Discurso no Senado Federal

ULTIMO PRONUNCIAMENTO DE S.EXA., CUMPRINDO MAIS UMA ETAPA DE SUA VIDA PUBLICA A SERVIÇO DO ESTADO DE MATO GROSSO DO SUL.

Autor
Levy Dias (PPB - Partido Progressista Brasileiro/MS)
Nome completo: Levy Dias
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
ATUAÇÃO PARLAMENTAR.:
  • ULTIMO PRONUNCIAMENTO DE S.EXA., CUMPRINDO MAIS UMA ETAPA DE SUA VIDA PUBLICA A SERVIÇO DO ESTADO DE MATO GROSSO DO SUL.
Aparteantes
Casildo Maldaner, Eduardo Suplicy, Marluce Pinto.
Publicação
Publicação no DSF de 29/01/1999 - Página 2385
Assunto
Outros > ATUAÇÃO PARLAMENTAR.
Indexação
  • CONCLUSÃO, MANDATO PARLAMENTAR, DESPEDIDA, ORADOR, AGRADECIMENTO, SENADOR, REGISTRO, ATUAÇÃO PARLAMENTAR, BENEFICIO, ESTADO DO MATO GROSSO DO SUL (MS), ESPECIFICAÇÃO, DEFESA, PRODUTOR RURAL, MELHORIA, EDUCAÇÃO, VALORIZAÇÃO, MUNICIPIOS, DESENVOLVIMENTO REGIONAL.

O SR. LEVY DIAS (PPB-MS. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, hoje é um dia especial, de muita emoção para mim, pois este meu último pronunciamento da tribuna do Senado Federal representa um término de mais uma etapa da minha vida como homem público a serviço do Estado de Mato Grosso do Sul e de seu povo.  

Dessa forma, alguns dias antes do encerramento do meu mandato, apresento meus agradecimentos e meus abraços de despedida a meus colegas Senadores, compatriotas que aprendi a respeitar e a admirar desde as primeiras oportunidades de convivência parlamentar e amiga.  

No entanto, a despedida que faço não é um adeus definitivo, mas sim um até logo, pois, se deixo o Senado Federal, não abandono a vida pública. Continuarei minha luta político-partidária em meu Estado e espero, em breve, voltar ao Congresso Nacional, seja para exercer um novo mandato, seja para rever os amigos que aqui ficam.  

Nesta Casa, Sr. Presidente, bem como anteriormente na Câmara dos Deputados, tive a oportunidade e a honra de fazer grandes amigos e de identificar vários companheiros de luta. Luta pelos mesmos ideais que me levaram a enfrentar diversas eleições, luta pelas liberdades democráticas e para maior garantia do exercício da cidadania, luta por melhor qualidade de vida para todos os brasileiros.  

Após ocupar por duas vezes o cargo de Prefeito de Campo Grande e, por uma vez, o de Deputado Estadual do antigo Estado de Mato Grosso, aprendi muito sobre a política e a realidade da região, o que me deu condições para representar, por três mandatos, com imensa honra, o povo sul-mato-grossense na Câmara dos Deputados.  

Em 1990, os meus coestaduanos elegeram-me como representante do Estado no Congresso Nacional e, em 1991, iniciei um mandato de oito anos como Senador da República.  

Na Capital Federal e, mais especificamente, nesta Casa da qual hoje me despeço, sempre defendi os interesses maiores do Estado do Mato Grosso do Sul, atuando não só neste augusto Plenário e nas comissões do Senado, mas, também e principalmente, nos ministérios e em outros órgãos do Poder Executivo, reivindicando obras, assessoramento técnico e verbas para o Governo do Estado e para as prefeituras, fossem os governantes do meu partido ou de outros.  

Ex-Governadores - que também foram Senadores, como Pedro Pedrossian, Marcelo Miranda e Wilson Martins - são testemunhas do meu trabalho dedicado, sem olhar partidos e voltado para o engrandecimento do Estado de Mato Grosso do Sul.  

Pautei minha conduta como Senador da República sempre de forma digna e ilibada, lutando, muitas vezes ardorosamente, em defesa de quem produz as riquezas da Nação, especialmente de nossos produtores rurais.  

