Discurso no Senado Federal

HOMENAGEM DE PESAR PELOS QUATRO ANOS DE FALECIMENTO DO MAESTRO TOM JOBIM.

Autor
Benedita da Silva (PT - Partido dos Trabalhadores/RJ)
Nome completo: Benedita Souza da Silva Sampaio
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • HOMENAGEM DE PESAR PELOS QUATRO ANOS DE FALECIMENTO DO MAESTRO TOM JOBIM.
Aparteantes
Artur da Tavola, Francelino Pereira, José Fogaça.
Publicação
Publicação no DSF de 09/12/1998 - Página 18162
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM POSTUMA, TOM JOBIM, COMPOSITOR, CANTOR, ESTADO DO RIO DE JANEIRO (RJ).

A SRª BENEDITA DA SILVA (Bloco/PT-RJ. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão da oradora.) - Sr. Presidente, Srªs. e Srs. Senadores, o dia de hoje não poderia deixar de ser lembrado desta tribuna, apesar de todas as homenagens prestadas a Tom Jobim, porque sei que lhe conceder tributo é, antes de mais nada, reconhecer a brilhante trajetória que o fez um dos mais notórios embaixadores da cultura brasileira. Como hoje a sua partida completa quatro anos, não poderia deixar de homenageá-lo, trazendo à memória de todos a sua biografia.  

Nunca é demais prestar homenagem a homens como Tom Jobim. Nunca é demais ter a oportunidade de relatar alguns fatos que contribuam para que, cada vez mais, tenhamos orgulho de ser brasileiros. A biografia desse grande compositor proporciona-nos imenso brio.  

Tom Jobim nasceu no dia 25 de janeiro de 1927, no meu Estado do Rio de Janeiro, na Rua Conde de Bonfim, na Tijuca. Carioca da gema, foi para Ipanema. De uma certa forma, ele passou por momentos difíceis para se educar. É interessante saber que o resultado do primeiro ano de estudo de Tom Jobim não foi muito bom. Apesar de sua genialidade, ele foi reprovado. No entanto, isso não serviu de intimidação, pois, nos anos seguintes, sua história foi de sucesso.  

Em 1941, quando inicia o seu estudo de piano, talvez eu já estivesse sendo esperada, pois nasci no ano seguinte. Ali brotou o seu potencial artístico e musical. Ele entra para a Faculdade de Arquitetura e, nesse mesmo ano, abandona o curso. Em 1949, casa-se com a também extraordinária e conhecida Teresa Hermanny. No ano seguinte, nasce seu primeiro filho, Paulo Jobim.  

Sua inserção no meio musical, em 1953, com trabalhos na Continental Discos, dá-se com a gravação de músicas de sua autoria que passaram a marcar a vida de muita gente e a minha própria – "Pensando em Você", "Faz uma Semana".  

Lembro ainda de Dick Farney e de Lúcio Alves. Será que não dá saudade de tudo o que essas figuras produziram para a música popular brasileira, para a arte brasileira? Dá muita saudade. Dá saudade de "Tereza da Praia", que Tom Jobim compôs em parceria com Billy Blanco, e de "Sinfonia do Rio de Janeiro". Dá saudade da época em que a parceria com Vinícius de Moraes se materializou, com a estréia da peça "Orfeu da Conceição" em 1956 e, logo em seguida, com o lançamento do LP com o mesmo título. Essa peça foi muito bem recebida no palco do Teatro Municipal do Rio de Janeiro. Tenho certeza de que esse teatro dará lugar — como já tem dado — a espetáculos que deixarão saudades e colocarão, cada vez mais, o Rio de Janeiro como a capital da cultura.  

Também, com saudade, lembro Sílvia Telles, grande parceira de Tom Jobim em "Carícia" e tantas outras músicas, entre as quais destaco o samba-canção "Foi a Noite".  

