Discurso no Senado Federal

COMENTARIOS AO TEXTO DO JORNALISTA SYLVO SEBASTIANI SOBRE A ENTREVISTA DADA A TELEVISÃO CBS PELO MEGAINVESTIDOR JORGE SOROS.

Autor
Roberto Requião (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/PR)
Nome completo: Roberto Requião de Mello e Silva
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
BANCOS.:
  • COMENTARIOS AO TEXTO DO JORNALISTA SYLVO SEBASTIANI SOBRE A ENTREVISTA DADA A TELEVISÃO CBS PELO MEGAINVESTIDOR JORGE SOROS.
Publicação
Publicação no DSF de 25/02/1999 - Página 3544
Assunto
Outros > BANCOS.
Indexação
  • COMENTARIO, TEXTO, AUTORIA, SYLVO SEBASTIANI, JORNALISTA, REFERENCIA, ENTREVISTA, GEORGE SOROS, EMPRESARIO, TELEVISÃO, PAIS ESTRANGEIRO, ESTADOS UNIDOS DA AMERICA (EUA).
  • SOLICITAÇÃO, SENADOR, IMPEDIMENTO, APROVAÇÃO, NOME, ARMINIO FRAGA, ECONOMISTA, PRESIDENCIA, BANCO CENTRAL DO BRASIL (BACEN), PRESERVAÇÃO, SOBERANIA NACIONAL.

O SR. ROBERTO REQUIÃO (PMDB-PR. Para uma comunicação inadiável. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, a comunicação é mais do que inadiável. Recebi esta manhã um texto do Jornalista Sylvio Sebastiani, transcrevendo uma entrevista transmitida pelo canal 30 da TVA, jornal da CBS, com o megainvestidor George Soros, o patrão do Sr. Armínio Fraga, que será sabatinado na sexta-feira pela Comissão de Assuntos Econômicos do Senado. Apesar de ter dupla nacionalidade - filho de brasileiro e de norte-americana, e apesar de, segundo informações que chegaram ao meu gabinete, ter optado pela nacionalidade norte-americana para poder operar no mercado dos Estados Unidos, o Sr. Armínio Fraga foi indicado para presidir o Banco Central.  

Trago ao conhecimento do Senado a entrevista do Sr. George Soros, porque, conhecendo o patrão, conheceremos o empregado; conhecendo o preceptor, conheceremos o discípulo.  

O entrevistador apresenta o megainvestidor lendo o seguinte texto:  

"George Soros, nascido em Budapeste, filho de pais ricos, bem-educados e judeus. Quando os nazistas ocuparam Budapeste, em 1944, o pai de George Soros era um advogado bem-sucedido. Ele morava numa ilha do Danúbio e gostava de ir ao trabalho numa canoa.  

Sabendo que os judeus viriam a ter problemas, ele decidiu separar sua família. Assim, ele comprou documentos falsos e subornou um funcionário federal a ficar com o seu filho de 14 anos, George Soros, e a jurar que era seu afilhado cristão.  

Mas a sobrevivência teria um preço alto. Enquanto milhares de judeus húngaros eram embarcados para os campos de concentração, George Soros acompanhava seu falso padrasto em suas batidas, confiscando propriedades dos judeus."  

O entrevistador então se dirige diretamente a Soros:  

"Soros, você é judeu húngaro que escapou do holocausto, fazendo-se passar por cristão.  

Soros: Isto.  

Entrevistador: E você viu muitas pessoas sendo enviadas para os campos de concentração.  

Soros: Certo. Eu tinha 14 anos e posso dizer que foi quando meu caráter foi formado.  

Ent.: Em que sentido?  

Soros: Que uma pessoa tem que pensar adiante. Tem que entender e antecipar os fatos, quando se vê ameaçada. Era uma tremenda ameaça do Mal. Era uma experiência muito forte do mal.  

Ent.: Pelo que entendi, você saía com o seu protetor que jurava que era o seu afilhado?  

Soros: Sim, sim.  

Ent.: Saía e o ajudava a confiscar as propriedades dos judeus.  

Soros: Sim, isso mesmo.  

Ent.: Isto soa como uma experiência que teria enviado muita gente para o divã de um psiquiatra por muitos anos. Foi difícil?  

Soros: Não, nem um pouco. Talvez porque a criança não enxerga bem esta conexão, mas não me causava nenhum problema.  

Ent.: Nenhum sentimento de culpa?  

Soros: Não.  

Ent.: Assim, por exemplo: "Sou judeu e aqui estou eu, vendo estas pessoas partirem. Poderia estar indo também. Deveria estar lá". Nada disso?  