Muito jovem, aprendi que, na vida, o ser humano não tem várias opções para se desenvolver e ser útil à sociedade, mas, sim, um único caminho: o do trabalho, com honestidade e fidelidade à verdade e à justiça. Por isso, sempre valorizei quem trabalha, de modo muito especial quem trabalha a terrra, quem produz alimentos.  

Infelizmente, os verdadeiros produtores da riqueza nacional não têm sido devidamente respeitados e valorizados.  

Por olhar com sensibilidade para quem trabalha e produz, batalhei arduamente contra as altas taxas de juros, as quais dificultam maiores investimentos na produção e, conseqüentemente, impedem a geração de novos empregos. Elas contribuem, por um lado, para levar à falência e matar quem trabalha, produz, gera empregos e paga impostos, e, por outro lado, privilegiam o ócio e beneficiam o crescimento da especulação e da agiotagem, problema que hoje sacrifica o nosso País.  

Em especial, Sr. Presidente, propugnei também pelo desenvolvimento educacional, acreditando na juventude e no futuro deste País, certo de que só seremos realmente um país desenvolvido quando tivermos educação de qualidade para todos e com oportunidades de acesso desde a educação infantil até o ensino superior.  

Provavelmente por ter vivenciado por duas vezes as dificuldades, os problemas e as alegrias dos prefeitos municipais, sempre fui um municipalista e batalhei pelo desenvolvimento regional e pela descentralização tanto das decisões e da aplicação dos recursos públicos quanto da execução dos programas educacionais.  

Além dos cargos de 2º Vice-Presidente e de 3º Secretário da Mesa Diretora, ocupados graças à honra dos votos e ao apoio dos meus colegas Senadores, participei, como membro efetivo, de várias comissões mistas e permanentes, ressaltando entre elas a de Assuntos Econômicos, a de Educação, a de Relações Exteriores e Defesa Nacional e a de Orçamento. No exercício dos cargos da Mesa Diretora, tive a satisfação imensa de presidir os trabalhos do Senado da República por quase duas centenas de vezes, inclusive a sessão solene que deu posse aos Srs. Senadores da atual legislatura. Desempenhei minhas funções contando com a colaboração dos meus nobres Pares, dos quais sempre recebi manifestações de apoio, de respeito e de cordialidade. Sempre estive presente em todos os momentos importantes desta Casa. Tive a satisfação de contribuir para a extraordinária mudança pela qual passou esta Casa nos últimos oito anos, nas gestões profícuas de excelentes Presidentes, cujos nomes honram a história recente deste País: Mauro Benevides, Humberto Lucena, José Sarney e Antonio Carlos Magalhães.  

O cenário que se descortina para o Senado Federal é o de um ingresso no século XXI devidamente preparado para os embates que virão, graças ao que foi construído nestes últimos anos.  

Atualmente, o Senado Federal encontra-se em condições de realmente representar os interesses maiores de todas as Unidades da Federação e de bem desempenhar o importante papel de guardião dos princípios federativos republicanos e democráticos.  

O Senado do Brasil é uma instituição devidamente preparada para a quarta onda, como diria Alvin Tofler, pois já vive a era da informatização e da tecnologia, o que permite mais eficiência em sua estrutura organizacional e maior rapidez no processo legislativo e de comunicação. Esse sucesso se deve à visão e à atuação eficaz das últimas administrações da Casa, às mudanças implementadas e aos novos instrumentos que já estão em plena operação, como a fábrica de softwares; a Rádio Senado e a TV Senado ; os novos canais de comunicação com a sociedade, como o acesso via Internet a muitas informações antes mais restritas; o desenvolvimento e treinamento permanente do pessoal da Casa e a modernidade de seus equipamentos e suas instalações.  

Tudo isso, Sr. Presidente, enche de orgulho qualquer brasileiro. E tive a honra e a satisfação de participar não só desse processo de atualização do Senado, como também da modernização das instituições democráticas brasileiras, principalmente no período da Assembléia Nacional Constituinte e depois como Senador da República.  