O Sr. Francelino Pereira (PFL-MG) - V. Exª me concede um aparte?  

A SRª BENEDITA DA SILVA (Bloco/PT-RJ) - Será que estou falando aos ventos? Não, tenho certeza de que não, tanto que estou merecendo o aparte do Senador Francelino Pereira.  

O Sr. Francelino Pereira (PFL-MG) - V. Exª não está falando aos ventos. Quando se fala de Tom Jobim, fala-se da musicalidade brasileira, do Tom do Jardim Botânico, do Tom de Ana e de seus filhos, do Tom de sua casa no alto do Jardim, onde tocava piano sempre que era possível, sempre com a mesma beleza e encantamento. Ele acreditava no Brasil. Sobretudo quando estava lá fora, voltava-se para a música e para o canto do Rio de Janeiro, do seu País. Confesso a V. Exª que tenho uma grande admiração por Tom. E quem não tem essa admiração? Na verdade, ele é uma figura excepcional, que nos emprestou, a nós mineiros, em determinadas tarefas, uma contribuição valiosa. Não sabe V. Exª, mas fui eu o Senador mineiro, então Vice-Presidente e às vezes Presidente em exercício do Banco do Brasil, que coordenei, pessoalmente, toda a armação arquitetônica, a construção e, ao mesmo tempo, os primeiros projetos de funcionamento do Centro Cultural do Banco do Brasil, na 1º de março, no Rio de Janeiro. Durante três anos e meio, chegava ao Rio na quinta-feira à noite ou na sexta-feira e trabalhava para que aquele projeto alcançasse os seus objetivos. A primeira visão era de envolver na iniciativa o apoio da comunidade acadêmica, dos artistas, da imprensa, de toda a comunidade cultural da grande "Cidade Maravilhosa", e esse trabalho foi realizado. Em determinado momento, tornou-se fundamental que visitasse aquela obra não apenas Lúcio Costa e Oscar Niemeyer. Fui ao Jardim Botânico, conversei com Ana Lontra e Tom Jobim, que foi ao Centro Cultural, ainda em construção, para emprestar, com a sua presença, o sentido de construção e de beleza cultural daquele Centro, às vezes tão degradado, que hoje representa um sinal da cultura revitalizada no Rio de Janeiro. E Tom ali compareceu. Depois, quando inauguramos o Centro, com programas em homenagem ao mineiro de Itabira e também a Vinícius de Moraes, ele compareceu, para participar das primeiras festividades, sempre em uma demonstração de carinho com aquela obra ali realizada, que representa um sonho. Agora, quero realizá-la também em Belo Horizonte, transformando aquele conjunto arquitetônico da Praça da Liberdade no Conjunto Cultural da Liberdade da capital mineira. Assim, transmito a V. Exª os meus aplausos por essa homenagem prestada a Tom Jobim. Quando se votou aqui o projeto de mudança do nome do Aeroporto Internacional do Galeão para Aeroporto Tom Jobim, terminamos aprovando uma redação que deve ser conduzida conforme a burocracia e os aspectos técnicos da organização da Aeronáutica do Brasil, mas, na verdade, o aeroporto será chamado simplesmente de Aeroporto Tom Jobim. Não é preciso dizer mais nada: seu nome atravessa o Brasil e o mundo inteiro. Muito obrigado a V. Exª e meus parabéns.  

A SRª BENEDITA DA SILVA (Bloco/PT-RJ) - Senador Francelino Pereira, incluo o aparte de V. Exª em meu pronunciamento, nesta homenagem que fazemos a Tom Jobim. De certa forma, isto me envaidece e me alegra, porque V. Exª deu ao Rio de Janeiro, com sua iniciativa e esforço, o Centro Cultural do Banco do Brasil, que é considerado um dos melhores lugares entre tantos no Estado. Tanto a intelectualidade brasileira como a internacional, quando passam pelo Rio de Janeiro, fazem questão de visitar o local.  

