DO AMAZONAS (AM).

O SR. BERNARDO CABRAL (PFL-AM) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, volto a ocupar esta tribuna para tratar da questão que representa uma das maiores preocupações de meu mandato de Senador: o desenvolvimento da Amazônia. A insistência com que o faço justifica-se, além das razões originárias do meu compromisso regional, pelo sistemático desprezo dos grandes empresários e dos governos federais em relação ao potencial econômico da Região, num desses casos de cegueira geral difíceis de entender. Nessa região silvestre, que é a maior e uma das mais belas do mundo, os hotéis são ruins e escassos, o turismo é uma atividade marginal, menos importante do que a extração predatória de madeira, e as atividades capazes de preservar a mata e gerar renda, como a caça e a pesca esportivas, são inexistentes! As reservas minerais da região são enormes e poderiam ser exploradas sem que se arrasasse a terra, com o uso de tecnologias modernas de mineração, mas é o garimpo desorganizado e poluidor que predomina. A pesca comercial, óbvia vocação da Amazônia, está sendo prejudicada pelo desmatamento das várzeas.  

O fato é, Srªs e Srs. Senadores, que se pode preservar a Amazônia sem devastá-la, mas só agora essas opções começam a ser discutidas a sério e, mesmo assim, entre grupos pequenos de ecologistas e funcionários do Governo. Até há pouco, a premissa de explorar economicamente a Amazônia era a derrubada da mata. Há alternativas inteligentes que precisam ser testadas.  

A opção mais evidente é o turismo ecológico, modalidade de viagem que está na moda entre turistas americanos, japoneses e europeus, que já se cansaram de fotografar a Torre Eiffel. Em 1996, o ecoturismo movimentou 260 bilhões de dólares, dinheiro gasto em caminhadas pelo Himalaia, passeios em lombo de camelo no norte da África, visita a crateras de vulcão na ilha de Bali. As viagens ecológicas estão crescendo e, agora, abre-se uma oportunidade única para o Brasil. Os ecoturistas mostram-se interessados como nunca em selvas tropicais. A Amazônia é a maior delas, mas o turismo na região é pífio. Em 1996, turistas estrangeiros gastaram 2,3 bilhões de dólares no Brasil, mas apenas 3% dessa quantia foi despendida em passeios pela natureza, divididos entre Pantanal, Amazônia e parques nacionais, como o de Iguaçu, no Paraná.  

É incrível, mas só nas selvas da Costa Rica, país da América Central quase do tamanho do Estado do Espírito Santo, o ecoturismo rendeu 600 milhões de dólares, em 1996. Calcula-se que a Amazônia, 98 vezes maior do que a Costa Rica, tenha recebido apenas 40 milhões, 7% do dinheiro endereçado à Costa Rica.  

Para o seu território de 5 milhões de quilômetros quadrados, a Amazônia é servida por apenas dezessete hotéis dedicados ao ecoturismo, a maioria montada nos últimos anos. É muito pouco. Há espaço para instalar outros trinta hotéis, desde que seja feita uma boa divulgação dos atrativos que a floresta proporciona.  

Felizmente, Srªs e Srs. Senadores, nem tudo se resume às más notícias. Como se sabe, em razão de sua relevância, o turismo vem ocupando cada vez mais as atenções dos meios de comunicação. A revista Newsweek, de 03.08.98, acaba de dedicar um artigo de capa às dificuldades que o turista experimenta quando deseja desfrutar um agradável período de férias, em face da escassez de lugares adequados. No final da matéria, são apontados sete lugares exclusivos que têm condições de satisfazer ao mais exigente turista.  

Surpreendentemente, incluso na reduzida lista, escolhida pelo rigoroso crivo de experientes jornalistas de uma das mais conceituadas e importantes revistas de circulação mundial, aparece um ponto isolado em plena floresta amazônica, próximo de Manaus, à margem direita do rio Negro – o maior tributário do lado norte da bacia hidrográfica do Amazonas: o hotel Ariaú Jungle Towers

A reportagem da Newsweek colocou o cenário bucólico do Ariaú ao lado dos encantos de Paris e de mais cinco locais excepcionais, sugeridos na reportagem como destinos turísticos de excelência. Mais do que um hotel de selva, o Ariaú é um complexo turístico que se aproxima do conceito de " resort", tendo a natureza como atração principal. Construído em perfeita harmonia com a exuberante floresta pluvial, a integração à paisagem e o absoluto respeito à ecologia foram regras básicas que nortearam sua idealização.  

O Ariaú iniciou suas atividades abrigando 10 hóspedes/mês, em 1990. Praticamente dobrando a cada ano sua ocupação, atingiu o patamar atual de 1.800 pessoas/mês, em sua maioria estrangeiros. Recebeu, nos oito anos de sua existência, cerca de 60.000 pessoas.  

Distante 60 quilômetros de Manaus, chega-se ao Ariaú de helicóptero, hidroavião ou barco. São 210 quartos, distribuídos em torres de madeira de 40 metros de altura, que ficam juntas à copa das árvores. Macacos, aves e outros animais costumam circular pelas áreas comuns do hotel.  

O segmento do turismo voltado para a proposta do Ariaú não é o do turismo de massa. Pelo contrário, o hotel é, por definição, um produto de custo elevado. Seus clientes se encontram entre pessoas de boa formação intelectual, com preocupação ecológica, além de sensibilidade suficientemente desenvolvida para perceber e apreciar a beleza sutil dos ecossistemas. Desfrutam boa situação econômica e social, destacando-se entre eles chefes de governo, políticos, professores, cientistas, jornalistas, pesquisadores, artistas e empresários.  

Num tempo em que a Amazônia está sendo atacada por formas de atividades econômicas irresponsáveis, que sugam a riqueza da selva sem repor nada em troca, a iniciativa do complexo turístico do hotel Ariaú Jungle Towers é um exemplo eloqüente da criatividade, do poder de realização e da responsabilidade social da iniciativa privada brasileira.  

O reconhecimento da melhor imprensa internacional vem fazer jus, portanto, ao presidente do Ariaú Amazon Towers Hotel, Dr. Francisco Ritta Bernardino, porta voz do sucesso de uma experiência que, além de comprovar as possibilidades econômicas do ecoturismo na Amazônia, demonstra, exemplarmente, que há soluções racionais para a exploração da mata.  

Por essas razões, Srªs e Srs. Senadores, não pude abster-me de efetuar, com alegria e esperança, o registro desse feito.  

Muito obrigado.  

 


Este texto não substitui o publicado no DSF de 27/11/1998 - Página 17070