Destarte, ao encerrar este pronunciamento, estou tão emocionado quanto quando entrei pela primeira vez neste Plenário. Chegar até aqui era para mim um sonho muito distante. Mas, acreditando que, quando o homem sonha, é capaz de inventar o futuro, saí da minha terra natal, Aquidauana, com 19 anos de idade, para a belíssima e acolhedora Campo Grande para servir ao Exército brasileiro, cidade que depois se transformou na capital do novo Estado e que tive a oportunidade de governar por duas vezes. Plantei e colhi muitas amizades, procurando sempre servir a quem precisasse da minha ajuda. O resultado foi a carreira política, que me trouxe a esta Casa.  

Terminando, apresento minha homenagem especial às Mesas Diretoras do Senado Federal, que, em período tão curto da nossa história, erigiram tanto e deixaram um legado que se constitui em um imenso patrimônio de informação, para as novas gerações continuarem construindo a democracia brasileira e a integração continental.  

Por tudo o que aprendi no Senado e pela amizade demonstrada pelos nobres colegas, expresso os meus mais sinceros agradecimentos, os quais dirijo também aos prestimosos e competentes funcionários desta Casa.  

Meu agradecimento maior vai para o Supremo Arquiteto do Universo, que me proporcionou oportunidades extraordinárias de sucesso na luta pelos meus ideais.  

A Srª Marluce Pinto (PMDB-RR) - V. Exª me concede um aparte?  

O SR. LEVY DIAS (PPB-MS) - Ouço com muita honra a Senadora Marluce Pinto.  

A Srª Marluce Pinto (PMDB-RR) - Senador Levy Dias, não têm sido fáceis as emoções que nestes últimos dias temos enfrentado aqui no Plenário do Senado com os discursos de despedida dos nossos nobres colegas. Recordo-me muito bem da época da Constituinte, em que fomos Deputados juntos; sempre acompanhei o seu trabalho, principalmente em prol da defesa dos agricultores, aqueles homens e mulheres tão sofridos que sabemos que tanto labutam em todas as regiões do nosso País e que não têm sido beneficiados como realmente merecem. Ouço-o atentamente no dia de hoje, sabendo ser este o último discurso que profere nesta legislatura e que não contaremos com sua presença por mais quatro anos. No entanto, tenho certeza de que, com a sua dedicação no decorrer desses doze anos no Parlamento - quatro como Deputado Federal e oito como Senador -, o povo de Mato Grosso do Sul não se esquecerá da sua benevolência e do grande trabalho que realizou. Tenho certeza de que a sua vida pública não se está encerrando hoje e que terá continuidade, porque jamais o povo do seu Estado poderá prescindir da sua valorosa cooperação. Então, como sua colega, quero lhe desejar muitas felicidades e dar os parabéns ao povo de Mato Grosso do Sul pelo excelente trabalho elaborado por V. Exª no decorrer desses doze anos. Rogamos a Deus que esta não seja uma despedida definitiva e, sim, um até breve. Saiba V. Exª que pode contar com a amizade desta sua Colega, que o acompanhou durante esse período. Obrigada pelo aparte.  

O SR. LEVY DIAS (PPB-MS) - Sou eu quem agradece, Senadora Marluce Pinto.  

Concluo, hoje, vinte anos de Congresso Nacional - doze anos como Deputado Federal e oito anos como Senador. Não levo, dentro do meu peito, dentro do meu coração, nenhuma queixa, mágoa, aborrecimento ou tristeza. Acho que Deus me deu muito, e o povo do meu Estado também.

 

Fico sensibilizado com suas palavras, porque, nesses vinte anos na Câmara e no Senado, aprendemos muito. Talvez uma parcela da população brasileira não tenha conhecimento de que, dentro desta Casa, há três Senadores de cada Estado, independentemente de seu tamanho: o seu pequenino Estado de Roraima, o meu pequenino Estado de Mato Grosso do Sul ou o grande Estado de São Paulo possuem três Senadores, porque aqui se forma o equilíbrio da Federação brasileira. Isso permite a todos nós, que aqui convivemos, conhecer um pouquinho de cada Estado pela palavra de seus Senadores.  