V. Exª deve ter conhecimento de que se trata de um dos grandes centros onde fazemos o nosso point no Estado. V. Exª está de parabéns, porque, além de ser um homem da arte, da cultura é também possuidor de sensibilidade, na medida em que, por onde passa, vai deixando rastros positivos para a cultura de nosso País.  

Fiz questão, Senador Francelino Pereira, de realizar esta homenagem, porque talvez seja a última que poderei prestar, nesta Casa, às figuras ilustres, pois, na próxima semana, já estarei fazendo um pronunciamento de despedida. "Não aprendi a dizer adeus", como diz a nossa música popular, mas estarei, de certa forma, agradecendo a esta Casa e ao Congresso Nacional pela convivência fraterna, já que exercerei a Vice-Governadoria do Estado do Rio de Janeiro.  

Mas a emoção tomou conta de mim e disse que não deixaria de fazer essa homenagem. Sei que muitas têm sido feitas, e o ato de dar ao Aeroporto Internacional do Galeão o nome Tom Jobim é também uma grande e relevante homenagem, pois ele está em nosso coração; não se poderia cogitar outro nome. Junto a essa a minha pequena, sincera e emocionada homenagem, feita pela carioca Benedita da Silva.  

O Sr. José Fogaça (PMDB-RS) - Concede-me V. Exª um aparte?  

A SRª BENEDITA DA SILVA (Bloco/PT-RJ) - Ouço V. Exª com prazer.  

O Sr. José Fogaça (PMDB-RS) - Senadora Benedita da Silva, cumprimento V. Exª pela sensibilidade de relembrar e homenagear neste Plenário figuras marcantes e significativas da história da música popular no Brasil. V. Exª procedeu dessa forma com Pixinguinha e com outros autores, compositores e intérpretes. Recorda agora o nome de Tom Jobim e, por ocasião da morte de Tim Maia, fez uma generosa e comovente homenagem. V. Exª está trazendo para o Senado um valor novo, um elemento novo da mais pura e genuína cultura brasileira. Talvez uma das formas mais ricas, mais criativas, na qual o brasileiro mais mostrou a sua inventividade, sem dúvida alguma, é esse leito de riqueza criadora em que corre a chamada Música Popular Brasileira. Não tenho receio de afirmar que o maestro Antônio Carlos Brasileiro de Almeida Jobim é uma figura que avulta a mesma dimensão de Pixinguinha e de Heitor Villa-Lobos. A mesma revolução da frase musical, o mesmo sentido inovador, a busca do ineditismo, da construção nova da melodia, que presenciamos nas obras de Villa-Lobos e de Pixinguinha, também estão presentes nas de Antônio Carlos Jobim. Tom Jobim foi para a Música Popular Brasileira a síntese mais rica, mais profunda, mais elevada e mais exitosa, sem dúvida alguma, porque atingiu níveis e padrões internacionais. A sua cidade, o Rio de Janeiro, é uma cidade privilegiada, porque é o caldeirão cultural do Brasil. É o sincretismo mais absoluto e radical de todas as tendências culturais brasileiras. O Rio de Janeiro é o Brasil. Ali, os trabalhadores, os imigrantes de outros Estados plantaram suas raízes, desenvolveram seus padrões culturais e dali os disseminaram para todo o Brasil. Quando a Bahia canta, o Rio de Janeiro responde porque é o mesmo povo, a mesma origem. O Bairro da Saúde, no Rio de Janeiro, conforme o livro de história da Música Popular Brasileira de José Ramos Tinhorão, na verdade, foi durante muito tempo o grande nascedouro, a grande fonte, a grande origem de toda a riqueza da música popular no Rio, tanto das músicas que serviram para as escolas de samba como para o samba tradicional. Nesse meio, surgiu um nome de formação clássica, acadêmica: Antônio Carlos Jobim, que recolheu esses elementos, apropriou-os e, após amealhar uma cultura popular, genuína, pura, traduziu para as grandes tendências do folclore urbano de todas as cidades do mundo criando a Bossa Nova, uma dissonância melódica até então considerada inoportuna, inadequada para uma frase musical e que se parece muito com o desafinado. Parece uma forma de desafinar, mas, na verdade, é uma forma de criar novas belezas, novos padrões estéticos. Antônio Carlos Jobim é o grande nome deste século e está no epicentro de toda a riqueza, de toda a beleza, de toda a generosidade criativa do povo brasileiro. Ele é o vulto máximo dessa capacidade de somar inteligência emocional com racionalidade técnica. Creio que não se poderia fazer uma homenagem maior do que aquela que se fez aqui recentemente, aprovando o nome de Tom Jobim para o Aeroporto Internacional do Rio de Janeiro. De qualquer maneira, também não quero deixar de registrar o quanto V. Exª tem mostrado de sua sensibilidade aguçada, que também traduz, demonstra e revela os vínculos que tem com a alma popular do seu povo, do seu Estado, da sua gente, e demonstra, também, que V. Exª valoriza a cultura brasileira. Meus parabéns, e permita que eu me engaje na homenagem que V. Exª faz a Antônio Carlos Jobim, considerando-o o maior deste século em termos de significação nacional e internacional, em termos de significação para nós, brasileiros, para a música em si e também para a cultura brasileira. Obrigado a V. Exª.

