Discurso no Senado Federal

HOMENAGEM DE PESAR PELO FALECIMENTO DO ARTISTA PLASTICO VASCO PRADO.

Autor
Pedro Simon (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/RS)
Nome completo: Pedro Jorge Simon
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • HOMENAGEM DE PESAR PELO FALECIMENTO DO ARTISTA PLASTICO VASCO PRADO.
Publicação
Publicação no DSF de 12/12/1998 - Página 18613
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM POSTUMA, VASCO PRADO, DESENHISTA, ESCULTOR, GRAVADOR, ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL (RS).

           O SR. PEDRO SIMON (PMDB-RS. Para encaminhar a votação. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs. e Srs. Senadores, o nobre Senador José Fogaça e eu, e tenho a convicção de que também a nobre Senadora Emilia Fernandes, apresentamos, com muita tristeza, este voto de pesar.

           Faleceu, ontem, em Porto Alegre, Vasco Prado. Escultor, desenhista, e gravador, Vasco Prado nasceu em 1914, em Uruguaiana, na fronteira oeste do Rio Grande do Sul, cidade de campanha, às margens do rio Uruguai, dedicada à pecuária e à agricultura; ligada pela Ponte da Amizade a Paso de Los Libres, na Argentina.

No período de 1947 a 1948, estudou na Escola de Belas Artes de Paris, onde se formou na condição de bolsista do governo francês. Foi quando teve a oportunidade de estudar com os maiores mestres da época, como Fernand Leger e Etiene Hajdu. Generoso, como sempre o foi em sua vida, um homem de bem, qualidade que os amigos destacam, Vasco se deixou entusiasmar com um novo mundo e o novo homem que a revolução socialista plasmava na União Soviética. E se convenceu de que o realismo socialista - um estilo que exerceu grande influência nas artes do mundo todo - representava o melhor caminho para os artistas interessados em dar à arte uma função social.

Junto com outro artista gaúcho, Scliar, conheceu em Paris o gravador Leopoldo Mendez, fundador do Taller de Gráfica Popular, no México. Foi a inspiração para que, na volta, Vasco Prado criasse o Clube da Gravura, em 1951. Acompanharam Vasco nessa empreitada Glauco Rodrigues, Danúbio Gonçalves e Glênio Biachetti.

Em 1960, Vasco lecionou num Atelier Livre da Prefeitura Municipal de Porto Alegre, uma escola de homens e de artes, criada por iniciativa de outro gaúcho de envergadura histórica por sua dignidade e atuação política, que nos deixou há poucos dias, Carlos de Britto Velho. Em 1968, Vasco viajou a Varsóvia, convidado pelo Governo Polonês, onde participou de inúmeras atividades artísticas.

O escultor Vasco alcançou em vida o reconhecimento dos seus contemporâneos. Dele, disse um dos maiores artistas da sua contemporaneidade, Jacob Klintowitz:: “Ele tem a facilidade de dar vida aos materiais inertes. Como escultor trabalha em diversas técnicas com um conhecimento do ofício raríssimo... Desenhista de alto nível, gravador de alto nível, escultor de alto nível”. São exemplos dessa genialidade e do caráter político e polêmico que imprimia em suas obras, os monumentos “Negrinho Triunfante” e “Tiradentes”.

Vasco realizou centenas de exposições no Brasil, na Europa e na América. Suas obras se caracterizam pelo monumental e pelo conteúdo lendário e histórico, com motivos nacionais e regionais. Estão espalhadas por várias partes, desde prédios públicos, como a Assembléia Legislativa do Rio Grande do Sul, (“Tiradentes”), até o Museu ao Ar Livre de Hakone, no Japão. Tem seu nome incluído nas melhores obras sobre artes plásticas, do Brasil e do exterior, como a edição inglesa de Art in Latin América - The Modern Era, 1820-1980, catálogo produzido em Londres. Expôs em bienais e foi motivo de centenas de retrospectivas, servindo também de tema para diversos livros. Foi Diretor do Museu de Arte do Rio Grande do Sul quando fui Governador. Para honra minha, apesar de suas idéias e de seu pensamento político, ele aceitou ser Diretor do Museu de Arte do Rio Grande do Sul no período em que governei o Estado.