Como admiro o Senador Ronaldo Cunha Lima, o qual preside a sessão neste momento, que trouxe para esta Casa, junto com os demais Senadores da Paraíba, informações sobre o que ocorre nesse Estado e no Nordeste brasileiro! Posso conhecer o seu Estado através da sua palavra e da dos Senadores de seu Estado, ou posso conhecer mais de perto o Estado que sempre digo que é o modelo da produção rural brasileira, Santa Catarina, por meio de sua representante, Senadora Sandra Guidi, que há pouco falou, ou do seu ex-Governador, Senador Casildo Maldaner. Enfim, de cada Estado brasileiro tiramos um pouquinho de conhecimento, o que acaba construindo, dentro de nós, um conhecimento profundo e vasto do que ocorre em toda a Nação brasileira. Assim, podemos fazer um juízo mais consolidado sobre o nosso País e sobre o nosso povo.  

Anteontem, quando sabatinávamos o futuro Presidente do Banco Central, hoje aprovado pelo Senado da República, poderíamos tirar, daquela reunião da Comissão de Assuntos Econômicos, por meio da palavra de cada um dos seus Senadores, de diferentes Estados, a avaliação do momento atual, momento de dificuldades e de muitos debates. Hoje, o mundo é completamente diferente daquele de há dez ou quinze anos. Hoje, vivemos no mundo dos tecladinhos de computador da era da globalização e, sinceramente, ainda não conseguimos avaliar se isso é bom ou ruim, pois, através deles, o dinheiro é manipulado pelo mundo, sem gerar riquezas, empregos, produção ou felicidade.  

Deus colocou os homens no mundo e, através dos anos, estes, as mulheres, os jovens e as crianças buscam a felicidade. No entanto, vemos nosso País, neste momento, encostado na parede pela ganância, pela avareza, pela busca do ganho fácil, não através do trabalho. Senadora Marluce Pinto e demais Senadores, pergunto-me, todos os dias, até onde iremos suportar o que ocorre no mundo globalizado. Quem vai pagar essa imensa conta, esse desespero, essa angústia gigantesca do mundo todo em amealhar recursos?  

Daí vem a minha grande admiração pelo povo que trabalha, que sua a camisa, que constrói a riqueza nacional: o pequenino empresário, o médio empresário, o grande empresário, que, através do seu trabalho, do seu suor, da sua luta, da sua esperança, labuta para construir riqueza com lastro. Pergunto-me, todos os dias, se esse volume de dinheiro que circula por meio dos tecladinhos mundiais tem lastro.  

O povo catarinense - e cito novamente Santa Catarina por ser, talvez, o Estado brasileiro de produção rural mais equanimemente distribuída - trabalha e constrói a grandeza do nosso País; o meu Estado, Mato Grosso do Sul, é voltado para a produção rural. Não somos produtores de chips, mas produzimos alimentos e, hoje, quando ligamos nossas televisões, temos conhecimento, dentro de nossas casas, do que significa a fome mundial. Por isso, repito o meu grande respeito e admiração por todas as pessoas que trabalham pela construção de um Brasil melhor, muito especialmente pelo cidadão mais importante de qualquer nação: aquele que produz comida.  

Agradeço, de coração, o seu aparte. Ele me deixa feliz porque trabalhamos tantos anos juntos e participamos de lutas políticas. Hoje, quero incluir no meu humilde e despretencioso pronunciamento as palavras de V. Exª, que muito me honram.  

O Sr. Casildo Maldaner (PMDB-SC) - V. Exª me permite um aparte?  

O SR. LEVY DIAS (PPB-MS) - Ouço com prazer V. Exª.  