 

A SRª BENEDITA DA SILVA (Bloco/PT-RJ) - Agradeço, Senador José Fogaça, o aparte de V. Exª, sempre com brilhantismo, como poeta e grande astro que é, e assim o consideramos. É prazeroso assistir, nesta Casa, a pessoas como nosso Senador Ronaldo Cunha Lima, que desta tribuna sempre nos emociona com sua forma poética de dizer as coisas e de se pronunciar - esse talento que conheço há alguns anos, e V. Exª também. Lamento que algumas pessoas tenham perdido a oportunidade de ouvi-lo no momento cultural do Senado Federal. Penso que V. Exª, além de ser um representante político conhecido e reconhecido, tem também esse talento; um talento que, neste momento, presta homenagem a um outro talento.  

Quero incluir as palavras de V. Exª neste pronunciamento como sendo também a voz da experiência, além do sentimento que V. Exª nutre por Antônio Carlos Jobim e do conhecimento que tem do seu valor.  

O Sr. Artur da Távola (PSDB-RJ) - Permite-me V. Exª um aparte?  

A SRª BENEDITA DA SILVA (Bloco/PT-RJ) - Concedo o aparte a V. Exª, Senador Artur da Távola.  

O Sr. Artur da Távola (PSDB-RJ) - Senadora, é tão difícil interromper um discurso - não gosto de fazê-lo -, sobretudo um discurso de V. Exª sobre o nosso Rio de Janeiro, sobre Tom Jobim, sobre o seu carinho, mas V. Exª passou uma pontinha de tristeza na sua fala, porque está a se despedir desta Casa. Queria dizer a V. Exª que não fique triste, não. O povo do Rio de Janeiro reconheceu o trabalho de V. Exª. Eu, que sento aqui ao seu lado, sei o quanto V. Exª agora está dividida – o telefone não a deixa; são os compromissos do novo Governo, são os compromissos parlamentares que V. Exª quer sempre atender com absoluta precisão, e o faz. E lhe peço que não fique triste. Os franceses costumam dizer que " partir c’est mourir un peu " (partir é morrer um pouco). Mas V. Exª não está partindo; V. Exª estará logo ali, e é suficientemente talentosa e vibrante para que esteja sempre visível onde estiver. Então, como seu companheiro de Bancada do Rio de Janeiro e, digamos assim, um testemunho do seu trabalho pelo Rio, do seu desvelo – aliás, nem sempre reconhecido devidamente –, não quero que V. Exª fique triste, não. Fique alegre. V. Exª vai ter uma oportunidade única e nova na sua vida - é a seqüência natural de uma carreira política. Então, esse sorriso que voltou já recompensou perfeitamente a minha fala. Mas esperamos é o seu discurso mesmo, no dia em que V. Exª deixar a Casa, porque aí, então, vamos dizer tudo o que pensamos, vamos fazer todas as declarações de amor e de respeito que V. Exª merece. Por acaso, Senadora, V. Exª fala em Tom Jobim, e eu ontem tive a oportunidade de lançar um livro sobre os 40 anos da bossa nova no Rio de Janeiro – aliás, no mesmo Paço Imperial onde V. Exª lançou um livro eu tive a oportunidade de comparecer. Portanto, fico duplamente tocado, porque ainda estou no clima desse lançamento, misturado ao clima de uma magnífica entrevista que o Senador José Fogaça, com sua esposa, concedeu à TV Senado e que