Soros: Bem, é claro que eu poderia estar do outro lado ou poderia ser um dos que estavam perdendo seus bens. Mas não faz sentido dizer que eu deveria estar lá, por quê? Na verdade é engraçado, mas é mais ou menos como um mercado. Se eu não estivesse fazendo aquilo, outra pessoa estaria. Estando lá ou não eu era apenas um espectador, as propriedades seriam confiscadas do mesmo jeito. Eu não tinha nenhuma participação naquilo. Por isso não tinha sentimento de culpa.  

Ent.: Você é religioso?  

Soros: Não.  

Ent.: Acredita em Deus?  

Soros: Não.  

Ent.: Soros disse que acredita que Deus foi criado pelo homem, e não o contrário, razão que talvez o leve a pensar que pode corrigir as imperfeições do mundo. Muitas pessoas buscam os conselhos de George Soros, como o presidente da África do Sul, Nelson Mandela.  

Soros: o presidente Mandela me perguntou o seguinte: "Como a África do Sul pode se proteger de especuladores como você?" Eu escrevi uma nota para ele, aconselhando sobre o melhor método de evitar que a África do Sul ficasse à mercê dos ataques dos especuladores.  

Ent.: É o mesmo que dizer: "Me pare antes que eu mate de novo", não é? Está dizendo: "isso é o que pode fazer para impedir".  

Soros: Não importa se sou eu ou outra pessoa, o que acontece no mercado não faz a menor diferença. Não sinto culpa, pois estou engajado numa atividade amoral, que não pode gerar sentimento de culpa".  

Esse é o perfil do patrão do Armínio Fraga. O Armínio Fraga que operou o ataque ao baht, na Tailândia, tendo estado lá cinco vezes, levando um país inteiro ao desemprego e à miséria, para que um especulador maximizasse os seus lucros.  

Quero encerrar, Sr. Presidente, narrando um fato que aconteceu no Paraná há alguns meses.  

Um grupo de pára-quedistas saltava no litoral, num dia nublado. Alguns se recusaram a saltar, considerando o grande perigo pela falta de visibilidade. A intenção era descer nas praias, mas as nuvens baixas ocultavam a visibilidade do solo.  

Saltaram assim mesmo alguns rapazes e moças. Um instrutor, tendo furado a camada de nuvens e verificando que se precipitava para as águas do Oceano Atlântico e avaliando mal a altura em que estava, cumpriu uma rotina do pára-quedista: puxou o cordão que o desligava do pára-quedas. Faz-se isso natural e normalmente quando o pára-quedas está a cinco metros da lâmina de água, para que o pára-quedista possa desvencilhar-se da vela de seda do pára-quedas que porta. O instrutor avaliou mal a altura e se desligou a 40 metros. Morreu no impacto com a água. Junto com ele, que era o instrutor, repetindo o gesto impensado e avalizando a avaliação malfeita, três rapazes e moças repetiram a mesma operação: desligaram-se do pára-quedas e morreram também no impacto com a água.  

Estamos em queda livre. O Brasil está na mão de Soros; o Presidente da República tem tido, claramente, um comportamento verbalmente irresponsável, dizendo impropriedade e demonstrando, com clareza, que não sabe exatamente o que está acontecendo. Quando Soros, depois de conversas com o Ministro da Fazenda, coloca no Banco Central o seu preposto, vejo o Líder do meu Partido, Senador Jader Barbalho, dizer: "Não será o PMDB que, neste momento, negará a aprovação do Armínio Fraga, pois isso traria uma situação pior do que a que estamos vivendo".  

Perdoe-me o meu Líder, porém, mais uma vez, entre essa avaliação malfeita, não me desligarei do meu pára-quedas. É preciso sustar a nomeação de Armínio Fraga, é preciso impedir que o capital internacional mate mais. O aviso do Soros está aqui. Se não o impedirem, ele continuará fazendo o que faz, e o capital financeiro reduzirá este País à sua expressão mais simples, liquidando os 50 anos do nacional-desenvolvimentismo num governo de quatro anos. Faço um apelo aos Srs. Senadores no sentido de que abram os olhos, pois não estamos brincando com pouca coisa; o País está numa crise extraordinária, e o Governo está descontrolado. Se a política do Presidente Fernando Henrique fosse alterada completamente hoje, seguramente teríamos mais dois anos de crise, porque já não temos patrimônio, já não temos empresas públicas. Ninguém sabe de que se compõem os falados R$30 bilhões de reservas cambiais. São títulos brasileiros? São investimentos de curto prazo?  

É preciso que se entenda, neste Congresso Nacional e neste Senado, que estremecem as bases das Forças Armadas, dos nacionalistas, do País inteiro. Não é preciso ter os ouvidos finos para escutar os clamores das ruas, porque esses são os clamores da nacionalidade ferida, da soberania em risco e de um projeto nacional definitivamente sepultado diante de uma certa liberalidade irresponsável dos Parlamentares.  

Obrigado, Sr. Presidente, pela tolerância do tempo.  

 

enf K


Este texto não substitui o publicado no DSF de 25/02/1999 - Página 3544