O Sr. Casildo Maldaner (PMDB-SC) - Senador Levy Dias, todos que aqui estamos - eu, catarinense, a Senadora Sandra e tantos outros - temos uma admiração profunda pelas suas lutas. Veja bem, são vinte anos de Congresso Nacional; se bem sei, dois mandatos de prefeito que, no mínimo, significam oito anos; se bem ouvi, outros tantos como Deputado Estadual do antigo Mato Grosso, e lá se vão mais de trinta anos de mandato, oriundo das urnas. Mais de trinta anos de mandato, e V. Exª, pelas propostas e temas que aborda, se despede hoje como quem procura iniciar suas atividades. Até parece um pronunciamento de chegada, de busca de soluções para o País nesses novos tempos. É um Senador que se despede mas, ao mesmo tempo, traz sugestões de como devemos resolver as questões. É como quem diz que não vai se aposentar; vai, isto sim, continuar a lutar pela solução dos temas que aqui se apresentam, que não virá dos tecladinhos, conforme diz V. Exª. Não produzimos chips no meu Estado, mas alimentos, que é o que oferece estabilidade e garantias, uma vez que não se podem jogar os recursos, mecanicamente, de um lado para o outro a todo instante. Quer dizer, é dessa forma que encontraremos soluções e é por isso que, dentre os diversos temas que V. Exª defendeu nesta Casa – e aprendi a admirá-lo por todas essas lutas –, destacaria a interiorização do desenvolvimento, a luta pelas pequenas comunidades, a ocupação equânime do Brasil, como ocorre em nosso Estado, descentralizando o desenvolvimento – e essa é a sua luta. Essa é uma expressão que já usei, V. Exª também, e não canso de repeti-la, porque hoje as grandes metrópoles passam por problemas sérios. Eu destacaria três deles: habitação, saneamento básico e segurança. E, se descentralizarmos, por meio de incentivos, para fazer que se leve emprego, educação, saúde e lazer para o interior, para as pequenas comunidades, estaremos levando a distribuição de direitos e de bem-estar. Estaremos interiorizando o desenvolvimento. Sempre notei que essa é a pregação de V. Exª nesta Casa. Estaremos ajudando o Brasil e suas grandes metrópoles, em todos os sentidos, por intermédio da ocupação do País. Penso que esta tese é fundamental. Por isso, a par de meus cumprimentos, vejo em V. Exª não o irmão catarinense, mas, acima de tudo, um irmão brasileiro. Não é despedida, não. Parece um pronunciamento de chegada, como quem diz: "sou um guerreiro, não estou me aposentado, não estou cansado; vou continuar minha luta pelo Brasil afora". Meus cumprimentos sinceros a V. Exª.  

O SR. LEVY DIAS (PPB-MS) - Muito obrigado, Senador Casildo Maldaner. Quero repetir aqui as palavras que alguém já escreveu: "para repousar, teremos a eternidade". Enquanto houver vida, tem que haver essa fibra, essa fé, essa força e essa vontade de conduzir as coisas. E isso não vai me abandonar. Posso prestar serviço ao nosso País em várias posições, inclusive como um simples produtor, trabalhando em uma produção para enfrentar o século XXI.  

Sr. Presidente, neste momento em que nosso País vive um bombardeio de crise, eu queria que nós, brasileiros, não interpretássemos este momento como o fim do mundo. O Brasil é muito maior e mais forte do que a crise, e o povo brasileiro há de superar este momento. Temos potencial, capacidade e gente para construir um Brasil maior para o futuro. E eu queria que a própria imprensa brasileira levasse ao conhecimento do povo brasileiro um item que nunca é tratado quando se fala da vida no campo: qualidade de vida.  

Senador Casildo Maldaner, recentemente, no Rio de Janeiro, a televisão mostrou um acidente entre dois trens que bateram de frente. Depois fizeram uma ampla reportagem sobre o chamado "trem da madrugada". O cidadão levanta-se às três horas da madrugada e viaja por três horas nesse trem de subúrbio para chegar ao serviço. E eu fico me lembrando da facilidade que o homem do campo tem de chegar ao trabalho, porque ele mora lá. Além disso, ele conta hoje com as facilidades da comunicação; o telefone é uma constante em sua vida, e, com a invenção da antena parabólica, ele tem, dentro de sua casa, todos os programas de televisão que o homem da cidade tem. Por isso, deve ser feita uma integração para que as pessoas retornem ao campo para trabalhar e produzir para a Nação brasileira, já que elas deixaram o campo e foram viver nas periferias das grandes cidades em situação de vida extremamente precária, mas têm no seu coração e nas suas habilidades o conhecimento do campo.  