tive oportunidade de ver no domingo, exatamente a falar sobre música, sobre literatura, sobre a palavra. S. Exª diz que faz música pelo encanto que tem pela palavra. Fui menino na Ipanema de Tom Jobim; fui amigo do Newton Mendonça, que foi o primeiro parceiro dele no "Desafinado" e no "Samba de Uma Nota Só"; conheci a família da Tereza, mulher dele, e conheço-lhe a irmã; e com ele algumas vezes estive, embora nunca tenha tido a oportunidade de ter sido amigo diretamente, como gostaria. Aliás, há pessoas que são nossos amigos distantes. São amigos com quem nunca conversamos. Quantas pessoas há assim. E posso, portanto, quero e desejo acentuar como é importante V. Exª estar a destacar essas qualidades. Realmente o Tom Jobim tem um contato com a lírica brasileira, com a alma e o lirismo brasileiro, muito profundo. E ele foi chegando a esse contato aos poucos. Tinha uma formação muito marcada do Radames Gnatalli e do Villa Lobos. Ele era um apreciador das canções do Villa Lobos, das orquestrações do Radames Gnatalli. Mas ele tinha que sobreviver, e foi sobrevivendo como pianista de boate; fazia uns arranjos e também foi fazendo as suas músicas. Aos poucos, o sucesso foi permitido ao Tom, depois de muitas pancadas, porque as pessoas incorporavam a bossa nova a uma alienação política - o que era uma tolice completa -, ou a uma alienação, porque tinha raízes no jazz, o que era outra tolice. O jazz tem a mesma origem negra do samba brasileiro e da música do Caribe. Portanto, essa origem maravilhosa, que é o que dá força, seiva, ritmo, justamente proclama aquilo que o negro aclama: sua luta pela liberdade, sua capacidade de amar, a importância da sua contribuição cultural, que é milenar. Então, à medida que a música incorpora o jazz, ele está incorporando o que o negro americano colocou no jazz e obrigou uma sociedade que esmagava o negro a se dobrar diante dessa qualidade. O Louis Armstrong viveu o mesmo problema nos Estados Unidos. Ele era considerado, por setores mais radicais do movimento negro, como alguém que estava a embranquecer o jazz. E ele dizia que, ao contrário, estava fazendo os brancos cantarem, tocarem, comprarem os discos de jazz. Ele havia entrado no circuito comercial de grande sucesso - e merecido, pelo seu talento, por tudo que representava. O Tom, portanto, tem essa brasilidade intrínseca, que, depois, então, se acentua quando, já podendo dar vazão ao que ele era como pessoa, entra na última fase da sua criação, já depois da bossa nova, que é essa fase do amor à terra, de ecologia, de redescoberta do pássaro brasileiro, da floresta, de defesa de tudo aquilo que são grandes temas que encantam a nós todos. Não quero interromper V. Exª, mas eu não poderia deixar de dar uma palavra rápida sobre o Tom. Tenho vontade de ficar aqui a falar horas sobre isso, mas faço aqui na Rádio Senado um programa e tenho oportunidade de falar muito tempo. Só não quero ver V. Exª com ar de tristeza porque vai nos deixar; quero ver esse sorriso permanentemente em seus lábios.  