Como artista e como homem, Vasco Prado sempre celebrou a vida, que encarava com uma atitude de simplicidade e generosidade. Foi genial ao representar em pedra, em metal e no desenho dois símbolos da vida e da sensualidade: as mulheres e os cavalos.

Eu tinha um carinho imenso por Vasco Prado. Quando fui Governador, muita gente estranhou a dedicação e o carinho que dei à cultura. Primeiramente, criei o Instituto de Cultura do Rio Grande do Sul e, depois, a Secretaria de Cultura. No Instituto de Cultura, eu realizava, quinzenalmente, reuniões com o Secretário da Cultura, Carlos Apel, e com o historiador Décio Freitas, Presidente do Conselho; ali, às vezes, eu ficava das 21 horas às 2 horas da madrugada.

E o Fogaça sabe, porque é um artista. Aliás, quero dar meus cumprimentos à Direção do Senado, porque um dos melhores programas da TV Senado a que assisti foi exatamente o dedicado ao Fogaça e à sua esposa. Ele é um artista excepcional e extraordinário. Às vezes, pergunto-me se não sou culpado por termos aqui - é um grande Senador, é verdade - um artista, um poeta e um músico de primeira grandeza, como é o Fogaça.

O Fogaça sabe melhor do que eu que, no mundo artístico, os homens que tratam da pintura olham de determinado modo para os homens que tratam da escultura; os homens que tratam da escultura olham de maneira especial para os homens que tratam do cinema, e assim por diante, os homens que tratam do cinema olham de determinada maneira para os homens que tratam da literatura. Reunir toda essa gente, todos esses gênios, e conversar para criar entendimento foi algo que me emocionou. Isso foi difícil, muito difícil. E lá estava Vasco Prado debatendo, discutindo e participando o tempo todo.

Ele morreu exatamente no dia de ontem. Nasceu em 1914 e morreu trabalhando. Trabalhou, naquele dia, numa das obras mais bonitas que ele estava fazendo. Morreu praticamente dormindo.

Vasco Prado deixou uma filha de onze anos, que nasceu quando ele tinha 73 anos - é uma ligação que tenho com ele. Tenho um filho que nasceu quando eu tinha 65 anos; assim, fui procurá-lo e pedi que ele me orientasse. Ele morreu com 84 anos, deixando-a com 11 anos de idade. Ele me dizia que sua filha tinha sido uma luz que havia entrado em sua vida, em sua escultura, em seu trabalho, em sua atividade. Ela era o que de mais belo e mais grandioso ele tinha. Juntamente com o carinho de seus filhos bem mais velhos, aquele raio de luz havia entrado em sua vida.

Sr. Presidente, preocupo-me, porque, nestes últimos anos, os deuses sagrados do Rio Grande do Sul estão morrendo. Morreram o poeta Mário Quintana e o Brito Velho. Fico a pensar: que geração fantástica foi essa! Que geração de grandeza foi essa!

Conversando com colegas meus, às vezes percebo que há vultos de grandiosidade internacional que não chegamos a conhecer. Pode surgir um gênio no Rio Grande do Norte, mas a globalização, a nacionalização, que só nos permitem conhecer os que se destacam no Rio de Janeiro ou em São Paulo, impedem-nos de conhecê-lo. Para ser vitorioso, o artista precisa ir para o Rio de Janeiro ou para São Paulo, porque se estiver perdido no resto do Brasil, seja ele da música, da literatura ou de qualquer outra forma de expressão artística, não existe. Pergunto-me: até que ponto temos que fazer um esforço maior para que o Brasil seja realmente um federação, onde todos tenham chance e oportunidade?

Sr. Presidente, por intermédio de V. Exª, encaminho à Mesa e ao Presidente Antonio Carlos Magalhães uma proposta, em nome do Rio Grande do Sul. Gostaríamos de, no próximo ano, fazer aqui no Senado uma exposição das obras de Vasco Prado, numa homenagem a esse artista pelo que ele foi e representou.

Muito obrigado, Sr. Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 12/12/1998 - Página 18613