Discurso no Senado Federal

NECESSIDADE DE AÇÃO CONJUNTA DOS PODERES CONSTITUIDOS PARA SUPERAÇÃO DA CRISE POLITICA E FINANCEIRA POR QUE PASSAM ESTADOS E UNIÃO. IMPORTANCIA DA CREDIBILIDADE EXTERNA DO PAIS.

Autor
Wellington Roberto (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/PB)
Nome completo: José Wellington Roberto
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
ECONOMIA NACIONAL.:
  • NECESSIDADE DE AÇÃO CONJUNTA DOS PODERES CONSTITUIDOS PARA SUPERAÇÃO DA CRISE POLITICA E FINANCEIRA POR QUE PASSAM ESTADOS E UNIÃO. IMPORTANCIA DA CREDIBILIDADE EXTERNA DO PAIS.
Publicação
Publicação no DSF de 02/03/1999 - Página 3831
Assunto
Outros > ECONOMIA NACIONAL.
Indexação
  • ANALISE, CRISE, ECONOMIA NACIONAL, IMPORTANCIA, ATUAÇÃO, CONGRESSO NACIONAL, CONTINUAÇÃO, VOTAÇÃO, REFORMA CONSTITUCIONAL, EFEITO, AUMENTO, CONFIANÇA, BRASIL, EXTERIOR.
  • NECESSIDADE, UNIÃO, EXECUTIVO, LEGISLATIVO, CLASSE POLITICA, CRITICA, GOVERNADOR, OPOSIÇÃO, GOVERNO FEDERAL.

O SR. WELLINGTON ROBERTO (PMDB-PB. Pronuncia o seguinte discurso.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, o agravamento da crise econômico-financeira coloca como grande e incontornável desafio à classe política brasileira a defesa da credibilidade externa do País. É essa credibilidade a chave para deter a evasão de capitais e manter o interesse de investidores internos e externos. Como resgatá-la, no entanto? Penso que o Congresso vem fazendo a sua parte.  

A retomada da votação das reformas do Estado, se não esvazia, ao menos reduz o impacto de ações alarmistas, que, em vez de propor saídas para a crise, buscam dela tirar vantagem. Não são poucos os que investem no "quanto pior, melhor". No mercado financeiro, há os especuladores, empenhados em depreciar papéis para comprá-los em baixa e vendê-los em alta, fazendo assim fortuna fácil do dia para a noite.  

Há também os doleiros, que trabalham pela desvalorização do real e pelo reaquecimento do mercado paralelo do dólar. Não há exagero em dizer que são esses os mercadores do caos. Mas esses personagens são apenas subprodutos do desarranjo econômico. Não o criaram. A crise, sabemos, é de fora para dentro, embora, em função de desajustes antigos, tenha encontrado aqui terreno favorável para expandir-se.  

Na medida em que os governantes – e aí me refiro aos Poderes Executivo e Legislativo – se entendam diante da crise e se disponham a enfrentá-la de maneira sensata e somando esforços, as chances da desordem se reduzem e o fator credibilidade se fortalece.  

Mais nocivo do que o papel dos especuladores é o de alguns políticos que buscam tirar proveito pessoal ou partidário da crise. Eles ferem de morte o único fator capaz de favorecer uma reversão de expectativas: a credibilidade das instituições. O investidor externo ou o público interno, na hora do sufoco, quer saber como estão se comportando as principais lideranças do País. Quando constata que parte dos governadores se atribui o rótulo de oposição e se une em atitude hostil ao Governo central, passa a descrer em saídas efetivas para a crise, assumindo atitude que a agrava e a realimenta.  

A expressão "governadores de oposição" é uma contradição em termos. Governador, não importa o partido, é sempre situação. Uma vez investido no cargo, deve deixar a retórica no palanque e envolver-se com a realidade objetiva dos números.  

O governante é eleito por uma ou mais facções, mas tem que governar a todas, sem distinção. Esta, a primeira e mais elementar regra do poder. Na hora da crise, mais que nunca, é preciso unir esforços para debelá-la. Não importa se quem está na presidência da República inspira ou não simpatia (pessoal ou ideológica) a esse ou aquele político. Importa que é ele o presidente, o depositário da confiança da maioria do eleitorado e, como tal, é o eixo de gravidade em torno do qual devem as lideranças políticas buscar as saídas.  

Democracia pressupõe acatamento ao resultado eleitoral, e isso começa pelo reconhecimento de que não se resolvem crises estruturais no País à revelia do chefe do governo.  

Sr. Presidente, parte dos Governadores recém-eleitos reuniram-se em Belo Horizonte há algumas semanas para colocar-se em desacordo com o Governo Federal; outra parte reuniu-se em São Luís para desagravá-lo. Sexta-feira, houve um novo encontro aqui em Brasília, e até o presente momento não se chegou a um acordo.  

O mais sensato é que todos se unam não para produzir manifestos ou frases de efeito, mas para buscarmos saídas concretas. Não se vence a crise, sobretudo uma crise com as proporções e características da atual, de natureza exógena, com panfletos e adrenalina.  

É preciso serenidade e bom-senso, antes de tudo; a seguir, sentimento de união, espírito de sacrifício e despojamento para os procedimentos cirúrgicos necessários.  

Havendo essa disposição, estabelece-se, interna e externamente, a credibilidade por meio da qual podemos abreviar sofrimento e economizar esforços, viabilizando rápida reversão de expectativas. A crise, antes de ser econômico-financeira, é política – como, aliás, quase tudo nesta vida.  

Era o que tinha a dizer.  

Muito obrigado.  

 

²ª


Este texto não substitui o publicado no DSF de 02/03/1999 - Página 3831