A SRª BENEDITA DA SILVA (Bloco/PT-RJ) - Senador Artur da Távola, agradeço a V. Exª pelo aparte.  

Aprendi na Bíblia algo muito importante: que a tristeza do coração tira a formosura do rosto. Neste momento, sinto-me um tanto quanto emocionada por estar recebendo esta homenagem. V. Exª, brilhantemente, em seu aparte...  

O Sr. Artur da Távola (PSDB-RJ) - Desculpe-me interrompê-la. Não posso contestar a Bíblia, mas no seu caso ela errou.  

A SRª BENEDITA DA SILVA (Bloco/PT-RJ) - Quero dizer que o carinho de V. Exª me faz aumentar o sorriso. Estou até com dificuldades para sorrir um pouco mais - tenho um sorriso bem largo - , mas ainda estou sob os efeitos de minha recente cirurgia. Estou aqui, de certa forma, tentando não abrir tanto o sorriso. Por que não fazê-lo se V. Exª reclama? Creio que é para isso que sorrimos: para expressarmos nossos sentimentos e para nossos amigos.  

V. Exª disse-nos algo interessante: que há pessoas que nem sabem que somos suas amigas. V. Exª foi amigo de Tom Jobim. Não tão próximo, não tão íntimo. Tom Jobim possui, no Senado Federal, vários amigos, amigos que se revelam através do carinho, do conhecimento de toda sua vida. Gostaria de dizer a V. Exª que também faço parte do grupo de pessoas que são amigas de outras mesmo que estas não saibam disso. E V. Exª é uma dessas pessoas, de quem pude, com muito carinho, aprender a gostar, a amar e tornar-me amiga.  

Eu dizia que era e pronto. Se alguém falasse do Paulo, eu respondia "não sei". Mas do Artur tenho intimidade. Era a intimidade de ler os seus escritos, a intimidade de vê-lo na defesa dos interesses do nosso Estado, de vê-lo representando o nosso Estado e de ver, aqui nesta Casa, o empenho e o desempenho de V. Exª, com quem certamente estaremos contando para a continuidade daquilo que nossa Bancada do Estado do Rio de Janeiro tem iniciado.  

Mas quero dizer, Sr. Presidente, que, quando temos apartes tão brilhantes como estes nessa homenagem que tentava prestar em cinco minutos a Tom Jobim, é hora de parar. Parar no brilhantismo dos apartes que extrapolaram, sem dúvida, os meus escritos ou minhas palavras, para agradecer a benevolência da Presidência. Como sei que é sensível à arte e à cultura e, ao ver tantos outros poetas sob a responsabilidade de V. Exª, também não foi possível acender as luzes mesmo depois de encerrado o meu tempo.  

Encerro lembrando que "Garota de Ipanema" é a música que traduz a menina que freqüenta aquele bairro. Mas, desde cedo, fui uma menina de Ipanema, onde eu ganhava mais dinheiro, porque lá fazia meus carretos. Havia naquele bairro uma feira enorme que existe até hoje e que marcou minha vida. A música "Garota de Ipanema", no outro sentido, também marcou minha vida. Por isso, não poderia deixar de prestar esta homenagem e concluir com "Garota de Ipanema". Se eu tivesse a voz de Elizete Cardoso, de Elis Regina ou de tantas outras, certamente cantaria nesta tribuna. Como não tenho, faço apenas o coro da nova banda, faço o coro para viver um grande amor, lembrando de Tom Jobim.  

Muito obrigada, Sr. Presidente.  

 

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Este texto não substitui o publicado no DSF de 09/12/1998 - Página 18162