Senador Casildo Maldaner, talvez minha grande tristeza hoje, ao falar da tribuna do Senado pela última vez nesta Legislatura, seja sair sabendo que hoje somos importadores de comida. É um vexame para um País como o nosso, com nosso solo, nosso clima, nossa gente e nossa tecnologia importar alimentos. Talvez essa seja a única tristeza que levo, com a expectativa de que isso passe rapidamente. Tenho certeza de que o Brasil vai superar este momento. E o momento não é de pessimismo, é de acreditar. O meu Estado também vive um momento difícil, mas tem potencial para sair da situação em que se encontra. Tenho certeza de que, muito em breve, o Estado de Mato Grosso do Sul também oferecerá uma condição melhor da vida à sua gente.  

O SR. PRESIDENTE (Ronaldo Cunha Lima. Fazendo soar a campainha) - Lamento informar a V. Exª que o tempo regimental da sessão está esgotado, mas desejo prorrogá-lo, para permitir que V. Exª conclua essa oração de despedida e receba, evidentemente, os cumprimentos dos companheiros, inclusive da Mesa, que deseja felicitá-lo após o término do seu discurso.  

O SR. LEVY DIAS (PPB-MS) - Muito obrigado, Sr. Presidente.  

O Sr. Eduardo Suplicy (Bloco/PT-SP) - Permite-me V. Exª um aparte?  

O SR. LEVY DIAS (PPB-MS) - Pois não, Senador Eduardo Suplicy.  

O Sr. Eduardo Suplicy (Bloco/PT-SP) - Cumprimento V. Exª que, ao longo do seu mandato, soube honrar o Estado do Mato Grosso do Sul. Desejo que em suas atividades V. Exª possa estar sempre com a defesa do espírito público presente. Cumprimento também a Bancada do Mato Grosso do Sul - incluindo V. Exª -, que há dez dias acompanhou o Governador Zeca do PT em uma audiência com o Presidente da República, demonstrando respeito por esse Governador recém-eleito, que inicia um mandato inovador. Os Senadores da Bancada, embora de Partidos diferentes, apoiaram-no em tudo o que se refere a melhorias que levem ao bem-estar do povo do seu Estado.

 

O SR. LEVY DIAS (PPB-MS) - Muito obrigado, Senador Eduado Suplicy. Realmente, o aparte de V. Exª confirma o início do meu discurso, quando disse que nunca levei em consideração os problemas políticos. Sempre acreditei que, numa democracia, deveria haver luta, até a urna falar. A urna falou, acabou.  

Ajudei todos os governadores. Sempre acreditei nas coisas boas da vida, nas coisas positivas, e penso que meu trabalho como Senador não teria sentido se eu prejudicasse um governador contrário ao meu Partido, porque estaria prejudicando o povo do meu Estado.  

Acompanhamos o Governador Zeca do PT a uma audiência com o Presidente Fernando Henrique Cardoso, à qual compareceu toda a Bancada do Senado, numa demonstração de grandeza e do sentimento de que precisamos somar forças para resolver nossos problemas.  

Agradeço também pela compreensão da minha família, muito especialmente à minha Neide, companheira leal, amiga devotada e sábia conselheira, colocada muitas vezes em segundo plano diante das exigências do dever profissional e político, que me obrigavam a ausências prolongadas do seu convívio.  

Concluo este pronunciamento, Sr. Presidente, enaltecendo a administração do Presidente Antonio Carlos Magalhães que, com autoridade, dinamismo e dignidade tem conduzido esta Casa, acelerando as atividades legislativas e elevando o nível da atuação parlamentar a um patamar que valoriza seus membros e facilita a recuperação da credibilidade de sua importante missão.  

Ao Senado Federal, cabe continuar a desempenhar papel da maior relevância para as reformas que ainda se fazem necessárias, objetivando à modernização de nossas estruturas econômicas, sociais e políticas.  

Era o que eu tinha a dizer.  

Muito obrigado a todos.  

 


Este texto não substitui o publicado no DSF de 29/01/1999 - Página 2385